segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Dez anos de velharias do luís



No dia 30 de Setembro de 2009 iniciei este blog, com um post apresentado uma bonita terrina de faiança do Norte, de que hoje, passados 10 anos, ainda não sei quem é o fabricante. Aliás, comecei o blog na esperança de encontrar alguém do outro lado do monitor, que me ajudasse a esclarecer as minhas dúvidas sobre a faiança portuguesa, que na altura já coleccionava. Na verdade, aconteceu precisamente o contrário e o blog foi uma espécie de motor de arranque para começar a ler sobre faiança e porcelana e a visitar museus com colecções de cerâmica e aprender sobre o assunto por mim próprio. Mas como sou um homem com interesses muito diversificados, rapidamente comecei a escrever sobre história da família, gravura, fotografia, mobiliário, caixas de jóias, embalagens, esculturas, ferragachos, espelhos, azulejos, árvores centenárias e sei lá que mais.



Embora por vezes experimente uma certa dificuldade em arranjar assuntos novos, não há dúvida que esta obrigação de escrever regularmente um blog, exercita a minha criatividade e lá vou tirando da manga mais um tema para um post ou então volto atrás e escrevo sobre a peças que já mostrei e sobre as quais descobri elementos novos. Enfim, acabo por me divertir muito com tudo isto e acrescentar a minha cultura.

Bem sei que os blogs passaram de moda e hoje todos estão no facebook, no Twitter, no Tumblr e sabe Deus aonde mais, mas este formato do blog serve muito bem o meus intuitos, que é a produção de pequenos textos fáceis de ler no momento de pausa do emprego ou ao final do dia, quando já não há paciência para ler grandes testamentos e intercalados. São também textos intercalados com imagens agradáveis de objectos antigos, que pretendem distrair o leitor de um quotidiano agressivo e cinzento.

As lágrimas de uma Santa de Roca
Correndo o risco de parecer uma Miss Universo a discursar no momento da sua eleição, naquele momento em que chora e sorri ao mesmo, acenado ao público, queria agradecer a atenção dispensada a todos os que me seguem, aqui ou no facebook, aos que comentam ou ainda aqueles, que aqui vem parar aos trambolhões, empurrados por uma pesquisa no Google. Sinto um grande empatia por vós pois partilhamos os mesmos interesses e na medida dos meus conhecimentos da minha escassa arte fotográfica, procurarei sempre escrever textos com alguma qualidade e utilidade, ilustrados por boas imagens.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Tinteiro em porcelana francesa

 
Como a minha casa está cada vez mais cheia de velharias, resolvi apostar numa nova política de aquisições. Compro pouco, mas quando o faço procuro adquirir peças de melhor qualidade e também um pouco mais caras.
O tinteiro e o areeiro
 
 
O orifício para arrumar a pluma ou pena com que se escrevia
Apaixonei-me por este tinteiro em porcelana, que representa um pastor galante e a sua ovelha, modelados com grande perfeição. Claro, nenhum pastor apascenta as suas ovelhas de meias brancas, mas isso que importa, é uma cena muito ao gosto da segunda metade do século XVIII, no tempo em que a rainha Maria Antonieta e o seu círculo íntimo fingiam que eram camponeses e pastores numa aldeia de opereta, construída nos jardins de Versalhes, o Hameau de la Reine
O galante pastor ostenta uma meia branca
Naturalmente, que calculei logo que este tinteiro não fosse uma peça autêntica do século XVIII, mas antes o produto de um desses revivalismos do século XIX, quando os artistas copiavam e adaptavam todos os estilos dos séculos anteriores e proliferam nas artes decorativas o neogótico, o neoegípicio, o neo Luís XVI ou ainda o neorrenascença.
O verso do tinteiro. Há qualquer coisa no topo que não consigo perceber se será o resto de uma etiqueta autocolante ou uma verdadeira marca
 
Como tinteiro não está marcado pensei no início que fosse alemão, pois ao longo do século XIX os alemães mantiveram a tradição das figuras de Meissen e fabricaram milhares de pastoras galantes, damas de corte ou simples bonequinhos em biscuit. Contudo, os dourados na base pareceram-me mais ao gosto da porcelana francesa e há também uma certa sobriedade na composição. Fiz umas quantas pesquisas na net nesse sentido e encontrei alguns tinteiros com figurinhas de porcelana, também ao gosto do século XVIII e atribuídos a fábricas de porcelana francesa da cidade de Paris, na segunda metade do século XVIII.
Tinteiro Porcelana de Paris. À venda em https://www.onlineantiques.net/listing/690940100/beautiful-rare-late-18thearly-19th
Fui mais longe na minha pesquisa e consultei duas obras de Régine de Plinval de Guillebon, L'exotisme de Jacob Petit - Paris : Art de France, 1963. Separata de "Art de France", No. 3, 1963 e Porcelaine de Paris: 1770-1850 . - Paris : Vilo ; Fribourg : Office du Livre, [cop. 1972], que me ajudaram a esclarecer este assunto. Esta especialista de porcelana de Paris, explica que a partir dos anos 30 do século XIX, houve uma tendência entre os fabricantes desta cidade, iniciada por Jacob Petit, de copiar as pequenas estatuetas de Meissen, produzidas no século anterior, que eram puramente decorativas e transforma-las em objectos mais utilitários, como caixas de tabaco, fosforeiras, frascos ou tinteiros. Segundo as palavras desta autora os tinteiros misturavam elementos de biscuit e porcelana pintada de dourado.

