sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Um candeeiro de azeite: a luz dos mortos

Hoje apresento aqui um objecto que antigamente estava presente na casa de todas as famílias portuguesas com algum desafogo económico, um candeeiro de azeite.

Sempre gostei destes objectos altos e elegantes, cheios de penduricalhos, embora nunca tivesse bem percebido para o que serviam. Uma tia minha ainda me explicou a utilidade daquelas coisinhas que pendiam dele, mas confesso, que me esqueci de tudo e a senhora morreu entretanto. Só há pouco tempo quando um destes candeeiros entrou na minha casa me detive a pensar um pouco na sua utilidade e em época teriam sido fabricados. Parti então à procura de algumas informações sobre estes objectos hoje caídos em desuso. 

Consultei a Vida e a arte do Povo português: Lisboa: Comissão Nacional dos Centenários, 1940 mas o autor limitava-se a descrever as várias formas com que se apresentavam os candeeiros e a referir que estes recipientes se filiavam nas formas das lucernas bi ou trirrostres romanas, muito embora a sua existência só esteja documentada em Portugal a partir do Século XVII.

Fiz mais umas pesquisas aqui e acolá na Internet e descobri que o Museu de Évora realizou uma exposição em 2011 sobre candeeiros de azeite, que na altura tinham sido recentemente doados ao Museu por uma coleccionadora, Maria Faustina Margiochi. Mais tarde, um colega de emprego deu-me fotocópias deste catálogo, que está muito bem feito e consegui finalmente entender o mistério que estes objectos encerram.
Ao lado do candeeiro, a palmatória que comprei num funileiro na Rua de S. Vicente
Os candeeiros de azeites eram feitos por funileiros em latão amarelo, uma liga em que o elemento básico é o cobre e pelo que eu deduzi da leitura deste livro, as formas foram-se mantendo inalteradas ao longo de dezenas e dezenas de anos, o que complica a datação destes objectos. Os funileiros também nunca marcavam os seus trabalhos, de modo que tal como na faiança é quase impossível identificar oficinas. No entanto, foram fabricados até há muito pouco tempo. Os autores do catálogo da exposição Candeeiros de azeite do Museu de Évora: colecção Margiochi ainda tiveram acesso ao testemunho de um funileiro no bairro da Graça, que não há muito tempo ainda executava estes candeeiros. Julgo que conheci essa oficina, na rua de S. Vicente e há cerca de uns 25 anos comprei-lhe uma palmatória também latão, que coloquei ao lado deste candeeiro de azeite.


Quanto à sua utilidade, os candeeiros de azeite, eram usados até há bem poucos anos nos velórios. Esse costume só acabou, quando os mortos deixaram de ser velados em casa e os ritos fúnebres passaram  a ser feitos nas capelas mortuárias. Até então, durante o velório colocavam-se um par de candeeiros de azeite a flanquear um crucifixo, por cima de uma mesa, revestida de uma toalha branca, decorada com uma faixa de renda. Os candeeiros eram acessos durante todo o velório e a chama só se deixava morrer depois da saída do defunto. Curiosamente,  jantei há pouco tempo na casa de uma coleccionadora de cerâmica e sobre a mesa estava uma tolha antiga, que a senhora tinha comprado como uma toalha de mortos, embora penso que se trataria de uma mortalha.

Nas famílias com menos recursos era vulgar pedirem-se emprestados estes candeeiros aos vizinhos.

A simbologia deste costume de acender os candeeiros nos velórios é mais ou menos óbvia. A luz significa a vida e a escuridão, as trevas. A luz simboliza a protecção de Deus, mesmo para aqueles que deixaram a vida.

Este pequeno catálogo Candeeiros de azeite do Museu de Évora: colecção Margiochi. Évora: IMC-Museu de Évora, 2011 dá também uma explicação do funcionamento destes candeeiros, preciosa para nós, que vivemos num tempo em que a luz é uma questão de clicar num interruptor e já está.

