As ruínas exercem sempre uma grande atracção nas pessoas que gostam da história e das artes. Se por um lado ficamos chocados e escandalizados com o abandono de um edifício antigo, a ruína em si mesma é atraente, fascinante, por vezes mais do que se o edifício estivesse em bom estado. Enfim, toda a gente conhece o Convento do Carmo em Lisboa e sabe que a sua especial poesia reside no facto de ser precisamente uma ruína.
As ruínas despertam-nos sentimentos intensos. Ao entrarmos numa casa já sem telhado imaginamos quem viveu ali, os risos das crianças que morreram há muito, como ela era antes de ruir, mas também sonhamos reconstrui-la, decorando-a com os nossos objectos preferidos, as nossas estampas, móveis e loiças. A ruína é sempre uma experiência sentimental e também por essa razão se fizeram tantas falsas ruínas nos jardins europeus dos finais do XVIII e ao longo do Século XIX. A meditação suscitada pelos destroços de um templo clássico no jardim da sua própria casa era o supremo luxo da aristocracia e da grande burguesia nesses séculos.
Como não tenho nem terrenos nem dinheiro para erguer falsas ruínas, gosto de entrar em casas abandonadas, como esta em Monforte e sentir ainda a presença do Islão, ou quando vejo o Manel franquear o arco ogival do pátio interior, visualizar num repente uma Idade Média, onde as pessoas eram muito mais baixas que nós. Nestes espaços tristes arruinados, dou comigo a imaginar reconstruir aquela casa, expor as minhas faianças no armário embutido na parede, plantar uma glicínia no pátio e recomeçar uma vida inteiramente nova.
Bom dia
ResponderEliminarGostei!(moda do facebook). Também gosto de ruínas, e curioso ultimamente tenho pensado em recuperar uma casa, mais barraco transformada em palheiro, ou armazém de tralhas, em casinha género antiga, mas tenho dois problemas imediatos; a casa(palheiro), não é minha é dos meus Pais e tenho um irmão..., o outro problema e mais dificil é a falta de dinheiro, tão escasso nestes tempos! mas eu não desisto fácilmente. Bom fim de semana
Maria da Conceição Alves
Cara Maria da Conceição Alves.
ResponderEliminarAs ruínas são fascinantes e o passado que carregam ainda as tornam mais apetecíveis.
Há quem tenha medo do passado, deteste móveis antigos ou casas velhas, pois acha que estas carregam uma carga negativa das pessoas que já morreram. Como bem notou uma seguidora deste blog, a Alexandra Roldão, as pessoas continuam a acreditar em relíquias, que qualquer coisas dos antigos proprietários passa para os objectos. Os espelhos antigos são particularmente detestados por essas pessoas, que temem que a almas dos defuntos aprisionada do outro lado da imagem as amaldiçoe
Tal como essa seguidora deste blog, não tenho medo do passado. Convivo bem com a carga sentimental das casas antigas dos móveis velhos e dos objectos de pessoas que já morreram. Devemos temer é os vivos, os nossos governantes por exemplo.
Um abraço
Concordo com o que diz, mas cá para nós que ninguém nos ouve..., também tenho um medito dos mortos, aliás mais do que dos vivos.
EliminarMas das coisas velhinhas e dos meus antepassados gosto imenso, e estar rodeadas delas muito mais. Por isso admiro o seu blogue e de outros que sigo, aprendo sempre muita coisa.
As ruínas assemelham-se aos sótãos, emanam fascínio e fazem-nos calcorrear pedra a pedra.
ResponderEliminarA sua descrição diz tudo. Nada há mais a acrescentar a não ser que as memórias são importantes.
Achei graça quanto a não temer os mortos mas sim os vivos, como "os nossos governantes".
Partilho do gosto por velharias... memórias...
Boa noite!
Olá Luís
ResponderEliminarAs ruínas para mim são irresistíveis.
Gosto de as observar, de as sentir, de deixar que elas me falem, ouvi-las e de intervir respeitando-as.
Sei que tenho sido um privilegiado. Sinto as minhas ruínas felizes e tornarem-me feliz.
Gostei muito do seu texto sobre ruínas e irresistível não comentar.
Um abraço
Olá Luís!
ResponderEliminarrealmente os nossos "governantes" são a assombração do nosso dia a dia.
O gosto pelas ruínas lembrou-me um piada da Jane Austen, segundo a qual, a abolição dos conventos por Henrique VIII e tê-los "deixado à mercê da pilhagem do tempo foi de infinita utilidade para a paisagem da Inglaterra en geral".
Bjs, Luísa
Amigo,Luis
ResponderEliminarEntão esse senhor a espreitar por essas ruínas,é o Seu amigo Manel?
Simpatico
E curioso
Tinha outra ideia dele
Mais gordito,talvez
Cumprimentos
João Andrade
Há ruínas que o foram precocemente, de forma abrupta, violenta. Quem as habitou, no tempo das paredes caiadas, dos sorrisos, choros, cheiros e ruídos, não teve tempo para ir olhando o seu natural envelhecimento e atenuar-lhe as mazelas. Essas custam a encarar, mesmo que virtualmente.
