a Soupière chinoisante |
Durante uma boa meia dúzia de anos fui webmaster de um site institucional, isto é, eu estava encarregue de carregar os conteúdos da página da internet de um organismo do Ministério da Cultura. E claro, por obrigação profissional, consultava as estatísticas de utilização desse site e fazia relatórios periódicos à direcção.
Aqui no blog mantive os mesmos hábitos de verificar as estatísticas dos visitantes. Não por vaidade, porque sei que uma página onde se escreve sobre velharias, memórias familiares e muita, muita arte sacra é obviamente pouco popular. Pretendo perceber quem é que tem pachorra para me aturar e porque é que o fazem. Esta tarefa orienta de alguma forma o que escrevo e como apresento a informação.
No último mês descobri, que tinha tido um aumento dos visitantes franceses e que vinham quase todos reencaminhados através de um site: http://placedelours.superforum.fr/t9910-soupiere-chinoisante-faiancas-vitoria-portugal.
Curioso como sou fui logo lá espreitar e descobri que era um fórum sobre velharias e que um dos assuntos, que estava à discussão era uma Soupière chinoisante, que mais não era do que uma terrina portuguesíssima de cantão popular. Os participantes discutiram entre si, houve quem arrisca-se que podia ser uma peça alemã ou espanhola, mas uns participantes mais afoitos, lançaram mão do Google e chegaram ao meu blog, ao da Maria Andrade e ao Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém e concluíram que a faiança era seguramente portuguesa. O mais curioso disto tudo é que a terrina apresentava uma marca de fabrico, o que é uma raridade.
Faianças Vitória |
Registei-me no Fórum e como português que sou, consegui rapidamente ler a marca, que era Faianças Vitória, uma fábrica de que nunca tinha ouvido falar na vida.
Fiz umas quantas pesquisas na internet e cheguei ao artigo de Manuel Ferreira Rodrigues, Os industriais de cerâmica: Aveiro, 1882-1923, publicado na revista Análise Social ,vo1-xxxi (136-137), 1996 (2.°- 3.°), 631-682 , que refere ter existido na região de Aveiro uma fábrica, fundada em 1922 por uns irmãos Vitória e cuja laboração se estendeu quase até aos nossos dias. Não tenho a certeza se estes irmãos Vitória seriam os fabricantes da terrina do fórum http://placedelours.superforum.fr, mas julgo que podemos pensar que sim, embora com as devidas reservas. A terrina deve ser uma peça dos primeiros anos do Século XX, o que coincide com o início da actidade destes senhores Vitória.
Fiquei também muito contente porque neste momento já consegui identificar quatro fábricas que produziram cantão popular:
- Lusitânia (em Coimbra ou Lisboa);
- Cavaco (Gaia);
- Louças da Pinheira (Aveiro);
Fiz umas quantas pesquisas na internet e cheguei ao artigo de Manuel Ferreira Rodrigues, Os industriais de cerâmica: Aveiro, 1882-1923, publicado na revista Análise Social ,vo1-xxxi (136-137), 1996 (2.°- 3.°), 631-682 , que refere ter existido na região de Aveiro uma fábrica, fundada em 1922 por uns irmãos Vitória e cuja laboração se estendeu quase até aos nossos dias. Não tenho a certeza se estes irmãos Vitória seriam os fabricantes da terrina do fórum http://placedelours.superforum.fr, mas julgo que podemos pensar que sim, embora com as devidas reservas. A terrina deve ser uma peça dos primeiros anos do Século XX, o que coincide com o início da actidade destes senhores Vitória.
Fiquei também muito contente porque neste momento já consegui identificar quatro fábricas que produziram cantão popular:
- Lusitânia (em Coimbra ou Lisboa);
- Cavaco (Gaia);
- Louças da Pinheira (Aveiro);
Pelos menos no início do século XX Aveiro parece ser um centro de fabrico deste motivo. Só é pena é que todas estas peças marcadas sejam produções do início do século XX.
As peças mais antigas de cantão popular não apresentam marcas é impossível descobrir quem as fabricou |
As belas travessas, terrinas e pratos mais antigas, feitas ao longo do século XIX e que não apresentam marcas continuam continuam a guardar o seu mistério.
Agradeço aos participantes do http://placedelours.superforum.fr a amabilidade me cederem o uso das fotografias.
Também cantão popular, esta terrina do Séc. XIX também não apresenta marca é impossível determinar o seu fabrico. |
Que interessante, Luís!
