quarta-feira, 10 de março de 2010

Humildes faianças: louça tradicional de uso comum no Concelho de Arganil


Conjunto de pratos de faiança Ratinho patentes na exposição

Iniciei este blog em Setembro, a pensar que isto ia ser uma coisa tonta, comigo a falar só para o infinito, e desde essa altura para cá, surpreendentemente, tenho obtido resultados interessantes. Apareceram muitas pessoas que eu não conhecia de lado nenhum, fizeram comentários e sugestões, que me levaram a querer saber mais e a sistematizar conhecimentos e aos poucos esboçam-se uma página de Internet e uma rede familiar, onde se podem encontrar entre outras velharias, conteúdos pertinentes acerca de faiança portuguesa.

Em Fevereiro, o Carlos Pereira, de Fernão Ferro efectuou um comentário ao meu post sobre faiança ratinho, falando-me das suas peças desta loiça e duma exposição que participou em 2007, em Arganil, emprestando obras suas. Fiquei todo entusiasmado, fiz uma pesquisa no google, descobri o nome da exposição, telefonei para a Câmara e escrevi um mail ao seu Presidente, o Engenheiro Ricardo Pereira Alves geral@cm-arganil.pt, a solicitar-lhe o envio dum exemplar do Catálogo.

Os serviços da Câmara Municipal de Arganil foram muito simpáticos, rapidamente enviaram-me à cobrança a referida publicação para Lisboa, cujo preço final não chegou aos 7 euros.

É um livro muito interessante sobre faiança popular que eu e muitos dos seguidores deste blog gostámos muito, com imagens de belos pratos ratinho e de outros fabricos da zona de Coimbra.

Houve uma parte do catálogo, que me chamou sobretudo a atenção, que é a utilização desta louça de faiança popular. Com efeito, num passado não muito remoto, nas famílias mais humildes do campo não havia o hábito de comer em pratos individuais. Nas refeições, usava-se um grande prato, normalmente fundo, onde se punham os alimentos e os membros da família picavam dali, ou à mão, ou cada qual com o seu garfo. No catálogo, mostra-se uma mesinha muito rústica, de três pernas, de tampo circular, facilmente confundível com um banco, que servia exactamente para assentar o grande prato ou bacia, do qual todos se serviam. Na região de Portalegre, para onde os Ratinhos se deslocavam para trabalhar, este grande prato eram conhecido por Baranhão, segundo informação prestada pelo Miguel.
Esta informação coincide em grande parte com a descrição que o meu pai faz da forma como os trabalhadores agrícolas eram servidos na cozinha do Solar dos Montalvões de Outeiro Seco. A comida era servida num grande prato ou bacia, designada por “fonte” e os trabalhadores picavam directamente dali.

Neste pequeno catálogo, com 59, páginas, impressas num papel barato, as humildes faianças, ganharam foros de nobreza

10 comentários:

  1. Para o Luis e Manel

    Acho que me estragam com elogios. Isto depois dos 5o, não é fácil...A minha filha psicóloga, quando lhe contei que adorava comentar este blog, avisou-me...tem cuidado, vê lá se saturas as pessoas, tem um nível de escolaridade e vivências diferentes...comporta-te, não exageres!
    Porém...não consigo deixar de comentar. Trata-se de um frenesim!
    Mas estão à vontade para contestarem qualquer coisinha.

    O mote escolhido toca-me ao sentimento. Lembra-me a minha saudosa terra Coimbra e do Brioso, ceramista pioneiro neste tipo de loiça malagueira, de segunda, mais barata para o povo, por volta dos finais de 1700, onde as cores predominantes utilizadas eram o verde, ocre,azul ,vinoso ( que dá uma tonalidade escura a puxar ao castanho e o manganês.
    Catalogadas à posteriori por" Ratinho" por terem sido maioritariamente utilizadas por "Ratinhos" pessoas que se deslocavam das Beiras para o Alentejo sazonalmente para as ceifas.
    Pena não ter ainda nenhum exemplar. Mas acredito que hei-de ter.
    Há quem lhe chame bacias, eu gosto de lhes chamar palanganas.