ResponderEliminarA ruína de Monforte que hoje mostra é curiosa com os aros da porta em ogiva. O nicho que se vê na última foto terá sido o quê? Um oratório?
Beijos e boa semana…mas antes um bom domingo :)
Caro Luís,
ResponderEliminarO seu amigo Manel (personagem que até aqui se havia mantido no anonimato visual) tem rosto de filósofo, pensador, quiçá um pouquinho de poeta. Tem aquele olhar arguto de quem num pequeno relance consegue perscrutar aquilo que passa despercebido à maioria.
Poderei estar redondamente enganada, mas é aquilo que ele me transmite.
Abraço aos dois, e continuação de belos passeios por esse Portugal tantas vezes desconhecido.
Alexandra Roldão
Alexandra, até agora tenho procurado manter-me anónimo sobretudo porque é o blog do Luís e, por isso, tenho-me preocupado em manter-me na sombra, apesar de não me calar quanto à escrita.
ResponderEliminarMas desta vez o Luís apanhou-se à socapa e ... eis-me!
Mas se tento o anonimato visual, na escrita sou palrador e, por vezes mesmo, algo exagerado e até impulsivo, mas o Luís lá me vai desculpando o desvario, quando ele acontece.
E até me permite responder a considerações de outros comentadores.
Por isso lhe agradeço muito o que escreveu sobre mim, e pelo menos numa coisa julgo concordar consigo: sou um observador atento e cuidadoso daquilo que me rodeia, sendo a curiosidade uma das caraterísticas mais fortes.
Tenho igualmente uma quantidade de outras coisas menos boas, mas essas guardo-as cuidadosamente, pois não é imprescindível que os outros nos conheçam demasiado bem :-)
Também demasiado magrito.
A minha avó, que viveu numa era em que se considerava que os homens (e as mulheres igualmente) deveriam ser bem constituídos, definia-me, de forma algo desapontada, como um "pau de virar tripas". :-(
(não me lembro destes paus, mas creio que os posso imaginar ...). Isto para responder às considerações do João Andrade.
Quanto a estas ruínas, de acordo com as imagens que guardo na memória, parecem possuir um ar muito islâmico, e têm o condão de me fazer imaginar e recriar a quantidade de vidas que elas viram surgir, crescer e desaparecer, alegrias ou tristezas que albergaram, os sonhos e esperanças que cresceram no seu interior, os dramas que se desenrolaram ao abrigo de olhar alheio. Por vezes até me parece que oiço ainda algum voz de criança a ecoar pelas esquinas.
São muito sugestivas, estas ruínas, mas, ao invés, desaguam em muita nostalgia
Manel
Boa noite,Luís
ResponderEliminarComo o invejo,por visitar essas ruínas...
Finalmente vemos o Manel,o TÃO famoso Manel...
Tem uma figura deveras elegante,ar de intelectual e ...muito simpático
E esses passeios que vocês dão,são um must
Tal como os dois,sou muito amiga de visitar ruínas e casas de velharias
Aliás são os meus passeios preferidos
Principalmente a feira da ladra,aqui em Lisboa
E só fico feliz quando trago uma velharia qualquer
Mas da marca Vista Alegre,Sacavem,S.P etc
Sou selectiva em matéria de caquinhos
Não compro qualquer coisinha á toa
Um abraço
E agora o beijinho para o Manel
Finalmente o vi :)
Obrigado Grace, sempre agradável e cheia de amabilidade.
EliminarNão quero deixar de lhe retribuir o cumprimento e agradecer-lhe a sua presença e a sua valiosa contribuição, pois, ainda que o blog não seja meu, o Luís sempre usou de delicadeza e generosidade no sentido de me conceder um pouco do espaço dele para que me sinta igualmente à vontade, e, consequentemente, possa ter este tipo de intervenção.
Um beijinho também para si
Manel
Cara Ana
ResponderEliminarMuito feliz a sua comparação com os sotãos. Muito obrigado e um abraço
Caro Joaquim Malvar
ResponderEliminarMuito obrigado. O Joaquim salvou das ruínas um belo solar rural e só por causa disso merecia uma medalha de mérito qualquer.
Uma ruína tem a beleza e a dignidade de um castanheiro centenário
Um abraço
Luisa Luz
ResponderEliminarGostei da piada da Jane Austen e julgo que traduz a ideia de que há certas ruínas que são mais belas nessa condição, do que quando estavam em bom estado. E naturalmente isto não significa que queiramos os monumentos ao abandono. Há edifícios que devem ser obrigatoriamente restaurados. E mesmo aqueles que porventura se decida deixar em ruínas, porque são assim mais poéticos, podem ser consolidados para evitar o seu desaparecimento total.
bjos
caro Joka
ResponderEliminarO Manel é com efeito magrinho.
