quarta-feira, 14 de julho de 2010

As pedras de Bezoar

A primeira vez que vi uma pedra de bezoar, tinha eu uns 19 anos e foi na XVIIª Exposição de Arte Ciência e Cultura, no Museu Nacional de Arte Antiga. Fiquei completamente fascinado com aqueles objectos estranhos, umas espécies de seixos de rio irregulares e brutais, envoltos na mais delicada filigrana de ouro, num contraste, que parecia obra do mais moderno e irreverente joalheiro parisiense ou Nova-iorquino. Depois, aproximei-me mais do expositor, li a respectiva legenda e percebi que aquilo não era propriamente uma pedra, mas antes uma espécie de cálculo ou concreção, encontrada no intestino, principalmente dos ruminantes. Enfim, uma coisa mais ou menos semelhante à pedra dos rins.

Os bezoares tem origem na Índia e acreditava-se que eram poderosos antídotos contra venenos e melancolias. Por essa razão, apresentam normalmente uma argola no topo, que servia para suspende-los por uma corrente e mergulha-los no líquido suspeito de conter veneno. Eram sobretudo característicos de Goa e tiveram uma aceitação enorme na Europa, onde foram trazidos pelos portugueses no tempo dos Descobrimentos. As realezas europeias não passavam sem estas espécies de amuletos Por exemplo, a nossa D. Catarina, mulher do D. João III ofereceu um Bezoar ao seu querido irmão, o imperador Carlos V. A D. Catarina de Bragança, aquela que casou com o rei inglês Carlos II, após a sua morte, deixou entre numerosos bens vários bezoares.

Os bezoares por vezes eram desfeitos, misturados com outras substâncias e usados também como medicamentos. Os jesuítas de Goa especializaram-se no seu fabrico. Voltei encontrar os bezoares na exposição Exótica, apresentada no Museu Calouste Gulbenkian, entre 17 de Outubro de 2001 e 6 de Janeiro de 2002 e achei-os tão sedutores como da primeira vez. Depois, outra vez no Museu Nacional de Arte Antiga pude-me aproximar deles na exposição Encompassing the Globe. A maioria deles estão em Viena, no Kunsthistoriches Museum (as peças fotografadas são desse Museu) e estou sempre à espera que regressem a Lisboa e pode ser que um dia qualquer, no futuro, eu possa acariciar um com a mão e sentir a poderosa força que emana deles.

4 comentários:

  1. Que lindíssimos exemplares estes.
    Quanto ao facto de imaginar que me tinhas referido a existência de um na tua família, devo ter feito confusão. A minha cabeça já não soi como soía!
    Também tenho um interesse infinito por estas peças as quais possuem um efeito quase hipnotizante sobre mim, vá-se lá saber porquê ... talvez numa anterior encarnação tenha estado em contacto com uma, mas seguramente não na situação de dono ... que nunca devo ter tido estas altas posições!
    A beleza surge do contraste entre o rude, forte e orgânico da "pedra" com as delicadezas e fragilidades dos rendilhados e filigranas das "montures".
    Paralelamente, sucede o mesmo com a fascinação que os outros exercem em mim!
    Manel

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  2. Olá Luís
    Mais uma vez o meu muito obrigado!
    Seja pela gentileza em particular por me presentear e a outros com imagens tão belas cheias de requinte embelezadas com filigrana em ouro, seja pela eloquente descrição sobre as pedras de bezoar
    Confesso, desconhecia por completo esta temática
    Sou uma ignorante, faltam-me quilómetros de leituras
    Bom, agora fiquei muito mais rica!
    Ontem de manhã bem cedo a minha irmã presenteou-me na minha estada curta com uma ida à serra para encontrar pedras...dizia ela, vamos às pedras, sabe como me seduzir e encantar
    Foi um dos passeios mais deslumbrantes
    Logo pela alvorada, sentir o sol a irromper pelas serras circundantes salpicadas de verdes, eólicas , aldeias e pedras, muitas pedras
    Descobrimos uma nova estrada aberta numa encosta abrupta roteada pela autarquia aquando da reflorestação de carvalhos, imensas as lages enormes sob as arribas,acredito algumas irão fazer de tampo de mesas ou outras decorações
    Indescritível a fauna que encontramos,pequenos coelhos, uma raposa e perdizes com os perdigotos nas profundezas do vale onde corre um ribeiro e existe uma flora única na península ibérica
    Foi o passeio mais espectacular que vivi, que durante anos sonhei e jamais julguei fosse possível acontecer, pela falta de acessos, companhia e mote de aventura
    Como não gostar da minha irmã, ela simplesmente deslumbra-me, quanto às pedras encontrámos de todos os tamanhos, lindas esculpidas pela erosão, algumas poderiam mesmo passar por pedras de bezoar
    Ali na Ateanha, onde o Prof Hermano atesta ser um local provável onde se travou a famosa batalha de Ourique, pelos muitos artefactos de guerra que por lá se tem encontrado...
    Ontem, encontrei uma pedra que trouxe para minha casa...ao olhar para ela no imediato me fez lembrar um maço
    Foi irresistível!
    Obrigada mais uma vez pela surpresa em tempo recorde em falar de pedras de benzoar, até o nome é lindo, sonante...
    Mas ainda fico à espera das pedras de raia que acredito com a ajuda imprescindível do Humberto ainda verei aqui comentadas, sei que sim!
    Beijos
    Isabel

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  3. Isabel

    Creio que o fascínio que exercem os bezoares tem um bocadinho a ver com as palavras da Isabel acerca desse seu passeio pela Serra. Os ourives indianos pura e simplesmente agarraram em qualquer coisa selvagem, como esses calhaus achados na serra e deram-lhes honras de diamante ou esmeralda.

    Se eu fosse ourives ou joalheiro também andaria pelas serras à procura de granitos, calcários conquíferos e xistos e tentaria executar armações luxuosas, que pusessem ainda mais em evidência o trabalho da natureza em cada uma dessas pedras.

    Claro, nos bezoares há depois o fascínio que sentimos ao sabermos que essas peças tem centenas de anos, inúmeros proprietários reais e principescos e mirabolantes peripécias em caravelas portuguesas, através da rota marítima que Vasco da Gama abriu.

    Foi um prazer satisfazer o convite que me fez para falar dos bezoares

    Beijos,

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  4. Olá! estas pedras são muito lindas! tenho algumas peças entalhadas provavelmente por nativos que deve ter milhares de anos estas peças é um misto de argila muito fina (tipo talco) com um metal muito estranho e tem atração por ímã não sei do que se trata até o momento nem os geólogos que mostrei não identificou.

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