Debaixo da orientação do Manel, que sabe muito de restauro, a aplicação em chumbo que estava preta e sem leitura foi limpa, a madeira foi desinfestada da bicharada com cuprinol, mantendo a peça envolta em película aderente durante uma semana. Tapei-lhe os buracos do bicho com cera e o dourado foi avivado com uma cera cor de ouro velho, que os douradores costumam usar para patinar a talha, que fica demasiado brilhante, depois da aplicação da folha de ouro. Eu teria avivado ainda mais o dourado, mas o Manel que não é tão barroco como eu, travou-me e talvez o resultado seja muito bom, pois mantém o ar envelhecido.
Embora a talha barroca sugira o século XVIII, julgo tratar-se mais duma peça do século XIX, que acusa o peso que o gosto do barroco exerceu durante tanto tempo nas artes e no gosto portugueses. Em todo o caso aquele rendilhado em chumbo dá-lhe um certo ar indo-português que me encanta.
Estes crucifixos faziam parte da chamada devoção doméstica. Eram colocados em oratórios, maquinetas ou pura e simplesmente numa mesa, coberta por um bonito pano ou pela inevitável renda (era necessário dar uso aos metros e metros de renda que sem parar as Senhoras faziam antigamente) e as pessoas deviam rezar piedosamente perante crucifixos, hábito estranho para a maioria de nós, que estamos cada vez mais descristianizados.
Como não tenho espaço em casa, o meu crucifixo foi posto na parede e é mais umas das dúzias de objectos, que traduzem o horror ao vazio que constitui a minha casa
Olá Luís
ResponderEliminarAdmirável o seu gosto peculiar por crucifixos
Já antes aqui disse, que sempre os achei muito nus, nunca me despertaram muito interesse
Porém os seus são de inegável beleza
Este, então sem o Cristo, exala uma atenção inexplicável, muito pelo rendilhado a chumbo, a fazer lembrar prata,no contraste da madeira e do pé soberbo em talha dourada
Um encanto de exemplar, altivo!
Confesso, o seu "olho clínico" lá isso é verdade
Muito bom gosto, eu sou mais distraída, vagueio nas feiras à procura de tudo e de nada, com o pensar a quilómetros da essência, a própria feira!
Beijos
Isabel
Sem o Cristo consegue-se ver melhor o trabalho espantoso do rendilhado que constitui a parte metálica.
ResponderEliminarÉ muito belo o trabalho, e limpá-lo deu algum trabalho para não danificar qualquer pequena porção do intricado da peça, pois ela vive através do detalhe (como dizia Frank Lloyd Wright, "God is in detail").
E a madeira estava tão suja de montes de anos de fuligem de velas, gordura das mãos que o tocaram e da sujidade natural do ambiente! Não foi necessário fazer quase nada, estava lá tudo, foi só limpar! Os dourados ... bem, é necessário conter-te! hehehe
Manel
Luís, adorei o trabalho que fez no crucifixo. Tenho um espelho antigo com moldura em talha dourada. Pode sff dizer-me qual a cera cor de ouro velho que utilizou? A marca e onde se pode comprar sff. Obrigada
ResponderEliminarHelena Morais