quarta-feira, 28 de julho de 2010

Rue de Rivoli, gravura pelos irmãos Rouargue


Na Feira de Algés apanhei esta bela gravura de Paris, onde reconheci de imediato a Rue Rivoli, apesar duma tira de papel que lhe tapava a legenda, posta para disfarçar uma mancha de humidade, conforme pude descobrir, quando em casa a desencaixilhei.

Sempre gostei de Paris e confesso-me um bocadinho francófilo. Não que seja deslumbrado pela França ou que tenha vergonha pertencer a um País pouco desenvolvido como o nosso. Nada disso! Aprecio a o espírito e o brilho da cultura francesa e encanta-me o urbanismo de Paris, cujo reflexo podemos encontrar por toda a Europa, de Lisboa a Bucareste. Cláudio Magris, na sua obra de viagens inesquecível, o Danúbio, descreve Paris como o arquétipo platónico, que todas as cidades do Leste europeu imitaram nos finais do século XIX e princípios do século XX. Referia com muita graça, que a medida que se caminha para o Oriente e a imagem do arquétipo parisiense se desvanece, os prédios tornam-se mais opulentos, as cariátides mais ornamentadas, e a decoração mais delirante. Tive ocasião de visitar Budapeste e há zonas da cidade como o Octógono e a Avenida Andrassy que são interpretações magiares de Paris. Também em Praga, a avenida mais chique e com prédios de decoração mais opulenta, datados do início do século XX é significativamente a Pariska.

Demorei alguns anos a aperceber-me da influência do urbanismo parisiense na Europa e creio que é por isso, que cada vez mais aprecio a cidade, nas poucas ocasiões em que tenho dinheiro para lá ir.

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Voltando a gravura, fiz algumas pesquisas na net e julgo que será datada entre 1830 e 1840 e talvez a fizesse parte duma colecção como a Histoire et Monuments de Paris, de que encontrei um exemplar da mesma temática à venda no site http://www.french-engravings.com/, representando uma fonte na Rue de Grenelles. Esta última foi impressa em 1836

Os irmãos Rouargue (Emile Rouargue: Paris, 1795 - Epone, 1865 ; Adolphe Rouargue: Paris, 1810 - morto depois 1870) foram gravadores parisienses muito populares, que se especializaram em álbuns de viagens, com vistas de monumentos, cidades e paisagens, de França, Europa e África

Descobri na net uma gravura destes mesmos irmãos sobre um circo em ruínas na Argélia, que recorda os desenhos de Piranesi e o fascínio que este tinha pelas ruínas clássicas.

9 comentários:

  1. Belo achado essa gravura! Eu gosto de Paris, mas acho que a cidade tem uma escala sobre-humana, um tanto opressora.

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  2. A primeira vez que fui a Paris, com 19 anos, também me senti esmagado pela opulência da cidade, toda ela desenhada para impressionar e deslumbrar. Em cada avenida há sempre uma vista deslumbrante ao fundo, uma igreja, um teatro, uma ponte ou uma torre. Na época só conhecia quase Lisboa, uma cidade intimista, em que cada bairro é quase uma aldeia fechada sobre si e Paris chocou-me pela grandeza. Depois, foi um processo intelectual, em que aos poucos comecei a apreciar aquela cidade como um sítio, que moldou a cultura e as artes da Europa de do mundo, quase ininterruptamente desde o século XVIII até a Segunda Guerra Mundial.
    Abraços

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  3. Ola Luis,

    Bela gravura... até parece que dá p'ra entrar lá dentro e viver um pouco da época representada...até parece que se ouvem os cascos dos cavalos na rua...
    ...tambem eu gosto muito de Paris, gosto principalmente da luminosidade para fotografar (adoro fotografia)...é algo de muito invulgar, talvez "mágico" seja a palavra que eu prefiro para descrever as indescritíveis fotos conseguidas na imponente Capital.

