Venho-vos dar conta de mais algumas peregrinações, pelos cimos e beirados dos prédios, que fiz por esta cidade de Lisboa. Faltou-me a companhia que teve Norberto de Araújo durante suas Peregrinações, mas os meus seguidores irão certamente desempenhar com boa vontade o papel do sobrinho Dilecto e ler aquilo que escrevo.
Comecei a descer a Calçada da Ajuda a fotografar urnas, vasos, pinhas e estatuetas alegóricas. Encontrei tantas que fui forçado a desistir, pois de outra forma não chegaria a minha casa, a tempo de fazer o jantar.
Descobri um par de urnas com uma grega, que não consigo identificar a fábrica, que são fantásticas.
Depois outro par de urnas, tendo por cenário um prédio da primeira metade do século XIX, revestido a azulejos e um guindaste ameaçador lá ao fundo, que nos recorda que as demolições ainda indiscriminadas prosseguem autorizadas pela CML.
Encontrei ainda uma espécie de flamula em faiança e uma pinha muito colorida, com um certo ar de ser alguma produção das Caldas.
Uns números mais abaixo, há uma antiga casa de espectáculos que poucos conhecem o teatro Luís de Camões, fundado em 1880.
No alto, uma de cada lado, há duas estatuetas, representando as musas da comédia e da tragédia, Thalia e Melpômene, respectivamente.
A iconografia das duas é muito semelhante. Ambas apresentam uma máscara na mão. Julgo que a imagem mostrada será a Thalia, cujo nome quer dizer a que faz florescer, pois de facto parece ter uma flor a desabrochar na mão. A fotografia da outra musa ficou agendada para as calendas, pois tive que ir apanhar o comboio para a Baixa.
No dia seguinte, num pequeno largo ao pé do jardim das Amoreiras rematei estas peregrinações com a descoberta de outra urna, decorada com folhas de videira, cachos de uva e folhas de acanto, numa decoração a aludir à antiguidade clássica. E com ela me despeço dos meus dilectos seguidores.
Olá Luís.
ResponderEliminarBelíssimo post, igualmente belas fotos.
Adorei o remate do post..." peregrinações com a descoberta de outra urna, decorada com folhas de videira, cachos de uva e folhas de acanto, numa decoração a aludir à antiguidade clássica"
O primeiro vaso com a grega foi largamente fabricado pela fábrica das Devezas no Porto.
Beijos
Isabel
Caro Luís,
ResponderEliminarAinda bem q continua com as suas deambulações por Lisboa "à caça" destes belos exemplares de faiança no cimo dos prédios.
Qualquer dia vem tudo a baixo, por isso, há q fotografar enquanto é tempo!!!
A última vez q fui aí, há umas duas semanas, andei também atenta, mas estava a chover, não deu para fotografar nada de jeito.
Mas verifiquei uma coisa e agora dou-lhe razão quanto à inexistência de beirais com telhas de faiança em Lisboa. É q os beirais aí, como chove menos do q aqui mais para norte, são muito curtos ou inexistentes, por isso não devem ter utilizado as telhas decoradas nos prédios da capital.
Parece q as pinhas, urnas e vasos, também eram fabricados em Lisboa pela Viúva Lamego porq vi um par de exemplares num antiquário da Feira da Ladra q tinham essa marca.
Um abraço e boa semana de trabalho.
Que maravilha de passeio você nos proporcionou! Obrigado! As fotos estão ótimas.
ResponderEliminarabraços
Fábio
É verdade que a Ajuda ainda vai mantendo algo da sua arquitectura tradicional mais antiga e, em algumas zonas do bairro, até parece que ainda se está na província.
ResponderEliminarCreio que talvez ainda vá sendo uma ilha no meio desta cidade em trajectória de descaracterização (modernização, como é politicamente correcto dizer!).
Foi dos primeiros locais que conheci em Lisboa, pois quando desembarcava no cais da Rocha Conde de Óbidos, nos anos 60, ia directo para este bairro, onde vivia um casal amigo dos meus pais e que nos albergavam durante algum tempo antes de seguirmos para a região de Coimbra.
