sexta-feira, 21 de maio de 2010

Mais sobre a faiança dos Ratinhos



Ratinho do meu amigo manel


É muito curioso observar nas estatísticas do blog, que os posts sobre a faiança Ratinho são muito consultados, além de que continuam a ser comentados com alguma periodicidade. Sem dúvida isso explica-se pela na ausência total de conteúdos, existente na net sobre esta faiança.

Como eu própio sentia necessidade de saber mais sobre o assunto, aproveitei a Feira do Livro e fui comprar António Capucho: retrato do homem através da colecção: cerâmica portuguesa do século XVI ao século XX. - Porto: Livraria Civilização Editora, 2004 e Cerâmica de Coimbra: do Século XVI – XX / de Alexandre Nobre Pais, João Coroado, António Pacheco. Lisboa: Edições Inapa, 2007, pois nas livrarias tem preços absolutamente proibitivos. Aliás não percebo esta mania portuguesa de levar o couro e o cabelo pelos livros de arte, pois assim ninguém os compra, ficam a apodrecer nos depósitos e ao fim de duas décadas queimam-nos ou vendem-nos a peso sem terem servido a função para a qual foram criados, ser lidos!

Mas o objectivo deste post não é dar lições de moral, mas antes tentar perceber mais alguma coisa sobre esta faiança de gente tão pobre e tão fascinante.

Segundo aprendi nestes manuais, a primeira pessoa a reparar e a valorizar esta louça na década de 80 do século XIX foi o historiador Joaquim de Vasconcelos.

Contudo, o primeiro grande coleccionador deste tipo de faiança será o poeta e escritor José Régio (1901 —1969), que deve ter arranjado pratos e pratos destes, quase dados, na região de Portalegre. Será secundado por António Capucho (n em 1918) e Júlio e Ruben A. A colecção de Ratinhos e faiança de António Capucho, pelas imagens quer pude ver no livro é uma coisa deslumbrante Em suma, devemos a todos estes senhores a valorização desta loiça, que anteriormente só era considerada boa para dar de comer as galinhas, como disse com muita graça o Carlos Pereira, um dos seguidores de blog. Hoje, graças a eles os Ratinhos estãon conservados em bons Museus ou são muito valorizados pelos antiquários e pelos coleccionadores de velharias.

o vidrado amarelado e com pouco brilho dos ratinhos



Em termos técnicos, segundo a Cerâmica de Coimbra: do Século XVI – XX / de Alexandre Nobre Pais, João Coroado, António Pacheco. Lisboa: Edições Inapa, 2007, os Ratinhos são rapidamente identificáveis, graças à sua pasta mais grosseira e ao seu vidrado amarelado e com pouco brilho, devido à menor percentagem de estanho incluída na mistura. A decoração era aplicada a esponja e a pincel, seguindo aliás o método típico dos pintores de louça de Coimbra. Segundo a mesma obra, houve ao longo do século XIX, o período em que a maioria dos ratinhos são datados, uma grande continuidade nas técnicas e na decoração.

Na mesma obra, escreve-se que os elementos zoomórficos (os animais), vegetalistas (plantas) e geométricos são os mais antigos. Seguem-se depois os que representam figuras populares, masculinas ou femininas, figuras fantásticas, caricaturas e retratos. O Prato que o Eduardo, seguidor deste blog me enviou pertence ao grupo das figuras femininas



O Ratinho pertencente ao Eduardo


Relativamente à herança islâmica e oriental destes pratos, a primeira pessoa a nota-la foi o Joaquim Vasconcelos, que escreveu é a única em Portugal que representa a tradição oriental e sobretudo, a influência de estudo árabe. Esta pintura, simulando penas e penachos de aves raras de plumagem aveludada deslumbrante de caudas de pavão, traçadas sobre um fundo formado por grandes fetos verdes, produz um efeito tão singular, que é impossível, confundi-la com a de qualquer outra região”

Prato com motivo zoomórfico da colecção António capucho

Comparem este Ratinho do século XIX da colecção de António Capucho com este prato do Museu de Mértola, do período da dominação dos mouros em Portugal, do Séc. XI,e digam-me lá se não há de facto qualquer coisa de comum entre eles?


