segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Tinteiro em porcelana francesa

 
Como a minha casa está cada vez mais cheia de velharias, resolvi apostar numa nova política de aquisições. Compro pouco, mas quando o faço procuro adquirir peças de melhor qualidade e também um pouco mais caras.
O tinteiro e o areeiro
 
 
O orifício para arrumar a pluma ou pena com que se escrevia
Apaixonei-me por este tinteiro em porcelana, que representa um pastor galante e a sua ovelha, modelados com grande perfeição. Claro, nenhum pastor apascenta as suas ovelhas de meias brancas, mas isso que importa, é uma cena muito ao gosto da segunda metade do século XVIII, no tempo em que a rainha Maria Antonieta e o seu círculo íntimo fingiam que eram camponeses e pastores numa aldeia de opereta, construída nos jardins de Versalhes, o Hameau de la Reine
O galante pastor ostenta uma meia branca
Naturalmente, que calculei logo que este tinteiro não fosse uma peça autêntica do século XVIII, mas antes o produto de um desses revivalismos do século XIX, quando os artistas copiavam e adaptavam todos os estilos dos séculos anteriores e proliferam nas artes decorativas o neogótico, o neoegípicio, o neo Luís XVI ou ainda o neorrenascença.
O verso do tinteiro. Há qualquer coisa no topo que não consigo perceber se será o resto de uma etiqueta autocolante ou uma verdadeira marca
 
Como tinteiro não está marcado pensei no início que fosse alemão, pois ao longo do século XIX os alemães mantiveram a tradição das figuras de Meissen e fabricaram milhares de pastoras galantes, damas de corte ou simples bonequinhos em biscuit. Contudo, os dourados na base pareceram-me mais ao gosto da porcelana francesa e há também uma certa sobriedade na composição. Fiz umas quantas pesquisas na net nesse sentido e encontrei alguns tinteiros com figurinhas de porcelana, também ao gosto do século XVIII e atribuídos a fábricas de porcelana francesa da cidade de Paris, na segunda metade do século XVIII.
Tinteiro Porcelana de Paris. À venda em https://www.onlineantiques.net/listing/690940100/beautiful-rare-late-18thearly-19th
Fui mais longe na minha pesquisa e consultei duas obras de Régine de Plinval de Guillebon, L'exotisme de Jacob Petit - Paris : Art de France, 1963. Separata de "Art de France", No. 3, 1963 e Porcelaine de Paris: 1770-1850 . - Paris : Vilo ; Fribourg : Office du Livre, [cop. 1972], que me ajudaram a esclarecer este assunto. Esta especialista de porcelana de Paris, explica que a partir dos anos 30 do século XIX, houve uma tendência entre os fabricantes desta cidade, iniciada por Jacob Petit, de copiar as pequenas estatuetas de Meissen, produzidas no século anterior, que eram puramente decorativas e transforma-las em objectos mais utilitários, como caixas de tabaco, fosforeiras, frascos ou tinteiros. Segundo as palavras desta autora os tinteiros misturavam elementos de biscuit e porcelana pintada de dourado.

Enfim, parece-me que este tinteiro será uma produção de um qualquer mestre de porcelana da cidade de Paris, do segundo quartel do século XIX, mas naturalmente não tenho a certeza. Em todo o caso, é uma peça com uma manufactura requintada.
 
 
 
Bibliografia e links consultados:
 
Plinval de Guillebon, Régine de
 
L'exotisme de Jacob Petit - Paris : Art de France, 1963. Separata de "Art de France", No. 3, 1963 e
 
Porcelaine de Paris: 1770-1850 . - Paris : Vilo ; Fribourg : Office du Livre, [cop. 1972],
 

6 comentários:

  1. É uma peça indubitavelmente de boa qualidade, quer na manufatura quer na sua estética. A pintura e a modelação são extremamente cuidadas.
    A cauda da "ovelha" é que parece mais a de uma raposa, mas isso deve ser uma liberdade poética.
    Creio que fizeste uma boa aquisição, e até cabe em tua casa, o que vai sendo cada vez mais difícil!
    Manel

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    1. Manel

      Este tinteiro é de facto uma peça requintada e com uma execução primorosa. Só é pena que em minha casa não o consiga expor com a necessária sobriedade, para o valorizar. Enfim, tenho demasiadas coisas.

      Um abraço

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  2. Respostas
    1. Jorge

      O areeiro é recipiente do lado direito, perfurado com uns pequenos orifícios. Esta peça tem a função de tinteiro, areeiro e porta plumas. Por vezes, este tipo de peça mais completo toma o nome de escrivaninha. Mas, com efeito tenho que arranjar uma pena.

      Um abraço

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  3. Salve Luis!
    Bela aquisição peça excepcional. Minha esposa e eu estamos adotando o mesmo critério para aquisição de peças. Aquele gosto arqueológico em garimpar e adquirir peças, até mesmo avariadas, nos levou a uma vasta coleção. Agora, por falta de espeço, estamos também criteriosos e seletivos em nossas aquisições. Registro que sempre é prazeroso acompanhar teus artigos e ver tua coleção sendo enriquecida. Um abraço d´além mar! Edwin Fickel

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  4. Caro Edwin Fickel

    É bem verdade. Há um prazer muito grande em descobrir objectos velhos, que por vezes nem se sabe bem a utilidade, mas que são bonitos e baratos e quando damos conta não há 50 cm de parede livre nas nossas casas.

    Este belíssimo tinteiro precisava de um pouco mais de espaço à volta dele para brilhar na minha casa.

    Um abraço lisboeta

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