A segunda seguidora misteriosa enviou-me por e-mail mais peças de faiança Ratinho da sua colecção, pedindo-me que as partilhasse convosco. É curioso, mas a medida que vou conhecendo mais estas peças e há uns dias visitei a casa de um casal de coleccionadores de ratinhos, sinto que penetro num mundo diferente do nosso, um mundo rural, há muito desaparecido, mas que nos finais do século XVIII e durante o século XIX, conservava ainda quase intacta uma herança decorativa antiquíssima, de tradição islâmica no entender de Joaquim de Vasconcelos. Ao visitar a colecção de ratinhos desse casal de coleccionadores apercebi-me que esse mundo produziu uma extraordinária variedade de motivos decorativos, mas ao mesmo tempo com uma unidade muito grande entre si, que não pode ser confundida com mais nenhuma loiça, a não ser talvez com os alguns briosos.
Parece que a segunda seguidora adivinhou estes pensamentos e mostrou mais algumas variedades de ratinhos. Um jarrinho e uma bacia de barba, decorada com o que eu julgo ser a flor do cardo. É uma peça muito profunda, o que a torna quase tão espectacular vista de trás, como pela frente.
O tardoz da bacia de barba |
Por último, a nossa segunda seguidora, enviou-nos imagens de umas peças raras, uns covilhetes, que medem entre 8 e 13cm.
Os covilhetes |
A nossa amiga apurou na obra Ratinhos Faiança Popular de Coimbra que a função destas peças seria meramente decorativa ou então serviriam para brinquedos, mas, não ficou muito convencida disso, dado que esta loiça barata era comprada por gente humilde. No Museu de Santa Clara a Velha, a nossa seguidora encontrou umas tacinhas com uma decoração semelhante e apresentando a inscrição DOCE, o que a fez pensar que poderiam ser usadas para servir um doce típico de Coimbra o manjar branco, ainda hoje servido em tacinhas de barro. Ainda segundo a nossa amiga, estes covilhetes poderiam ser usados para guardar fermento de pão.
Seria necessário, que uma obra sistemática sobre faiança ratinho saísse do prelo para nos ajudar a todos a satisfazer estas dúvidas e a entender melhor este fenómeno artístico dos humildes ratinhos.
Olá Luís
ResponderEliminarBelo dia este, ao abrir o Pc, de caras salta à vista faiança ratinho!
Sem dúvida a sexta feira é conetada por mim como o melhor dia da semana, no caso estou a começar muito bem.
O primeiro desenho, não o identifico como sendo flor do cardo, mas aceito se assim a identificam.Conheço bem o cardo e não acho parecenças.Seja que flor for é lindíssima.A bacia de barba é deslumbrante, pela elegância e exuberância das cores. O tardoz é igualmente belo, a forma artesanal do seu fabrico na olaria, rebordo talhado a cana como era hábito na altura e a parte bojuda da bacia é soberba.
Noto na foto do tardoz dois pontos, interiorizei serem furos. Isto porque já comprei dois pratos desta época com um furo no rebordo e vi igualmente noutros em feiras. A dúvida seria a sua utilidade.
Será que serviam para os pendurarem num prego, camarão?
A infusa, cercaduras muito interessantes. A ondulada tipo corda com pontos muito característica da faiança de Darque é muito raro ser encontrada noutra faiança, ao invés da cercadura em ziguezague típica da faiança ratinho.
Os covilhetes:Se houvesse uma foto do tardoz a identificação seria mais correta, digo eu.
A última foto tipo tacinha funda julgo serviam para o arroz doce e manjar branco, doces típicos de Coimbra.
Dois deles atribuo-os a pires de chávenas.
O maior de fato parece ser uma malga usada para o crescente da broa.
