terça-feira, 12 de outubro de 2010

Solar dos Montalvões: alçados, plantas e legendas












Recentemente recebi alguns pedidos de apoio de estudantes de arquitectura do Porto, pedindo elementos sobre o Solar dos Montalvões, para elaborarem um projecto de recuperação. Ainda que se vá tratar de mero exercício académico, como membro da família Montalvão fico muito feliz por saber que alguém fará um projecto de reabilitação e por isso disponibilizo todas as plantas e alçados do edifício, juntamente com as legendas, que revelam a forma como a casa era utilizada. Julgo que esta informação poderá ser também útil às gentes de Outeiro Seco e Chaves, pois o solar há muito que deixou de ser da família e faz parte integrante do património histórico do Concelho, ainda que esteja votado ao mais triste e desolado abandono.

Chamo também à atenção para o facto de que a distribuição das divisões corresponde à utilização que a família Montalvão deu à casa durante Século XX. Nos séculos XVII, XVIII e XIX as funções das divisões eram necessariamente diferentes, que aquelas apresentadas aqui. Por exemplo sabemos que o uso de uma divisão reservada à sala de jantar é um hábito que data dos finais do século XVIII e só se generalizou ao longo do século XIX. Também sabemos que em muitas casas portuguesas persistiu até muito tarde a sala do estrado, uma divisão com uma plataforma em madeira onde as mulheres se sentavam no chão, à maneira oriental.

Os dados que forneço são para usar à vontade, mas peço que refiram que as plantas e os alçados são da autoria do Arquitecto Manuel Sousa Cardoso (excepto a última), a compilação dos dados é de José Manuel Montalvão Cunha, todos disponíveis em http://velhariasdoluis.blogspot.com/ , o blog de Luís Montalvão.

01 - LOJA - Destinada inicialmente a cavalos. Havia baias em pedra e aros de ferro para prender os mesmos. 02 - LOJA - Havia 3 tulhas para cereais. Urna grande, para centeio. Duas mais pequenas, para trigo.
03 – CAPELA
04 - ADEGA
05 - BICA
06 - LOJA - Pequena loja que servia para criar coelhos.
07 - LOJA - Loja inicialmente para acolher cavalos. Era agora preparada para armazenar batata. 08 - ADEGA
08a- LOJA - Destinada a guardar baratas ou galinhas.
09 - LOJA - Destinada a guardar galinhas e patos.
10 - PÁTIO PEQUENO
11 - LOJA - Em destinada a porcos. No meio, havia uma enorme pia de granito, que servia para os porcos comerem, a comida que era deitada do andar de cima, por um alçapão aberto no chão da cozinha.
12 - LOJA - Destinada aos porcos. Tinha também uma pia de granito por baixo de outro alçapão.
13 - LOJA
14 - ADEGA
15 - LOJA - Para esta loja, davam as 2 retretes do andar superior. O chão, estava cheio de palha, que era substituída regularmente.
17 - BICA
18 - JARDIM
19 - BALCÃO
20/21 - CASAS DE BANHO
22 - CORREDOR
23 - QUARTO DA MIMI -
24 - QUARTO DOS AVÓS - Para entrar neste quarto, tinha de se subir um degrau. Na parede que dava para a sala de jantar, havia uma «roda», que talvez tivesse servido para passar comida da sala de jantar para este quarto. Nessa época estava desactivada.
25 - SALA POLlVALENTE
26 - SALA DE JANTAR -
27 - TRÊS DEGRAUS - Para passar à cozinha, tinha de subir-se três degraus.
28 - COZINHA - Era o maior compartimento da casa, dividido em duas partes. Uma parte, com o chão lajeado a granito, a outra parte com o chão a madeira. A parte lajeada tinha a grande lareira, ladeada por dois escanos.
29 - 30 - QUARTOS - Eram quartos das empregadas
31 - ARRUMAÇÃO - Era utilizado como quarto das empregadas e servia ao mesmo tempo de arrecadação. Antes de um grande incêndio, tinha um outro andar que ardeu completamente, nunca mais sendo reconstruído.
32 -CORREDOR - Fazia a ligação com a parte nobre da casa
33 - QUARTO DO LILI
34 - ARMÁRIO NA PAREDE - Mesmo em frente á porta do quarto do Lili,
Este armário, tinha uma característica especial. Dava acesso a um quarto secreto, que pelo menos por uma vez salvou o Liberal Sampaio da prisão.
35 - VARANDA - Esta varanda, tinha vários escanos e bancos encostados à parede. Era também aqui que o feijão era seco ao sol e descascado.
36 - QUARTO -
37 - QUARTO DAS ARMAS
38 - QUARTO PEQUENO -
39 - QUARTO –
40 - QUARTO - com escadas que davam acesso ao andar superior.
41 - BIBLIOTECA
42 - SALA DE VlSITAS. Tinha um grande fogão de sala
43 - SALA D0 MUSEU - Era aqui, que estava previsto ser a entrada principal do Solar, pois, seria ligada ao pátio pequeno por escadaria, nunca terminada. No topo da sala, uma porta com dois degraus, ligava ao coro da capela. Era deste local , que os habitantes do solar assistiam aos Ofícios de Domingo.
44 - MIRANTE - Este acrescento, construído em madeira, foi mandado fazer por um dos Montalvões, para mais facilmente poder avistar os sinais feitos pela sua amada, moradora num solar vizinho
45 - SALA –
46 - SALA
47 - SALA –