Prato do Museu de Mértola


João Pedro Monteiro na página 64, da obra António Capucho: retrato do homem através da colecção: cerâmica portuguesa do século XVI ao século XX. - Porto: Livraria Civilização Editora, 2004 vai mais longe e afirma que algumas das peças como o prato da fotografia das linhas de baixo encontram uma filiação nas produções islâmicas de Iznik .

Prato da colecção de antónio Capucho com reminiscências da faiança de Iznik



No meu ver parece-me que a influência islâmica se nota mais nos pratos decorados com elementos zoomórficos (os animais), vegetalistas (plantas) e geométricos, até porque enfim, como toda gente sabe, a arte islâmica raramente representa o homem ou a mulher

12 comentários:

  1. MARAVILHOSO post! Obrigado por nos brindar com as belas imagens e o ótimo texto.
    bom final de semana!
    abs
    Fábio

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  2. Olá Luís
    Aprecio o seu jeito radical com que supremacia os leitores na mudança temática!
    Adoro "ratinhos"
    Igualzinhos ...com esta decoração típica característica do tom castanho avinhado...
    Confesso, ainda não tenho nenhum...o que tenho são dois exemplares de rebordo baixo muito semelhantes ao do Manel mas com outras decorações, um tem cerejas, outro pássaros
    Prefaciando Vitorino Nemésio...
    Se bem me lembro...da última vez que este tema foi abordado a propósito do quadro de Malhoa, o Manel disse que não tinha nenhum...
    Alvitro no imediato que o tenha comprado entretanto...
    Fiquei roída de inveja!
    Aliviei, porque apesar de bonito, prefiro seguramente o do Luís, pela flor debruada a verde ...pois é!
    O último prato da colecção de António Capucho com reminiscências da faiança de Iznik , acrescento que este tipo de decoração foi largamente massificado pela fábrica Cavaco
    O artista não seguia à risca o original, adaptava muito do seu estilo próprio,no caso, optaram por manter a mesma traça original decorativa no espaço, apenas alterando as flores policromadas e ainda acrescentaram umas folhas
    Apreciando um exemplar de faiança de Iznik e vendo um de faiança Cavaco, forçosamente teremos de fazer a analogia, pena que aqui não dê para incluir uma foto
    Beijos
    Isabel

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  3. Mas como eu aprendo neste blog!!!
    Tão apreciadora que sou de faianças e confesso que nunca tinha ouvido falar das faianças Ratinho, que afinal não são uma marca.E hoje, eis-me uma grande entusiasta deste tipo de faiança!
    Sem demérito, para os outros Ratinhos aqui mostrados, gosto muito do pertencente ao Eduardo.
    Acho encantador o pormenor da ave na mão da rapariga, presa pelo cordel.Depois de olhar bem para todos os pratos colocados neste post, parece-me, que se conseguem perceber certos elementos comuns:a cor castanha usada e o tipo de traço usado nos rebordo do prato do Manel e do Eduardo.Estarei certa?
    Um bom fim de semana para o Luís, Isa, Manel e demais leitores
    Maria Paula

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  4. Destes exemplares todos gosto sobretudo do da colecção Capucho, devido aos azuis, que me atraem como imans! Fico a contemplá-lo tempo sem conta, é fabuloso!
    Os outros aqui apresentados, confesso que não gosto de todos.
    Quanto ao meu é um exemplar que, creio, deve ser mais primitivo, devido à simplicidade de formas e pasta mais amarelada, com a espiral ao meio.
    O teu, acho-o muito interessante, sobretudo pela combinação de cores, que o faz destacar-se. Como notou a Maria Isabel, e muito bem, o debruar da flor em esponjados a verde e a combinação certeira dos traços firmes, de artista que sabe o que faz, do laranja, azul e castanhos da folhagem fazem dele um exemplar muito apelativo.
    E a Maria Isabel tem uma memória de invejar! Parabéns!
    No entanto, aquilo que referi na altura do post do Malhoa, foi que, de minha casa, que se situa na região de Coimbra, de onde, afinal, foram originários os "Ratinhos", nada sobrou destes exemplares, se é que algum houve lá por casa. A terem existido, ou foram levados no enxoval por raparigas casadoiras, ou se partiram.
    E, realmente, os "ratinhos" que possuo foram adquiridos por mim. Não são muitos (como gostaria que fossem ... hehehe), mas, por me dizerem algo, não os deixei lá no sítio de onde os vi a acenarem-me!!!
    Manel

