sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Jarra de faiança de fabrico do Norte



Apesar da crise, fiz mais um disparate na feira de velharias de Estremoz. Mas os preços das coisas antigas estão a baixar tanto que é quase impossível resistir a peças que até há 3 ou 4 anos os vendedores pediam o couro e o cabelo por elas. Comprei uma pequena jarra de altar, em forma de balaústre, pintada com um motivo muito bonito, em que flores e uma cortina estão presas a uma linha azul.


O conjunto apresenta aquela leveza característica das artes decorativas da primeira metade do século XIX.

Um interior da primeira metade do séc. XIX. Reparem nas cortinas do topo do quadro, algo semelhantes às da jarra

A jarra não está naturalmente marcada, como é vulgar na faiança portuguesa. Normalmente, nos catálogos das leiloeiras e nos inventários on-line dos museus portugueses este tipo de faianças com estas decorações florais são atribuídas a fábricas do Porto ou Gaia. Uns vão mais longe e arriscam Santo António do Vale da Piedade e mais raramente a Miragaia, pois desde a exposição de 2008, a pessoas ficaram a conhecer melhor o que a Fábrica Rocha Soares realmente produziu.
Jarra do Museu Nacional Soares dos Reis atribuída a Sto. António do Vale da Piedade

Reproduzo aqui a uma jarra do Museu Nacional de Soares dos Reis com uns motivos florais semelhantes a este e que está atribuída a Santo António do Vale das Piedade. Mas como todos sabemos, as fábricas copiaram-se umas às outras e as semelhanças podem não querer dizer nada.

Em suma, poderei afirmar que será uma jarra de meados do século XIX, provavelmente de fabrico do norte e tudo o mais são conjecturas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Francisco (1891-1916)


Além de forma de culto aos mortos, escrever memórias familiares é sempre uma tentativa de descobrirmos mais sobre nós, entender como somos e como nos formámos, pois acreditamos que somos uma combinação genética, fruto de várias uniões entre homens e mulheres que nos antecederam. Procuramos por isso descobrir nas fotografias dos nossos antepassados os mesmos olhos, uma boca e um queixo semelhantes aos nossos, como se de certa forma houvesse elementos fisionómicos imortais, que passassem de geração em geração.

Estes pensamentos foram-me despertados pela fotografia de um antepassado meu, o Francisco Manuel, que morreu em 1916, com 25 anos, de um acidente de caça. Tal como todas as pessoas que morreram jovens, manteve uma certa áurea em volta da sua memória. Ninguém se recorda dele como um velho chato, rezingão ou decrépito e incontinente, mas sempre como o jovem finalista de medicina que partiu demasiado cedo.

Quando eu tinha 16 ou 17 anos, a sua sobrinha, descobriu que eu era parecido com ele e talvez o fosse na altura. Tal como ele tinha igualmente o brilho da juventude, o rosto comprido e na altura vestia-me de uma maneira retro, com roupas antigas do meu pai, o que me dava um certo ar de fotografia do passado. Aliás, ainda hoje cultivo um pouco esse estilo.

Mas a procura de parecenças, fica pela fisionomia. Além de outra fotografia dele, ainda criança, tirada na companhia dos pais e irmã (a minha avô materna), pouco ou nada sei dele. Era finalista de medicina e morreu num desastre de Caça e nestas duas frases praticamente se resume o que ficou dele. Deixou também algures no país um filho ilegítimo. Presumo, que no Porto, porque a Faculdade de Medicina já existia naquela cidade por volta de 1912-1916 e tenho ideia que ter ouvido falar que essa sua família secreta estava Porto. Claro desse filho ou filha do Francisco Manuel Pires de Morais, que também já dever morrido não sei nada.


Mas, creio que vou arranjar uma bonita moldura para a fotografia do Francisco Manuel e vou continuar a olhar para o seu rosto algo judaico e rever nele a minha própria juventude.

sábado, 21 de janeiro de 2012

As pagelas ou les images pieuses

Ao longo deste blog tenho massacrado alguns dos meus seguidores menos dados à religião com registos do século XVIII, normalmente impressos em Portugal. Os registos como aqui se explicou comprovam o cumprimento de uma peregrinação, a visita a uma igreja ou ainda constituem o documento pelo qual a Igreja concedia indulgências aos féis, que rezassem não-sei-quantas avés-marias diante de uma qualquer Nossa Senhora.

