segunda-feira, 9 de maio de 2011

Anjinhos barrocos que espreitam na minha casa ou uma forma de tapar rachas

a sala onde os anjos espreitam os meus passos
Estudar as colecções dos museus nacionais é sempre um caminho seguro para qualquer artista plástico desenvolver a sua obra. É o que faz a Cristina Pina, aquela ceramista simpática, que tem um atelier ali na Rua de S. Vicente, muito pertinho da feira-da-Ladra. Faz faiança e azulejos baseando-se na tradição portuguesa e usando técnicas artesanais e os resultados são encantadores. As peças são todas diferentes umas das outras, a superfície é craquelé, os azuis variam e só lhes falta estarem gatadas para parecerem autênticas peças do Século XVII ou XVIII.
Canudo feito pela Cristina Pina

Há uns dois anos comprei-lhe este canudo ou manga de farmácia, cujo anjinho foi inspirado na decoração de um prato do Museu Nacional de Arte Antiga, da segunda metade do século XVII, inv 7446 Cer.


Prato do Museu Nacional de Arte Antiga no qual a Cristina Pina se inspirou
Gostei tanto de ter este querubim a espreitar os meus passos, que tive uma ideia para resolver um dos problemas da minha casa.



O meu apartamento é muito pequeno. E a sala é também o meu quarto. Com as suas franjas vermelhas, o sofá que é uma interpretação livre do estilo Napoleão III, transforma-se numa cama, retirando-lhe as costas. Na prática é um sommier, com um disfarce de sofá, que o meu amigo Manel ajudou na sua concretização. Mas, quando para me deitar, tirava as costas do sofá viam-se umas rachas na parede e o estuque a estalar, mazelas típicas de casas com quase duzentos anos.

O sofá depois de se lhe retirar as costas é uma cama
Resolvi então encastoar um azulejo da Cristina Pina, com o mesmo anjo barroco da manga de farmácia e do prato do Museu Nacional de Arte Antiga na zona da parede rachada e o resultado foi a criação de um ponto de interesse, que distrai as pessoas das mazelas do estuque.


O azulejo inspirado no prato do MNAA

Os meus filhos, que nas manhãs de Inverno gostam de ir um pouco para a minha cama antes do pequeno-almoço, simpatizaram com o anjinho, que disfarçou o mau estado da parede.

18 comentários:

  1. Caro amigo depois de umas buscas encontrei isto que passo a trancrever "em 1920 proveniente de Codeçoso da Chã possui o Sr. Dr. Liberal de Outeiro Seco uma espada Arabe", ou ainda " do Dr. Ribeiro dos Santos que tu aqui conheceste, este Santiago era o Doutor Domingos Gonçalves Santiago senhor da Casa da Bica, que em 1750 foi padrinho por procuração de Francisco Luis de Montalvão, de Outeiro Seco, ao pe de Chaves Este Doutor Domingos era no tempo desembargador junto da relação do Porto. Joaojacinto

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  2. São lindos os anjinhos barrocos e a utilidade que deu ao azulejo ,faz-nos ver quão coisas bonitas se podem fazer quando se tem bom gosto ...
    Saudações "arraianas "

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  3. Olá Luís
    São deliciosos os seus anjinhos barrocos!..
    Com eles sente-se protegido no seu espaço, tão rico de peças, que se harmonizam e enquadram no ambiente que para si criou. Conheço, também, um artista que executa reproduções de peças do século XVII, que estão à venda em algumas lojas de museus. São merecedores do nosso apreço pelo trabalho que desenvolvem.
    Chama-se ele Paulo Valentim e tem o seu atelier junto do elevador da Bica.
    Cumprimentos
    if

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  4. Uma boa ideia para tapar os estuques maltratados pelo tempo e pela idade, sobretudo em casas antigas.
    É com muito interesse que costumo seguir tudo o que publica no seu blogue.
    Obrigada.
    emília reis

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  5. Cara Emília Reis

    Obrigado pelo seu comentário. Espero poder contar consigo aqui mais vezes.

    Abraços

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  6. Cara If

    Conheço a obra desse ceramista. Até já publiquei uma peça dele ou do seu atelier a OFICINA MONTE SINAI, aqui no blog http://velhariasdoluis.blogspot.com/2010/04/jarro-de-medida-de-farmacia.html. Aliás os museus portugueses tem umas réplicas de faiança estupendas. Até já ouvi dizer que algumas foram vendidas como autênticas.

