A propósito do meu anterior post sobre santas de Roca, um seguidor Brasileiro deste blog, o Victor, enviou-me uma fotografias de uma santa de roca, de grandes dimensões (1,10 m) que comprou há muitos anos e que gosta de designar por Nossa Senhora da Glória. Claro, o Victor tem bem presente que quando se compra uma Santa de Roca despida é praticamente impossível atribuir-lhe uma classificação, mas como sempre gostou da Igreja de Nossa Senhora da Glória, uma das mais antigas do Rio e a imagem tinha um menino, afectivamente passou a nomea-la por Senhora da Glória e comprou-lhe vestes, uma cabeleira e ainda uma coroa e um ceptro, que são atributos característicos desta imagem mariana. Um dia, estando mais abonado, mandou restaurar a imagem e descobriu que o Menino Jesus era um acrescento, pois tinha uma coloração diferente, mais rosada que a Mãe, além de que o seu tamanho era um pouco desproporcionado em relação à Virgem. Como a Yourcenar dizia no Tempo, esse grande escultor, a obra de arte continua a ser alterada e recriada após a sua saída da oficina do artista, por acção do homem ou da natureza.
O assunto das Senhora da Glória chamou-logo a atenção, pois sempre achei que uma das imagens que se encontra na capela do solar dos Montalvões, agora em depósito no Museu Regional Flaviense, é uma Nossa Senhora da Glória, em vez de uma Senhora da Lapa, como é tida no referido Museu.
Fui procurar mais informações sobre esta devoção mariana e e descobri que é tão popular no Brasil como em Portugal
A devoção carioca a Nossa Senhora da Glória surgiu no início do século XVII, alguns anos depois a fundação da cidade do Rio de Janeiro, quando no ano de 1608, um certo Ayres colocou uma pequena imagem da Virgem numa gruta natural existente no morro do Leripe, Nos finais do XVII, levantou-se nesse local uma ermida, que foi refeita nos inícios do século XVIII tendo a sua construção sido terminada definitivamente em de 1739.
Contudo, a devoção a Nossa Senhora da Glória cresceu em popularidade e prestígio após chegada da família real ao Rio de Janeiro, em 1808. D. Carlota Joaquina tornou-se particularmente devota desta Senhora e em 1818, mandou restaurar o pequemo templo setecentista. Segundo uma descrição romântica da época, citada por Marsilio Cassoti, em Carlota Joaquina: o pecado espanhol, “ficava a Igreja poética e deliciosamente fora da cidade, no terraço de um morro altaneiro e verdejante, em redor do qual se tinha fixado, muita gente nobre e rica, principalmente ingleses…Permitia a plataforma em panorama sobre a Baía da Guanabara”
Não só Carlota Joaquina era devota da Senhora da Glória, como toda a família Bragança o veio a ser posteriormente. O templo tornou-se num dos lugares preferidos de oração de D. Leopoldina de Áustria, mulher de D. Pedro (o futuro D. Pedro I do Brasil, IV de Portugal), a sua filha promogénita foi baptizada com o nome de Maria da Glória naquela mesma igreja (a menina será mais mais tarde a Rainha d. Maria II de Portugal) e a partir de então todos os Bragança, nascidos no Brasil, foram consagrados na Igreja.
O templo continua a existir e parece que tem azulejaria portuguesa de grande qualidade.
D. Maria da Glória, quando era uma bonita menina, antes de os sucessivos partos lhe terem desfigurado o corpo
A Capela Imperal da Glória é uma das mais belas jóias do Rio de Janeiro. A vista até hoje, muito embora o mar tenha sido empurrado muitas centenas de metros para longe, e a grande quantidade de prédios feiosos construidos na parte baixa à frente do morro, é uma coisa de deixar qualquer um deslumbrado.
ResponderEliminarA capela tem um dos maiores e melhores acervos de azulejaria portuguesa rococó (a capela toda é rococó por dentro, um pouco mais clássica por fora).
Luís, gostei deste seu post sobre a Nossa Senhora da Glória e mais ainda por remeter para o seu anterior post sobre santos de roca.
ResponderEliminarAchei as suas duas imagens soberbas. Assim despidas, expostas com estão, conseguem um efeito dramático, de uma beleza rara. Gosto da arte sacra assim, com as marcas do tempo, com a pintura descascada, sem um dedo ou uma mão, enfim, com um certo ar decadente. Tenho um Santo António do Pão que é uma reprodução das lojas dos museus IPM que acho delicioso. O original, penso q do séc XVIII, é do Museu da Guarda e a reprodução está muito bem feita com todas as mazelas q o original apresenta, sobretudo a pintura descascada, e o rosto com um ar muito ingénuo de menino maroto.
Voltando aos santos de roca, penso q são as imagens mais mal-amadas das nopssas igrejas e capelas, remetidos para os cantos das sacristias e, quem sabe, tendo alguns tido um fim triste numa qualquer fogueira. Afinal estes santos são mesmo literalmente de pau carunchoso e os santos nos altares querem-nos "lindos", perfeitinhos, reluzentes!!!
Já vi alguns em espaços musealizados e, assim despidos, acho-os encantadores.
Nunca vi nenhum à venda mas se visse penso q também não resistiria a fazer negócio...
Um abraço
Maria A.
Obrigado pelas suas informações suplementares, caro Fábio.
ResponderEliminarJá sentia a falta da sua presença neste blog
Abraços,
Cara Maria Andrade
ResponderEliminarTambém prefiro os Santos de Roca sem vestes. Quando os vejo, é como se estivesse a espreitar os bastidores de um velho teatro barroco e enfim, todos sabemos que as missas católicas são umas das encenações barrocas mais conseguidas que há.
Conheço esse Sto. António da loja dos Museus. Aliás, essas lojas são um perigo para mim, pois apaixono-me com as réplicas estupendas das obras dos museus nacionais e perco lá a cabeça e a carteira. Sabia que por vezes aparecem faianças dessas lojas nos antiquários vendidas como se fossem peças originais?
Abraço