quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mais alguns dados sobre o cantão popular


Ofereceram-me dois pratos de cantão popular. O primeiro foi a Marília, no seguimento de um negocio que fizemos e o segundo, a Maria Isabel. Quer um quer outro tem em comum uma característica rara neste motivo decorativo, estão marcados no verso!!!

Recapitulando um pouco, o cantão popular é uma adaptação livre e ingénua da louça inglesa do willow pattern e foi fabricado em Portugal por várias oficinas, a maioria anónimas, desde o início do século XIX (como o exemplar mostrado em primeiro lugar) até quase aos anos 60 ou 70 do século XX.

Como tenho vindo aqui a mostrar há imensas variantes do motivo, que também é executado em pastas diferentes.

De certeza absoluta sabemos que o cantão popular foi fabricado pela Lusitânia. Presumimos que esta fábrica produzisse este motivo na sua unidade de Coimbra (comprada em 1929), já que a casa-mãe de Lisboa parecia estar mais dedicada aos azulejos e aos materiais de construção civil.


Também sabíamos seguramente que a Fábrica do Cavaco do Porto (1862-1920) produziu cantão popular

Na obra a Cerâmica em Vila Nova de Gaia. - Vila Nova de Gaia: fundação Manuel Leão, 1999 da autoria de Manuel Leão são mencionadas duas peças da Fábrica do Cavaco (1862-1920) com este motivo do cantão popular, um bule zoomórfico (pág. 242), com marca, propriedade dos Museus Municipais do Porto e um prato (pág. 244), da colecção Adosinda Anes, que fazia parte de um serviço feito no final do período de laboração.


A Isabel Maria deu-me agora um prato desta fábrica com marca e mais vi vez uma nova variante no motivo. Enquanto que na maioria da loiça de cantão popular o o fundo do tema é branco, aqui no exemplar da Fábrica do Cavaco, o fundo é azul claro, semelhante ao da loiça de Alcobaça da fábrica da família Bernarda.



Finalmente, o prato que a Marília teve a amabilidade de me dar, está marcado Loiças da Pinheira, Aveiro e com as iniciais PL. O Manuel sempre me tinha dito que o Cantão popular também tinha sido produzido em Aveiro, mas eu na faiança popular, sou como o outro e só vendo para crer. A marca tem um ar recente e o prato também. Num site de uma professora da região de Aveiro, li que as "Faianças da Pinheira" só se instalaram em Aradas (peryo de Aveiro nos anos 50, 60. Contudo o Dicionário de marcas de faiança/ Filomena Simas, Sónia Isidro. – Lisboa: Estar Editora, 1996 apresenta na pág. 90 uma marca desta fábrica datada do século XIX. Fiquei com a ideia que as Louças da Pinheira já existiam em Aveiro há muito, antes de se instalarem em Aradas.

Em suma, agora temos a certeza absoluta que a Lusitânia(Coimbra?), o Cavaco (Gaia) e as Louças da Pinheira (Aveiro) fabricaram cantão popular. Certamente haverá mais fábricas

8 comentários:

  1. O prato que a Maria Isabel te ofereceu é muito interessante na sua interpretação do motivo, pois parece estar cheio de olhos, uma das ilhas rochosas ao cimo parece ser um orgão com o seu feixe de tubos e a parte de baixo, aquilo que com que se pretenderia representar a água, parece um conjunto de raízes de um qualquer rizoma! Que interpretação fabulosa, e a cor de base com aquela tonalidade azulada dá-lhe um encanto muito especial, que está mais próximo dos ditos "flow blue" da louça inglesa de novecentos e que tanto encanto em mim evocam.
    Quanto ao da Marília tem o condão de nos mostrar mais um centro de produção desta louça que eu sabia existir, mas que nunca tinha encontrado a prova! Assim, a Marília conseguiu provar que afinal a minha teoria tinha fundamento (obrigado Marília!).
    Também já vi peças com este motivo, não marcadas, mas atribuídas a Sto. António do Vale da Piedade, mas isto creio que deves saber, claro. Mas certezas, claro, não há!
    Mas porquê tantas incertezas?
    As/os vendedoras/es nas Feiras resolvem o problema sem custo nenhum: "Ai! Esse prato é Miragaia, e olhe que é autêntico!". Para eles não há qualquer dúvida e raramente se enganam, como diz o outro, o da triste figura!
    Manel