Enfim, parece-me que este tinteiro será uma produção de um qualquer mestre de porcelana da cidade de Paris, do segundo quartel do século XIX, mas naturalmente não tenho a certeza. Em todo o caso, é uma peça com uma manufactura requintada.
 
 
 
Bibliografia e links consultados:
 
Plinval de Guillebon, Régine de
 
L'exotisme de Jacob Petit - Paris : Art de France, 1963. Separata de "Art de France", No. 3, 1963 e
 
Porcelaine de Paris: 1770-1850 . - Paris : Vilo ; Fribourg : Office du Livre, [cop. 1972],
 

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Por Bragança: as margens do Rio Fervença


Bragança é uma cidade pela qual tenho uma ligação forte. O meu pai passou lá a sua adolescência e desde pequeno ouvi da sua boca histórias e descrições daquela terra, que talvez seja a mais periférica e longínqua das cidades portuguesas do continente. Igualmente, quando estava de férias em Vinhais, todos os anos havia um passeio até Bragança normalmente conduzido pelo meu tio Chico, que agarrava em nós, a miudagem toda e metia-nos no Saab até aquela cidade e visitávamos a “domus municipalis”, o castelo e ainda o Museu Abade de Baçal.

Nos últimos quarenta anos, a cidade cresceu muito. Foram rasgadas novas avenidas e construídos muitos prédios e vivendas, mas tudo aquilo é feio e tem um certo ar de subúrbio mal arranjado. O centro histórico foi ficando esquecido e talvez por essa razão conservou-se razoavelmente, pois em nome do progresso, ninguém se lembrou de lá construir prédios com 10 andares, nem agências bancárias de arquitectura espalhafatosa. Hoje, que já há uma maior consciência do valor do património, a Câmara Municipal de Bragança tem vindo a promover a reabilitação do Centro histórico, que são basicamente duas ruas paralelas, correndo da praça da Sé até ao Castelo.
 

Logo abaixo da praça principal de Bragança, existe um jardim público, daqueles bonitos, com um coreto e canteiros desenhados à régua e esquadro, que confina com o rio Fervença, que não há muito tempo era um caneiro imundo, onde esgotos da cidade desaguavam. Para minha surpresa, o rio foi inteiramente despoluído e à sua volta criaram-se passeios pedestres, com bancos de jardim, aproveitando o arvoredo já existente. O resultado é muito agradável, pois ao longo de uma extensão muito grande, julgo que mais de um quilómetro ou mais, pode-se passear ou andar de bicicleta junto às margens do Fervença, que é agora um rio lindo, que corre cheio força, com cascatas naturais e ladeados de moinhos, que fizeram o meu encanto. Um deles foi recuperado, o outro ainda está ainda em muito mau estado, mas espero que quando o restaurarem, não o arranjem demais e deixem-no com um certo ar de ruína romântica.
 
 

Mas esse passeio ao longo das margens do rio Fervença também é bonito pelas vistas que podemos desfrutar do velho burgo brigantino. Seriam até vistas de postal ilustrado, se uma casa medonha dos anos 70/80 não estivesse cravada na encosta do lado direito do Castelo. Depois das férias, quando cheguei a casa e abri as fotografias no meu computador, apeteceu-me ser um ditador feroz e mandar implodir aquela casa ou pelos menos saber o suficiente de edição de imagens para apagar aquela casa da fotografia.
 
A casa estraga o aquilo que seria um belo postal ilustrado, onde além do castelo e do casario antigo de Bragança não falta sequer o típico pombal do Nordeste transmontano
 
Ao olhar para esta fotografia não consigo deixar de ser moralista e pensar que por todo o País autoriza-se a demolição de casas antigas, mas que raramente se manda destruir aberrações arquitectónicas, como esta casa nova, que estraga irremediavelmente uma paisagem histórica. Bem entendido, imagino que quem mandou erguer esta casa, fê-lo com o dinheiro de uma vida de trabalho em França, mas quem autorizou a sua construção. cometeu um acto criminoso.
 
Apetece-me ser um ditador feroz e mandar implodir a casa assinalada na seta ou pelos menos saber o suficiente de edição de imagens para apagar aquela casa da fotografia.