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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Machado neolítico ou uma peça sobrevivente do Antigo Museu do Solar de Outeiro Seco



Não me recordo se tinha prometido à Maria Isabel escrever sobre instrumentos do Neolítico ou se sido a nossa seguidora a pedir-me para falar nestas pedras polidas. Em todo o caso, como sei que a Maria Isabel gosta de pedras, este post é-lhe dedicado, um pouco à maneira, daquele célebre programa de rádio em que se telefonava a pedir discos.

O que vemos aqui nestas fotografias é pois um machado neolítico, um instrumento produzido, mais ou menos à volta de seis ou quatro mil anos antes de Cristo, na região de Chaves.

Neolítico quer dizer, nova pedra, isto é, o período em que há uma nova técnica de trabalhar a pedra, o polimento, em oposição ao período anterior, o Paleolítico (Pedra Antiga), em que a pedra era lascada.

De facto, neste machado podemos observar um perfeitíssimo trabalho de polimento característico do Neolítico, em que os artificies conseguiram um gume, que apesar de não ser usado há seis mil anos, continua afiado. Nota-se também uma pequena depressão de lado, que correspondia ao local onde era fixo o cabo. Machados Neolíticos no Museu Carlos Reis, em Torres Novas

Para os menos entendidos de história, o Neolítico caracteriza-se pela descoberta da agricultura e da pastorícia. O Homem deixa de ser apenas caçador e recolector e passa a produtor. No fundo, o ser humano descobre como se processa sexualidade dos animais e a reprodução das plantas e passa a intervir, manipular e a alterar esses processos.

A sala do museu do Solar de Outeiro Seco. Na Chaminé observam-se dúzias de pequenos artefactos pré-históricos em pedra

Este machado, que sobreviveu seis mil anos às agressões do tempo, tem uma história recente curiosa. Fez parte do chamado museu do Solar de Outeiro Seco. José Rodrigues Liberal Sampaio, o meu trisavô recolhia, sem grande critério e um pouco por toda a parte peças arqueológicas. Tinha o espírito coleccionista da época, que consistia em recolher peças dum passado remoto, sem assinalar a sua proveniência, ou localização na jazida. Enfim, fazia o que podia numa época em que os seus conterrâneos ignoravam completamente o valor da pré-história. E é curioso, porque se tornou conhecido na região por esse seu estranho amor a pedras e moedas velhas. Já apanhei umas quantas cartas dirigidas a ele, em que um lhe promete enviar uma moeda do tempo de D. Miguel ou uma outra, como esta que reproduzo parcialmente, que lhe envia pelo Manel, “essa pedrinha, por me lembrar, que lhe darão algum apreço para o Museu”. Exemplificativa do coleccionismo do meu trisavô, esta carta foi escrita em 13 de Abril de 1924, por uma tal Senhora Custódia Florinda Fidalgo.



Depois disso, o machado foi-me dado pela minha avó Mimi e usei-o muito, na juventude, quando dei aulas no secundário, para exemplificar aos miúdos o Neolítico. Depois do meu divórcio, ficou em casa da minha ex-mulher, mas fui busca-lo há uns dias. Sentia-lhe a falta.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mais uma Vénus pré-histórica

Tenho uma certa paixão pela escultura rude, ingénua e com força e há uns tempos encantei-me na feira-da-ladra por uma outra Vénus pré-histórica e trouxe-a para minha casa para admira-la e ama-la.

É difícil datar peças como esta comprada no mercado de velharias, até porque está fora de um contexto arqueológico, que, se hipoteticamente fosse conhecido, permitiria data-la através da camada estratigrafica e dos utensílios circundantes. Mas quando se compram peças arqueológicas no mercado de velharias, é mesmo assim. Ganha o nosso impulso de coleccionador e perde-se a informação histórica.




