Um seguidor deste blog, um coleccionador do Norte, enviou-me muito simpaticamente um belo prato em faiança para eu mostrar aqui no blog. Este nosso amigo estava na dúvida se o prato seria Bandeira. Neste blog ou no da Maria Andrade já abordámos várias vezes como as produções de Bandeira e Fervença se confundem. Ainda, para mais não podemos comparar ao vivo as peças em discussão, comparar-lhes o peso, o brilho e a cor. Além de que fotografia nem sempre é fiel à cor original da faiança. Fervença e Bandeira são um assunto em que todos nos confundimos.
Não tendo marcas, nem hipótese de confrontar as peças ao vivo, resta-nos comparar os padrões e cores das peças em dúvida com obras, que foram identificadas por entidades credíveis, como por exemplo os museus nacionais ou eventualmente as leiloeiras, que costumam serão prudentes nas suas atribuições, pelo menos as boas casas.
Prato do Leilão de Abril de 2012 de Cabral Moncada |
Pessoalmente, encontro semelhanças entre o prato do seguidor do Norte com o prato que apresenta também uma decoração com treliça e flores, posto à venda no Cabral Moncada, no leilão de Abril de 2012 e atribuído a Fervença. Também lhe encontro parecenças com um prato da Menina gorda, do Museu Nacional de Arte Antiga, igualmente atribuído a Fervença.
Prato atribuído a fervença do Museu Nacional de Arte Antiga |
A fábrica de Fervença foi fundada por Nunes da Cunha entre 1824 e 1826 em Gaia. Esta manufactura integrou o depósito geral da louça da Rua da Esperança, portanto os proprietários tinham ligações com os Rochas Soares de Miragaia. Terminou a sua produção entre 1859-60 e o equipamento transitou para a Fábrica do Cavaco.
Em suma, este prato talvez seja Fervença e assim sendo, terá sido fabricado entre 1826 e 1860.
Sempre gosto quando há aqui um post sobre as faianças portuguesas, não apenas por serem tão belas de se olhar, mas porque também aprendo sempre um pouco mais contigo.
ResponderEliminarabraços!
Fábio
Muito obrigado Fábio
EliminarTento dentro do possível ordenar ideias do que vou lendo ou vendo e nem sei se sempre estarei certo
abraços
Caro LuísY - muito obrigado por nos mostrar um belo exemplar de faiança portuguesa da coleção de um seguidor do seu blog - agradecimento extensivo a ele pelo prazer da partilha.
ResponderEliminarReconheço, e aplaudo tudo o que fala sobre a faiança não marcada, e das dificuldades na sua catalogação.Já reparei que os Museus só falam da origem do fabrico se a peça estiver assinada - raros os casos que não o estando - se limitam a dar duas ou três hipóteses para a origem de fabrico...já os leiloeiros - muitos limitam-se a dizer - faiança do norte - ora no norte houve tantas fábricas e boas, e não somente Fervença ou Bandeira.
Gostaria que tivesse postado mais fotos: sobre o tardoz ( se é translúcido nas cores - uma carateristica de Fervença, e outra mais personalizada da decoração - há uma cor que mal se identifica se preto ou azul escuro (?) na faixa da aba - Fervença usava o manganês esborratado tal como o cobalto.
Para mim o prato não é Fervença nem o da 2ª foto que há 1ª vista se confunde com Bandeira pela reserva cruzada ao meio e pelo filete largo amarelo - poderá ser Estremoz pela delicadeza das ramagens em manganês - Coimbra pelo filete em ziguezague a ornar o filete amarelo no limite do covo - provavelmente será fabrico de Darque pelos arabescos em manganês delicados na orla.
A 3ª foto apresenta na massa muitos buraquinhos no menino gordo - e Fervença produziu qualidade - estando no Museu de Arte Antiga - sabe-se que não há exemplares marcados - existem alguns com um risco a manganês... por isso o prato se confunde e muito com fabrico de Darque.
Fervença usou o amarelo canário em filete mais fino ao meio da aba, e não ao limite do covo como no caso do prato apresentado - este filete amarelo, largo, nesta posição limitado por outro fino em laranja é típico da pintura de Darque, e outras fábricas do norte.
Também pela decoração central - cruzamento de reservas com florzinhas poderia ser de Miragaia, e se dermos importância às cruzes nas reservas - se fossem em manganês evidenciava fabrico de Estremoz.
Pois...
