sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A conchinha caiu n'água ou porque me encantei por uma figurinha em biscuit


Sei que não devia ter comprado esta peça. É um bibelot kitch, do tempo em que as famílias burguesas enchiam as casas de naperons. Naperons nos canapés, nas poltronas, nas cómodas, nas mesinhas de apoio e nos pianos, enfim naperons por todo o lado, pois as senhoras virtuosas tinham que manter as mãos ocupadas e faziam então naperons às dezenas para desviarem o espírito de pensamentos impróprios. O gosto das casas deste início do século XX era carregado, as salas de jantar tinham móveis em estilo neo-renascença, os os salões de estar cadeiras e canapés estofadas com capitonneés e os bibelots competiam com os naperons por toda a parte.



Mas, apesar desta conotação com um certo gosto duvidoso burguês, eu gostei desta menina em biscuit, navegando numa gondola. Achei-a uma peça tão perfeita, tão delicada e o preço era quase dado. Apesar de não ter qualquer marca, será provavelmente alemã. Pelo menos os sites de venda on-line americanos, como por exemplo o http://www.rubylane.com, costumam atribuir a este tipo de figurinhas um fabrico alemão e uma data de produção algures no início do século XX.



Quando olho para esta menina navegando na sua Gondola fantasiosa, só me recordo de um show de travesti que vi há muito anos, em que um calmeirão vestido com um fato de banho de menina ao estilo dos anos 20 e enfiado numa bóia em forma de barco, cantava o velho êxito de Celly Campello, A lenda da conchinha. Talvez seja por causa desta recordação, que não resisti a comprar esta figurinha em biscuit. Por vezes, o nosso coleccionismo é guiado por estranhos impulsos.


A lenda da conchinha

Nas dobrinhas de uma concha
Nosso amor eu escondia
E a conchinha cor de rosa
Meu segredinho sabia
Nela eu guardava os beijos e
O calor do nosso amor
A conchinha caiu n'água
Mergulhei para buscar
Mas o amor que estava dentro
Escapuliu, ficou no mar


E dois peixinhos que passavam
Então levaram nosso amor
E agora o mar
Tem mais peixinhos a nadar.

9 comentários:

  1. Luís
    Que beleza de peça
    Adorei
    E essa veia poética...
    Ficou soberba,a foto
    Beijinho
    P.S Outro para o Manel

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  2. Olá Luís
    Gostei imenso da sua peça biscuit bem como da sua sensibilidade poética.Quando li os versos da canção, a letra veio imediatamente à memória e, com ela, boas recordações. Também tenho duas pequenas figuras do mesmo estilo a que o Luís classificou de "piano toys", se não estou em erro.São pequenas e graciosas e não destoam no conjunto decorativo (que presunção)...
    Cumprimentos
    if

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    1. Cara If

      Essas suas figurinhas eram lindas. Designam-se por piano babies, pois as pessoas costumavam coloca-las em cima dos pianos. Uma delas, a que eu gostei mais, até estava marcada no verso, o que nem sempre é vulgar nestas peças, mas ques lhe aumenta obviamente o valor.

      um abraço

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  3. Cara Grace

    Ainda bem que gostou. Estas figurinhas em biscuit tem um encanto muito grande. Muitas vezes os seus fabricantes executavam também as cabeças das antigas bonecas para crianças e talvez por isso quando vemos estas figurinhas nos apeteça brincar com elas.

    Beijos

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  4. Poderia até ser "Kitch", mas isso é de somenos importância, pois aquilo que nos move a adquirir qualquer coisa tem raízes bem dentro de nós (se adquirirmos coisas com um fundamento sentimental e pouco racional - adquirir coisas para agradarmos a outros ou a modas é algo que me parece perfeitamente inútil, pois os outros desaparecem e a moda muda como as camisas que vamos vestindo).
    O que me interessa sobretudo é sentir-me rodeado por objetos e pessoas que me digam algo e que me façam querer ir mais além, e não por habituação, como, não raro, encontro (estou com ele/ela porque já me habituei e não tenho idade nem paciência para mudar - que razão perfeitamente insignificante para se estar com alguém!).
    Com os objetos acontece algo de semelhante - têm de estar em consonância com o nosso gosto pessoal, com a nossa memória afetiva, com aquilo que nos fala diariamente e com quem acabamos por travar diálogo em momentos em que esse diálogo nos é essencial.
    Eu tenho as minhas "chinesices", que a poucos comove, mas que me apraz ver quando disso tenho necessidade.
    Agradeço o beijinho da Grace e retribuo o cumprimento
    Manel

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    1. O "Kitsch" saiu-me "desfraldado" do "s". Acontece, apesar de não dever!
      Manel

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  5. Realmente as nossas compras de velharias têm as mais variadas motivações e as memórias de infância estão certamente entre elas.
    Tem muita piada esta menina da conchinha com a sua cara laroca – uma índia loira de bochecha rosada a viajar numa gôndola... haja imaginação!
    E a sua transcrição aqui da letra da Lenda da Conchinha teve como efeito que a canção, tão popular há quase meio século, não me saia da cabeça! :)
    Eu tenho andado entretida a tempo inteiro, não com uma menina mas com um menino muito doce e muito mexido que não me deixa tempo livre, mas é por pouco tempo mais... os progenitores estão a chegar de uma escapadela ;)
    Bjos

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  6. Manel

    Julgo que estes bibelots em biscuit exercem o mesmo tipo de fascínio que os bonecos provocam nas crianças. Aliás, não é por mera coincidência que os fabricantes destas pecinhas decorativas faziam também as cabeças e as mãos das antigas bonecas. Foi também por essa razão que associei esta figurinha a uma canção infantil, só que como já tenho quase 50 anos dei-lhe um toquezinho de perversão

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  7. Maria Andrade

    Se clicar no link poderá ouvir a música da lenda da conchinha. Esta menina parece que vai procurar no mar a sua conchinha, mas num mar e num barco de faz-de-conta.

    Bjos

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