sexta-feira, 29 de abril de 2011

Estatuetas de Sto. António de Vale da Piedade no Brasil

Mais uma vez do Brasil, chegam reacções interessantes aos posts sobre as Fábricas de faiança portuguesa, demonstrando-nos que aquele país sul-americano sempre foi um bom mercado para as loiças, azulejos e artigos decorativos portugueses, ao longo de todo o século XIX.

Estas reacções mostram também, a nós os portugueses, que existe uma ligação muito forte ao Brasil, apesar de nos últimos tempos termos feito por esquece-la um pouco, tão entusiasmados que andámos com o facto de pertencermos à União Europeia, que é o clube privado dos países dos ricos. Desculpem-me o tom moralista, mas a crise económica torna-me sentencioso, característica que evito assumir normalmente.



Um amigo nosso do Brasil, o João Gimenez , de Botucatu, no Estado de S. Paulo, enviou-me a imagens de duas estatuetas em faiança, de Sto. António de Vale da Piedade, localizadas na sede da fazenda do Conde de Serra Negra.

São duas figuras femininas que representam dois continentes, a África e a Ásia. As marcas são idênticas as apresentadas no post de 10 de Janeiro, e terão sido por isso executadas entre 1861 e 1886, período em que a fábrica esteve sob direcção de João do Rio e em que se introduziram modificações, que levaram à produção de peças de ornamentação em relevo para interiores e exteriores.

Estas duas estatuetas devem ter estado em tempos que já lá vão acompanhadas de pelo menos outro par, representando a América e a Europa, como era comum na época.

No século XIX, as famílias burguesas ou enobrecidas há pouco, os parvenus, como lhe chamavam os franceses, copiavam as estatuetas, urnas e vasos dos palácios aristocráticos, só que usando faiança ou terracota, que eram produzidas em série e portanto muito mais acessíveis economicamente.
Os temas também eram semelhantes aos que decoravam as grandes casas fidalgas. Eram comuns as figuras femininas representando os 4 continentes, como aqui em Botucatu, as 4 estações do ano, ou as virtudes teologais, fé, caridade e a esperança. Também estavam na moda alegorias femininas que simbolizavam as actividades económicas, como o comércio, a indústria, a agricultura, a pesca ou as artes ou ainda musas como a comédia ou a tragédia, se o edifício em causa fosse um teatro.


Ao João Gimenez, de Botucatu, temos que agradecer o envio das imagens e além disso, graças a ele ficámos também a saber mais sobre a produção de Sto. António de Vale da Piedade e iremos certamente conseguir identificar a partir deste momento estatuetas, que enfeitam as casas e palacetes burgueses das cidades portuguesas e que tanta curiosidade tem despertado nesta comunidade de bloguers.


14 comentários:

  1. Magnífico Luís, obrigado por compartilhas tantas informações, saiba que após conhecermos a fazenda corremos na web para tentar encontrar informações e somente em seu site encontramos algum conteúdo. Sem dúvida é ótimo poder compartilhar esses achados.
    Um abraço e até as próximas estátuas.
    Abraço João

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  2. Olá Luís
    Muito bom o seu post sobre as estatuetas de Santo António do Vale da Piedade que se podem observar no Brasil. Foi importante e forte a ligação que se manteve com terras brasileiras, de que as estatuetas são uma das provas. Fiquei entusiasmada com as fachadas de prédios de Lisboa, que tenho fotografado e procurado com afinco. Já vou tendo um conjunto significativo de imagens que ponho ao seu dispor, se assim o entender.
    Cumprimentos e bom fim de semana.
    if

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  3. Caro João Gimenez

    Acredite que as suas informações e fotografias serão úteis para identificar peças semelhantes existes em Lisboa, Coimbra ou Porto.

    Abraço e mais uma vez obrigado

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  4. Cara If

    Muito obrigado pelo seu comentário, que mais uma vez foi muito encorajante. Agradeço muito que vá mandando as suas imagens. Irei tratando delas consoante a minha disponibilidade e inspiração. Em todo o caso fico sempre contente por receber na minha caixa de correio as peças que o seu bom gosto selecciona

    abraço

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  5. Caro Luís

    Permita-me, antes de mais nada, agradecer ao Gimenez, a partilha das fotos das estatuetas.
    É sempre emocionante constatarmos, as marcas deixadas pelos nossos antepassados noutros territórios.

    Quando vejo as marcas gravadas nestas estatuetas, fico sempre com pena, de no momento em que fotografo "as minhas", não ter por ali perto uma grua! Havia de arranjar maneira de poder ver o pedestal de perto...ideias :)

    Achei curioso verificar que uma das estatuetas representa África e a sua alusão, à provável existência de outras estatuetas representando os outros continentes.É que,herdei uma pequena estatueta em biscuit, que foi do meu bisavô, e o meu pai, quando ma ofereceu, disse-me que esta estatueta fazia parte de uma colecção de estatuetas que representavam os quatro continentes. A que tenho comigo,é precisamente a que representa o continente Africano. Hei-de mostrá-la, pois é uma peça muito bonita.