O verso da pagela. Foi impressa em Paris por Felix

Mas para além dos registos, no século XIX, divulgaram-se as pagelas, pequenas folhas com imagens piedosas para inserir num missal, eventualmente como marcador de páginas. Estas pequenas estampas eram oferecidas em cerimónias religiosas como o baptismo, a primeira comunhão, a confirmação ou um enterro. No verso poderiam conter uma oração, um pensamento piedoso ou então um texto manuscrito pela família da criança ou defunto.

Maria Madalena da colecção do José Oliveira


As pagelas mais bonitas e procuradas vinham de Paris, onde existia uma pequena indústria destas Images pieuses. Vimos num post anterior como o editor L. Turgis tinha um negócio tão rentável, que abriu uma filial em Nova Iorque, para vender os seus sagrados corações de jesus e de maria, bem as como as madalenas arrependidas e outros santos aos católicos americanos e canadianos.

O verso da pagela da Madalena Penitente. Impressa ela editora francesa Turgis, mas na filial de Nova Iorque

A este propósito aproveito para apresentar aqui uma Madalena Arrependia, semelhante à do Manel, mas impressa em Nova Iorque, propriedade do nosso amigo José Oliveira.


Estes editores franceses fizeram trabalhos muito requintados, imprimiram imagens cortadas em ogivas sugerindo vitrais ou então com os cantos recortados num trabalho semelhante a uma preciosa renda.
Pagela com motivo ogival, sugerindo uma janela gótica com um vitral..

No nosso tempo, em que a maior ambição do homem parece ser possuir um i-pod ou um i-phone da Apple, estas images pieuses parecem-nos talvez pirosas, impregnadas de um certa pieguice. No entanto, quando abrimos os antigos missais encadernados a osso ou a madrepérola e nos caem estas pagelas, parece que por breves instantes sentimos o calor das mãos das nossas avós, bisavôs e trisavós.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Alexandria


Alexandria é uma daquelas cidades míticas a que nunca fui, mas à qual já viajei vezes sem conta através dos livros. Fundada por Alexandre o Grande no Delta do Nilo, a cidade desde logo se assumiu como uma terra estrangeira no Egipto, habitada por gregos e judeus. Esta capital cosmopolita de ruas rectilíneas vai ser ao longo do primeiro milénio da sua existência berço de movimentos espirituais, que influenciaram decisivamente a civilização ocidental, como o neoplatonismo de Plotino e Hipácia. Aqui o antigo Testamento foi traduzido pela primeira vez do hebraico para o grego, por Fílon, um sábio judeu helenizado, que preparou o caminho para a conquista do mundo pelo cristianismo, uns séculos mais tardes. Nos finais do Império romano, Alexandria foi a cidade de Santa Catarina, que como vimos anteriormente, a tradição misturou com a figura de Hipácia e ainda de Clemente de Alexandria, um dos teólogos mais importantes do Cristianismo. Aliás, nos primeiros séculos da sua existência, a religião cristã contrói a sua teologia e a sua interpretação dos ensinamentos de Cristo a partir do neoplatonismo da escola de Alexandria.

Liz Taylor, a eterna Cleópatra

Alexandria é também Cleópatra, que nós imaginamos sempre com o rosto de Liz Taylor ou com o nariz que Uderzo lhe deu na banda desenhada Astérix e a Cleópatra. Mas para mim Alexandria é também o romance o Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell, um dos livros que marcou a minha passagem para uma visão adulta do mundo. Nesta obra, Alexandria é cenário de uma novela contada por 4 personagens diferentes e a mesma história é narrada de forma diferente por cada uma delas, que não só alteram a sequência cronológica, como os transformam os próprios acontecimentos. Neste livro desconcertante, aprendi, que a mesma realidade é representada de forma diferente por cada ser humano e que temos que ter cautela quando afirmamos que há uma única verdade e uma realidade possível de identificar e categorizar linearmente. Isto serviu-me para a vida, para a História ou para coisas mais simples como a faiança ou a gravura.



