segunda-feira, 3 de maio de 2010

O sino da capela do Solar dos Montalvões continua a tocar



As investigações arqueológicas e policiais do Humberto Ferreira conduziram a mais uma descoberta dos restos da capela de Sta Rita, do Solar dos Montalvões, em Outeiro Seco, no Concelho de Chaves. Com efeito, o Humberto redescobriu o sino da capela do Solar, instalado na torre sineira dum pequeno templo na mesma aldeia, a capela de Nossa Senhora do Rosário. Talvez o meu pai me tivesse falado do paradeiro do sino, há uns anos, mas na altura não liguei.
O Humberto descobriu que o referido sino pertenceu ao solar, ao conversar com os cuidadores da capela da Capela de Nossa Senhora do Rosário, a Sra. D. Cidália e o seu marido Sr. José Serra. Logo após a venda do Solar, no início dos anos 80, o sino foi retirado e foi parar aos depósitos do Museu da Região Flaviense, mas 1990, por acção de um presidente da Junta de Freguesia, o Sr. Eliseu, regressou a Outeiro Seco, onde ganhou de novo a função para a qual foi talhado, badalar momentos importantes da comunidade.
Uma vez que está colocado num sítio tão alto, o Humberto experimentou dificuldades em tirar fotografias a todo o sino. Teve que fazer duas tentativas e só na segunda, mediante o auxílio de uma escada de 6 metros e de muitas pessoas, que por ali andavam, conseguiu fotografar todos os lados do sino. Apresenta as seguintes inscrições IOZEE, MARIA e uma data 1790.
No lado oposto do sino, está representada uma cruz formada por estrelas em relevo encimada pelo cristograma IHS. Estas três siglas por sua vez tem uma pequena cruz inclusa

As letras IHS são aquilo que de forma erudita se designa por cristograma, isto é um monograma ou uma combinação de letras que formam uma abreviatura do nome de Cristo. IHS é mais comum desses cristogramas e tem origem nas três primeiras letras do nome grego de Jesus, iota-eta-sigma, ou ΙΗΣ. A letra grega iota é representada pelo carácter latino I e a eta por um H. A letra grega sigma devido a uma questão de parecença é representada por um S. Como no passado, mais precisamente até ao século XVII, o J e o I não se distinguiam bem no alfabeto latino, este Cristograma pode também aparecer sob variante JHS.
Por vezes IHS também é interpretado como as iniciais da expressão latina Iesus Hominum Salvator (jesus Salvador dos homens) ou ainda de outra expressão célebre In Hoc Signo, que Cristo teria dito a Constantino na batalha de Mílvio (por este Signo vencerás) e que mais tarde reaparecerá no milagre de Ourique.
A julgar pela data, 1790, o sino terá sido encomendado para o solar no tempo de Antónia Maria de Montalvão Morais (1732-1809)(n.20 do livro Os Montalvões), que na altura já se encontrava viúva do seu marido, Miguel Alvares Ferreira, falecido em 1779, ou talvez ainda por algum dos seus filhos mais velhos.
Os sinos tinham funções muito importantes nas comunidades rurais. Assinalavam momentos importantes da comunidades, as mortes, baptizados, casamentos e festas religiosas ou situações de emergência, em que se tocava a rebate. Existiam vários fabricantes de sinos em Portugal e eram normalmente encomendas solenes e imagino que onerosas. Por exemplo em França, um sino tinha sempre uma Madrinha e um Padrinho. Na Rússia há inúmeras lendas que envolvem a fundição de enormes sinos. Dizia-se que para a liga resultar era necessário atirar uma virgem para dentro do cadinho, onde se fundiam os metais. Outras vezes era o próprio mestre sineiro quem se sacrificava, atirando-se para o caldeirão a ferver. O sino é um objecto que desperta sempre as imaginações.

O sino estaria colocado na fachada sul da capela, apoiado numa estrutura que já ruiu. Ando a procura de uma fotografia antiga onde se veja a localização original do sino.

5 comentários:

  1. Claro que prefiria que ele estivesse a badalar no seu local original, sinal que tudo estaria bem e que a tradição, velha de séculos, continuaria a fazer-se sentir, e que não teria sido sbstituído por um dos muitos e horrendos instrumentos, que, com o nome igualmente horrível de "sino electrónico", enxameiam o país.
    Que acontece com estes curas de hoje? Será que o bom gosto desapareceu da terra? Ou será que demasiada beleza cansa?
    Pelo menos este, por sorte do destino, continua a badalar, cumprindo a função para a qual foi destinado! Um bem haja para quem o reaproveitou e não quis que ele fosse substituído por mais uma dessas calamidades que, através de altifalantes estrategicamente colocados, dirigidos para os quatro cantos da terra, emitem as músicas "pimba" da igreja!
    Viajar por essas terras do nosso interior vai sendo uma desilusão, quando se trata de manter alguma da nossa tradição. Até parece que nunca a tivémos!
    Manel

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  2. Eu não gosto de sino eletrônico, sino tem que ser batido à mão linpa, com a corda amarrada no badalo e puxado em todos os tipos.
    O meu nome é Ricardo e eu toco o sino da capela de Santa Luzia em Rafael Fernandes-RN,
    e todas as pancados de sino eu sei dar como: ripique; chamadas de missas, novenas ou celebrações; anúncio de morte e etc.

    Ricardo Solantony Silva Nascimento
    Rafael Fernandes-RN
    Capela de Santa Luzia.

    Obrigado.

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  3. Caro Ricardo

    Tocar o sino é um trabalho muito bonito, cheio de história e com tanta importância na vida das comunidades. Concordo consigo. Não há nada como um sino verdadeiro. Essas porcarias electrónicas são horríveis.

    Abraços de Lisboa

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  4. Caro Oceano

    Concordo consigo.

    Este sino é dos antigos, do século XVIII, fundido para badalar durante uma eternidade.

    Um abraço

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