terça-feira, 21 de setembro de 2010

A pequena história de dois azulejos do Século XVII


Como já contei aqui neste blog, há cerca de uns 3 meses encontrei um azulejo seiscentista num contentor das obras, ali numa ruela que sai das escadinhas do Duque. Fiquei muito contente com o achado, porque os azulejos do século XVII são raros. Como toda a gente sabe, houve o terramoto em 1755 e muita coisa foi destruída ou desapareceu debaixo de terra para sempre. Na verdade, o que aparece mais nos contentores das obras ou nos mercados de velharias são os azulejos de padrão pombalinos, usados em larga escala na reconstrução de Lisboa.

Pouco tempo depois, fui à Feira-da-ladra e descobri no chão um azulejo do século XVII, que me pareceu igualzinho ao meu. Compreio-o sem hesitar, apesar de não trazer o desenho da peça que tinha em casa. Quem quer completar um painel sabe que tem que andar com o desenho ou desenhos do azulejo na carteira para comprar igual, pois há muitas variantes do mesmo padrão e se confiamos na memória arriscamo-nos a comprar uma coisa qualquer, que é parecida, mas não é a mesma coisa. O meu amigo Manel tem uma folhinha desdobrável com todos os padrões de azulejos, que está coleccionar, desenhados e pintados com uma enorme perfeição, a uma escala muito reduzida. Mas, voltando ao assunto, arrisquei, comprei-o na mesma e tive sorte porque o azulejo era exactamente do mesmo padrão que eu já tinha em casa.

Depois, aproveitei não ter os filhos em casa, esburaquei a parede com um martelo e um escopro e encastoei-os a um canto. Desta vez usei gesso, para ser mais fácil, tira-los quando mudar de casa, que há de acontecer, quando a crise do País passar e voltarem a chegar milhões e milhões de Bruxelas…

O resultado ficou engraçado. Gosto sempre de criar a ilusão que os azulejos estiveram ali desde sempre, escondidos pelo reboco e que um dia foram descobertos e agora vêm outra vez a luz do dia, apesar de serem apenas pequenos fragmentos do que foi outrora um grande painel.




O passado fim-de-semana estive em Grandôla e no interior do que julgo ser a igreja matriz descobri um painel praticamente igual ao meu. Há só uma pequena diferença. Num dos cantos os azulejos da minha casa têm um medalhão, enquanto que os da Igreja de Grândola apresentam uma flor.
Infelizmente, os azulejos da Igreja estavam colocados arbitrariamente e sem formar uma composição. Fiquei com a ideia que foram ali metidos sem grande cuidado para tapar um buraco existente na restante composição azulejar, também do século XVII.


Por último, uma das seguidoras deste blog, a Maria Andrade, informou-me que o Museu Alberto Sampaio de Guimarães tem nas suas colecções um azulejo igual, inv a174 e não resisti colocar aqui a imagem.

10 comentários:

  1. Caro Luís
    Como sempre li-o do principio ao fim,com grande prazer. Gosto do humor que por vezes deixa transparecer e do tom ligeiro da sua prosa,( que de ligeiro só tem mesmo o tom).Os seus textos, são óptimos compêndios,onde eu venho muitas vezes estudar. Falo a sério. Sabe que sou amante de velharias, mas não sou grande conhecedora, mas nem calcula o que já tenho aqui aprendido...
    Quanto aos azulejos,aos seus, já os conhecia. São lindos. Quanto aos da igreja de Grândola, são lindos também, só é pena a falta de rigor na sua colocação.
    Em Junho ou Julho comprei seis azulejos, que formam um padrão também muito bonitos.Para não desvirtuar o seu post, não me alongarei mais sobre esta aquisição, mas prometo mostrá-los.
    Um abraço para si
    MariaGabela/Maria Paula

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  2. É muito simpática, cara Maria Gabela!

    Os conhecimentos devem circular. Guardar a informação só para si, não serve para nada, por isso acredito que devemos usar uma linguagem simples, que seja capaz de transmitir uma ideia complicada, de forma a que todos a entendam.

    Estou com curiosidade em ver os seus azulejos e agora como me tornei seguidor do seu blog é mais fácil conhecer os posts novos.