A decoração da aba foi vastamente pintada por Coimbra - Brioso século XIX; Estremoz; Darque; Miragaia;Bandeira;Afurada;Santo António do Vale da Piedade e,...
Já não sei quem postou outro belo prato julgo da comentadora misteriosa "C" - se o Luís ou a Maria Andrade em tons amarelos com um fidalgo ao centro - a esse sim acho semelhanças no fabrico e no brilho estanífero ao prato que apresenta.
O que me intriga é mesmo a bordadura escura habitual na fábrica da Afurada.
Pelo brilho poderá tratar-se de um prato da Fábrica Santo António do Vale da Piedade ou Miragaia.
Possivelmente não ajudei em nada - uma certeza todos temos: é fabrico do norte!
Desculpe se me alonguei nas minhas observações.
Beijos
Isabel
Cara Maria Isabel
EliminarObrigado pelo seu comentário, mas talvez seja bom esclarece-la que não tenho o hábito dar opiniões sem as fundamentar. Procuro basear as minhas convicções em livros e de preferência em bibliografia actualizada e claro visitando os museus.
Sendo assim e se se der ao trabalho de consultar as seguintes obras:
A Faiança portuguesa: fábrica de Estremoz / Sven Staff- 1997
Cerâmica de Coimbra do século XVI-XX. Lisboa. Edições Inapa, 2007
Cerâmica neoclássica em Portugal. – Lisboa: IPM, 1997
Fábrica de Louça de Miragaia, Lisboa: IMC, 2008
Cerâmica de Coimbra do século XVI-XX. Lisboa. Edições Inapa, 2007
Verá que nenhum dos pratos apresentados é Coimbra, Miragaia ou muito menos Estremoz, esta última fábrica com uma produção muito mais erudita. E enfim, este prato apresenta uma decoração popular.
A discussão sobre este prato poderá ser entre Bandeira, Afurada ou Fervença.
Por último, aconselho-a vivamente a deixar de dar ouvidos às opiniões dos vendedores de velharias. Para eles tudo é pombalino, tudo é Rato ou Miragaia e é tudo do século XVIII e muito raro e caro. Uma faiança com cores coloridas dos inícios do séc. XX é por eles transformada rapidamente em Estremoz ou Viana, quando estas fábricas terminaram uma no início do Século XIX e a outra em meados desse mesmo século.
Julgo que há que poisar os pés na terra nesta questão da identificação das faianças, esta matéria cujo gosto partilhamos de forma tão intensa.
Bjos
Antes de mais, parabéns pelo prato, pois é lindíssimo, sobretudo a parte central, que me toca de perto.
ResponderEliminarQuanto à identificação, a frio, e se o visse à venda, eu diria que seria Fervença, o que basearia no muito que, felizmente, vou vendo e pelas atribuições que vai fazendo quem disto percebe realmente.
Mas se me dissessem que seria Bandeira, também não discutiria, pois há grande afinidades entre estas duas produções.
Afurada não conheço o suficiente para me lançar nesta jornada.
O cromatismo, no entanto, leva-me mais para Fervença.
Quanto ao motivo, parece-me que vejo semelhanças com um prato que adquiri recentemente, e que igualmente me parece Fervença (o vendedor jurava a pés juntos que era Miragaia - por sorte o preço não equivalia ao que se pediria por uma peça Miragaia - eu deixei-o falar, como aliás vou tendo por hábito deixar, e tirei as minhas conclusões, pois sabia perfeitamente que não se tratava de Miragaia!!!! ... nestas coisas eu deixo-os falar, pois não vale a pena ensinar-lhes o que quer que seja, porquanto acaba-se sempre a falar sozinho, e algumas vezes, aborrecido pelo latim que se perdeu com quem não merecia!)
Manel
ResponderEliminarManel
Manel
Sensatas palavras as tuas.
Bem sei que Fervença, Afurada e Bandeira são confundíveis e que poucas faianças portuguesas estão marcadas e é sempre um tiro no escuro atribuír, mas enfim, por comparação, julgo que este prato poderá ser Fervença.
