terça-feira, 1 de março de 2011

Flor do morangueiro: faianças de Miragaia e Viana


Prato de Miragaia

Prato de Viana
A nossa primeira seguidora teve a gentileza de enviar imagens de dois pratos da sua colecção, que além de peças muito bonitas, são exemplos esclarecedores das afinidades de produção de duas fábricas do Norte de Portugal, Miragaia, no Porto e Darque, em Viana. Ambas são manufacturas criadas durante o consulado do Marquês de Pombal, que, como toda a gente sabe promoveu as artes e as indústrias por todo o País. As duas fábricas desenvolveram também a sua actividade num período cronológico semelhante: Miragaia (1775-1850) e Viana (1774-1855). A produção das duas casas apresenta também muitas afinidades sobretudo durante o século XVIII e primeiros anos do Século XIX.

Flor do Morangueiro de Miraqgaia

Na segunda metade do século XVIII, os motivos decorativos que estão na moda são os franceses. Todas as fábricas portuguesas da época imitam as faixas da Faiança de Ruão e o motivo da flor do morangueiro. 
Flor do Morangueiro de Viana

Miragaia e Viana não escaparam à moda e estes dois pratos são disso um bom exemplo. Evidenciam também como são semelhantes as suas produções, que aqui só se distinguem, porque são exemplares marcados. O prato Miragaia mostra no verso o R de Rocha Soares, a família proprietária da Fábrica e Viana, o característico V. 




No catálogo Fábrica de Louça de Miragaia, Lisboa: IMC, 2008, no capítulo Comparações com outras produções contemporâneas, são reproduzidos dois pratos, um de Miragaia e outro de Viana em tudo semelhantes a estes dois exemplares e que estão datados entre os finais do Século XVIII, princípios do XIX.


Depois disso, a produção de Viana diferencia-se de Miragaia e ganha as características únicas, que a tornaram famosa, as cores garridas e uma decoração muito inspirada, muito Minhota. Miragaia, pelo contrário, a partir de 1822, fixa-se no azul, que se torna a imagem de marca da Fábrica e toma como paradigma a louça inglesa de Herculaneum Pottery, nomeadamente o motivo View in fort Madura, recriando-o de uma forma livre e inovadora.

9 comentários:

  1. Estás imparável!
    E desta vez trata-se de uma volta pelos "rouenescos" e pela flor do morangueiro! Que fantástica reinterpretação do original! Creio que, apesar do receio de cair em algum chauvinismo, que não é de todo o meu intento, a reinterpretação ainda é mais bela que o original.
    E também a questão: se as peças não estiverem marcadas, como se distinguirá uma de Viana de outra de Miragaia do mesmo período?
    Creio que só o seu manuseio e a experiência o poderá ditar, ou então, numa abordagem mais científica, e para tirar as teimas, uma análise química às pastas, cores e vidrados.
    Um agradecimento aos donos das peças por permitirem que elas sejam do domínio público. Sempre é bom "lavar as vistas" com peças destas.
    Manel

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  2. Olá Luís
    Uma maravilha aqui apresentada.
    Dois belos exemplares marcados.

    A obra de José Queiroz fala dos Soares, dessa família de ceramistas que durante mais de oitenta anos, viveram para a sua indústria, começada por João da Rocha Soares, cuja actividade e verdadeiro merecimento foram recompensados, no último dos seus representantes, Francisco da Rocha Soares pelo rei D. Fernando quando visitou o Porto em 1836 com o hábito de Cristo.
    Os produtos dos quatro ceramistas são característicos e formam apenas dois tipos dignos de elogio na longa produção.

    Tendo o primeiro conservado sempre o mesmo carácter até ao fim.
    A não ser pela pátina das peças, adquirida com o tempo,o que nem sempre é infalível, será difícil dizer a qual dos Rochas pertence tal exemplar, porque todos eles exploraram os mesmos motivos ornamentais, formas, esmaltes, e boa policromia que comportava o azul,o verde,o roxo(borra de vinho),o amarelo,e o alaranjado, sob esmalte lácteo e homogéneo.
    O segundo é mais brilhante e corresponde ao período que vai do fim do século XVIII até 1825.Constitui uma nota inconfundível na cerâmica portuguesa, produtos banhados em meias-tintas, abas dos pratos e outras peças abertas, decoração esta que muitas vezes era acompanhada de festões floridos, rosetas e outros delicados relevos.Sobre as meias-tintas, em que predomina o azul, um azul especial, que faz lembrar a flor do alecrim, aparece, além do relevo, a ornamentação polícroma, em que se salientam as flores, sendo as rosas e os cravos as preferidas.

    As faianças marcadas com um R, de variadas formas e cores, não acentuam períodos. Esta letra, mais ou menos inclinada, maior ou menor, entre aspas, sublinhada ou precedida de um ou mais pontos, marca simultaneamente toda a produção dos Rochas, sem se fixar de modo que nos deixe, por um estudo cuidadosamente feito, atribuir tal marca a tal época.