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  5. Muito agradeço ao autor deste blogue, por ter escolhido como tema a faiança ratinha. Tão pobre e bela como só as coisas simples conseguem sê-lo. Tão rica e procurada: por isso atingindo no mercado muitas das suas peças, as " de figura", alguns dos valores mais altos entre as peças de louça portuguesas. A louça ratinha constituiu e constitui motivo central de atenção de algumas das figuras maiores das artes e do coleccionismo nacional: Leite de Vasconcelos José Régio, o irmão deste, o pintor Júlio Reis Pereira, o escritor Rúben A., o médico e Professor Moradas Ferreira, o Mestre Manuel Cargaleiro, Jorge de Brito, António Capucho, Maldonado de Freitas integram - entre muitos outros que por dever de reserva me abstenho de nomear -, uma galeria de nomes que avaliza o apreço em que devem ser tidos estes exemplares de faiança. Voltarei breve ao convívio dos meus amigos, pois assim considero os cultores da louça ratinha. Até breve

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  6. Caro Anónimo

    Muito obrigado pelo seu comentário que enriqueceu este blog, acrescentando o nome de outros coleccionadores desta loiça tão popular.

    Apareça sempre, muito embora nem sempre tenha Ratinhos para oferecer aos convidados. Muitas vezes não posso ir além dos Sacavéns, Cantão Popular ou Massarelos

    Abraço

    Luís

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  7. Atenção a alguns pratos de figura! Não querendo parecer entendida em demasia, penso que o prato com a figura feminina indicia inscrição posterior no covo. Nem o azul (usualmente mais forte), nem a ornamentação da aba são característicos deste tipo de decoração.

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  8. OLá Luis

    Acabei de achar um pequeno e simpático catálogo de uma exposição de 2008 no Museu Nacional de Machado de Castro sobre Cerâmica de Coimbra:

    http://mnmachadodecastro.imc-ip.pt/Data/Documents/cat%C3%A1logo%C2%AECer%C3%A2mica2.pdf

    Espero que aprecie.
    abraços
    Fábio

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  9. Caro Fábio

    A si não lhe escapa nada. Por acaso tive ocasião de ver essa exposição em Coimbra, montada nas salas de antigo convento, onde funcionou também a célebre fábrica de faiança de Domingos Vandelli. Mais tarde comprei o catálogo completo na Feira do Livro em Lisboa, que é o período onde se podem adquirir os livros de arte por preços muito abaixo do que é hábito.

    Abraços e obrigado

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  10. Olá Luis,
    Por aqui também aproveito as feiras de livros (há várias pela cidade) para comprar este tipo de livro, pois sempre há no mínimo um desconto de 20% nos livros mais recentes, e se são antigos, com sorte se acha até com 50%.
    abraços!

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  11. Tenho duas travessas em que uma representa o Castelo dos Mouros em Sintra e outra com dragão.
    Seria possível saber o valor destas peças

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    1. Madu

      Eu não comercializo antiguidades, nem tão pouco sou avaliador.

      Contudo, a primeira coisa que tem que saber é se os pratos estão marcados no verso? Se apresentarem marca pode fazer uma pesquisa na net e procurar saber os preços que se praticam nos sites de venda on line ou nos catálogos das leiloeiras para peças dessas fábricas. Agora assim sem ver imagens ou saber se estão ou não marcados, não lhe consigo dizer nada.

      Um abraço

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