O candeeiro é composto por uma coluna, uma pega para o transportar de um lado para o outro, uma base e o depósito onde se coloca o azeite. O depósito pode ter um número variável de bicos. Por exemplo, o meu só tem 3. Depois existem os pertences do candeeiro, isto é, os penduricalhos. O morranzeiro (6b) é usado para empurrar o pavio para dentro do bico e acreditem que é muito útil. O meu candeeiro perdeu o dele e tive que meter o pavio lá dentro com o auxílio de uma chave de parafusos muito pequenina e vi-me grego para o fazer. O Espevitador (6d)serve para ir puxando o pavio para fora à medida que vai se queimando e para retirar os seus restos, que se colocam no balde(6a). Por fim, o apagador(6c) serve como o nome indica para apagar a chama.

O candeeiro apresenta também um reflector(7), que falta ao meu e ainda uma chave (4) que serve para regular a altura do depósito.

Todas estas informações são verdadeiras, pois comprovei-as eu, que enchi o meu candeeiro com azeite e usei os fios de uma esfregona como pavios.

Os candeeiros de azeite embora sejam todos muitos semelhantes, apresentam por vezes formas muito imaginativas, como este que aqui apresento, em forma de peixe, também propriedade do Museu de Évora.

Fiquei muito contente com a leitura deste livro editado pelo Museu de Évora, que mostra bem que com pouco dinheiro se pode fazer muito. Agora só me falta tentar encontrar nas feiras de velharias os pertences que faltam ao meu candeeiro, o reflector e o morranzeiro.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Os desposórios de Nossa Senhora: estampa de Manuel da Silva Godinho

 
Continuo a perder-me pelos registos religiosos e sobretudo acho muita graça, a estes em que a moldura da composição é em formato octogonal. Não sei exactamente a razão da popularidade deste formato, mas julgo que se adaptariam bem aos trabalhos de decoração como missangas, flores de papel e passamanaria com que antigamente se decoravam estas estampas.

Também me chamou a atenção o tema, que não é dos mais vulgares, os desposórios de Nossa Senhora, isto é, o casamento de S. José e da Virgem Maria, que trocam alianças na presença de um Sumo-sacerdote. Este episódio da vida de Maria começou a ser representado na arte a partir dos finais da Idade Média e teve origem na Lenda Dourada, que por sua vez teve por fonte os Evangelhos Apócrifos.

Para quem não saiba, a Legende dorée é uma obra redigida em latim entre 1261 e 1266 por Jacques de Voragine, que conta a vida de cerca de 150 santos e ainda alguns acontecimentos da vida de Cristo e da Virgem. Segundo, o historiador Philippe Walter, esta Legende dorée é uma autêntica mitologia cristã, construída sobre as crenças pagãs, que o Cristianismo soube assimilar com o objectivo de as controlar.

Os evangelhos Apócrifos são aqueles textos antigos, que o Catolicismo ao longo dos seus muitos séculos de existência rejeitou como canónicos, mas que acabaram por influenciar a fortemente a religião popular e a arte.

Bem todas estas explicações servem para passar a ideia de que o casamento da Virgem e de S. José é um episódio  sumariamente mencionado no novo Testamento, e que assenta antes num conjunto de tradições antigas, com muitos elementos pagãos à mistura. E no entanto, apesar de a história não fazer parte do dogma católico tem uma certa beleza.

Luca Giordano. O Casamento da Virgem. séc. XVII. Museu do Louvre. Foto http://www.culture.gouv.fr/public/mistral/joconde_fr
Muito resumidamente, quando Maria fez 14 anos, O Sumo-Sacerdote decidiu que todas as raparigas, que tinham atingido a puberdade deveriam casar. Maria recusou obedecer, porque segundo o ela os pais a tinham consagrado ao serviço de Deus, o que provocou um certo embaraço no templo, porque não se poderia quebrar um voto sagrado. Os membros do templo decidiram remeter o assunto para a inspiração divina e ouviu-se uma voz desconhecida, que ordenou que todos os homens núbeis deveriam aproximar-se do altar com um cajado. Aquele cuja vara florisse poderia desposar a Virgem. Claro, nenhum dos candidatos teve a sorte de ver o seu cajado florir, excepto S. José, que foi o eleito de Deus para casar com Maria. Esta lenda ajuda-nos a entender não só a cena representada nesta estampa, como também a própria iconografia tradicional de S. José, que é muitas vezes mostrado segurando o seu cajado florido com açucenas. Aliás, um dos nomes vulgares da Açucena (Lilium candidum) é precisamente cajado de S. José.

