segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Todos iguais e todos diferentes

Recentemente, quando fui visitar o Museu Nacional do Azulejo com os meus filhos, descobri na sua livraria, o catálogo de uma exposição, realizada em 1999, intitulada Formas de devoção. O livrinho é uma selecção de objectos de devoção em cerâmica vidrada, material que no passado era mais barato e portanto a maioria das peças apresentadas são de carácter mais popular. Lá aparecem as pequenas estatuetas do Brioso, que a nossa Isabel tanto gosta, pias de água benta, muitos registos de azulejos, sendo que alguns deles são de alminhas, umas das minhas paixões.


Pia de Água Benta de Coimbra, Museu Nacional de Arqueologia, inv 1148


A maioria das peças tem um ar imperfeito, imperfeição essa que resulta de uma grande produção, pois eram objectos baratos, destinados a devoções de gente pouco endinheirada. Saíam de moldes que eram usados até estarem completamente gastos e eram pintados rapidamente com tintas, cujo tom variava cada vez que se fazia uma nova mistura. Talvez por causa da rapidez com que tinham que executar as peças, os artesãos tinham também uma pincelada mais solta e livre. O resultado, foi que estas peças, que eram produzidas em grande quantidade, tornaram-se involuntariamente em obras únicas.



Alminhas, da colecção António Capucho


Toda esta conversa vem a propósito de ter descoberto no catálogo, umas alminhas que na altura pertenciam à colecção António Capucho, idênticas as que o Manel e eu descobrimos em Óbidos e que mandei reproduzir na oficina da Cristina Pina, aqui na Rua de S. Vicente, em Lisboa.






Alminhas numa rua de Óbidos



De facto, comparando, uma e outra peça, percebemos que terão saído da mesma oficina e da mesma matriz, mas que em consequência duma produção imperfeita ou descuidada são peças únicas e esse é o seu encanto.




Alminhas executadas pela Cristina Pina a partir do original de Óbidos

9 comentários:

  1. Olá Luís
    Prefaciando o que há poucos dias escrevi sobre este tema no blog da Maria Paula...
    Também adoro as "ALMINHAS"
    Neste fim de semana fui à terra, e na estrada entre Ansião e a casa rural existe uma capelinha de Alminhas em Lisboinha.
    Parei o carro e lá fui tirar a foto, apressada com a chuva de chuvisco nem reparei que cortei a parte de cima onde cruza uma pequena cruz que lhe confere a graça...fui interrompida por um casal de ingleses , perdidos queriam ir para Castanheira de Pêra, claro dei-lhe as coordenadas, quando falei em Figueiró dos Vinhos, sorriram a desfazer-se em agradecimentos.
    Claro que tenho de lá parar novamente.
    Em pequena tinha "medos" de passar junto a estas capelinhas sempre iluminadas por velas, talvez fosse do cenário em azulejo ou pintura exuberante de chamas e letras que não sabia o significado, tudo me fazia lembrar o Inferno!
    Contudo depois de aqui ver o carinho como fala delas, reconverti-me e sai da ignorância.
    Já sei onde é oficina da Cristina Pina,não fui lá precisamente porque sabendo que cada peça seja do antigamente ou de agora é peça única, falta-lhe para mim a mística da cor azul, que a antiga me enche a alma e esta nova, nem por isso...
    Sei que hei-de ainda ter uma na parede da minha casa rural, nem que a faça eu, com caquinhos...no sábado em frente ao torreão sul do terreiro do Paço ali à beira do rio encontrei restos de azulejos de várias épocas e porcelanas...tudo a olhar para mim!
    Nem dormi a pensar o que vou fazer com eles, a minha vontade era lá ir outra vez, de ancinho em punho...
    Beijos
    Isabel

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  2. Cara Isabel

    A Isabel deve ter feito alguma no seu blog, pois agora nunca consigo abrir os últimos posts. Por exemplo, percebi no painel que acrescentou um texto sobre uma arca em chupo, mas n o consigo abrir