    Um abraço,

    Marília Marques

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  4. Bem, sou suspeito em relação a Paris.
    Visitei-a de forma obsessiva durante muito tempo, e com as mais diversas pessoas, desde amigos até familiares chegados, desenvolvi paixões encobertas sob tectos amansardados e pobres ainda que no XVIème, onde tive ocasião de partilhar vidas, apesar de curtas, com outras raças e nacionalidades.
    Tempos que me serviram igualmente de aprendizagem humana e cultural. Se voltasse atrás, mais uma vez teria tentado não escapar ao que ali vivi, talvez até tentasse ser mais afoito!
    Foi em Paris onde observei boqueaberto, e até temeroso que me expulsassem (nem sei bem porquê! mas foi assim), com veneração algo parola, todas aquelas obras que ocuparam a minha imaginação de jovem, quando, no meio de um qualquer sítio esquecido nas planícies monótonas, a perder de vista, do centro Sul de Moçambique, observava nos livros de história as obras de arte tornadas imortais, e que levavam na legenda: no Louvre!
    Já me esqueci das horas perdidas, aos Domingos, porque era gratuito, em que ali me encerrei ... de tal forma idealizei e tornei tão grandiosas aquelas peças de arte que passei a meio metro da Vénus de Milo sem que a reconhecesse! Esperava algo grandiloquente, encerrada numa "torre de marfim", e afinal era uma estátua de tamanho normal e nem sequer muito apelativa face à qualidade de outras peças vizinhas! Já o mesmo não sucedeu com a de Samotrácia! Mas isso foi culpa do museu ... hehehe ... que a não deixa passar despercebida!
    Aprendi a não perder os concertos de orgão aos Domingos à tarde na Notre Dame (porque também eram gratuitos), os bouquiniste onde passava, desvirava tudo, mas não comprava nada, pois o dinheiro era escasso!
    Hoje já me distanciei desta cidade, cortei as amarras, apesar de ainda ali me quedarem conhecidos e familiares, perdidos entre a multidão! Tornou-se uma urbe demasiado grande para mim, e o carácter dos parisienses também não ajudou muito!
    Manel

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  5. Julgava eu que conhecia o trivial da cidade das Luzes,pelo cinema, filmes, roteiros, ilustrações, postais, visitas guiadas ao Louvre...debalde fiquei estupefacta com acervos comentários a este post
    Logo eu que também tenho familiares em Versalhes que todos os anos me convidam para lá ir, e rejeito por falta de ...será desinteresse?
    Talvez por a conhecer desde sempre na tv, o que me faltará afinal conhecer?
    O cheiro...
    Da miscelânea racial, duvido que seja Paris, Marrocos, Argélia, Cabo Verde,Portugal...não gosto do sotaque franciu...tanto que o fui ouvindo nos últimos 40 anos nas praias...estou de vacanses...oh sisi...trés bien...
    Não gosto dos franceses, tenho dito!
    Muito pelos bens que nos roubaram aquando das invasões há 200 anos, decorando hoje o palácio de Versalhes, deveriam ser devolvidas!
    Dos incêndios que perpetuaram, Condeixa, não deixaram um palacete de pé, só solares mais modestos, ainda por cima meteram_se com o mulherio...bem, os descendentes são bonitos, aí confesso, não posso dizer mal
    Finalmente e voltando ao tema,mentalizei-me que devo apreciar melhor gravuras, fazendo jus ao eloquente e bem conseguido comentário acutilante da Marília
    E com esta me vou, logo eu que adoro o barulho dos cascos dos cavalos na calçada...
    Beijos
    Isabel