    Não conheço é a oficina ao vivo, nem sei se vendem ao público.

    Abraço

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  7. Idanhense sonhadora

    Ainda bem que gosta.

    Já espreitei o seu blog e já vi que faz uma recolha etnológica muito completa.

    Abraços

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  8. Caro João Jacinto

    Deixe-me falar com o meu pai acerca desse assunto e depois respondo-lhe. Como já aqui escrevi as minhas recordações de Outeiro Seco são fracas. O meu pai é que ainda viveu naquela casa.

    Recordo-me de uma grande colecção de armas, algumas deixadas pelos Paivantes, outras trazidas de África, Oceânia, mas é só desse todo que me recordo, não das peças em particular.

    Abraços e ainda lhe responderei com mais propriedade

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  9. O bom gosto é assim!
    Como costumo dizer, a arte não pode surgir do nada!
    Nada se pode tirar de onde nada há.
    Por isso a herança cultural de um povo é fundamental para alicerçar o presente e, sobretudo, legar ao futuro, o que parece não ter grande repercussão nos ditos "pseudo-artistas" de hoje, que consideram que tudo se deve continuamente iniciar ... o resultado está à vista!
    Uma herança cultural algo pobre e triste, que desfeia os nossos espaços e entristece as nossas existências quando a essas "obras" somos sujeitos!
    Felizmente há excepções!
    Manel

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  10. Olá Luís
    Do ceramista e (guitarrista) Paulo valentim tenho duas ou três peças, muito bonitas e apelativas. São cópias inspiradas na faiança do século XVII, que comprei nas lojas dos museus.Se lhe interessarem as fotografias, tenho todo o gosto em lhas enviar.
    Cumprimentos
    if

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  11. Que recanto tão bem aproveitado Luís!
    Gosto de cada pormenor.
    A ideia de distrair a atenção das pessoas, com um belo azulejo, foi uma ideia engenhosa :)

    Um abraço
    Maria Paula

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  12. Um espaço muito agradável este seu "ninho"! De muito bom gosto, parece que tudo encaixa no sítio certo.
    Comecei por prescrutar todos os recantos da sua sala à procura dos anjinhos barrocos, mas afinal estavam escondidos!!!
    Adorei ver estes trabalhos da Cristina Pina, que não conhecia,assim como também aprecio muitas reproduções de peças de museus à venda lá mesmo, nas lojas.
    Afinal o estilo Napoleão III é muito acolhedor... nesta escala! :)
    Abraços

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  13. Maria Paula

    As casas antigas são como as velhas senhoras, precisam de maquilhagem e umas joias, para desviar a atenção sobre rugas.

    abraços

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  14. Maria Andrade

    A minha casa está cheia de pequenos tesouros escondidos aqui e ali, nos sítios mais inesperados, como ombreiras das portas, tectos e por aí fora.

    Sabe, pegando nas palavras do Manel, vale a pena conhecer os estilos de decoração antigos e depois interpreta-los à escala das casas actuais e das necessidades modernas. O Napoleão III oferece conforto, o século XVII sobriedade, o D. José dignidade e solidez, o Luís XVI requinte e por aí fora.

    Abraços

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  15. Cara If

    Fotografias de boas peças nunca enchem demais uma caixa de e-mail

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  16. Olá Luís.
    A sua casa continua a ser surpreendente. Um autêntico Museu vivo.
    Consegui descobrir um lindo gomil com um bico muito sedutor, uma malga e ainda o banquinho mui doce para descansar os pés.

    Ambiente relaxador com a companhia dos anjinhos, dourados, gravuras, faianças e almofadas.

    Motes para se sentir muito feliz num recanto tão acolhedor.
    Parabéns, pelo afinado requinte e bom gosto.
    Beijos
    Isabel

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  17. Maria Isabel

    O Gomil é um encanto. Foi um achado na feira-da-Ladra. Fiz até um post sobre ele, mas foi na altura das férias. Está na categooria metais-

    beijos e obrigado pelas suas palavras

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  18. Depois destes comentários todos, acho que está tudo dito... Agora, fiquei com vontade de comprar uns azulejos com anjos. Parabéns pelo espaço

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