    Contudo, podemos discernir que se trata de um prato da 1ª fase, pintado à mão.
    Quanto ao prato de Darque, diz o mesmo autor, a fábrica fabricou louça de serviço comum
    decorada a azul, com o tipo da de Miragaia , aí por volta de 1850.Peças muito semelhantes com vantagem sobre as de Miragaia, não só no aspecto, como na qualidade da pasta.
    Umas e outras representam a transição da pintura manual para a pintura de estampilha introduzida em Portugal a partir de finais de 1834.

    Para mim, se não estivessem marcados, diria facilmente que o de Miragaia seria de Viana e este vice versa,apenas pela cor.
    Vamos aprendendo sempre mais, e isso é fascinante

    Um agradecimento especial à seguidora anónima do seu blog, uma nata apreciadora de faiança portuguesa.
    Um bem haja pela continuada amostragem que tanto nos enriquece.
    Beijos
    Isabel

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  3. A propósito de mais estas duas maravilhosas peças de faiança antiga portuguesa e graças à referência de que há aqui influência da faiança de Rouen – embora em termos de faixa decorativa haja exemplares com a tarja de Rouen mais explícita enquanto estes me parece filiarem-se mais na tradição das “contas” – dei por mim a pensar em como tudo isto é uma pescadinha de rabo na boca e passo a explicar a minha linha de pensamento.
    Foram os malegueiros portugueses do séc. XVII os primeiros europeus a transpor para a faiança os motivos chineses e o azul e branco da porcelana q chegava em enormes carregamentos ao porto de Lisboa e q tanto os impressionou. Essa faiança portuguesa de superior qualidade era exportada para os países do centro e norte da Europa e aí criou um gosto por essas decorações q os levou, particularmente aos holandeses, a copiarem primeiro e depois a criarem os seus próprios modelos de faiança essencialmente azul e branca, q se tornou conhecida e apreciada até hoje como Delft. Penso q a faiança de Rouen entronca nesta tradição, a tarja de Rouen lembra muitas faixas decorativas Ming ou Kangxi e a flor do morangueiro parece-me uma adaptação a solo europeu dos ramos de peónias ou de crisântemos, mais ou menos elaborados, q decoravam muitos centros de pratos azuis e brancos vindos do Oriente. Agora a minha questão é esta: será q os oleiros portugueses do final do séc. XVIII foram copiar decorações q tinham sido inspiradas na sua própria produção de um século atrás, por sua vez inspirada na produção chinesa, ou foram pura e simplesmente inspirar-se de novo na fonte original de tudo isto q foi a porcelana chinesa azul e branca, embora talvez motivados pela moda vinda de França?
    Qualquer das hipóteses é credível, mas todo este arrazoado partiu da minha reflexão sobre as voltas que o mundo dá e as influências mútuas que se podem encontrar nesta área das artes decorativas, aliás como noutras, reflexão essa suscitada pelo momento
    em q olhei para estes pratos, e de repente pareceram-me da mesma família de dois pratos q tenho em china azul com uma decoração muito semelhante. Embora já conhecesse este tipo de faiança, nunca me tinha ocorrido esta associação.
    Peço desculpa se macei com tanta reflexão…
    Abraços

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  4. Cara Maria Andrade

    Achei a sua explicação muito plausível. Os fenómenos de torna e vem são muito comuns na cultura humana. Por exemplo, os gregos modernos importam presentemente para sua língua neologismos do inglês, que por sua vez tiveram origem no grego antigo. Portanto, uma palavra, que saiu da Grécia antiga há 2.100 anos atrás, passou para o latim, do latim para o francês, deste para o inglês e depois em pleno século XX ou XXI regressou ao ponto de partida, a Grécia, mas com um significado já relativamente distante do original.

    Não me admiro muito que a decoração de Ruão tenha sido inspirada na decoração oriental, que os oleiros portugueses popularizaram na Holanda. Será um caminho a explorar

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  5. Manel e Isabel, desculpem-me. Nem agradeci os vossos comentários. Também penso como vós. Se estas peças não estivessem marcadas seria muito complicado distingui-las, mas que são um espanto, são!

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  6. Olá Luis,
    Então e a faiança Capôa de Aradas-Aveiro?
    Procurei no arquivo do seu blog e não encontrei nada àcerca desta fábrica.
    cumprimentos
    Leonor Ferreira

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  7. Cara Leonor

    Este blog não pretende ser uma enciclopédia de faiança. Há entidades públicas do Ministério da Cultura que tem deveres nessa área. Limito-me a escrever à medida que os assuntos vão surgindo, umas vezes escrevo sobre faiança, outras sobre Outeiro Seco, outras sobre gravuras. Mas se um dia encontrar uma peça sobre essa fábrica, de que goste, escreverei sobre ela.

    Em todo o caso, agradeço as suas palavras, pois notar essa falha, é até certa forma um elogio, pois significa que o meu blog já é bastante completo.

    Abraço e volte sempre

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  8. boas eu tenho uma peca cor de vinho com o seguite dizer quer dizer nao entendo muito bem se e ruul r.l´l´l portugal 248 sera que me pode ajudar
    obrigada

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  9. Cara Anónima

    O meu endereço de e-mail está no meu perfil. Por favor mande fotografias da peça e da marca e talvez eu a possa ajudar

    abraços

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