    Quando nas férias do natal ia passar uns dias à minha avó materna Maria da Luz, comia com ela directamente da palangana com garfos de ferro, sentadas em tripés junto ao lume.Tal como se mostra na foto, a mesa para assentar a palangana era um tripé mais alto.

    Quando forem a Portalegre não deixem de visitar um dos museus que têm uma das maiores colecções de "Ratinhos". Fabulosa pela dimensão, a panóplia de peças e decorações policromadas,mas também pela sua origem.
    Segundo a cicerone, os "Ratinhos" no final das ceifas trocavam com os senhores das herdades as palanganas por roupa usada, porque no Alentejo não havia muita louça.
    Aproveitem e apreciam os rebuçados também apelidados de Portalegre, receita conventual, muito apreciados,quem quiser encontra nas lojas groumet.
    No 5 de Outubro em Alvaiázere decorre a festa do chicharo. As montras são ornamentadas com palanganas em jeito de ceia com os chicharos e couve galega miudinha onde não faltam os garfos de ferro, a almotolia de azeite, os dentes de alho, a broa, as sardinhas e o tintol.

    Adoro palanganas, fundas, rasas, de rebordo comido, gastas, usadas.
    Peças únicas, pintadas à mão.
    Afinal tenho "cacos" que ao longo dos anos tenho encontrado no quintal dos meus pais quando é lavrado.
    Tenho quilos de cacos. Hei-de fazer qualquer coisa com eles um dia destes.
    Isabel

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  2. Cara Isabel os seus comentários são sempre bem vindos. Pessoalmente fico satisfeito por saber que o que escrevo desperta em quem me lê, reacções, sentimentos e divagações. O objectivo deste blog é escrevermos de forma desinteressada, livre e informal sobre património móvel ou imóvel e memórias familiares de forma a trocarmos, conhecimentos e experiências.

    Ando cheio de vontade de voltar a Portalegre para rever a Casa Museu de José Régio, que tem a colecção de Cristos mais bonita do País. Os Senhores da Paciência deste museu encheram-me as medidas. Há muitos anos vi o Museu Municipal, que é o sítio onde estarão todos esses ratinhos de que me fala. Mas, há vinte e tal anos, pouco ou nada me interessava por faiança e o museu era um depósito de caqueirada, com as peças expostas tipo Braz &Braz. Entretanto, sei que o Museu foi reformulado e ao que parece muito bem. Mas não temos tempo para ver tudo que gostaríamos. Como diria o Cesário Verde “Se eu não morresse nunca! e eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas”

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  3. Sem ser o dono do blog (não tenho muita coragem para iniciar um e o que me sobra de tempo vou-o gastando noutras minudências, algumas ligadas ao restauro e actividades quejandas, que, este sim, me dá um prazer que não tenho em mais sítio nenhum) terei o suficiente à vontade para escrever que é sempre com acrescido prazer que por aqui vos vou lendo e, sempre que me é possível, comentando (também tenho sempre receio de maçar com tanta escrita, mas penso igualmente que, se o fizer, basta que não me leiam, e o dono do blog poderá sempre apagar-me .... (ele que experimente ... grrrrr ... risos).
    Quanto aos ratinhos aqui apresentados, são fantásticos, creio que os escolheria a todos, pois são todos igualmente belos!
    Quanto ao tal banco de tripé, não me recordo de ver nenhum lá pela minha casa da aldeia, o que também não é para estranhar, pois, desde meados dos anos 40 a casa já só era habitada por uma única pessoa, a minha avó, e ela comia onde calhava. Não necessitava de qualquer prato grande, bastava uma sopa numa malga com um algo de conduto, uma fatia de broa e ... estava alimentada.
    Mas que teria gostado muito de ver lá por casa um ratinho, lá isso gostava, e, se algum existiu deve ter sido levado pelas raparigas da casa que ao casarem se foram, acompanhadas da respectiva herança. Ou então ter-se-á partido, e como deveria ter sido considerada como louça de segunda ou terceira escolha, nem sequer consideraram a hipótese de gateá-lo, como fizeram com outras peças, poucas, porque até os gatos eram caros para uma família ligada à terra e com poucos recursos, como foi a minha.
    Manel