O cajado de S. José ou Açucena
Quanto à estampa propriamente dita, como foi cortada, não tem a assinatura de qualquer impressor ou gravador com a qual se possa datar, embora me parecesse desde logo quando a comprei, que fosse coisa do século XVIII. Enfim, a minha experiência com livros antigos, permite-me aperceber-me pela cor, textura e espessura do papel se uma estampa é antiga ou não. Para ver se a conseguia datar, fui procurar uma igual no site da Sociedade Martins Sarmento, que tem on-line uma belíssima colecção de 1600 estampas dos séculos XVII-XIX e é mundo para os amantes gravuras religiosas. E claro, tive muita muita sorte, pois a Sociedade Martins Sarmento tem um exemplar, que não foi cortado e está assinado pelo gravador, Manuel da Silva Godinho, um senhor que viveu entre 1751?-1809? e de que já mostrei aqui uma Santa Catarina de Alexandria.

Os Desposórios de Nossa Senhora da Sociedade Martins Sarmento. No Canto inferior esquerdo está o nome do gravador.

Na feira de Estremoz comprei depois uma moldura antiga, limpei a madeira, usei como fundo um resto de um tecido de Damasco e estes Esponsais da Virgem foram fazer companhia a mais uma dezena de santinhos, que enfeitam a casa deste ateu empedernido. 
Alguma Bibliografia:
Dictionnaire illustré de la Bible: - Paris: Bordas, 1990

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Caneca Massarelos com a bandeira da monarquia proveniente do Solar de Outeiro Seco

Produzida pela Fábrica de Massarelos, esta Caneca em faiança está na casa do meu pai e veio do solar de Outeiro Seco, no Concelho de Chaves. Não é de modo nenhum uma grande antiguidade, mas tem um valor simbólico e sentimental, já que no tempo em que foi comprada, a família Montalvão era convictamente monárquica. A bandeira da monarquia esteve hasteada no Solar até ao final dos anos 30 e só dali foi apeada por ocasião da visita do Presidente Carmona, que era muito amigo da família. Eu ainda me lembro dessa bandeira, que por volta dos anos 70, 80 estava exposta naquilo que pomposamente de designava o museu da casa.

A marca da Caneca consta com o nº504 do Dicionário de marcas de faiança e porcelana portuguesas / Filomena Simas, Sónia Isidro. - Lisboa: Estar Editora, 1996 e segundo essa obra terá sido usada entre 1912 e 1920. No catálogo Fábrica de Louça de Massarelos: 1763-1936, editado em 1998 aparece reproduzida uma caneca igual a esta, com mesma marca C&W e também atribuída ao período entre 1912-1936.

Ora, tudo isto é bastante estranho, já que a República foi proclamada a 5 de Outubro de 1910 e a nova bandeira verde e vermelha foi aprovada por decreto de 19 de Junho de 1911. Parece-me pois muito inusitado, que em em 1915 ou 1920 Massarelos andasse ainda a produzir canecas com a bandeira real.

É certo quem em 1919 houve uma insurreição no Norte, que restaurou a monarquia no Porto, por duas breves semanas, mas não me parece que durante esse período os patrões de Massarelos arriscassem a sua relação com o governo de Lisboa vendendo canecas com a bandeira azul e branca. Até porque durante a década de dez, muitos monárquicos foram perseguidos e exilados. O meu trisavô, José Rodrigues Liberal Sampaio, outro monárquico convicto teve que fugir para Espanha depois da segunda incursão de Paiva Couceiro. Portanto, a época não era de tolerância.

