Prédio em Sousel |
Esta pequena comunidade de bloguistas, tomou como desafio andar com olhos nos beirais e no alto dos edifícios a fotografar telhas pintadas, urnas, pinhas e estatuetas e os resultados tem sido muito engraçados. Além de aprendermos a trabalhar com o zoom da máquina, temos descoberto pequenos tesouros.
Pela, minha parte, andei pelo Alentejo, em Sousel e na Vidigueira, onde registei as imagens de mais algumas figuras que enfeitam o alto das casas novecentistas portuguesas
Primeira figura a contar da direita |
Em Sousel, descobri no centro da povoação este prédio do Século XIX, que já conheceu melhores dias e que ostenta uma balaustrada em faiança e quatro estatuetas femininas. Segundo o Manuel, quem tem mais olho que eu, estas figuras serão feitas de terracota pintada e não em faiança, ao contrário da balaustrada.
Segunda figura a contar da direita |
As duas figuras da direita estão muito danificadas e perderam os atributos e portanto apesar de bonitas, são impossíveis de se identificar, a não ser que em Sousel exista algum arquivo de fotografias antigas, onde apareça esta casa, que ao tempo da sua construção, terá espantado os pacóvios, com os seus ares parisienses, importados via Manaus.
Primeira figura a contar do lado esquerdo |
A primeira figura do lado esquerdo, é sem dúvida uma alegoria ao comércio, pois ostenta o caduceu, que é o bordão à volta do qual se enrola uma serpente, um chapéu com as asas de Mercúrio e ainda uma bolsa, que representa obviamente o lucro. Estes atributos são os do Deus Mercúrio, mas como no século XIX estavam na moda estas alegorias às actividades económicas, às virtudes, às estações do ano ou aos continentes, usou-se uma figura feminina em vez do próprio Mercúrio ou Hermes
O caduceu poderá ser facilmente confundido com o bordão de Esculápio, símbolo da medicina, mas o pormenor da bolsa foi determinante para classificar esta figura como a uma alegoria ao comércio.
Segunda figura a contar do lado esquerdo |
A segunda figura a contar da esquerda é de mais complicada identificação. Quando a fotografei pareceu-me que tinha um saco em forma de cornucópia, um símbolo da abundância e seria por isso uma alegoria à fertilidade, isto é, à agricultura, mas quando andei a trabalhar a fotografia, para a centrar e cortar fios eléctricos (as minhas fotos só são aceitáveis porque as trabalho previamente, pois falta-me o talento da Maria Paula) perdi a certeza que se trata de uma cornucópia. A figura teve na mão ainda outro atributo, que perdeu entretanto, talvez uma foice.
O formoso Deus na Vidigueira |
Finalmente deixo-vos com um escultural Deus de um bela casa burguesa do Século XIX, situada na Vidigueira.
A casa burguesa da Vidigueira |
Olá Luís
ResponderEliminarSou a primeira a comentar o seu novo post, o que faz acrescer a minhs responsabilidade. Apreciei o que escreveu sobre a casa burguesa da Vidigueira, especialmente sobre as estátuas. Também gosto muito de andar de nariz no ar pelas ruas e "compreender" os velhos prédios lisboetas, tristes pelo desprezo a que foram votados, mas tão magníficos na sua dignidade. Gosto especialmente das janelas e das varandas em ferro forjado. Vou passar a levar a máquina fotográfica e registar aqueles que me são particularmente queridos. Há um, em especial, na Rua Miguel Lupi, que tem uma varanda envidraçada toda em ferro forjado, que está praticamente entaipada por um monstro moderno, daqueles incaracterísticos, que mereciam uma implosão.Não me alongo mais.
Boa noite e bom fim-de-semana
if
Foi por um triz que não fiquei com uma casa com as janelas viradas para o edíficio que aparece na última fotografia! Por um triz!
ResponderEliminarE que bonita era esta casa, com muitos e amplos salões, cobertos de tectos em abobadilha, pavimentos de antiga tijoleira, uma cozinha que fazia lembrar, ainda que em proporções modestíssimas, a do Palácio da Vila em Sintra, janelas bem rasgadas e um pé direito de fazer inveja ... se tivesse um pouco mais de terra com certeza seria hoje mais um habitante da Vidigueira!
O acaso e eu assim o decidimos ... desisti da casa.
Mas é uma pena a casa novecentista de Sousel, pois é um mimo e só está à espera de cair.
Deve ter sido um luxo no seu apogeu, com a balaustrada de faiança e as garbosas estatuetas alegóricas.
Ainda hoje, não obstante o edifício quase a caminho da ruína, as suas proporções bem definidas, as varandas revestidas com elaborados ferros forjados, cantarias como parece só as saberem fazer naquela região do Alentejo, dádiva da proximidade de inúmeras pedreiras na região, belos vãos providos de bandeiras e as estátuas, quase apeadas, fazem que o edíficio ostente ainda aquele ar de dignidade que tanto falta a tantos e tantos edifícios que hoje por aí surgem como cogumelos (sem qualquer dúvida, antes os cogumelos!) ... como refere a tua comentadora anterior, seria um prazer implodi-los.
Manel
Cara If
ResponderEliminarQue engraçado. Também adoro as varandas de ferro. Há muitos anos, quando vivi em S. Vicente, na fronteira com Alfama, ainda desenhei umas quantas a tinta-da-china, com o objectivo de um dia fazer um caderno de varandasw alfacinhas. Mas fui morar para Benfica, tive filhos e a coisa não passou de um esboço.
