quinta-feira, 20 de junho de 2013

Uma leiteira Vista Alegre do 3º quartel do Séc. XIX


Herdei esta encantadora leiteira da Vista Alegre minha avó Mimi. Ao fazer as partilhas com os meus irmãos, preferi ficar com uma série de peças da Vista Alegre, com estas decorações florais, muito singelas, todas mais ou menos da segunda metade do Século XIX. Ainda que muitas já estivessem com falhas, rachadas, ou sem as pegas das tampas, como esta leiteira, achei-as sempre tão bonitas, que quis ficar com elas e desde essa altura, fui comprando mais coisas da Vista Alegre, todas desta época, que na minha opinião, é a altura mais feliz de toda a produção da fábrica de Ílhavo.

Esta leiteira apresenta 8 cm de diâmetro na base e cerca de 10, 5 cm de altura está marcada V.A. a azul mufla. Segundo o catálogo Exposição Vista Alegre: porcelana portuguesa: testemunho da história. Lisboa: estar Editora, 1998, esta marca foi usada entre 1852-1869. Portanto, tem quase 150 anos e sobreviveu a muitas criadas desastradas, crianças irrequietas, senhoras com tremeliques nas mãos e a muitas mudanças de casa, pelo menos quatro ou cinco delas já no meu tempo. Saiu do Solar de Outeiro Seco, foi para casa da minha avó em Chaves, daqui para a minha casa de Benfica, depois do meu divórcio para casa dos meus pais e finalmente aqui para a Pena, onde espero que não haja nenhum terramoto a sacudir a minha casa, até eu ter tempo de me reformar e ir viver para a província.
Leiteira VA. Imagem cedida por Bernardo Travessas
Sempre me interroguei como seria esta peça se estivesse completa, até ao momento em que o Bernardo Travessas, um seguidor deste blog, me enviou muito simpaticamente a imagem de uma leiteira com um formato igualzinho e sobretudo com a pega da tampa intacta. Embora a decoração seja diferente, mas igualmente elegante, podemos visualizar através desta peça do Bernardo Travessas, qual era o aspecto original da leiteira que herdei da minha avó Mimi.

Serviço de chá e café do Museu dos Biscainhos
Depois deste acontecimento, houve mais uma coincidência feliz, outra seguidora deste blog, a Alexandra Rodão, descobriu no http://www.matriznet.dgpc.pt/ as restantes peças que compunham o serviço desta leiteira. Pertencem ao Museu dos Biscainhos e tem o nº de inventário 859 MB.

 
 

21 comentários:

  1. A leiteira do Luís é muito bonita! Eu gosto muito das peças com esta forma do séc.XIX. O açucareiro do Manel que já foi publicado aqui no blog também tem uma pega idêntica, o que foi muito interessante, pois nunca tinha visto um açucareiro com esta forma! Tenho só uma pergunta... A leiteira do Luís só tem rosas ou possui outro tipo de flores no verso?

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    1. Caro Bernardo

      A decoração da leiteira é igual de um lado e de outro. Aliás, no serviço pertencente ao Museu dos Biscainhos, que a Alexandra Roldão descobriu no matriz.net vê-se a leiteira do outro lado e a decoração é igual.

      Um abraço e obrigado pela sua colaboração

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  2. Caro Luís,

    Mais uma das inúmeras maravilhas com que consegue sempre presentear-nos.
    É realmente de uma enorme delicadeza, quer ao nível das pinturas, quer de traça.
    Andei à "caça" no matriznet , e eis que encontrei algo que decerto lhe irá agradar. Ora dê uma espreitadela.

    http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=294385

    Abraço

    Alexandra Roldão

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  3. Cara Alexandra

    Muito obrigado pela sua descoberta. Já inseri a imagem do serviço Museu dos Biscainhos, que completa em beleza este post.

    Um abraço

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  4. Acho muito interessante a multiplicidade de padrões que existem dessa época e com essa forma na Vista Alegre. Eu possuo um bule e chávenas com um padrão semelhante ao da leiteira do Luís,mas com a variação do meu possuir flores azuis de um lado... Não existe nenhum catálogo aonde estejam documentados os padrões desta época?

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    1. Há muitas publicações sobre a Vista Alegre. Muitas delas fazem uma selecção de obras segundo critérios de gosto um bocadinho duvidosos, no meu entender, e tem tendência a dar mais relevo à sumptuária, aos papagaios e varinas em loiça e outra tralha sem grande interesse.

      Faz realmente falta um "catalogue raisonné" ou para usar a expressão portuguesa em portuguesa, um catálogo de toda a produção da Vista Alegre que cobrisse pelo menos todo o século XIX. Mas pelo que eu sei a Vista Alegre anda com problemas económicos, de modo que bem podemos esperar sentados pelo catalogue raisonné.