Um abraço
Maria Paula
ResponderEliminarO nicho que se vê na última porta é um armário e estaria dividido por uma prateleira. Mas é muito bem trabalhado, elegante até, o que contrasta com a simplicidade da casa.
Bjos
Boa noite Sr. Luís,
EliminarO nicho em análise é muito provavelmente um Aron Kodesh, um armário judaico de dois níveis usado para guardar a Torá.
Cumprimentos,
João Luís Borges.
Caro João Luís Borges
EliminarMuito obrigado pela indicação. Com efeito, por todas as terras da raia existirão comunidades judaicas e esta poderia ser uma delas. Vou fazer alguma pesquisa sobre esse assunto.
Um abraço e agradeço o seu contributo a esta discussão
Através de uma pesquisa rápida por "armários sagrados nas aldeias históricas" poderá encontrar vários exemplares semelhantes. O da sua fotografia deve ser provavelmente da primeira metade do século XVI.
EliminarCumprimentos
João Luís Borges.
Caro João Luís Borges
EliminarFiz a pesquisa que me recomendou e com efeito, fiquei impressionado com as semelhanças entre este armário de Monforte e o de Castelo Mendo.
Não é que já não conhece-se armários embutidos em casas antigas portuguesas. A minha família paterna tinha um solar perto da cidade de Chaves, onde havia vários armários embutidos, normalmente de caracter mais utilitário, tirando um em forma de nicho, num dos quartos, que funcionou como oratório. Mas este de Monforte tem uma feitura muito cuidada, as tais duas prateleiras, e é mais ou menos óbvio que ali se guardariam objectos de valor ou de grande estima para os proprietários. É muito provável, que seja um Aron Kodesh e a cronologia que indica, coincide com a minha impressão sobre a data da casa e nessa época as terras da raia estavam cheias de judeus fugidos de Espanha.
A herança judaica em Portugal é sempre um assunto fascinante, mas do qual conhecemos pouco. Muitas famílias portuguesas estão mais ou menos convencidas que descendem de judeus, como a minha família materna, do Concelho de Vinhais, mas não há forma de prova-lo, pois tudo o que israelita era escondido ou apagado. Ninguém ia à igreja baptizar os filhos, casar-se ou dar parte da morte de um parente afirmando que judaizava em segredo.
Mais uma vez agradeço o seu contributo que tornou esta casa de Monforte ainda mais fascinante.
Um abraço
Cara Alexandra
ResponderEliminarO Manel foi aqui apanhado um bocadinho à má fila e nem lhe contei que ia coloca-lo no blog. Mas, a fotografia onde ele aparece era importante para o post, porque dava a escala da porta, isto é, se eu não colocasse uma pessoa na fotografia ninguem se aperceberia do tamanho diminuto destes arcos, feitos para pessoas que viveram há 400 ou 600 anos e que teriam uma altura média de 1,50 ou 1,60 m.
E depois o Manel faz parte integrante deste blog e já era a altura de fazer o seu aparecimento público.
Um abraço
Manel
ResponderEliminarEste post foi acerca dos sentimentos contraditórios que nos suscitam as ruínas. De um lado está a indignação, porque uma pessoa colectiva ou singular deixou uma casa ou igreja ao abandono, por outro há a beleza romântica da decadência, o desejo de restaurar ou ainda o desejo de manter a ruína tal como está, num romântico monumento ao passado, como o nosso convento do Carmo ou como as abadias medievais inglesas, que a Luísa referiu ao contar a piada da jane Austen.
Um abraço
Grace
ResponderEliminarÉ sempre uma simpatia!!! Muito obrigado
Bjos
Mais uma descoberta interessante que o Luís e o Manel fazem de um edifício arruinado, que mantém a sua beleza ancestral, como muitas outras ruínas, enquanto estiverem de pé...
ResponderEliminarGostei muito de rever o Manel, justificadamente fotografado como explicam os dois, e acabou por ser um sucesso junto dos seguidores do blogue :)
Gosto de imaginar o Luís muito atarefado por estes dias, por razões que lhe invejo. Soube do congresso desta semana onde vão estar dois participantes meus conhecidos e já li on line vários resumos das apresentações. Quem me dera poder lá estar!
Bjos
Maria Andrade
ResponderEliminarEncantei-me pelo ar mourisco desta casa em ruínas e achei que seria uma pena não partilhar estas fotografias. Através destes blogues, talvez possamos ter um papel na valorização destes pequenos edifícios, que não tem categoria para ser classificados, mas cuja preservação é interessante para todos.
Quanto ao congesso sobre Faiança no Museu Nacional de Arte Antiga, já fui ver a pequena exposição que assinala o evento e quero ver se vou assistir duas comunicações amanhã, sobre faiança do séc. XIX.
Bjos
Tal como a Maria Andrade, adoraria assistir a esse evento ao vivo e a cores mas, na impossibilidade de o fazer, vou ficar à espera que o proprietário deste blog nos delicie com alguns relatos do que de mais interessante por lá venha a ser dito.
EliminarAproveite bem!
Abraço
Alexandra Roldão