ANEXOS
48 - CASA DO LAGAR
( a ) Loja onde eram engordados porcos
(b ) loja onde estava o lagar. Este era construído em granito da região, com grandes lajes maciças. A trave de madeira da prensa, dividia-o em duas partes iguais.
49 - PORTA DE ENTRADA LATERAL -Fazia a ligação do pátio grande com rua principal da aldeia.
49a- PORTA DE ENTRADA - Fazia a ligação do pátio grande com a rua principal da aldeia. Dava passagem a carros de bois carregados. Era protegida por um telheiro de 2 águas.
50 - TELHEIRO - Protegia um grande forno de cozer o pão. Este era feito de barro branco e tinha uma cruz gravada por cima da boca. Havia sempre muita lenha a secar.
51 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Tinha um grande forno de cozer o pão. Servia também para guardar madeira serrada e rachas de pinho para os fogões de ferro.
52 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Era a segunda loja dos coelhos.
53 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Esta loja era aproveitada para engordar porcos.
54 - CASA DOS CASEIROS - ESCADA DE PEDRA - Dava acesso ao primeiro andar.
55 - CASA DOS CASEIROS - ESPIGUEIROS - As paredes eram feitas de ripas de madeira. Depois da colheita do milho, ficavam cheios de espigas a secar.
56 - CASA DOS CASEIROS - SALA - Sala bastante ampla, com lareira para cozinhar e com duas janelas para a rua principal da aldeia. Esta sala, comunicava com dois quartos, cada um uma janela que dava para o pátio grande. Estes aposentos, eram ocupados pelos criados de lavoura.
57 - MIRANTE
58 - GARAGEM - Esta garagem ficava do outro lado da rua principal da Aldeia, em frente da CASA DOS CASEIROS.

8 comentários:

  1. Olá Luís
    Está de parabéns, e a sua família também, que orgulho deve sentir o seu pai!
    Independentemente de o projecto seguir em frente, o que gostaria tal como muitos , o importante nesta altura existencial quer no governo quer no ensino é de louvar a iniciativa, o querer, a aventura maior de ter sido através do seu blog sentirem tal chamamento pelo património em vias de extinção e num clique de discernimento o desejo do tentar revitalizar querem partir à luta no refazer do solar dos Montalvões.
    Admirável este sentido maior de alguns? todos? estudantes de arquitectura do Porto.
    Quem sabe mérito para prémio Valmor!
    Fiquei encantada, muito, rejuvenesci!
    Bem hajam pela determinação, empenho e força de vontade, homens com "H" grande, ideias geradas no norte, pois claro!
    Bom trabalho, o carisma é encantador, por certo irão deleitar-se!
    Luís....desculpe...não consegui conter as emoções...estou felicíssima, demais...
    Beijos
    Isabel

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  2. Obrigado pelo seu comentário.

    A Isabel é sempre positiva e ao longo deste ano muito me tem encorajado a escrever mais.

    Obrigado

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  3. Sabe, Luís, de cada vez q leio posts seus sobre o Solar de Outeiro Seco, penso como seria doloroso para mim se tivesse tido um património desses na família e agora o visse assim ao abandono, em ruína quase irreversível, com os seus objectos dispersos...
    Bem, mas parece q há agora uma luz ao fundo do túnel, pelo menos com este trabalho todo já feito de plantas e alçados e o interesse q despertou nesses estudantes de arquitectura.
    Há pormenores da planta q achei muito curiosos, as soluções engenhosas encontradas , por exemplo, para alimentação dos animais a partir de alçapões no andar superior. Já tinha visto num museu de casas rurais no Tirol austríaco mas não sabia q também se fazia cá, isso e outras coisas. Afinal os nossos antigos aguçavam o seu engenho e arte para facilitar as suas vidas em tempos bem mais difíceis do q os nossos.
    Abraços
    Maria A.

