Alexandria é uma daquelas cidades míticas a que nunca fui, mas à qual já viajei vezes sem conta através dos livros. Fundada por Alexandre o Grande no Delta do Nilo, a cidade desde logo se assumiu como uma terra estrangeira no Egipto, habitada por gregos e judeus. Esta capital cosmopolita de ruas rectilíneas vai ser ao longo do primeiro milénio da sua existência berço de movimentos espirituais, que influenciaram decisivamente a civilização ocidental, como o neoplatonismo de Plotino e Hipácia. Aqui o antigo Testamento foi traduzido pela primeira vez do hebraico para o grego, por Fílon, um sábio judeu helenizado, que preparou o caminho para a conquista do mundo pelo cristianismo, uns séculos mais tardes. Nos finais do Império romano, Alexandria foi a cidade de Santa Catarina, que como vimos anteriormente, a tradição misturou com a figura de Hipácia e ainda de Clemente de Alexandria, um dos teólogos mais importantes do Cristianismo. Aliás, nos primeiros séculos da sua existência, a religião cristã contrói a sua teologia e a sua interpretação dos ensinamentos de Cristo a partir do neoplatonismo da escola de Alexandria.
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Liz Taylor, a eterna Cleópatra |
Alexandria é também Cleópatra, que nós imaginamos sempre com o rosto de Liz Taylor ou com o nariz que Uderzo lhe deu na banda desenhada Astérix e a Cleópatra. Mas para mim Alexandria é também o romance o Quarteto de Alexandria de Lawrence Durrell, um dos livros que marcou a minha passagem para uma visão adulta do mundo. Nesta obra, Alexandria é cenário de uma novela contada por 4 personagens diferentes e a mesma história é narrada de forma diferente por cada uma delas, que não só alteram a sequência cronológica, como os transformam os próprios acontecimentos. Neste livro desconcertante, aprendi, que a mesma realidade é representada de forma diferente por cada ser humano e que temos que ter cautela quando afirmamos que há uma única verdade e uma realidade possível de identificar e categorizar linearmente. Isto serviu-me para a vida, para a História ou para coisas mais simples como a faiança ou a gravura.
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O farol que se vê aqui não é o original. O mítico farol caiu nos finais da Idade Média |
Este meu fascínio por esta cidade, que já nem sequer existe, pois tudo foi inteiramente modernizado com torres de betão e o farol, a biblioteca ou o museu há muito que desapareceram, fez-me desde logo gostar desta gravura inglesa do século XIX, representado Alexandria e que mostro hoje.
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The age we live in a history of the nineteenth century |
Esta estampa, que pertence ao Manel, foi gravada e editada por J. Ramage e E. P. Brandard e em tempos fez parte de um livro, um manual de história inglês, intitulado The age we live in a history of the nineteenth century, from the peace of 1815 to the present time, publicado em 4 volumes pela W. Mackenzie de Londres.
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A parte do livro de onde foi tirada a estampa |
A gravura fazia parte do 4º volume, que saiu em1880 e era uma de muitas que ilustrava a obra do Reverendo James Taylor (1813-1892), uma história contemporânea do Séc. XIX. As estampas destes livros representam homens de estado da época e vistas sobre cidades do mundo, todas elas de muito boa qualidade, não fossem os ingleses os primeiros turistas do mundo e que se cedo se especializaram no desenho de paisagens e vistas de monumentos. Pessoalmente, gosto particularmente da imagem St. Petersburgo, vista como se tivéssemos num avião ou da cidade de Sebastopol, na Crimeia, onde umas poucas décadas antes da publicação deste livro, ingleses, franceses e russos tinham travado uma guerra sangrenta (enfim, o adjectivo é redundante, pois não serão sangrentas todas as guerras?).
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Sebastopol na Crimeia |
Como nem sequer dinheiro tenho para pagar bilhetes de avião em companhias de Low Cost, através das estampas, voltei hoje a Alexandria e ainda sobrevoei Sebastopol e St. Peterburgo.
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St. Petersburgo como que vista do ar |