Tal como o fado Madrugada de Alfama, em que a personagem mora numa água-furtada, que é a mais alta de Alfama, e que o sol primeiro inflama quando acorda à madrugada, também eu vivo num sótão, quase no alto de uma das colinas da velha Lisboa, onde de um lado vejo o Castelo, a Graça, a Senhora do Monte e de frente avisto um torreão do Terreiro do Paço e o Tejo. Enfim, é tudo muito Amália Rodrigues. Aliás, diz-se que a grande diva do fado, nasceu na minha rua. Não é verdade, pois Amália era natural da Beira Baixa, mas se tivesse nascido ali, o carácter popular da rua combinaria muito bem com a personagem.
A minha casa apresenta uma característica bem típica de todas as águas furtadas, isto é, a possibilidade de crescimento em direcção ao céu de Lisboa. Normalmente, nos últimos andares há uma caixa-de-ar entre os telhados e os apartamentos propriamente ditos e as obras de remodelação destas casas, passam sempre por subir os tectos até aos telhados, conseguindo-se um pé direito muito mais alto, tornando-as casas espaçosas e mais frescas, sobretudo quando se faz um bom isolamento. Já tinha feito obras semelhantes de eliminação dessa caixa-de-ar para duas divisões e para a cozinha e resolvi na passada semana fazer o mesmo para a casa de banho, uma divisão pequenina, onde tinha que pedir autorização ao tecto para tomar duche.
As obras largaram uma poeiraçada incrível, andei acantonado em casa durante quase uma semana, vivendo na maior das confusões. Depois seguiu-se a arrumação e a limpeza das centenas de velharias, que revestem as paredes e os tectos do meu apartamento.
Aproveitei as obras para mandar colocar um friso de azulejos dos finais do século XVIII, que há muito tinha encontrado num contentor das obras, ali atrás da estação do Rossio e depois nas tarefas de arrumação, passei para a casa de banho a faiança inglesa, que andava mais ou menos dispersa.
Até há lugar para um carro eléctrico na minha nova casa de banho. |
Como podem ver pelas fotografias que publico, o resultado valeu bem a pena. A casa de banho ficou maior e mais fresca e com uma decoração ao gosto muito carregado do século XIX, que emprestou graça a um espaço, que tradicionalmente é sempre tão asséptico e aborrecido em todas as casas.