      Um abraço

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  5. Luís,
    A leiteira é linda. Em casa da minha avó havia um serviço de chá igual que ficou para uma tia.
    Gosto de todos os artefactos que acompanham os ritos do chá. Este é um deles, embora, não aprecie o leite no chá porque tira a intensidade do mesmo.
    Em Goa deram-me chá com leite bastante açucarado, assim até tolerava.
    Um abraço. :)

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  6. Cara Ana

    Adoro chá preto e também sem leite, para melhor lhe apreciar o sabor. Também é verdade que estas peças já não estão a uso.

    Tenho um serviço da Vista Alegre dos anos 20, mas na prática, uso umas canecas sem história para beber chá. Enfim, são as pressas da vida moderna, pois as canecas podem ir à máquina e as chávenas do serviço não, pois os dourados antigos das porcelanas desaparecem com o sal da máquina de lavar a loiça.

    Um abraço

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  7. A forma da tua leiteira é de uma delicadeza!
    E ainda bem que o Bernardo te enviou a leiteira completa. A asa tem um desenho muito bonito e a forma da pega da tampa é realmente igual à do açucareiro que tenho.
    As formas repetiam-se na VA e tinham o condão de nunca perderem a contemporaneidade.
    Não é que hoje as formas não sejam bonitas, tanto mais que, não há muito tempo, adquiri, da VA, um serviço baseado nos desenhos da família rosa da Companhia das Índias, e, gosto imenso dele.
    Só que a tradição da VA no século XIX pouco se alterou, seguindo regras que tornou aquela louça intemporal. O verdadeiro design tem esta caraterística.
    O "carocha" da Volkswagen será sempre um carro fantástico, com umas linhas que, ainda que ultrapassadas, continuam sempre geniais e que não dão origem a qualquer dúvida.
    A linha da Chanel, quando ela mesma a produzia, ainda hoje continua a fazer moda, e acho um charme quando vejo senhoras a usá-la.
    Há coisas intemporais, quando se aposta na qualidade.
    Que bom que a Alexandra descobriu o serviço completo. Uma mulher atenta e perspicaz! Eu que me desdobro em pesquisas no matriznet nunca tinha reparado.
    Assim o post ficou mais completo, graças a esta informação.
    Manel

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  8. Manel

    Esta partilha de informações gerada pelos blogs é muito útil e permite-nos a todos conhecer melhor um motivo decorativo, uma forma ou até mesmo uma época de uma fábrica portuguesa ou estrangeira.

    É realmente pena que a bibliografia sistemática sobre cerâmica portuguesa não abunde.

    Um abraço

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  9. Boa noite,Luís!
    Só agora consegui aqui vir comentar, mas já tinha visto o post e adorei poder apreciar as várias peças deste lindo modelo da Vista Alegre, desde as duas leiteiras, a do Luís e a do Bernardo Travessas, até ao serviço que a Alexandra Roldão em boa hora descobriu na coleção on-line do Museu dos Biscainhos.
    Posso desde já acrescentar que há pelo menos mais um padrão decorativo neste modelo de serviço porque comprei há tempos um bule com decoração floral diferente destas. Já tinha algumas peças a branco e já apreciava o modelo, mas o bule decorado é realmente bonito e com a marca VA azul num tom muito intenso (nunca sei se o mais intenso é de mufla ou grande fogo).
    Tenho que ver se arranjo umas chávenas a condizer para o incluir numa sessão de chá à terça-feira :)
    Um abraço

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  10. Descobri entretanto o nome deste modelo de serviços - Garibaldi.

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  11. Maria Andrade

    Que extaordinária descoberta.

    E qual será a origem do nome?

    Será uma designação familiar, como por exemplo se dá à decoração dos lacinhos ou das silvinhas? Ou será uma designação oficial da Vista Alegre?

    Eu sei que por alturas do fabrico do serviço em causa neste post, o Garbaldi andava entretido a unificar a Itália e era um assunto de todos os jornais. O processo de unificação da Itália só terminou depois da guerra franco-prussiana em 1870.

    Será que as cores recordam a nova bandeira italiana?

    Quanto a cor da marca, a fotografia não a conseguiu reproduzir como deve ser. Ela é realmente mais azul do que parece.

