terça-feira, 23 de março de 2010

D. João I de Portugal: gravura de Debrie de 1742


Na sala de estar do Solar de Outeiro Seco existia uma colecção de gravuras dos reis de Portugal. Tentei localiza-las no filme que o meu pai realizou no interior do Solar nos anos sessenta, mas em vão. Os meus irmãos e eu recebemos algumas e julgo que foram gravuras retalhadas de diferentes livros de história de Portugal, para servirem de decoração às paredes.

Herdei duas delas, sendo que uma é de muito bom traço. Trata-se de uma representação do nosso rei D. João I, o célebre Mestre de Aviz, que obviamente não vou explicar quem foi.

A gravura fazia parte da obra Joannes Portugalliae reges aduiuum expressi / Colamo P. Emmanuele Monteyro. - . Ulissipone : Typis Francisci da Sylva, 1742. - 240, [8] p. : il., grav. ; In-fol(34 cm), que como o nome indica continha os retratos dos joões todos que nos governaram como monarcas As seis estampas deste livro são de muito bom traço e foram assinadas por Guilherme Francisco Lourenço Debrie, ou melhor por, Guillaume François Laurent de Brié. Pouco ou nada encontrei sobre este senhor talvez francês ou flamengo, que veio para Portugal em 1731 . José Zephryno de Menezes Brum, na obra Estampas gravadas por Guilherme Debrie. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1908 refere que Debrie foi discípulo na Holanda do francês Bernard Picart (1673-1733)e que desenhou para muitos livreiros, o que é verdade, pois só eu em minha casa tenho pelo menos 3 gravuras dele.

Este retrato de D. João I apresenta um pormenor curioso na peanha, uma representação alegórica em que se vê Hércules, junto de um troféu de armas, à sua esquerda está um dragão lutando com outro animal, um leão e à direita estão 3 homens agrilhoados. Julgo que esta alegoria é uma alusão aos trabalhos hercúleos contra os castelhanos e os partidários de D. Beatriz, que o mestre de Aviz teve de enfrentar, para manter a independência do pequeno reino de Portugal.

A obra Joannes Portugalliae reges aduiuum expressi (Referida por Inocêncio VII, p. 97), que algum antepassado meu de temperamento bibliofágo se entreteve a retalhar com uma faquinha afiada, foi reeditada em português com o título Elogios dos Reys de Portugal do nome de João em 1749, julgo eu que também com gravuras do Debrie

1 comentário:

  1. Será que a imagem está associada ao último, e mais complicado, trabalho do semi-deus, a colheita das maçãs de ouro guardadas por um dragão no jardim das Hespérides, que segundo algumas versões da lenda, se encontrava no extremo ocidental da Europa?
    Bem, de qualquer forma, nem sequer terá sido Hércules que colheu as maçãs, antes utilizou Atlas para o fazer, a conselho de Prometeu.
    Mas que sonegar Portugal aos castelhanos deve ter sido um trabalho digno de Hércules, lá isso deve ter sido, e a associação tem tudo a ver!
    No entanto, pessoalmente, experimento sentimentos contraditórios sobre o desfecho deste acontecimento da nossa história, mas como nada pode ser feito para alterá-lo, basta aceitar e viver com as consequências.
    A excelência deste gravador fá-lo isolar-se no panorama artístico do tempo, pois também possuo uma gravura deste mesmo autor e igualmente dotada de grande qualidade.
    Manel

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