    Bjos,

    Luís

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  3. Pois, e eu tristinha, com a falta da V/assiduidade...digo eu, afinal causada por mim
    Bem, passo a explicar, ao fim de semana vou fazendo os posts e coloco-os de rascunho, porque se os ponho de enfiada, não os comentam, aí nalguns fico com pena, porque os fiz, precisamente para vós...
    Ai tenho,novamente de os recolocar.
    Então Luís, por certo no painel é tentar ver mais abaixo os posts...
    A Maria A. conseguiu!
    Vá lá se não conseguir tenho de os postar todinhos...de enfiada e aí é que ninguém os comenta!
    Beijos
    Isabel

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  4. ò Maria Isabel

    Faça primeiro os textos no Word e mantenha-os aí em "banho maria". E depois, à medida que a semana, vai passando, coloque-os em "linha", de outro modo é uma confusão louca.

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  5. Obrigada Luís...
    Há que séculos que não escrevo em word
    Lembra-me tempos de profissionalismo, de estatísticas e tabelas de objectivos.
    Boa dica, vou reorganizar o blog
    Gosto da sua praticidade na inter ajuda .
    Um amigo de verdade
    Beijos
    Isabel

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  6. Ó M.Isabel, não imagina o q me ri sozinha dessa sua ideia de ir de ancinho pró Terreiro do Paço!!! Bem, se fosse um ancinhozito de jardinagem, assim disfarçadamente...
    Peço desculpa ao Luís de estar a invadir o seu espaço com comentários prá Maria Isabel, mas não resisti.
    O q diz sobre as alminhas e outros objectos de arte popular é algo q eu própria já tenho constatado e admirado: são "seres" únicos e irrepetíveis, cujas imperfeições lhes acrescentam carácter e individualidade, muito diferentes dos produzidos em série a partir da Revolução Industrial. Nestes últimos também encontro interesse nas histórias q lhes estão associadas, como já tenho referido aqui, mas nunca têm aquele carisma do objecto único e as alminhas são realmente um encanto.
    Abraços
    Maria A.

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  7. Maria Isabel, essa de andar de ancinho pelo Terreiro do Paço e pelo Cais das Colunas!!! hehehehehe Bem que gostaria de ver ... se calhar far-lhe-ia companhia com outro ancinho ... hehehehe
    Luís, gosto imenso das alminhas, sobretudo se deste quilate, sejam elas de época ou réplicas, pois o que realmente interessa é o prazer da fruição da cor e da forma, as quais, conjugadas, emanam uma mensagem, que além de útil para o crente da altura são hoje beleza espalhada pelo ambiente, pois de coisas feias e horríveis está o país cheio; ainda por cima conduzido pela súcia de incompetentes que lá se encontra, mas como não estão lá pela força ... terei que me render à inconsciência da gente com quem partilho este país!
    Estou a politizar o ambiente, peço desculpa, mas foi mais forte que eu ... por vezes uma pessoa necessita de desabafar da irritação que é viver num país de cegos conduzidos por outro, ainda mais cego!
    Manel

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  8. Eu percebo a Maria Isabel que quer ir escavar azulejos e restos de faiança no Terreiro do Paço. Eu tb só não me meto mais nos contentores das obras em busca dos azulejos por vergonha, que ainda me sobra alguma "Malgré tout".

    Também estou com uma neura monumental por causa da crise, Manuel, pois tb já andei a fazer contas de quanto me vão tirar no ordenado. Resta-nos o amor pelo passado ou ...a luta armada

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  9. Luís
    Não querendo desvirtuar este seu belo post, digo-lhe, que nem todas as alminhas juntas nos valerão...também eu já fiz contas...quem não as fará?
    Qualquer dia o meu jardim vira horta :)(Até nem desgostava).
    Abraços para si
    Maria Paula

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