    Depois de egoisticamente ter aproveitado este comentário para falar de assuntos que me são queridos,não posso deixar de referir que mais uma vez, gostei de ler as referências históricas, que tão bem sabe incluir nos seus posts.
    Um abraço e bom fim de semana
    Maria Paula

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  6. Ao observar o enquadramento que rodeia estas duas peças fico sempre com a sensação que "não bate a bota com a perdigota".
    Parecem obras deslocadas no tempo e no espaço e que nada têm a ver com o entorno a não ser o sonho de alguém que, um dia, resolveu mandar colocar a ladear o portão ao gosto português da sua grande casa, résteas de passadas lembranças e aromas provenientes de paragens mais exóticas (a Europa deveria ser completamente exótica para um habitante da América do Sul! ... ainda hoje se sente esta diferença, não obstante a globalização que tudo uniformizou).
    Elas estão completamente deslocadas, mas é esse mesmo o seu encanto, pois fazem-nos(me) sonhar sobre as vontades, as quimeras de quem habitou tal local, e, a mim em particular, querer saber um pouco mais sobre a sua história.
    Hoje, mau grado o seu aspecto delapidado, continuam a espalhar à sua volta um encanto algo estranho, nostálgico e misterioso, mas tão deslocado como seria encontrar a Vénus de Milo no topo das pirâmides de Chichén Itzá.
    Recordo-me também, por as ter visto já, que este tipo de estatueta decorativa, em tamanho mais reduzido, é verdade, também foi produzida em metal (sobretudo em ferro fundido e moldado; creio que também foram utilizadas outras ligas com o intuito de as tornar mais duradouras), o qual era depois coberto por uma camada de tinta para a proteger da oxidação, sobretudo durante o período em que se descobre a grande utilização do ferro na arquitectura. Neste período de descoberta do século XIX, tudo era passível de ser reproduzido em ferro.
    Não quero deixar de agradecer ao teu comentador João Gimenez a delicadeza e iniciativa de ter partilhado connosco estas duas obras da nossa faiança que, curiosamente, se espalhou além-mar
    Manel

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  7. Maria Paula

    Obrigado pelo seu comentário. Se não se fizer o enquadramento histórico, caímos na descrição enfadonha das peças, que é assim no fundo, tem decorações nos lados e cozida no topo e é uma maçada para todos.

    Também ando sempre com vontade de subir ao prédio vizinnho para ver de descubro alguma marca nas estatuetas e urnas que estão no alto dos prédios.

    Fiquei com curiosidade em ver a sua estatueta.

    Abraço

    Luís

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  8. Manel

    Tens razão. Estas estatuetas são como Manaus. Um pedaço da Europa posto à força no meio de nada. Mas, as Américas apresentam sempre essa contradicção, que não deixa de ser fascinante

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  9. Olá Luis.
    Gostaria de que voce me enviasse seu email. Tenho fotos de estatuas portuguesas. De uma olhada neste site aqui do Brasil. Um abraço Rodrigo (rodrigo.roig@hotmail.com)
    http://www.institutoportucale.com.br/

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  10. Caro Rodrigo

    As reacções dos seguidores brasileiros são das coisas mais gratificantes deste blog. Espreitei o site e fiquei encantado com a colecção de estatuetas, vasos e urnas.

    Irei-lhe escrever, para trocarmos mais informações

    Abraços

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  11. Boa tarde Luís.
    Sou natural do extremo sul do Brasil, de uma cidade chamada Pelotas. Durante o apogeu econômico do Município no Sec. XIX, a abastada burguesia local importou uma grande quantidade de artefatos arquitetônicos de faiança portuguesa: Balaústres, belas, ânforas, estátuas, azulejos, etc...Estes alementes foram largamente aplicados às construções locais de feições ecléticas predominantemente neorenascentistas. Tal empenho estético visava simbolicamente meter um sabor clássico nas edificações como expressão da civilização que aportara nas Américas tarzendo consigo a tradiçãoe e a modernidade concomitantemente. Isto bem de acordo com o pensamento cultural vitoriano e seu ideário de civilidade. Com certeza a fragiliadde destes elementos e sua força simbólica, como ponte estética entre continente, que acalentou sonhos de modernidade na burguesia brasileira dos oitoscentos é encantador e poético.
    Pesquiese sobre arquitetura em Pelotas, com certeza será uma grata surpresa.
    Saudações d´além mar.
    Rev. Edwin Fickel

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  12. Estimado Rev. Edwin Fickel

    Muito obrigado pelo seu simpático comentário.

    já afirmei muitas vezes isto aqui no blog, mas volto a repetir que tenho tido reacções interessantissimas aos meus posts sobre faiança e azulejaria da parte dos amigos brasileiros.

    Muitos deles enviam-me imagens acerca de urnas ou azulejos em casas brasileiras. É como colar dois papeis rasgados há muito. De facto, as fábricas de faiança do Porto e de Gaia tinham no Brasil óptimos clientes e escoaram muita da sua produção para esse País.

    Há cerca de um ano, um dos seguidores deste blog, também brasileiro, o Rodrigo Roig Pureza Duarte deu-me a conhecer alguma coisa sobre a cidade de Pelotas.

    Também alguns investigadores portugueses se debruçaram sobre Pelotas, que parecer ser uma cidade com um patrimonio muito interessante. http://www.queirozportela.com/pelotas.htm

    Abraços e conto mais vezes consigo neste blog

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  13. Caro Luis, bom dia. Li o seu post acerca das peças de faiança portuguesa no Rio de Janeiro e lembrei-me de algumas pinhas que fotografei. As mesmas estão expostas Museu da Cidade do Recife. Talvez seja do seu interesse. Aqui está A imagem: https://flic.kr/p/Jtd1be
    Parabéns pelo blog ! Saudações, Juliana Pontes

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    1. Cara Juliana

      Muito obrigado pelo link que me enviou. Adorei. É curioso, que aqui em Portugal estas pinhas e taças da fábrica de Santo António de Vale da Piedade são relativamente raras. Também é verdade, que nos sítios onde se encontram, no alto dos edifícios, é quase impossível conseguir ler as marcas, se é que as tem.

      um abraço

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