Em suma, parece-me mais lógico que esta marca de Massarelos já seria usada antes de 1910, embora também é verdade, que a vida decorre sem obedecer às normas da razão e lógica e o período da Iª República Portuguesa é um exemplo eloquente de como história evolui às vezes de forma insensata.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ratinhos: um prato falso

Todos nós já lemos nos jornais ou revistas histórias acerca de falsificações de obras de arte. Normalmente, são as pinturas de grandes artistas como Picasso, Van Gogh ou Rembrandt, cujos valores no mercado de arte atingem milhões de euros, que são objecto de cópias, contracções, falsificações e outras trafulhices.

Nós, os coleccionadores amadores, achamos que essas histórias só acontecem nos mercados de arte de Londres, Paris e Nova Iorque e que por cá, ninguém se vai dar ao trabalho de falsificar e vender peças cujo preço anda na casa das dezenas de euros, ou quanto muito numa centena.

Porém, as falsificações também são comuns nesta fatia de mercado das velharias e o meu amigo Manel foi recentemente vítima de um logro, ao comprar como genuíno um prato ratinho de figura, que eu mostrei aqui no blog, no passado dia 2 de Fevereiro.

Foi uma Senhora de Coimbra, uma coleccionadora de faiança, que graças à sua intuição, que muitos anos de experiência conferem, quem detectou que o prato era falso. Esta revelação deixou-nos um pouco desorientados, pois o prato estava esbeiçado e parecia-nos antigo, mas quer o Manel, quer eu, temos por hábito tomar em conta a opinião de quem já lida com antiguidades há muitos anos e ficámos desconfiados sobre a autenticidade do Prato.

Esta Senhora de Coimbra, que já tem colaborado com este blog, mostrando algumas peças suas, voltou-me a escrever para repararmos se na frente do prato, existiam as marcas feitas pela trempe. Para quem não saiba, a trempe é o um pequeno tripé de cerâmica, que antigamente se usava entre os pratos, postos em pilha no forno, evitando que se colassem uns aos outros durante a cozedura. As trempes deixavam sempre pequenas marcas no prato, cerca 6,5 e 7cm de distância entre cada ponto, formando entre si um triângulo e são visíveis em 99% dos pratos que medem entre os 29 e os 32 cm.

Uma trempe. Cortesia do http://artelivrosevelharias.blogspot.pt 

Ora o prato do Manel não apresentava nenhuma marca de trempe, mas enfim, podia ter sido o último da pilha e não apresentar as referidas marquinhas.

Depois, esta Senhora de Coimbra, habituada a consultar muitos catálogos de leilões e livros de arte, lembrou-se que normalmente quem copia loiça antiga fá-lo a partir de peças que já foram reproduzidas em publicações e deve ter desatado a folhear os seus livros e de facto encontrou num leilão do Cabral Moncada de 2009, o prato que serviu de modelo à cópia, que o Manel comprou.



O Manel e eu ficámos então perfeitamente convencidos que o seu prato era de facto uma boa cópia de um prato antigo.

Entretanto levamos o prato a casa de uma outra coleccionadora de faiança portuguesa, aqui de Lisboa, que muito gentilmente se ofereceu para nos dar de jantar e ajudar-nos nesta tarefa quase policial de desvendar uma falsificação. Quando chegámos a sua casa, a primeira coisa que vimos foi o Ratinho com o tocador de guitarra, que tinha servido de modelo ao prato do Manel. De facto, tinha sido esta Senhora e o marido quem tinham comprado o prato que esteve a Leilão no Cabral Moncada.