O farol que se vê aqui não é o original. O mítico farol caiu nos finais da Idade Média


Este meu fascínio por esta cidade, que já nem sequer existe, pois tudo foi inteiramente modernizado com torres de betão e o farol, a biblioteca ou o museu há muito que desapareceram, fez-me desde logo gostar desta gravura inglesa do século XIX, representado Alexandria e que mostro hoje.

The age we live in a history of the nineteenth century

Esta estampa, que pertence ao Manel, foi gravada e editada por J. Ramage e E. P. Brandard e em tempos fez parte de um livro, um manual de história inglês, intitulado The age we live in a history of the nineteenth century, from the peace of 1815 to the present time, publicado em 4 volumes pela W. Mackenzie de Londres.


A parte do livro de onde foi tirada a estampa

A gravura fazia parte do 4º volume, que saiu em1880 e era uma de muitas que ilustrava a obra do Reverendo James Taylor (1813-1892), uma história contemporânea do Séc. XIX. As estampas destes livros representam homens de estado da época e vistas sobre cidades do mundo, todas elas de muito boa qualidade, não fossem os ingleses os primeiros turistas do mundo e que se cedo se especializaram no desenho de paisagens e vistas de monumentos. Pessoalmente, gosto particularmente da imagem St. Petersburgo, vista como se tivéssemos num avião ou da cidade de Sebastopol, na Crimeia, onde umas poucas décadas antes da publicação deste livro, ingleses, franceses e russos tinham travado uma guerra sangrenta (enfim, o adjectivo é redundante, pois não serão sangrentas todas as guerras?).


Sebastopol na Crimeia

Como nem sequer dinheiro tenho para pagar bilhetes de avião em companhias de Low Cost, através das estampas, voltei hoje a Alexandria e ainda sobrevoei Sebastopol e St. Peterburgo.

St. Petersburgo como que vista do ar


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Uma oficina anónima de barristas: ainda o Santo António de Lisboa

Os blogs permitem às pessoas mais velhas como nós, que estão relativamente isoladas, encontrar outras pessoas com os mesmos interesses e partilhar informações e conhecimentos sobre arte, história ou natureza, que sozinhos nunca os conseguiríamos obter.



O Santo António da Colecção http://muraldaspetas.blogspot.com/. Está quase completo. Falta-lhe o menino Jesus, a mão e o respectivo atributo

Bem, todo este arrazoado, vem a propósito do Sto. António, muito mutilado, que publiquei aqui no passado mês de Novembro. Pois, nesse mesmo post, o ET, do Mural das Petas escreveu que no seu blog também tinha mostrado um santo António da sua colecção em tudo semelhante ao meu, só que quase completo.


Outro aspecto do Santo António da col.  http://muraldaspetas.blogspot.com/: A pintura do Rosto do meu Santo António é denmelhor qualidade, mas trata-se sem dúvida de uma peça da mesma oficina.

Uns dias depois, este nosso amigo enviou-me também fotografias de outra peça de barro em muito mau estado, mas ainda com uma leitura suficientemente boa para ver que o Santo também era igual ao meu.



Finalmente, este amigo do http://muraldaspetas.blogspot.com/, teve ainda a amabilidade de copiar-me uma página do catálogo Santo António Devoção e Festa, exposição do Museu de arte Popular, com outro Santo António idêntico aos anteriores.


St. António reproduzido do catálogo Santo António Devoção e Festa. Também lhe falta o menino e o atributo

Em suma, em menos de uma semana, apareceram três imagens iguais à minha, número suficiente, para poder detectar a actividade de uma oficina de barristas do passado, talvez do século XVIII, que trabalhou a mesma imagem a partir de um mesmo molde e com pequenas diferenças ao nível da pintura. Enfim, estas oficinas tinham sempre um caracter familiar, onde trabalhavam, o pai, o filho, talvez um ou dois aprendizes e ainda a mulher e as filhas. Embora usassem moldes, como a pintura era manual, o trabalho nunca era exactamente igual e nessa imperfeição reside a originalidade e a graça de cada uma destas peças.


Infelizmente essa oficina não deixou marcas. Provavelmente essa família estaria mais preocupada em assegurar o seu sustento com a manufactura e venda destas imagens, do que em deixar uma marca para a posterioridade.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Telhas portuguesas com um símbolo do Islão


Recentemente, conheci um dos seguidores deste blog, o Zé Júlio, um homem tão encantador como o seu blog dedicado a alfarrobeiras centenárias, muros de pedra, jardins mediterrânicos e casas em ruínas.