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  4. Ratinho
    Para mim, durante muitos anos, Ratinho era sinónimo de sapataria, com calçado para crianças, no centro de Lisboa, onde meus pais me levavam quando eu era miúdo.
    Nunca liguei nenhuma a loiças, de porcelana ou de faiança, embora em nossa casa houvesse um grande prato de faiança rústica em cima da mesa da sala, onde ião parar lápis, canetas, revistas, etc., o meu pai dizia que era um Talavera, e que se encontravam ás vezes no campo com comida para as galinhas. Durante muitos anos todo o meu conhecimento de loiças era pois, Sacavam e Talavera.
    Há cerca de 12 anos, passando em Lisboa em frente a uma montra de um antiquário vi um prato, tipo rústico, que me fez lembrar o Talavera. Entrei e pedi para ver o prato. Passei então a saber que havia pratos de uma fábrica Ratinho e que aquele era especial porque pratos Ratinho com figuras humanas eram raros. O preço, (em contos de reis) também deve ter sido raro pois agradeci e fui-me embora.
    Tempos mais tarde, a minha mulher ofereceu-me como prenda de Natal O Ratinho que eu tinha visto e que tem desde então lugar de honra na estante da minha sala.
    Só agora me lembrei de ir á procura na net de literatura sobre o Ratinho, razão de ter vindo parar a este blog, onde encontrei muita informação interessante sobre a origem do meu prato ou palangana ou fonte ou bacia…… Eu chamo-lhe prato. Terei que ir numa próxima oportunidade ao Museu de Portalegre ver se enriqueço o meu conhecimento sobre a origem do meu prato.

    Eduardo Nunes

    Prato de faiança Ratinho. 27 cm.
    Queria mandar fotografia do prato mas não sei como fazer....

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  5. Caro Eduardo Nunes

    Obrigado pelo seu comentário. A faiança dita de Ratinho com o seu ar popular e ao mesmo tempo islâmico é fascinante.

    Pode usar o meu endereço montalvao.luis@gmail.com

    Abraços

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  6. Na minha zona Alentejo Portalegre os pratos ratinhos eram trazidos pelo povo das beiras a quem se chamava "Ratinhos", que vinham fazer as ceifas nos grandes campos de trigo Alentejanos e tudo comia, do mesmo prato o qual era denominado baranhão.

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  7. Obrigado pela sua informação Caro Miguel.

    Irei acrescenta-la no post.

    Se quiser consulte as etiquetas no lado direiro, pois existem mais posts sobre a faiança dos ratinhos

    Abraço

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  8. Foi providencial esta minha visita a este blog.Tudo começou porque vi o ratinho em cima do "mocho" (banco de 3 pés) e com referência a Aganil.Estive na inauguração dessa exposição e devo dizer que tenho muita pena que os ratinhos lá presentes não sejam meus....adoro essa louça! Mas o melhor de tudo foi ter ficado a saber a localização do museu em Portalegre. Já sabia da sua existência mas julgava que se situava algures em Elvas. Já fui á sua procura e não o encontrei(procurei na zona errada). Nessa demanda entrei em diversos antiquários da zona e pude apreciar alguns, já raros, exemplares de grandes dimensões cujo preço rondava os €1.500!!!!! e que se encontravam muito bem conservados.
    graças á sua dica vou poder, dentro em breve, espero eu , apreciar essa magnifica colecção. Obrigado.

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  9. Caro Anónimo

    Os dois museus existentes em Portalegre tem boas colecções de Ratinhos: O Museu Municipal propriamente dito e a Casa Museu José Régio (o José Régio foi um dos primeiros coleccionadores daquela loiça).

    Os antiquários exageram nos preços dos Ratinhos. Depois queixam-se que não vendem...

    Abraço e volte sempre a este bolg

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  10. Luís. Há muito tempo que não contatamos. Tem acompanhado no Face as minhas partilhas das fotos das terrinas, cuspideiras, bules/bica para acamados e penicos, tudo em faiança ?
    Cumprimentos.
    Carlos Pereira

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