Pudemos então comparar os dois pratos lado a lado, a cópia e o original. Como acontece muitas vezes a quem reproduz uma obra a partir de uma fotografia, a pintura foi feita muito mais lentamente e de forma mais cuidadosa do que no original. Os artistas que faziam os ratinhos tinham uma pincelada rápida, pois havia muito prato para pintar e não havia tempo a perder com pormenores. Por outro lado, o prato falso apresenta o chamado craquelé, termo francês que designa uma superfície estalada. Ora, os Ratinhos tem um tipo de vidrado que nunca apresenta craquelé. O tardoz do prato original também é rústico cheio de imperfeições, ao contrário do prato do meu amigo, que foi lixado propositadamente.

Não sabemos se quem executou o prato do Manel, o fez já com intenção de o vender no mercado como original. Também não sabemos se o vendedor estava consciente que estava vender uma falsificação. Pessoalmente, acho muito bem que os ceramistas actuais encontrem inspiração nas peças antigas de faiança portuguesa, mas tem o dever de marcar as suas peças, para evitar que o consumidor compre gato por lebre.

Espero que esta pequena história seja útil a todos os amadores de faiança antiga portuguesa, para não serem vítimas de um logro. Quero também agradecer em meu nome e do Manel, às duas coleccionadoras de Coimbra e de Lisboa que nos ajudaram a desvendar esta falsificação.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Um folião de calça listrada que saiu por aí: Faiança Ratinha

Neste período em que o Governo lança as garras de fora e se lança sobre a classe média, baixando salários, reformas, retirando direitos e sabemos lá que mais vão inventar, nada como voltar à alegria das cores dos Ratinhos e mostrar a nova aquisição do meu amigo Manel, um prato com um musico folião, tocando viola, rodeado por uma grinalda florida.

Como muito bem explica a Ivete Ferreira no catálogo Cerâmica na colecção da Fundação Manuel Cargaleiro. - Castelo Branco, Câmara Municipal, 2012, relativamente a gramática decorativa, os ratinhos dividem-se nas seguintes categorias: pré-ratinhos, decoração irradiante, figuração humana, flores, vegetação exuberante, covo despojado, decoração fraccionada, figuração zoomórfica e arquitectura.

Este exemplar do Manel pertence ao grupo da figuração humana e são dos mais difíceis de achar no mercado das velharias, ao contrário dos grupos das flores ou decoração exuberante, que ainda se vão encontrando aqui e acolá. Neste grupo da figuração humana, os ceramistas da região de Coimbra, de onde é originária esta faiança, deram grande ênfase aos músicos, que aparecem representados, tocando viola, guitarra, violoncelo, harpas, castanholas, clarinete, gaita-de-foles e por aí fora. 

No referido catálogo, Cerâmica na colecção da Fundação Manuel Cargaleiro, aparece reproduzido na página 54 um prato, com muitas semelhanças a este e que foi datado pela autora do texto como sendo do último quartel do século XIX.
Prato da Fundação Manuel Cargaleiro

Tentei averiguar que espécie de viola toca este folião do prato do Manel. Certamente será um dos oito tipos de violas portuguesas, mas eu sou tão ignorante em termos musicais, que não me atrevo a dar qualquer espécie de palpites sobre qual desses tipos estará representado neste prato.


Toque uma viola toeira, típica da região da Beira Litoral ou uma viola beiroa, parece-me certo que o músico deste prato do Manel, que vestiu a sua calça listrada, prepara-se para uma grande folia, um pouco à maneira daquela célebre música de Assis Valente, popularizada por Carmen Miranda e Maria Berthânia e aqui numa versão deliciosa de Carla Adduci:

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele tomou parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega
leão

Tirou seu anel de doutor pra não dar o que falar
Saiu dizendo eu quero mama,
Mamãe eu quero mama, mamãe eu quero mamar
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega
leão

Levou meu saco de água quente pra fazer chupeta
Tirou minha cortina de veludo pra fazer uma saia
Abriu meu guarda-roupa e arrancou minha combinação
E até do cabo de vassoura ele fez um estandarte
Para o seu cordão

Agora que a batucada já vai começando
Não quero e não consigo meu querido debochar de mim
Porque se ele pega as minhas coisas vai dar o que falar
Se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta
Até o sol raiar



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