Numas das minhas últimas idas à feira-da-Ladra perdi a cabeça e comprei esta pequena Vénus pré-histórica. Embora tenha uma predilecção dominante pelos dourados, pelos damascos escarlates e pelo barroco, também me encanto por peças rústicas, populares ou muito primitivas e esta peça, estava lá no chão a chamar por mim e não fui capaz de lhe resistir. Não faço a menor ideia onde o vendedor a foi desencantar e até é bom nem fazer muitas conjecturas sobre a sua proveniência…
Estas esculturas são muitas vezes designadas por Vénus de Willendorf, que é a obra de arte mais famosa deste género e que se acha guardada num museu em Viena. É curioso observar que a minha peça tem mais ou menos as mesmas características da Vénus de Willendorf, cerca de 11 cm, material calcário, um grande ventre, grandes seios, rosto mal esboçado e braços quase imperceptíveis. Claro, a peça de Viena, tem uns cabelos muito bem esculpidos e no geral é uma obra de melhor qualidade, não fosse ela uma das esculturas mais famosas de toda a pré-história.
Foi muito complicado descobrir um bom sítio para a pendurar em minha casa, pois é um tipo de peça que carece de uma luz especial. Estas esculturas pré-históricas valem talvez muito mais pelo significado que ocultam em si mesmas, do que propriamente pela forma em que se apresentam, pois mais não são do que calhaus afeiçoados pela mão humana. Para valorizar este significado mágico, é necessário darmos-lhes uma luz dramática, que lhe empreste de novo a áurea sagrada de um ídolo poderoso, iluminado pela luz de uma fogueira, no interior de uma cabana rústica numa noite de Inverno, algures no Paleolítico Superior.