ResponderEliminarJá fui ao Forum e embora aquele francês coloquial não seja muito fácil para mim, consegui entender, vi as referências aos nossos blogues e ao MAFLS e gostei...
E que excitação deve ter sido para si ter conseguido decifrar aquela marca do nosso cantão popular!
Já agora pode acrescentar à lista de fábricas a de S. Roque, também em Aveiro, que tem um cantão popular mais refinado, mas também muito caraterístico. Eu tenho um exemplar desses e também já apareceram no MAFLS e no Lérias e Velharias.
Tenho que voltar a fazer um post sobre o cantão popular... ;)
Até breve.
Maria Andrade
EliminarObrigado pela sua sugestão. já actualizei o post com a referência a S. Roque.
Bjos
Luís
Logo que vi o anúncio de post novo, no Google Reader, pensei "EBA! Mais um cantão popular do Luis!". Mesmo que não seja teu, fico muito feliz por vc ter, por curiosidade nas estatísticas, ter localizado uma nova fábrica, e uma nova marca (coisa rara em Portugal; peças marcadas).
ResponderEliminarParabéns por ter fuçado e encontrado toda esta história. Me diverti um pouco com as hipóteses do pessoal do fórum francês.
Do seu humilde amigo do "Clube do Cantão Popular", segue um abraço
Fábio
Fábio
EliminarMuito obrigado. É fraças a ti e aos links que me fizeste no teu blog que tenho muitos leitores no Brasil.
A internet permite estas coisas incríveis como encontrar uma faiança portuguesa em França e ainda por cima de um género que raramente aparece marcada.
Também é curioso que que já há uns 6 anos vi em Paris no Marché aux Puces uma terrina de cantão popular portuguesa. Como lá foi parar não sei, mas até estava à venda num estaminé muito chique.
Abraços
Olá Luis!...
ResponderEliminarParabéns por mais este magnifico e interessante post!...
Fico muito contente e lisongeado por "fazer parte" das suas estatisticas, como assiduo leitor dos seus textos!!!
Um abraço de amizade...
Carlos
Muito obrigado pelas palavras simpáticas.
EliminarUm abraço também para si Carlos Gonzalez
boa tarde.
ResponderEliminarposso acrescentar ainda que descobri recentemente que a Fábrica Constância em Lisboa também teve produção baseada no Cantão Popular no início do século XX, o que me surpreendeu bastante pois conheço razoavelmente bem a sua produção e ainda não me tinha deparado com nada de semelhante.
tenho fotos da peça em causa no caso de ter interesse em dar uma vista de olhos.
cumprimentos,
Mercador Veneziano
Cara Mercador
ResponderEliminarO meu amigo está sempre a descobrir coisas estupendas. Naturalmente terei todo o gosto em receber imagens da peça marcada que possui. O meu e-mail está no profil, mas julgo que já terá o meu endereço de e-mail, pois já anteriormente me enviou outras imagens.
Um abraço e fico à espera do seseu e-mail
Mais duas novas referências do Cantão Popular, graças aos achados do Mercador Veneziano, e até além fronteiras.
ResponderEliminarQuiçá esta terrina tenha sido levada por uma daquelas portuguesas, como a que aparece nas "Triplettes de Belleville".
Cada vez se completa mais este puzzle do Cantão Popular que tanto me fascina pela criatividade que despertou nos nossos artistas/artífices.
Mas, de início, estava difícil de encontrar o que quer que fosse.
Lembro-me ainda de uma das primeiras idas à Feira da Ladra, há quase uma década atrás, em que um vendedor te queria vender (e vendeu) um pequeno pratinho com este motivo, ainda que este estivesse muito sumido, pelo muito uso, e te disse, de forma quase confidencial, como se estivesse a partilhar um segredo, que se tratava de um Miragaia!
Estes vendedores continuam a enxamear as feiras, e há muita gente que ainda acredita piamente neles, não obstante o ter desmistificado (e desmitificado), aqui, no teu blog, esta origem que, hoje sabemos, ser errónea.
Manel
Olà Luis!
ResponderEliminarO antiquariado é uma tradiçao antiga na qual vivo, mas também o grande amor pelas coisas que pertenciam a aqueles que viveram antes de nos, uma imensidao de sentimentos. Cuidar de uma peça de mobiliario que nao so é "velho", mas tem uma historia para contar é facil e muito gratificante.
Beijos
Evelina
Cara Evelina
ResponderEliminarTens toda a razão. Coleccionar é sempre qualquer coisa sentimental. Cada peça tem em si uma história e conta-la é o que modestamente tento fazer aqui no blog.
Beijos