Uma das muitas coisas que se conversou foi sobre as telhas em antigas casas da zona da Redinha, em Pombal (e creio que em mais zonas do País) que apresentam de forma muito esquematizada a mão de Fátima. O símbolo foi pintado com os próprios dedos do oleiro que fez a telha.

A mão de Fátima é um amuleto usado em todo o mundo islâmico, cuja função é proteger as pessoas e as casas dos maus olhados e dos infortúnios. Representará a protecção de uma das mulheres mais consideradas de todo o Islão, Fátima (606-632), a filha preferida do profeta Maomé, que ganhou uma grande fama de santidade. De Fátima descendem também várias linhas dinásticas que governaram extensos reinos muçulmanos. A ela foi associado este símbolo, da mão, já anterior ao islamismo, provavelmente fenício e que representava a deusa Tanit, que afastava o mal com a sua mão.

Mão de Fátima em prata. Marrocos.

Apesar da ortodoxia oficial islâmica condenar os amuletos, este símbolo teve uma enorme difusão por todo o mundo árabe, foi adoptado pelos judeus sefarditas (os Judeus ibéricos) e chegou às terras da antiga Hispânia, após a invasão de 711.


O símbolo foi usado como em forma de jóia, azulejo e era pintado ou inciso em muros, sempre com a função de protecção.

Uma mão de Fátima numa rua de Lisboa
Após a expulsão dos mouros da Península Ibérica, este antiquíssimo símbolo sobreviveu e hoje passados uns bons seis séculos continua a ser utlizado pelas pessoas como amuleto, muito embora já desconheçam o seu significado original. Todos nós já vimos homens e mulheres com figas penduradas em colares ou pulseiras, que mais não são do que mãos de Fátima, ou já reparamos naqueles batentes em forma de mão, que encontramos em muitas casas portuguesas do século XIX e início do XX e que tem exactamente a função das mãos de Fátima, ou hamsa, proteger as casas contra os maus espíritos.

Mas se as figas ou os batentes são exemplos relativamente conhecidos desta tradição islâmica em Portugal, as telhas pintadas com mão de Fátima são uma coisa que pouca gente conhece. Contudo, este uso está também documentado em Espanha, na região da Sierra Segura, entre a Andalucia e a Macha e também na província de Jaen.
uma Mão de Fátima incisa numa telha de uma casa na Província de Jaen

Agradeço ao Manel os dados fornecidos sobre as telhas da zona de Pombal e desejo que a mão de Fátima nos proteja a todos da tempestade que se abate sobre Portugal

domingo, 8 de janeiro de 2012

Alguns pensamentos acerca da pecadora Maria Madalena

Toda a gente gosta da figura de Maria Madalena. A arte apresenta sempre esta figura dos Evangelhos, que conheceu os prazeres da vida e da carne, como uma bela jovem, de longos cabelos soltos e sumariamente vestida. Por isso mesmo, fiquei com pena, quando deixei escapar para o Manel este belo registo francês do Século XIX, representando Sta. Maria Madalena. Tinha-o visto na Feira-da-ladra, mas já tinha gasto muito dinheiro nesse dia e não a comprei. Claro, no fim-de-semana seguinte o Manel abarbatou-se com o registo e eu fiquei a suspirar pela bela Maria Madalena.




Este pequeno registo foi editado em Paris por L. Turgis (1828-1928), que foi no século XIX um dos mais célebres e populares impressores de imagens piedosas. Chegou a ter uma filial na América. Produzia não só os registos, como as pagelas, que se tornaram grande moda neste século. À semelhança dos registos, as pagelas apresentavam também um santinho, a virgem ou cenas da Vida de Cristo, mas no verso continham pequenas orações ou pensamentos piedosos e as pessoas ofereciam-nos por ocasião das primeiras comunhões, de casamentos ou funerais e eram depois eram guardados nos missais.