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  4. Olá Luís, Bom dia,
    Fico também contente pelo aproveitamento que vai ser dado pelos estudantes de Arquitectura do Porto ao trabalho já realizado a seu tempo pelo teu amigo Manel e espero sinceramente que a partir daí resulte, ou, pelo menos renasça a tão esperada recuperação do Solar no seu todo e da Capela.
    Ainda que esta (recuperação) não seja feita pelo município, porque caso tivesse interesse já o teria feito e, por outro lado, porque chegado ao ponto de degradação a que chegou e o acumular de dívidas que o município "amealhou", não tem dinheiro para "mandar tocar um cego", mas que surja algum particular/empresa interessada levantar tão importante património histórico e cultural e o erga dessa vergonha em que parece estar a afundar-se.
    Por fim, um assunto de que já tinhamos aflorado respectivamente às plantas. Seria interessante e julgo ser possível a partir do trabalho já realizado pelo Manel, construir um modelo 3D e através de fotografias existentes, quer actuais, quer antigas que a família disponha (neste caso também os filmes), chegar a uma reprodução bastante rigorosa dos interiores e exteriores do Solar e Capela, para além de ainda poderem auxiliar-se de memórias vivas da família e de habitantes da Aldeia que por uma ou outra razão frequentavam a casa(trabalhadores agrícolas, empregados, caseiros, etc...). Alguns deles, de idade avançada por certo, mas com excelentes memórias.
    Julgo que seria bom para todos poder "entrar" num Solar ou numa Capela recuperados ainda que "digitalmente", pelo menos para mim sê-lo-ia.
    Deste lado, se puder ser útil em alguma coisa, podes contar comigo.
    Força, um abraço e um bem haja pela iniciativa,
    Berto

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  5. Luís

    Não consegui dormir, as insónias tomaram conta de mim, tal a alegria...
    Mais ainda,não me sabia da cabeça a associação dos apelidos do nome do Manel ao famoso pintor Amadeu cuja última exposição vi na Gulbenkian, talvez de todos o meu preferido!
    Sinto-me tão pequenina ao pé de vocês tão intelectuais, estudiosos, conhecedores de arte, história e do mundo!
    Por isso tem dias que fujo...desapareço...mas depois as saudades não me deixam e lá volto eu outra vez como rejuvenescida, o que tenho aprendido, muito!
    Beijos
    Isabel

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  6. Caros Humberto e Maria Isabel

    O que estes estudantes vão fazer é um trabalho académico, o que não quer dizer que o solar seja realmente restaurado. Em todo o caso é muito positivo que haja gente interessada em faze-lo.

    Caro Humberto, já há uns tempos que tenho andado com essa ideia de fazer uma reconstituição virtual do Solar e no fundo este blog foi um primeiro passo neste sentido. Mas sabes que eu ao contrário dos políticos, não gosto de prometer coisas que não posso cumprir e portanto, por enquanto, tenho a ideia a germinar, a formar-se aos poucos e naturalmente que recorrerei a tua enorme determinação, para me ajudar nesse projecto.


    Abraços

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  7. Peço licença ao Luís para repor um facto que pode levar em erro a Maria Isabel; porque nutro uma grande admiração pelo trabalho de Amadeu Souza-Cardoso que, apesar de não ter tido tempo de desenvolver os caminhos por onde enveredou, possui uma obra notável e marcante na história da arte portuguesa (e não só) de inícios do século XX, muito me entusiasmaria e honraria estar-lhe associado por laços de família, mas infelizmente, os meus apelidos não são mais que uma coincidência!
    A sugestão do Humberto de passar para a tridimensionalidade é muito boa e sei que tu também acalentas esse objectivo. Não seria difícil fazê-lo, e com a ajuda da memória do teu pai (talvez o último elemento da família que o possa fazer) a tarefa seria ainda mais facilitada, mas que envolveria um trabalho insano, isso sim. Mas em termos técnicos não seria difícil, bastaria saber um pouco de projecções cónicas e isso os estudantes de arquitectura estudam na disciplina de Geometria Descritiva.
    Talvez estes estudantes de arquitectura queiram enveredar por esta via, o que não é muito de prever sabendo eu as tendências que regem os cursos ... que façam afinal alguma coisa para lá do levantamento que já foi feito e do que ainda falta fazer das edificações que existiram/existem no Pátio Grande, para não falar do espaço urbano circundante.
    Manel

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  8. O meu projecto é mais simples que uma coisa em 3 dimensões, preferia usar um meio que estivesse ao meu alcance, só com imagens, plantas e texto, com uma tecnologia gratuita. Há uns tempos vi um site espantoso e que tinha sido barato, sobre Tsarskoye Selo, um dos palácios da família imperial russa, cujo interior tinha sido inteiramente pilhado e fiquei com a ideia de fazer uma coisa semelhante, mas, prefiro só falar nisso, quando a coisa estiver mais amadurecida. Em todo o caso, conto com a vossa colaboração.

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