É com saudade e carinho que lembro os dias passados neste bairro, com uma vida característica, num andar que ficava fronteiro ao quartel, e da minha janela lembro-me ainda de ver muitas destas urnas a coroar as fachadas.
Achava-as o máximo, pois de onde vinha não havia tais elementos decorativos, nem creio que alguém pensasse em instalá-los, pois deviam ser considerados demasiado bota-de-elástico para uma cidade moderna a de vanguarda como se pretendia que fosse Lourenço Marques. Era uma cidade belíssima, era verdade, mas não pela arquitectura, antes pela natureza e pela paisagem que eram pródigas.
Manel
Maria Isabel
ResponderEliminarSe me pudesse indicar a fonte onde descobriu que a urna das gregas é das Devesas seria óptimo. Agora tenho acesso ao Sandão e ao Queiroz e assim poderia completar o post com informação mais precisa.
Beijos e obrigado pelos seus sempre agradáveis comentários
Cara Maria Andrade
ResponderEliminarDeveriamos tentar fazer um levantamento com algum sistema dos fabricantes destas peças. Sacavém, Viúva Lamego, as Devezas, Sto António do Vale da Piedade e Miragaia fizeram-nas, mas pouco mais sabemos sobre elas. Podemos ver que há uma grande variedade de objectos. Enfim, fazer estes posts já é um caminho para se descortinar qualquer coisa, além de que é divertidíssimo descobrir e fotografar estas coisas.
Caro Fábio
ResponderEliminarJá cá sentiamos a sua falta.
Esta mania de fotografar o altos dos edifícios foi motivada pelos seguidores brasileiros deste blog e agora já é quase uma moda nesta pequena comunidade de bloguistas ou blogueiros que aqui se formou.
O "seu" Leão das Devezas está à espera de uma oportunidade para aparecer.
Abraços Lisboetas
Manel
ResponderEliminarobrigado pelo teu comentário poético e muito bem escrito a esta minha deambulação por uma Lisboa romântica, com prédios de azulejos, balaustradas de faianças e muitos vasos, urnas e estatuetas elegantes. A comparação com a Lourenço Marques modernista dos anos 60 foi muito bem feita.
Luís!
ResponderEliminarQue lindas peças aqui nos mostra!
Faz-me morrer de inveja!
Aqui por Braga, bem que ando de nariz no ar, mas só vejo urnas em granito, todas muito idênticas e que me parecem não ser muito antigas. Mesmo assim tenho que arranjar tempo para as fotografar :)
A pinha, que não é pinha :), a da quinta fotografia, é a minha preferida. Acho um encanto todas aquelas estrias ondulantes.
A balaustrada do prédio revestido a azulejos é magnífica.
Um abraço
Maria Paula
Caro Luís
ResponderEliminarEm relação à fábrica das Devezas vi em tempos num site de um leilão um vaso branco pintado com uma grega em azul.Na feira da ladra vi em tempos um igual marcado.
http://www.cml.pt/cmleiloes nº 341
No livro do Queiroz lê-se que a fábrica produziu muitos objectos de ornamentação além de azulejos,o que evidencia à priori não só a pintura como também o molde nas peças maiores de ornamentação como os vasos e urnas, meados do século XIX princípios de XX.
Ao que eu conheça, este motivo não se encontra imitado noutra fábrica.Fiz esta pesquisa para tentar encontar o mistério de um grande prato que tenho pintado a azul com uma decoração tipo grega e na altura encontrei um site que agora não encontro que falava precisamente nisso.
Sei que não ajudei...estão sempre a alterar os sites, a eliminar, era tipo uma monografia com a história da faiança portuguesa.
Beijos
Isabel
Maria Paula
ResponderEliminarEstou cheio de curiosidade de ver as suas fotografias das urnas em granito. Fotógrafa talentosa como é de certeza que nos vai surpreender
maria Isabel
ResponderEliminarMuito há para fazer em matéria de estudos sobre faiança portuguesa. Tb tenho a ideia que as Devesas são o grande produtor deste tipo de obras. Pela minha parte vou tentar informar-me mais. Beijos