Georges La Tour. Madalena Penitente. Reparem que o espelho em vez de devolver a imagem da beleza de Madalena, reflecte a caveira, o cárcere da alma humana

No entanto, apesar de ter sido impressa no século XIX, esta estampa lembra mais os quadros do século XVII, designadamente uma das obras-primas da pintura mundial, a Madalena penitente de Georges La Tour. A santa aparece representada á luz de uma vela, meditativa, com um crânio reflectido no espelho. O que significa que a beleza que a jovem vê ao espelho é efémera e que a morte e o tempo levam tudo. O único caminho possível a este vazio é Cristo, que é representado pelo livro dos Evangelhos.

A Madalena de Josefa de Óbidos. Museu Nacional de Machado de Castro.

A nossa Josefa de Óbidos também pintou uma bela Maria Madalena à luz de uma candeia de azeite, mas acompanhada de outros dois atributos característicos da santa, as jóias e o frasco de perfume, as tais vaidades efémeras, que Madalena abandonou para seguir por uma vida espiritual mais cheia.

Sainte Marie Madeleine pénitente.  Museu de Belas Artes de Nancy

Claro, outros artistas do passado aproveitaram o tema, para dar largas a sua sensualidade e por detrás do tema religioso, está a mais pura luxúria como esta Sainte Marie Madeleine pénitente de Claude Mellan, também do século XVII, que no seu tempo terá excitado a libido dos homens crentes e a imaginação das senhoras devotas.

Ao contrário do Dan Brown, do Código da Vinci, é-me indiferente que Madalena tenha dormido ou não com o Cristo. O que me interessa nesta história de Maria Madalena, além da arte bem entendido,  é o episódio em que Cristo impede de apedrejarem a pecadora, o que veicula uma mensagem de perdão e tolerância, que poucas vezes foi ouvida ao longo da história, mas que em todo o caso se consolidou no Ocidente como um princípio moral, embora mais ou menos longínquo.

Há uma pequena capela em Ferreira do Alentejo, dedicada a Sta. Maria Madalena, cuja cúpula está cravejada de pedras e que é um dos monumentos mais singelos que conheço à tolerância deste preceito, que diz aquele que não tenha pecados atire a primeira pedra.


Capela de Sta. Maria Madalena. aquele que não tenha pecados que atire a primeira pedra (foto roubada em http://www.pbase.com/

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bule em black basalt



O Manel comprou recentemente este bule, que apesar de lhe faltar a tampa não deixa de ser uma peça neoclássica muito elegante. É certamente inglesa, talvez datada logo do início do século XIX e é inspirada na célebre loiça black basalt, produzida a partir de 1767 pela Wedgwood.



O Black Basalt era um tipo de cerâmica que pretendia imitar o basalto preto, uma pedra muito usada na antiguidade, por exemplo, na escultura egípicia. A Wedgwood ao criar esta cerâmica preta colocava no mercado a preços acessíveis peças que só as grandes famílias aristocráticas possuíam nos seus gabinetes de curiosidades. E de facto, a Wedgwood teve imenso sucesso com o Black Basalt, nos finais do século XVIII, criando peças que sugeriam a arte egípcia, os vasos gregos e a arte da antiguidade no geral, aproveitando o crescente gosto à grega que invadia nesse período os salões europeus.
Urna da Wedgwood, Séc. XVIII, do Victoria & Albert Museum

Outras fábricas inglesas como Warburton and Adams manufactory, a Bradley & Co., a Humphrey Palmer, a Elijah Mayer & Son,  a John and William Yates e a Leeds Pottery seguiram o exemplo da Wedgwood e nas primeiras décadas do Século XIX fizeram urnas, peças decorativas e utilitárias em black basalt, sempre inspirando-se na antiguidade.

Baker, um imitador da Wedgwood do início do séc. XIX, também do Victoria & Albert Museum

Aliás, os anos entre 1800-1815, são os picos da moda romana, grega e egípcia na Europa, com as senhoras vestindo-se como matronas romanas, as casas sendo decoradas em estilo pompeiano ou imperial e Napoleão voltando do Egipto, carregado de tesouros de arte do país dos Faraós.


A marca L

Estando apenas marcado com um L e não nos permitindo nenhuma identificação precisa, o bule do Manel terá talvez saído de umas dessas fábricas inglesas, que no início do séc. XIX copiaram o a louça basalto preto Wedgwood.