Acho muito bem que passe a andar de máquina fotográfica na bolsa e registe as varandas lisboetas, que apresentam uma enorme variedade de motivos lindíssimos
Obrigado pelo seu comentário
Há uns dois três anos a Câmara Municipal de Viana pretendeu implodir um arranha-céus dos anos 70 e andava tudo em Tribunal. Não sei como a coisa se resolveu, mas há de factos uns quantos monos dos anos 60/70/80, que só pela sua presença estragam a harmonia de uma rua inteira. Estou-me a recordar da rua do Instituto Bacteriológico, em Lisboa, assassinada pelo prédio das Finanças e ainda muitas outras artérias lisboetas.
ResponderEliminarPela nossa parte, vamos contribuindo com estes blogs para chamar a atenção das pessoas que estas balaustradas, estatuetas ou varandas antigas são bonitas e devem ser conservadas. Não podemos fazer muito mais que isto. Como dizia o Voltaire, “Il faut cultiver notre jardin»
Olá Luís
ResponderEliminarInteressante esta pesquisa que cada um de nós vai fazendo pelos sítios por onde passa. Tenho que arranjar tempo para sair de casa com "olhos de ver" e tentar descobrir algum destes artefactos, aqui por Braga.
É pena não haver um inventário sobre estes edifícios,custa pensar que um dia acabarão demolidos, e as sua peças vendidas a retalho, ou simplesmente despejadas em algum entulho.
Sobre a a segunda figura a contar da esquerda, parece-me que ele terá na mão o chamado fuso de lagar. As estrias que se conseguem ver muito bem, deixam adivinhar uma alfaia agrícola. Será? Sousel é uma região produtora de vinhos e azeite, mas...será que já o era nos tempos em que foi construída a casa?
O (prédio Coutinho), o prédio que o Luís refere, infelizmente ainda continua em pé.(Espero que nenhum morador me leia!!), a ferir toda aquela beleza da cidade de Viana do Castelo.
Um bom fim de semana e obrigada por me adjectivar de fotógrafa talentosa :)Envaidece-me.
Maria Paula
Estive a ver melhor os atributos da figura sobre a qual a Maria Paula também se debruça e parece-me igualmente que a peça que a escultura segura, ao alto, seja o tal fuso de lagar, mas o que está por baixo já não tem nada a haver. Parece-me que o fuso de lagar assenta sobre uma bigorna.
ResponderEliminarNão vejo o que é que um tem a haver com o outro. Ou então não é uma bigorna.
Por outro lado há mais qualquer coisa que a mesma estátua segura, e que se partiu ... parece uma vara ou algo semelhante.
Realmente não descortino as ligações entre estes objectos desencontrados.
Com a quantidade de oliveiras que esta região possui (até eu possuo uma centena de oliveiras ... vá-se lá saber o que farei com elas), o número de lagares que existem, e uma economia amplamente assente na produção de azeite, não me admira que um seja o tal fuso de lagar ... mas e a bigorna? Ou será outro instrumento alusivo à produção de azeite que eu não conheça?
Vá-se lá saber ... quem conseguir encontrar a ligação ou fazer outra associação ...
Manel
Luís, nesta minha recentemente adquirida atenção ao alto dos prédios, também já me tinha apercebido q muitas destas figuras, pinhas e outros ornamentos são em barro pintado e não em faiança. Ainda há dias vi umas pinhas num muro, q pude ver de perto, e elas tinham a tinta a descascar, por isso via-se o barro por baixo. Penso q nas casas q vendem vasos e outras peças de barro à beira da estrada, também se encontram pinhas "ao natural" (mas nessas lojas de beira de estrada eu gosto mesmo é da Branca de Neve e os sete anões para enfeitar jardins, sempre muito bem complementados com uns cogumelos às pintinhas, ou então uma grande imagem da Senhora de Fátima para pôr à frente da vivenda...)
ResponderEliminarVoltando às pinhas e figuras alegóricas, as de faiança têm um brilhozinho q faz a diferença mas de faiança ou de barro são sempre interessantes, sobretudo para tentarmos decifrar o q simbolizam. Tendo estas alegorias muito a ver com profissões ou actividades económicas, eu arriscaria um palpite para a figura q a Maria Paula e o Manel pensam ter uma rosca de lagar. A mim parece-me um pilão de almofariz, este já partido, e poderia simbolizar a Farmácia, embora neste caso seja habitual haver uma serpente à volta do pilão.
Quanto à primeira figura q simbolizará o comércio, é interessante ver q ela, para além do caduceu,tem as asas de Mercúrio na cabeça.
É pena as restantes já não terem atributos, porq é muito desafiante tentar descobrir o q representam através deles.
Abraços
Caros Amigos
ResponderEliminarDe facto a Maria Paula parece ter razão e talvez esteja ali representado um parafuso de lagar, o que faria sentido numa região tão rica em azeite. Mas a parte de baixo não de percebe o que é. Uma bigorna, como refere o Manel? Vou fazer mais umas pesquisas e pode ser que encontre a chave do mistério.
Também quando voltar a Sousel, vou tentar fotografar a estatueta num ângulo diferente, se conseguir.
OBrigado a todos
Muito obrigado a todos
Maria Andrade
ResponderEliminarAcrescentei a referência ao chapéu de Mercúrio.
Obrigado