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  3. Luís!
    Imperdoável!Esqueci-me de lhe ter agradecido o facto de seguir o meu blogue.É uma honra, acredite.
    MariaGabela/Maria Paula

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  4. Sabe, o Manel falava-me sempre do seu blog e das bonitas fotografias que lá punha e eu tinha sempre dificuldades em achar o seu blog para ir confirmar. Tinha que entrar no blog da Maria Isabel (que anda desaparecida) para achar o link ao seu.

    Agora, pronto, já posso ir acompanhando o seu blog

    Abraço

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  5. Que bonitos ficaram os teus azulejos. Realmente foi uma pena a colocação dos azulejos na igreja alentejana, aos quais lhe falta ordem e sentido. É esta a magia dos azulejos, que quando colocados em conjunto e pela ordem correcta formam tapetes que têm algo de mágico e onírico, se solitários limitam-se ao seu valor intrínseco e icónico, que, por vezes, nem sequer é muito interessante.
    E, quanto aos desenhos, tenho mesmo de os fazer caso contrário, quando encontro algo nunca sei se faz conjunto ou não com o que já possuo; as diferenças entre azulejos de uma mesma fábrica e com um mesmo padrão-base podem ter diferenças substanciais - aprendi-o à minha custa, e esta aprendizagem sai cara!
    Manel

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  6. Olá Luís,
    Que inveja estes seu azulejos do séc. XVII!
    Os q se vêem à venda nas feiras q frequento são sobretudo azulejos de fachada do séc. XIX, algumas cópias dos séc. XVII e XVIII e é sobretudo desses q temos: fabrico do Porto, Devezas na maioria, ou Miragaia. Originais do sé. XVIII só uma meia dúzia, todos diferentes porq não temos tido a sensatez de procurar iguais, de forma a formar painéis.
    A minha compra de azulejos é muito intermitente porq quando leio o site do SOS Azulejo ou notícias de roubo de azulejos em prédios, inibo-me de comprar por uns tempos.
    Por outro lado, vejo por vezes prédios demolidos q antes ostentavam belos frisos de azulejos, agora em cacos no meio do entulho, e penso q é bom haver pessoas q salvam alguns para vender e lá vou comprando mais uns tantos.
    Temos dois painéis de quatro de Bordalo Pinheiro, lindíssimos, espero q não tenham sido roubados.São dois padrões q se vêem bastante e até já os vimos no British Museum. O Victoria & Albert também tem belos painéis de azulejos portugueses do séc. XVIII, provenientes de quintas à volta de Lisboa. A azulejaria é mesmo a principal marca da arte portuguesa apreciada em todo o mundo.
    Sabe q já me deu uma ideia para expor os azulejos? Ao ver os seus, encastrados na parede, pensei q deve fazer um efeito estupendo aplicá-los nos espelhos rebocados a branco de uma escada interior q temos. Terão q ser todos em azul e branco para não ficar muito "folclórico" e se calhar em degraus alternados. Andamos a estudar o assunto.
    Obrigada pelos contributos q dá no seu blogue a favor do nosso património e q atravessam o Atlântico, como se tem visto.
    Maria A.

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  7. Só mais uma coisa de q me esqueci:
    Vi um azulejo igual aos seus do séc. XVII na colecção do Museu Alberto Sampaio no Matriznet.
    Maria A.

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  8. Maria Andrade

    De facto, podemos dizer, sem correr o risco de sermos parvalhões, que temos uma arte de azulejos das melhores e mais criativas do mundo. Fizemos uma arte barata, gira, imaginativa, com possibilidades decorativas imensas e de combinações infinitas.

    Depois, diga-me como ficaram os azulejos à volta dos espelhos. Irei espreitar a colecção do Alberto Sampaio no matriz net

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  9. Olá Luis,
    Por pura diversão, me puz a girar e acertar os azulejos da igreja em em Grandôla, para ver como seria o padrão em tapete se estivesse tudo em seu devido lugar, e aí está o resultado:

    http://i12.photobucket.com/albums/a245/fabiocarvalho/porcelanabrasil/DSCN1050.jpg

    abraços!
    Fábio

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  10. Caro Fábio

    Achei muita piada à composição que fez a partir dos azulejos desemparelhados da igreja de Grândola. Sabe que uma vez fiz um trabalho de composição semelhante a partir de fotografias para a casa de bonecas da minha filha, que já apresentei aqui http://velhariasdoluis.blogspot.com/2009/10/mais-azulejos-de-padrao.html. Este trabalho faz-nos sentir os mestres de azulejaria de outrora

    Abraços

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