Esta tampa de terrina estava há muito tempo no chão da feira de velharias de Estremoz, a chamar com o seu charme discreto os amantes de faiança. O Manel namorou-a primeiro, eu acariciei-a depois, mas não a comprei, estava muito cara, sobretudo atendendo ao facto de ser apenas uma mera tampa e apresentar marcas de restauros. Mas o Manel, que já comprou muita coisa à dona da banca, arrebatou-a por um preço bastante mais baixo num destes últimos fins-de-semana. Fiquei quase invejoso, mas as boas faianças, são como as belas amantes, disputam-se sem piedade.
Sem estar marcada, esta tampa apresenta nitidamente as características do segundo período da célebre Fábrica de Estremoz, que laborou entre 1773/4 e 1808. Nesta segunda fase, a produção da fábrica dividia-se nos seguintes tipos: pintura floral; rosetas; paisagens e ainda motivos diversos. A peça do Manel enquadra-se naturalmente na categoria das paisagens e revela umas das técnicas requintadas de pintura da referida Fábrica.
Num primeiro plano, é apresentado um rochedo, um arbusto ou um arvoredo em cores escuras e num segundo plano, uma paisagem com umas casas, torres ou templos, pintados em cores claras e desvanecidas. Está técnica de pintar a mais escuro o que está mais perto do espectador e a cores mais claras, o que está mais longe, consegue o dar o efeito de profundidade e é uma das marcas mais típicas de Estremoz.
Além do efeito de perspectiva acima descrito, esta tampa apresenta também as cores características desta fábrica, o amarelo e o verde, com algum azul aqui e acolá.
Quem quiser saber mais sobre esta fábrica, para além da Cerâmica neoclássica em Portugal. – Lisboa: IPM, 1997 deverá ler a obra de Sven Staff, Faiança portuguesa: fábrica de Estremoz, editada em 1997, pela Egger-verlag, bem como a Faiança de Estremoz. - Lisboa : Museu Nacional do Azulejo, 1995. Este último título foi-me indicado pelo Mercador Veneziano.
LINDA a tampa! Incrível mesmo. Adorei. Parabéns Manel pela compra, obrigado Luis (e Manel, naturalmente), por dividir conosco esta beleza.
ResponderEliminarLindos os detalhes em forma de folhas no encontro da alça da tampa com a mesma.
Esta técnica de perspectiva aérea, ou perspectiva atmosférica, como você bem descreveu, é um detalhe especial da pintura da tampa; demonstra conhecimento de história da arte por parte do mestre artesão que a concebeu. E o interessante é o uso de amarelo, ao invés de azulado, que é o mais comum em pintura em telas. O efeito resulta mais quente.
abraços!!
Caro Luís
ResponderEliminarQuando vim espreitar o seu " Velharias", e dei de caras com esta magnífica tampa, fiquei maravilhada, e, confesso, com pena de não ter andado por Estremoz :) Teria sido mais uma séria pretendente. Parabéns ao Manel,por esta aquisição.
Os conteúdos dos posts para mim, são sempre uma lição. Este não foge à regra! Sei muito pouco sobre faiança, e, sobre a de Estremoz, em particular, muito menos. Vou aproveitar a sua sugestão de leitura e tentar comprar o livro que refere.
Um abraço
Maria Paula
Olá Luís.
ResponderEliminarUma peça fabulosa.Nada mais interessante que um namoro quase de um ano e acabar por a comprar a um preço mais convidativo.Há muito que se distingue o gosto peculiar que nutrem pela faiança, o seu e do seu amigo Manel, esta peça é uma mostra disso. Linda, rara, em muito bom estado de conservação, decoração soberba.Qualquer um de nós amantes de faiança gostaríamos de ter uma peça igual, digo mais até do que um prato.
Este ano ainda não fui a Estremoz...mas quero ir...
A talhe de "aviso" alerto o Manel para que não caia na tentação de a mostrar na sua nova casa de xisto...os roubos....ando sempre com o coração nas mãos...só de me lembrar quando a minha foi assaltada e levaram 50 peças de faiança...Desculpem alvitrar, indescritível a sensação de entrar,ver os escaparates vazios...
Uma aquisição em tempo de férias que marca um tempo no tempo, intemporal!
Beijos
Isabel
Olá Luís,
ResponderEliminarEm primeiro lugar seja bem vindo de regresso ao blogue e aos seus ínteressantes posts, já cá sentíamos a sua falta...
Já me estou a sentir de novo puxada para a faiança :) Sou como o outro, tenho dois amores... ou mais... e não sei de qual eu gosto mais (LOL)
Esta tampa é encantadora, também não gosto de dar muito dinheiro por uma peça, mas não sei se teria aguentado um ano de namoro :) Parabéns ao Manel por finalmente se ter decidido... com a dama a fazer-se menos rogada, é verdade.
Também ando em negociações com uma peça com este tipo de decoração, talvez este fim de semana consiga fechar o negócio... e depois, já sabem, não deixarei de a mostrar no meu blogue.
Abraços
Neste mom
Ola Luis!
ResponderEliminarComo está?
Há muito tempo que não passava por cá =D
Quase todos os dias vinha cá espreitar e lá estava o post de Vinhais.. =)
Lindíssima tampa! Muito bonita, e eu que gosto particularmente de peças antigas pintadas á mão...
Gosto não só do motivo lateral, mas também do lateral, mais simples..
O que o Manel diz, é de facto verdade...
Como seria a terrina? É algo que nos transcende, mas nos deixa a pensar...