    Bjos

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  12. Luís, o nome Garibaldi só se pode referir ao unificador de Itália, como bm lembra um nome da atualidade a meados do século XIX, que mesmo antes das lutas que travou em Itália já devia ser muito conhecido em Portugal pela ação que desenvolveu no Brasil. Penso até (mas isso já sou eu a especular) que os relevos da asa lembram um penacho, que poderia ser a alusão ao tipo de chapéu com que ele aparecia representado em gravuras na campanha militar de 1849; também as tampas com aquela pega lembram capacetes militares prussianos do séc. XIX. Quanto às cores já não me parece terem significado, já que variavam conforme a decoração.
    Encontrei o nome numa peça VA do Clube de Colecionadores à venda no Trocadero – "bule Garibaldi" – e também num açucareiro deste modelo no site Avaluart. Fiquei convencida que seria a designação oficial da Vista Alegre.
    Lembrei-me entretanto, que para além do açucareiro do Manel, o Luís já mostrou outras peças deste modelo e fui revê-las. A decoração do seu bule é muito semelhante à do meu ( bule ou cafeteira, já que é uma peça mais esguia).
    Bjos.

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  13. Olá boa-noite!

    Sim, de facto a Maria tem razão.
    É justamente no catálogo de um leilão da Trocadero que surge a designação Garibaldi.
    Segue o link:
    http://www.trocadero.pt/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=112

    No entanto, e depois de ter vagueado à procura de outros locais em que o termo surgisse a fazer referência aos bules ou açucareiros da VA, pouco ou nada encontrei. Ou seja, temos que tentar refinar a pesquisa para ver se obtemos outros resultados mais concretos. Também não nos podemos esquecer que o Bule do Trocadero é uma peça contemporânea, contrariamente às peças do Luís.
    Mais uma vez, vamos ter que fazer de Sherlock Holmes!
    Existem semelhanças sim, mas não é completamente igual.
    Em minha opinião, com paciência, lá havemos de chegar!!
    Será que a Fábrica, ou o Museu da Vista Alegre não nos conseguiria dar uma explicação cabal?

    Abraço

    Alexandra Roldão

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  14. No site da Vista Alegre, surge a seguinte explicação acerca do dito bule:


    http://www.vistaalegreatlantis.com/CVAA/


    2001 – Bule Garibaldi



    A Vista Alegre apresenta, numa edição exclusiva para os Sócios do Clube de Coleccionadores, um bule de serviço individual, resultante da adaptação de uma decoração, que conheceu grande sucesso no século XIX, a um modelo que nasceu das mãos dos seus artificies no inicio do século seguinte

    “… vendiam o chá (e as sedas, e tudo o mais) e, logo a seguir, a porcelana.

    Estes dois elementos (chá e porcelana) exerceriam uma influência imensa na vida ocidental nos séculos seguintes.

    Sob o imperador Chien Lung (no poder entre 1736 e 1796), que desenvolveu activamente as artes, a porcelana chinesa alcançou ainda maior brilho. Curiosamente, foi ele quem recebeu o embaixador português Francisco de Assis Pacheco de Sampaio e sua comitiva, em 1752…”

    “O chá é delicado, danifica-se facilmente, absorve os cheiros. Tinha-se verificado, com bastante prejuízo, que o lastro preciso para equilibrar os barcos não podia, portanto, ser escolhido ao acaso. Experimentaram todas as mercadorias, geralmente rentáveis, no comércio com o oriente, na altura: ruibarbo, açúcar, sal, amónia, guano e arenito. Mesmo as sedas, tão costumeiras e valiosas, neste comércio, eram rejeitadas pelos capitães mais exigentes, para que o chá chegasse ao seu destino nas devidas condições.

    A resposta foi a porcelana, aliás, tão cobiçada também e que se casava esplendidamente com o chá. Colocada portanto a porcelana (incluindo bules) no fundo do barco, para o estabilizar, e o chá no seu topo (normalmente manuseado por estivadores chineses competentíssimos), os Veleiros – Clippers – partiam a toda a pressa para a Europa, cada um tentando ultrapassar o outro…”

    (in O Livro do Chá, de Edite Vieira Phillips, Colares Editora)

    Dimensões: A 150mm; L 160mm; D 90mm

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  15. Maria Andrade e Alexandra

    Muito obrigado pelas vossas achegas. Continuo é na dúvida se Garibaldi se refere à deecoração se a este formato de peças, com esta pega tão característica.

    Mais uma vez obrigado pelas vossas pesquisas.

    Bjos

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  16. Ola Luis!! Hoje fui a Feira da Ladra, procurar VA e ver se o via... Nada, só VA... :)

    Espero ve-lo

    Abraços do Leiriense mais Lisboeta do momento

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  17. Caro Flávio

    Seja bem reaparecido!!
    `
    Ultimamente tenho isso pouco à feira-da-ladra. Vou mais a feira de velharias de Estremoz, por isso não me viu por lá.

    Um abraço

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  18. Tem encontrado boas relíquias com o Manel?
    Como vão os filhos?

    Um abraço

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  19. Flávio

    Vou comprando cada vez menos coisas, muito embora, de vez em quando, não resista e lá volto com mais uma coisa para a qual não tenho lugar em casa.

    O meu filho já está um homem e ela já com doze anos.

    Um abraço

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