Não é tão usual serem encontradas peças pequenas de fabrico ratinho, mas existem e a prova está aqui.Fizeram-se peças pequenas, não sei qual seria a sua função(brincar, decoração e ofertas, caso de um penico em miniatura que postei há pouco, também tenho 3 pires que seriam de chávenas, e ainda uma tacinha com os corações pintados ao centro que atribuo a ofertas)
Isto quer dizer que apesar da faiança ser dirigida ao povo, barata, a criatividade dos oleiros que faziam parte desse povo dava largas à imaginação e produziram embora em menor escala peças muito pequenas a contrariar as grandes habituais, e assim não caiam na monotonia no ritmo de laboração.
Por último o meu muito obrigado à 2ª seguidora que gentilmente mais uma vez se disponibilizou gentilmente para nos mostrar peças da sua coleção.
Bem haja e continue, porque prefiro vê-las aqui do que nos Museus....será por as contemplar sentada???
Peço desculpa pelo rol.
Bom fim de semana
Beijos
Isabel
belas peças! ótimo forma de começar meu dia. inspirador.
ResponderEliminarobrigado Luis, e à sua seguidora anônima.
abraços
Olá Luís
ResponderEliminarPeças de beleza muito própria, que reside na sua simplicidade.A decoração da bacia da barba, conseguida pelas técnicas do desenho livre e do esponjado, remete para a influência oriental e lembra a pluma de pavão.Esta faiança, popular e ingénua, feita com os barros mais grosseiros,honrou, com a sua participação, as exposições industriais, entre as quais se refere a de 1884.Os Pessoas, família de ceramistas, cujas fábricas laboraram em Coimbra durante todo o século XIX e parte do XX, apresentaram "louça de consumo ordinário, productos baratos, para os mercados populares [com] interessantes pinturas: plumagens, flores caprichosas, algas e pennas de pavão, feição característicada faiança coimbrã", como pode ler-se na publicação editada pelo Secretariado das Comemorações para o 1º Centenário da Exposição Distrital de Coimbra, de 1884.
O conjunto de covilhetes, decorados com linhas onduladas e círculos concêntricos, poderiam ter servido, como já anteriormente foi referido, para servir o doce manjar branco. Também na zona de Santa Clara existiu uma tradição de fabrico de cerâmica. Ao cimo da Azinhaga Cano dos Amores funcionava uma pequena oficina de louça vermelha na qual, o seu dono fabricava, quase exclusivamente,tigelinhas para manjar branco.
Já me alonguei neste comentaário.
Cumprimentos e bom fim de semana.
if
Obrigado pelo seu comentário, Maria Isabel
ResponderEliminarJulgo que os furinhos se destinavam a penduar esta bacia.
Temos todos muito ainda a aprender com esta faiança popular.
Beijos
Caro Fábio
ResponderEliminarJá sentia a falta do nosso amigo Carioca.
Os Ratinhos são uma faiança absolutamente intrigante e quanto mais exemplares vemos, mais gostamos deles.
Abraços
Cara If
ResponderEliminarO seu comentário até foi curto de mais. Eu registei todas as informações nele contidas.
Seria interessante conseguir relacionar os fabricantes com as peças. Será que não é possível localizar os descendentes destes fabricantes? Talvez alguns tenham guardado peças fabricadas pelos seus trisavôs.
Seria também interessante fazer escavações arqueológicas nesses locais onde existiram oficinas de cerâmicas. Em Miragaia fizeram algumas sondagens no lugar da antiga fábrica e fizeram algumas descobertas significativas.
Enfim, estou a discorrer como se o país não estivesse falido, sem dinheiro para nada e muito menos para escavações arqueológicas.
Abraços e alongue-se sempre nos comentários
Olá Luís , lindos os ratinhos ...,mas será que a influência decorativa é mesmo árabe ? Não sucederá algo de semelhante como :"todas as palavras começadas por AL...,ou o adufe.. .» Creio que sim .
ResponderEliminarComo já lhe disse tenho alguns ratinhos ;quando for à Beira ,se forem diferentes dos mostrados vou fotografá-los para os ver .
