Comprei recentemente duas caixinhas de latão dourado e vidro biselado. Confesso que sempre admirei este tipo de peças de vitrina, que não servem para nada, mas ao mesmo tempo parecem destinadas a guardar pequenos tesouros, como um caracol loiro de cabelo, uma conchinha, ou um qualquer objecto que tenha testemunhado um Verão mais feliz. Contudo, como normalmente estas peças são caras, fui adiando a sua compra, até que, recentemente perdi a cabeça e comprei logo duas de seguida.
Procurei investigar alguma coisa sobre estas peças e de facto os resultados, não desmentiram as minhas impressões iniciais. Estas caixinhas foram fabricadas em França durante o século XIX e até ao início da Iª Guerra Mundial e normalmente destinavam-se aos turistas, que as compravam como souvenirs. Os americanos adoravam-nas e muitas destas caixinhas eram decoradas no interior com uma reprodução fotográfica colorida de uma cidade francesa, como Paris, claro está, mas também Lião, Marselha, Nice ou Lourdes. Mas não só americanos, as deviam comprar, os restantes turistas europeus certamente também se se entusiasmariam com estas caixinhas, que deviam dar óptimos presentes, económicos e fáceis de transportar. Aliás, cá em Portugal são fáceis de encontrar no mercado de velharias e coisas em segunda mão.
Caixinha com vista de Paris. Estes objectos foram fabricados em França e destinados a serem vendidos como souvenirs |
Os americanos costumam designar estas caixinhas por Ormulu Jewelry boxes, um termo que se refere a uma antiga técnica de dourar o bronze com mercúrio. Porém, no tempo em que as minhas caixinhas foram fabricadas, entre os finais do séc XIX e o início do séc. XX, o material escolhido preferencialmente para estes souvenirs de la douce France era o latão dourado através de um processo de galvanoplastia. O vidro que adornava estas caixinhas era de belíssima, qualidade e muitas vezes apresentava-se gravado com flores e outras decorações. Por dentro, estas pequenas caixas costumavam ser vendidas com uma alfomafinha capitonnée em seda ou veludo.
Em França, estes objectos são conhecidas pelos termos coffret a bijoux Napoléon III en laiton et verre bizeauté.
Caixinha para guardar o relógio. Imagem retirada da internet, em site de vendas |
Como referi no ínicio, a utilidade destas caixinhas é quase nula. Nelas guardavam-se dois ou três anéis, um par de brincos e pouco mais. Por vezes, eram também destinadas a guardar durante a noite os relógios de pendurar que as senhoras usavam. Mas também era uma época em que não se pensava na utilidade dos objectos e as casas estavam atafulhadas de bibelots, rendas, cortinados opulentos, mesas e e mesinhas e sofás cheios de passamanaria. Eu próprio também não sei o que irei guardar nestas caixinhas. Talvez peça a alguém que vá a França, que as leve, para as encher com L'air du temps.