Em todo o caso esta estatueta filia-se na tradição das chamadas Vénus pré-históricas, da qual a chamada Vénus de Willendorf é a peça mais emblemática.
Em termos abstractos, estas figurinhas formam um losango, com duas extremidades afiladas que se vão alargando em direcção ao corpo. Abdómen, ancas, seios e nádegas e vulva são deliberadamente exagerados em detrimento da cabeça, braços e pés nestas Vénus do Paleolítico Superior, produzidas por mãos humanas entre 30.000 a 10.000 anos antes de Cristo.




Mas, comparativamente à minha outra Vénus, esta apresenta algumas diferenças. Está numa posição sedente, o que a aproxima mais de uma Vénus do Neolítico, o período em que o homem descobre a Agricultura. A peça que encontrei mais próxima desta foi a chamada Cíbele de Çatal Huyuk, uma deusa mãe sentada, que os especialistas dizem estar em trabalhos de parto (No Período romano as mulheres ainda davam à luz em cadeiras de parto). Durante o Neolítico este culto à Deusa Mãe propaga-se por todo as terras da orla Mediterrâneo e os historiadores afirmam que este culto feminino é uma associação que os homens daquele período fizeram entre a mulher e a terra. Era da capacidade reprodutora de uma e de outra que dependia a existência humana.

O Neolítico apareceu em Portugal através dos rios do sul por volta de 5.000 a 4.000 antes de Cristo e é provável que a minha Deusa-Mãe date pouco depois dessa época.
Experimentei algumas dificuldades em fotografar a minha Vénus sentada. Pensei num fundo preto ou azul para realçar as formas voluptuosas mas o resultado foi desastroso. O branco das paredes como cenário também não lhe evidenciava as formas. Até pensei coloca-la numa pedra, quando percebi, ao deixa-la ao acaso numa almofada de tecido vistoso, que esta minha Vénus era afinal como todas as mulheres de seios e nádegas opulentas da história da arte e pedia um fundo de veludo vermelho, de tecidos opulento para fazer brilhar as suas formas voluptuosas. Afinal a figurinha Neolítica não está tão longe da nudez descarada da Maja desnuda de Goya ou das mulheres pintadas no meio do luxo opulento dos lupanares de Paris, que Toulouse-Lautrec pintou no século XIX.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Vénus pré-histórica


Numas das minhas últimas idas à feira-da-Ladra perdi a cabeça e comprei esta pequena Vénus pré-histórica. Embora tenha uma predilecção dominante pelos dourados, pelos damascos escarlates e pelo barroco, também me encanto por peças rústicas, populares ou muito primitivas e esta peça, estava lá no chão a chamar por mim e não fui capaz de lhe resistir. Não faço a menor ideia onde o vendedor a foi desencantar e até é bom nem fazer muitas conjecturas sobre a sua proveniência…

Estas esculturas são muitas vezes designadas por Vénus de Willendorf, que é a obra de arte mais famosa deste género e que se acha guardada num museu em Viena. É curioso observar que a minha peça tem mais ou menos as mesmas características da Vénus de Willendorf, cerca de 11 cm, material calcário, um grande ventre, grandes seios, rosto mal esboçado e braços quase imperceptíveis. Claro, a peça de Viena, tem uns cabelos muito bem esculpidos e no geral é uma obra de melhor qualidade, não fosse ela uma das esculturas mais famosas de toda a pré-história.

Foi muito complicado descobrir um bom sítio para a pendurar em minha casa, pois é um tipo de peça que carece de uma luz especial. Estas esculturas pré-históricas valem talvez muito mais pelo significado que ocultam em si mesmas, do que propriamente pela forma em que se apresentam, pois mais não são do que calhaus afeiçoados pela mão humana. Para valorizar este significado mágico, é necessário darmos-lhes uma luz dramática, que lhe empreste de novo a áurea sagrada de um ídolo poderoso, iluminado pela luz de uma fogueira, no interior de uma cabana rústica numa noite de Inverno, algures no Paleolítico Superior.