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  6. Bonita gravura esta Luís!
    O colorido vivo de alguns pormenores confere-lhe uma graça especial.
    Perante uma gravura ou pintura, depois de a observar no seu todo, gosto de me perder a observar as cenas do quotidiano aí representadas. Por exemplo, nesta gravura acho encantador o pequeno cão preto que corre esbaforido atrás da charrete,o vendedor, a mulher com a criança ao colo, a quem o guarda a cavalo parece dar uma indicação, as silhuetas femininas nas varandas, enfeitando-as com colchas,(serão?) o movimento caótico da rua, enfim, perco-me nestas observações, e depois especulo. A cena aqui representada poderá ser num dia festivo (colchas nas varandas), ou num simples domingo num fim de missa, veja-se a multidão que se aglomera junto, ao edifício do lado esquerdo que poderá ser uma igreja.
    E agora...Paris!
    Será que há alguém que não se tenha sentido emocionado, com a sua primeira viagem a Paris!?
    Para mim, que que lá nos confins da minha terra Angolana,à semelhança do que acontece com o Manel, a informação sobre esta maravilhosa cidade me chegava através dos livros e imagens, e das conversas empolgantes com os meus pais sobre a cidade luz ( o meu pai refere-se a Paris sempre assim :)) o Louvre,Mona Lisa,Edith Piaf,Torre Eiffel, tornaram-na ainda mais mítica.Nessa altura, eu achava que nunca iria conhecer nada daquilo,tudo o que eu lia e ouvia era ficção. Para mim era inatingível. Mas o mundo gira, a vida é um turbilhão e aos vinte e poucos anos fui a Paris pela primeira vez.:)Tenho que sorrir:)Quando vi a Torre Eiffel( ainda dentro do combóio)creio que dei um grito!!Nunca mais me tive semelhante sensação. De repente ali estava eu, em Paris, completamente aturdida e deslumbrada.
    Confesso aqui,que no dia em que fui ao Louvre estava ansiosa, até um pouco nauseada.Afinal ia ver a Mona Lisa.Não era para qualquer um (achava eu).Só que....pasme-se! Fiquei um pouco desiludida. O quadro é pequeno.A construção mental que eu tinha era o de um quadro grande, muito grande.Diga-se que me refiz rapidamente, e voltei ao meu estado de êxtase.
    Quando vejo esta malta nova, agarrar na mochila e fazer um fim de semana em Paris,ou qualquer outro destino, além fronteiras, como quem bebe um copo de água, quedo-me perplexa,constatando como as coisas mudam. Ainda bem, quando é para bem, como diria Monsieur de la Palisse.
    Um abraço para si
    Maria Gabela

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  7. Obrigado pelos vossos comentários

    De facto, a Marília e a Maria Gabela tem a razão. A gravura apresenta um movimento de uma rua agitada, que a torna diferente das habituais panorâmicas de arquitectura, que são normalmente um bocadinho frias.

    Paris tal como Roma, Jerusalém, Atenas ou as Pirâmides do Egipto é um símbolo e uma referência, que preencheu os nossos sonhos, fez parte das nossas leituras e encheu-nos a cabeça de imagens.

    A primeira coisa que vi de Paris foi o Arco do Triunfo todo iluminado, logo à saída do metro. Fiquei fascinado e senti que a qualquer momento poderiam aparecer a Ingrid Bergman e o Charles Boyer a apaixonarem-se outra vez, como naquele filme, o Arco do Triunfo, baseado no romance de Erich Maria Remarque. Enfim, Paris é uma cidade para visitar com os olhos bem abertos os monumentos e as avenidas, mas também para revisitar os filmes que vimos, os livros que nos encheram as medidas e as obras de arte que inspiraram o nosso gosto.

    Apetece-me terminar com a velha música da Josephine Baker, que se tornou um hino das Forças Livres Francesas, no final da Segunda Guerra mundial «j’ai deux amours, mon pays et Paris, par eux toujours, mon coeur est ravi»

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  8. Quem diria que na feira da minha "terra" se encontram gravuras tão belas quanto esta!
    Adoro passear na Rue du Rivoli (quando posso)!
    O clássico da Josephine Baker é um dos favoritos lá de casa, seja pela beleza da música, seja por representar o quanto podemos amar uma outra cidade que não a nossa!
    Bom fim semana

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    1. Cara Paula Lima

      J'ai deux amours
      Mon pays et Paris
      Par eux toujours
      Mon cœur est ravi

      É bem verdade. O facto de gostarmos do nosso país não quer dizer que não possamos admirar Paris, essa cidade que foi um centro que irradiou as suas artes, as suas modas, a sua literatura, o seu urbanismo e a sua forma de estar na vida para o mundo inteiro.

      Esta pequena estampa é um pequeno símbolo de tudo o que Paris foi até há bem pouco tempo para a Europa.

      Um abraço

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