segunda-feira, 5 de julho de 2010

Mais uma gravura de Debrie, da colecção Elogios dos Reys de Portugal do nome João

O meu irmão foi muito simpático e cedeu-me umas das gravuras, que lhe calhou em herança da colecção dos reis de Portugal, no passado exposta na sala de estar do Solar de Outeiro Seco. Pelos exemplares, que pude ver, essa colecção era formada por gravuras dos nossos reis, retalhadas de diferentes manuais de história do século XVIII e portanto de uma qualidade muito desigual. Apesar dessa heterogeneidade, o resultado final deste conjunto na sala deveria ter alguma graça e sem dúvida um certo ar de nobreza. Pena é que no filme que o meu pai fez nos anos 60, não se consiga identificar estas gravuras. Deixo no entanto uma imagem da sala de estar do Solar de Outeiro Seco e a disposição das gravuras neste espaço fica ao critério da vossa imaginação.


A gravura em causa é o retrato do rei D. João II e tal como o D. João I, mostrado em anterior post, fazia parte da obra Joannes Portugalliae reges aduiuum expressi / Colamo P. Emmanuele Monteyro. - . Ulissipone : Typis Francisci da Sylva, 1742. - 240, [8] p. : il., grav. ; In-fol(34 cm).

O D. João I também da mesma colecção

As seis estampas deste livro foram assinadas por Guilherme Francisco Lourenço Debrie, (s.d-1755), ou para ser mais rigoroso, Guillaume François Laurent de Brié. Presumo que este senhor fosse francês ou originário da Flandres, aliás, como muitos outros editores e livreiros que se fixaram em Portugal. José Zephryno de Menezes Brum, na obra Estampas gravadas por Guilherme Debrie. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1908 refere que Debrie foi discípulo de Bernardo Picart(?) e que desenhou para muitos livreiros.

Este retrato de D. João II mostra o monarca a três quartos, vestido de armadura e na peanha, vê-se um grupo alegórico, composto pela justiça e a abundância, sentadas perto de um troféu de armas. No fundo descortina-se qualquer coisa onde José Zephryno de Menezes Brum, na obra Estampas gravadas por Guilherme Debrie consegue ver uma paisagem de Lisboa. Na minha gravura, que está bastante sumida, talvez por excesso de luz (a luz em demasia é fatal para os documentos gráficos), só consigo vislumbrar um grande veleiro do século XVIII.


A simbologia da peanha é por demais evidente. D. João II prepara e construí a extraordinária prosperidade, que os descobrimentos trouxeram ao nosso País, entre os finais do século XV e os meados do século XVI

No rodapé da gravura consigo ler umas letrinhas também muito sumidas, que dizem G. F. L. Debrie sculptor Regius inv. Et sculp 1743

2 comentários:

  1. Já tinha saudades dos teus escritos.
    Habituas-nos mal!
    E também tenho saudades dos comentários da Maria Isabel e da Maria Gabela, que têm uma intimidade que muito prazer me dá.
    Mas já se sabe que, em época de férias, cada um merece gozá-las da forma que melhor lhe aprouver, pois trabalhar raro é do agrado de cada um (pelo menos não é do meu) e só espero ordem de soltura para, também eu, rumar por esses espaços fora, mas ainda me faltam três semanas de penar!
    Desculpa não falar sobre o Debrie, mas já o fiz antes e, também eu tenho algumas gravuras deste senhor, mas prefiro dedicar-me à fotografia.
    A fotografia é muito bonita e eu até julgo saber onde se encontravam as gravuras reais, julgo que nas paredes setentrionais desta sala. Mas não será de fiar pois acabo por recrear tanta coisa que, no final, não passa de imaginação delirante!
    A tua bisavó encontra-se sentada num sofá, frente às belíssimas cantarias em granito que constituem uma das duas lareiras que existiam nestas salas de aparato, e que ainda consegui ver mais ou menos intactas. Impressionantes na sua dimensão grandiosa, se bem que deveriam deixar escapar grande parte do calor que produziam.
    Creio lembrar-me que existia uma outra lareira na sala de jantar, na ala nascente (ou pelo menos tinha sido projectada e até havia espaço para ela), e a enorme chaminé aberta, de canto, na cozinha, onde se poderia assar um animal de algum porte!
    A foto foi tirada pela tarde, pois estas salas estavam viradas a poente, e como a distância entre o sofá e as janelas ainda é considerável, só posso constatar que já a tarde ia avançada, face ao tamanho da mancha de luz solar que inunda o fauteuil. E o tempo devia ir quente, face ao vestido de mangas curtas. A tua bisavó está toda coberta, e de escuro, porque já estaria viúva do teu bisavô e, como soía nas famílias tradicionais, passou a envergar luto. Esta foto, pelo tecido da senhora mais próximo (que não reconheço) deve datar já do início dos 70.
    Apesar dos rombos no tecto e do fogo que tudo destruiu, ainda vi, nesta sala, alguns dos estuques primorosos, com festões e grinaldas de flores à mistura com molduras, tudo decorado em tonalidades de rosa e creme (talvez branco, mas passado o tempo e face à intempérie o branco suja-se!), o soalho que deveria ser em pranchas de castanho (madeira abundante na região), e que na altura deveria estar encerado e com uma patine de cerca de 2 séculos em cima, a mesa de pau santo, quase filipina, em primeiro plano, com a escultura em alabastro e, ao lado, sobre o tampo, talvez alguns portulanos, enfim ... estou a sonhar e a recrear o ambiente de época
    Manel

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  2. Muito obrigado pelo teu comentário muito poético e bem escrito, Foi um prazer lê-lo

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