Obrigado
Para que conste, Viana fábricou de facto pratos com o motivo Meninos Gordos, mas muitissimo diferentes do exemplar do Museu Nacional de Arte Antiga. Apresentam uma cercadura muito simples só com uma linha e um desenho quase caligráfico. O Museu de Alberto Sampaio de Guimarães tem dois exemplares marcados com V, de Viana, que foram publicados no catálogo "Meninos gordos : contar uma história através da faiança / coord. Isabel Maria Fernandes. - Guimarães 2005". Se a Maria Isabel o desejar, terei o maior gosto em enviar-lhe uma cópia desses pratos de Viana com os meninos gordos, muito diferentes dos restantes.
ResponderEliminarSim, Luís, este belo prato do seu seguidor também me parece o estilo de Fervença. Talvez as cores não tenham ficado muito fiéis na fotografia porque as ramagens à volta da aba devem ser em manganés, o que também é caraterístico desta fábrica. Bandeira usou em geral as mesmas cores mas folhagem e flores diferentes.
ResponderEliminarPara mim, de tudo o que tenho visto ao vivo ou em fotografias de livros e catálogos, estes botões florais com este tipo de folhagem são marca de Fervença, mas nessa obra “Meninos Gordos, contar uma história através da faiança”, aparecem alguns exemplares com o mesmo tipo de elementos decorativos na aba atribuídos à Afurada... e isso é que me baralha :)
Enfim, não há certezas, mas pelo menos podemos associar semelhanças e neste caso Fervença parece-me uma boa hipótese.
Bjs.
Maria Andrade
EliminarEste nosso simpático colecionador do Norte enviou-me uma fotografia que eu presumo que tenha sido tirada à noite e as cores do prato ficaram mais escuras, menos alegres do que eu suponho serem as originais. Ainda tratei a fotografia, mas apesar de tudo a luz do sol não se imita no photoshop.
A minha dúvida é também com Afurada e parte também desse livro sobre os Meninos Gordos. Aliás, a primeira vez que ouvi falar da Afurada foi consigo, quando citou este livro num comentário qualquer e assim que pude fui consulta-lo.
Bjos e muito obrigado
Olá Luís
ResponderEliminarParabéns pelo bonito prato que nos mostra. Também, intuitivamente, me inclino para Fervença.As cores da aba, nomeadamente o verde e ocre, me parecem indiscutivelmente desta fábrica, bem como a espécie de botão de flor que exibe e que o Luís tão bem caracterizou já com outras peças. A fábrica de Bandeira costuma apresentar uma bordadura de flores e folhas maiores, que dão mais vivacidade e se distinguem bem de Fervença.
Certo é, também, que as atribuições são difíceis pois não existem marcas, como muito bem refere.
Um agradecimento para o coleccionador do Norte.
Cumprimentos
if
Cara If
ResponderEliminarObrigado. A sua opinião é importante para mim e fico agora um pouco mais seguro que este prato seja Fervença. Estes botões são de facto uma característica desta Fábrica.
Abraços
Boa noite caro Luis
EliminarNunca pensei que o prato desse tanto que falar!
Mas uma discução muito salutar.
Um abraço
Caro João Pinto
ResponderEliminarComo as faianças portuguesas do século XIX raramente estão marcadas as atribuições tem uma percentagem alta de erro. O único método possível é atribuir as peças a partir de exemplares marcados, de peças catalogadas por Museus ou por classificações feitas por historiadores de arte em obras especializadas. Tudo o resto é andar à caça de gambuzinos.
Mas em todo o caso a faiança é um tema fascinante, que dá origem a discussões interessantes, embora haja sempre quem tenha pouca humildade para aprender.
Um abraço e volte sempre
AO VER UM SITE SOBRE FAIANÇAS, CURIOSIDADE MINHA, POIS OS DONOS DA FÁBRICA CAVACO FORAM MEUS PADRINHOS DE BATIZADO, INFORMO QUE TENHO ALGUMAS PEÇAS QUE FORAM OFERECIDAS AOS MEUS PAIS, QUE EU AINDA GUARDO.
ResponderEliminarTERÃO ALGUM VALOR MATERIAL ESTAS PEÇAS, PARA NÃO FALAR DO VALOR SENTIMENTAL QUE ELAS REPRESENTAM PARA MIM.
AGRADECERIA O FAVOR DO VOSSO COMENTÁRIO.
CUMPRIMENTOS
Caro anónimo(a)
EliminarHá um grande colecionismo de faiança portuguesa e esta tende sempre a valorizar-se. Mas, as peças do Cavaco não são muito antigas e portanto não valem muito. Embora eu não seja avaliador nem negociante de antiguidades, aconselho-o a guarda-las e estima-las.
Um abraço