Na sequência do meu post de 22 de Dezembro, sobre o motivo, que ficou conhecido como bicha da praça, resolvi voltar a escrever sobre o assunto, pois o nosso amigo carioca, Fábio Carvalho enviou-me uma galeria fotográfica completíssima de azulejos portugueses no Rio de Janeiro e na qual se encontram inúmeros exemplos do motivo bicha da praça. No Brasil este padrão é conhecido por um nome também pitoresco, bicha e estrela ou estrela e bicha e antigamente abundava em muitos prédios do centro do Rio de Janeiro. A maioria dessas casas foram demolidas, mas o nosso Fábio, que deve ser um homem que conhece todos os recantos da parte velha da cidade maravilhosa e encontrou e fotografou na rua Visconde do Rio Branco um sobrado com os azulejos bicha da praça e ainda o mesmo motivo no Museu do Açude, que guarda uma colecção estupenda de faiança e azulejaria portuguesa.
Estes imagens que reproduzo aqui, são um bom exemplo de um momento da azulejaria portuguesa e também da história das artes decorativas brasileiras. Como é sabido a moda de revestir as fachadas das casas com azulejos começou no início do século XIX, no Nordeste Brasileiro, passou depois para Portugal e desde essa época, até aos primeiros anos do século XX, o Brasil foi um óptimo cliente das fábricas de cerâmica portuguesas. Já vimos aqui no blog vasos de Miragaia na cidade de Ubatuba, no Estado de S. Paulo e agora azulejos Viúva Lamego no Rio. De facto, a história portuguesa e brasileira entrelaça-se constantemente, mesmo que às vezes insistamos em virar as costas uns aos outros.
Convém explicar aos menos conhecedores de história da cerâmica e da cidade de Lisboa, que a Fábrica Viúva Lamego se encontra no Largo do Intendente em Lisboa e apesar de ser uma fundação relativamente recente (1849), se encontra num local onde existiam olarias a laborar desde a Idade Média. Como testemunho desses tempos, logo ali ao lado existe ainda uma rua das Olarias, um Largo das Olarias e umas escadinhas das Olarias. Em frente encontrava-se a Fábrica do Desterro, também especializada em faiança, que entretanto fechou. Não muito longe dali, está a rua Forno do Tijolo. A zona encosta pois ao velho bairro da Mouraria, numa área em que os artesão mouros ou descendentes dos mouros se dedicaram desde a Idade Média à moldagem de potes de barros, telhas e tijoleiras. A Viúva Lamego cuja imagem abaixo mostro mais não fez do que continuar uma tradição que vinha desde a Idade Média, provavelmente até do período islâmico.
Começámos no Rio de Janeiro e acabámos no Islão