Nunca fui muito dado a comemorações. Esqueço-me dos aniversários de familiares e de amigos, há muito que deixei de dar jantares e festarolas quando faço anos e embirrava quando me mandavam escrever aquelas redacções sobre a Primavera, o Natal, a Restauração ou o dia da árvore. Funciono sempre melhor com um tema livre, em que espontaneamente qualquer me sai da cabeça uma ideia qualquer.
Apesar de todas essas condicionantes, não podia deixar se passar o aniversário do velharias do Luís. Os blogues são instrumentos úteis e terapêuticos, para quem já chegou à idade madura e não realizou aquilo a que sempre aspirou na juventude. Foi o que aconteceu comigo. À medida que iniciava o blog, descobri que a internet me fornecia um instrumento onde poderia escrever e publicar as minhas ideias, de uma forma livre, sem correcções de superiores hierárquicos e sem a menor preocupação de escrever textos politicamente correctos, mas inócuos de conteúdo. Toda esta liberdade criativa era gratuita e bastava clicar no “enter” para publicar um texto.
De facto, em seis anos de escrita do blog, dei uma reviravolta na minha vida, mudei de emprego, alguns textos foram publicados em livros e revistas, fui convidado para a televisão, fiz amigos novos por todo o país e até no Brasil e sobretudo arranjei uma motivação quotidiana, que é estar sempre a pensar qual será o próximo tema da semana, fazendo para isso pequenas investigações, em livros, revistas, por vezes em arquivos e sobretudo na internet.
O que ocorreu comigo através não é um caso isolado, mas antes um fenómeno sociológico dos dias de hoje. Existe um filme Julie & Julia, proganizado por Meryl Streep, acerca de uma profissional frustrada, que a certa altura da sua vida decide fazer um blog, acerca da única coisa que realmente gosta e se sente competente, a culinária e que acaba por ter um enorme sucesso nos Estados Unidos. É um filme muito divertido que nos ajuda a perceber este fenómeno sociológico e psicológico dos blogs, da autoconfiança que devolvem aos seus autores, destruída por anos de empregos castradores e da liberdade criativa que proporcionam a quem os escreve.
Mas talvez não tivesse prosseguido esta tarefa de escrever no blog com uma periodicidade regular, se à sua volta não se tivesse reunido uma tertúlia de comentadores, gente interessada e curiosa, que vai aqui trocando impressões sobre antiguidades, artes e história, de forma informal como se estivéssemos todos à mesa de um café. Também sei que muitas páginas do blog são consultadas regularmente, por mulheres e homens, que não comentam, nem os conheço, que estão algures por aí, escondidos atrás dos seus monitores e aqui encontram informações úteis sobre gravuras antigas, faianças, porcelanas e ferrachos.
A todos vós envio o meu melhor sorriso.