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  2. Luís, ainda não tinha tido oportunidade de comentar os seus posts sobre cantão popular porq tem havido muita outra coisa sobre que ler e escrever.
    Começo por lhe dizer que acho a sua travessa Miragaia fabulosa, é o tipo de peça, travessa ou terrina, que ainda ambiciono encontrar...por preço razoável, claro.
    Também tenho vários pratos com a decoração Cantão- pocelana chinesa, VA, faiança inglesa (willow) e cantão popular- e posso-lhe dizer que conheço mais duas fábricas ou olarias portuguesas: a fábrica de S. Roque em Aveiro e uma olaria em Carritos, às portas da Figueira da Foz. Desta tive conhecimento muito recentemente ao visitar as reservas de cerâmica do Museu Santos Rocha na Figueira da Foz. Estava lá um jarro de ir à mesa com esta decoração bastante cheia, não marcado, mas com uma etiqueta a mencionar essa olaria em Carritos.
    Da fábrica de S. Roque, séc.XX, tenho um prato marcado. É uma decoração mais elaborada, com reservas na aba e uns tons de azul,claro e escuro, a delinear os desenhos. Também tenho um pratinho de sobremesa, marcado Cavaco Gaia, muito cheio, por ser talvez mais pequeno do que a Maria Isabel lhe ofereceu, e com um azul cobalto maravilhoso (achei muito apropriada a comparação feita pelo seu amigo Manel ao "flow blue" inglês) Depois há os que não têm marca mas descobri hoje no seu post que dois deles são da fábrica da Pinheira de Aveiro porque são exactamente iguais ao que lhe deu a Marília. Já desconfiava que fossem de Aveiro porq por aqui nas feiras atribui-se muito a Aveiro este tipo de loiça. Tenho ainda sem marca um prato fundo,oval, com uma aba canelada que acho muito bonito.
    Só mais uma coisa:
    Encontrei no catálogo duma exposição de faiança portuguesa um bule Lusitânia com este motivo, mas atribuído a Lisboa e não a Coimbra.A marca era uma caravela com a palavra LUSITÂNIA por baixo.
    Bem, peço desculpa se novamente me alonguei demasiado mas tenho-lhe a agradecer o prazer que me tem dado com o seu blogue e os interessantes posts que publica diariamente. Só espero também dar algum contributo positivo com os arrazoados que aqui escrevo.
    Maria A.

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  3. Manel e Maria Andrade

    Tomei nota das Faianças de S. Roque e da olaria Carritos e se um dia apanhar qualquer peça cantão popular marcada por essas fábricas tentarei mostra-las aqui. Ficarei atento e vou fazendo umas pesquisas aqui e acolá por esses nomes, para ver se apanho qualquer coisa na net, o mesmo se passa com Sto. António do Vale da Piedade.

    Foi pena a Maria Andrade não ter conseguido mais informações dessa peça da Olaria de Carritos.

    A Lusitânia tinha a fábrica mãe em Lisboa, mas pelo que li na obra "Fábrica de Cerâmica Lusitânia" de Isabel Cameira fiquei com a ideia que o núcleo de Lisboa só se dedicou à produção de azulejos, telha, tijolo e outros maateriais de construção civil. As outras filiais terão fabricado loiça. Mas, isto é um palpite, não é uma certeza.

    Abraços

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  4. Luís
    Mais uma vez o fascínio do cantão popular!
    Uma confidência, foi graças a si que aprendi a olhar para ele e apreciá-lo
    Comecei por uma grande travessa oval "Chorão" de Sacavém,comprada na feira da ladra num dia que estava a abarrotar de dinheiro...caríssima!
    Havia nela um não sei quê, talvez o azul tipo vinoso...
    Infelizmente fui enganada ,tinha sido restaurada, ao lava-la vi que estava partida...depois roubaram-na da minha casa rural
    Continuei,até encontrar outra, mas debalde, só me tem aparecido mais do género que apresenta como da fábrica da Pinheira de Aveiro
    Também graças a si decidi junta-las praticamente todas na sala da minha lareira em Ansião
    Conferiu-lhe uma nobreza mística de azuis no contraste do branco velho das paredes...fascinante!
    Voltando ao início quando vi este post, julguei que estava a ver uma das minhas travessas...não fosse a minha estar colada...direi que saíram da mesma fábrica, foi a minha última aquisição em Azeitão
    Quanto à travessa da Lusitânia, tenho um prato raso que comprei na feira da ladra marcado
    Claro o pratinho azul forte era mano do meu "Cavaco Gaia"
    Ainda tenho um prato e uma travessa "Aradas" ali perto de Aveiro, das últimas reproduções deste motivo, já mais branca e estilizada, assim como existe também na loiça de Sacavém, que já vi, mas não comprei
    Pena que só num conjunto de 16 peças, apenas 4 sejam marcadas
    Neste post ficámos todos a saber mais com as notas da Maria Andrade, que tem sido muito oportuna e informativa nas suas intervenções, eu, simplesmente estou a adorar, algo me diz que será da zona centro, o que auspiciava saber mais daquela zona tão querida a mim e ao Manel, ao Luís também quando por lá vai em rotas de fim de semana nas faldas de Sicó
    Beijos
    Isabel

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  5. GRACIAS a tu blog encontre la fabrica de varias piezas de ¨louça¨...que misterio.Vivo a mil Km de donde se fabricaron hace 100 años...

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  6. Caro Anónimo

    Fico feliz por ter ajudado na identificação das suas peças. Apareça sempre neste blog, pois tenho muito apreço pela cultura espanhola.

    Abraços

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  7. Que engraçado, não percebo nada disto mas, há uns 8 anos comprei em Colares- Sintra, numa feira de velharias um prato de fundo branco com pintura em azul. Na parte da frente tem um brasão pintado e atrás diz Lusitânia e tem uma caravela. O rapaz que mo vendeu, caríssimo disse que era do avô, ou bisavô, já nem me lembro bem, que era ou dono ou sócio dessa fábrica em Lisboa! Gostei tanto do prato que comprei e fiquei quase sem dinheiro(risos) Não sei se fui enganada, mas que o vendia ai isso vendia .....risos
    Noélia Ataíde

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    1. Cara Noémia.

      Hoje o preço das velharias baixou muito e graças a Deus já ninguém pede horrores de dinheiro por peças de faiança do século XX.

      um abraço e obrigado pelo seu comentário

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