Ab.
Quina
Olá Luís,
ResponderEliminarMais umas faianças ratinho do nosso contentamento!
E felizmente as suas duas seguidoras misteriosas, ambas belíssimas colecionadoras destas faianças, neste caso a segunda a quem também agradeço, continuam a deliciar-nos com as suas peças sempre diferentes.
Aqui o que me encantou mais ainda foi o conjunto das cinco tacinhas, peças que sempre me intrigaram mas que sempre associei à faiança ratinho.
Eu tenho duas, até já falei duma que estava na minha parede de ratinhos quando fiz um post sobre o assunto. Por qualquer motivo, talvez vagas reminiscências de infância, pensava serem usadas para o crescente, o fermento natural que se ia acrescentando para fazer pão caseiro, mas depois a Maria Isabel, num comentário, disse-me que achava aquela muito pequena para tal fim e pus essa hipótese de lado.
Agora com este seu post,ganhou consistência a hipótese de se tratar de tacinhas para doce, agora reforçada pelo comentário muito bem fundamentado da IF.
Assim, aos poucos, com estes valiosos contributos, vai-se reunindo aqui matéria para um verdadeiro tratado sobre a faiança ratinho...
Abraços
Cara Maria Andrade
ResponderEliminarDesculpe só agora lhe responder, mas o tempo falta-me. A If tem de facto um bom conhecimento sobre Ratinhos e vai-nos ensinando a todos.
Abraços
Cara Idanhense
ResponderEliminarNão deixe de fotografar os seus ratinhos e compare-os com os que aqui foram apresentados e vai ver que descobre coisas engraçadas
Abraços
Fiquei encantado com o que escreveu a comentadora "if" (ouro puro para estas lides da cerâmica), que me deu mais algumas referências sobre os ratinhos, por isso, não só agradeço à tua segunda seguidora (a denominação é baseada na tua própria fraseologia), que partilhou connosco as suas faianças, aliás belíssimas, como os comentários preciosos desta tua comentadora.
ResponderEliminarUm muito obrigado às duas.
Tendo eu também um prato ratinho com o motivo semelhante ao que aparece aqui na bacia degolada, não percebo igualmente que representa este tipo de desenho, pois ora me parece uma pena como uma flor (talvez de cardo, é uma hipótese a considerar), mas que é uma motivo fascinante lá isso é!
Passo a vida de volta dos motivos do meu prato a tentar descortinar que representará ... pena? flor? misto de ambos, pois o motivo repete-se em baixo e em cima ...
E os pratinhos mais pequenos poderiam perfeitamente estar aptos a servir o tal doce, como serem perfeitamente funcionais para qualquer outro uso afim.
São fantásticos na sua simplicidade.
É com base na decoração destes pratinhos que mais me lembra a influência árabe ... basta ver algumas peças desta proveniência do Museu de Artes decorativas de Barcelona para perceber esta familiaridade (sei que a decoração árabe tem tendência para introduzir uma espécie de horror ao vazio, mas as cores são recorrentes).
O verde azulado que aparece na cerâmica árabe está ligado ao próprio Profeta, como símbolo de espiritualidade, enquanto o branco é a pureza da dinastia Omeya (esta dinastia que, por tradição, descende do próprio Profeta, e cujo último descendente se estabelece em Córdova dando início à dinastia com o mesmo nome na Península Ibérica, e de cuja cerâmica parece ser herdeira a que se fabricou posteriormente) e o negro (uma forma do óxido de manganês, que na nossa cerâmica dá o "vinoso") representa o poder e a dignidade atribuídos ao trono califal.
Olho os nossos ratinhos e lembro-me sempre da cerâmica árabe!
Manel
O termo "Omeya" (de dinastia) é um termo mais utilizado em castelhano, em Português, o termo correcto deverá ser "Omíada"
ResponderEliminarManel