Um abraço,
Flávio Teixeira
Olá para todos,
ResponderEliminarEncantado que fiquei com esta tampa comprada pelo Manel, fui olhar em meus guardados mais imagens de faianças de Estremoz, e há coisas tão bonitas, que me senti compelido a dividir com vocês.
Salvei apenas as fotos de peças que tivessem alguma relação com a tampa motivo deste post; sejam as cores, os motivos, ou por serem terrina. Salvei também uma foto de uma terrina totalmente rococó, que embora não esteja tão relacionada com a tampa acima, é uma peça tão rica, tão bela, que não pude deixar de fora!
Aqui está o link do álbum picasa que fiz com as fotos:
https://picasaweb.google.com/fabiocarvalho2105/FaiancaEstremoz?authuser=0&authkey=Gv1sRgCJ2qhYOeruLJhAE&feat=directlink
Caro Luís,
ResponderEliminargostaria de acrescentar à sua lista de obras em que se pode estudar o espólio produzido em Estremoz, o exemplar intitulado "Faiança de Estremoz", catálogo da exposição realizada em 1995 no Museu Nacional do Azulejo. sei que é uma obra pouco conhecida pois o livro esgotou rapidamente, mas vale a pena pois além de dedicar-se exclusivamente ao fabrico referido, reúne um grande conjunto de peças de grande interesse e beleza.
Mercador Veneziano
Olá Luís
ResponderEliminarBem vindo! Parabéns para si pelo post e para o seu amigo Manel, por ter uma peça tão bonita na sua colecção.Dá para perceber o requinte da imagem e a leveza da pintura. Penso que o tema da paisagem, com a pequena construção, muitas vezes ruínas, tão ao gosto do século XIX,se pode ligar com os temas introduzidos pelo pintor francês Pillement, que esteve em Portugal cerca de 1780, onde trabalhou para a Casa Real e aristocracia.Particularmente apreciador de paisagens bucólicas, influenciou, com as suas gravuras, muitos pintores de cerâmica, como foi o caso dos de Estremoz.
Cumprimentos
if.
Caro Fábio
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário. A técnica de pintura atmosférica de Estremoz é de facto bonita, pois os elementos da composição são simplificados de forma elegante e dão realmente uma boa ideia de profundidade.
Sven Staff, autor de uma monografia sobre esta faiança refere que estas paisagens poderão traduzir as vistas dos campos alentejanos, uma região portuguesa onde impera uma simplicidade na arquitectura e paisagem muito característica. O Alentejo é mais um dos sítios que o Fábio tem que visitar quando vier novamente a Portugal.
Abraços
Maria Paula
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras. Sabe que para mim escrever o blog é uma espécie de exercício, onde me obrigo a estudar um pouco ou a reflectir sobre o que li e essa actividade semanal, permitiu-me sobreviver a um emprego maçador e sem sentido e mais, arranjar confiança para encontrar um emprego mais interessante.
Abraços
Maria Isabel
ResponderEliminarEstremoz é sempre bonita e a feira tem sempre boa faiança e arte sacra, embora esta última tenha sempre preços mais proibitivos.
Abraços
Flávio
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário. Brevemente mostrarei uma terrina completa de Estremoz, de uma das nossas seguidoras, que nos dará uma boa ideia da qualidade atingida nesta fábrica.
Abraços
Caro Mercador
ResponderEliminarJá acrescentei o título que me sugeriu no post e assim o texto fica mais completo e um bom ponto de partida para quem queira estudar o assunto Faiança de Estremoz.
Agradeço-lhe muito e um abraço
Cara If
ResponderEliminarFez muito bem em referir a influência Pillement na faiança de Estremoz. Aliás este pintor francês deixou também uma marca fundamental na azulejaria e pintura mural.
Abraços
Fábio
ResponderEliminarObrigado pelo link, que apresenta peças espantosas!!!!!!
Cara Maria Andrade
ResponderEliminarEu tenho muitos amores. Gosto de arte sacra, mobiliário, pintura, escultura, mas uma bolsa mal recheada como a minha só consegue chegar à gravura, porcelana e à faiança, que são colecções mais baratas de se fazer e mais fáceis de arrumar em casas pequenas.
Fico curioso com a peça que pretende comprar.
Abraços
Ola Luís
ResponderEliminarVai colocar neste post ou em outro?
Flávio Teixeira
Apontamentos sobre Faiança de Estremoz, in Revista do Museu de Olaria, 2011.
ResponderEliminarAqui pode encontrar bastantes dados novos sobre esta faiança.
Caro Anónimo
ResponderEliminarMuito obrigado por essa sugestão. Se apanhar o nº dessa revista, certamente irei consulta-lo e lê-lo com com toda a atenção.
abraço
O meu nome é Vitor Roma, esta tampa pertenceu-me e foi-me esbulhada pela mulher que trabalhou para mim na minha loja de Borba. Vejo que a vendeu por um quarto do que aquilo que valia (o valor que eu tinha decidido). É claro como não lhe custou nada podia fazer um sorriso enigmático e vendê-la por qualquer preço. Pensem que estavam em Estremoz, terra da "faiança de Estremoz" onde toda a gente sabe o apreço e o gosto dos coleccionadores de faiança por esse género,e o seu valor comercial, que a tipa trabalhava numa das lojas de antiguidades e curiosidades mais conhecidas do país, e que só podia ser estranho vender uma peça dessas por um preço (irrisório?)desses. Claro que estavam num mercado de velharias, e sempre há o atenuante de se não compro eu alguém o fará, mas ...caramba, que se lixe a tipa não tem qualquer moral, e o culpado fui eu que andei a dormir com ela. Agora não me posso queixar, que vá parar a melhores mãos !!
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