Esta terrina com uma decoração de inspiração japonesa pertence ao meu amigo Manel e saiu da maior e mais importante fábrica de faiança francesa do século XIX, Sarreguemines.
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A marca de Sarreguemines. As iniciais U & G querem dizer Utzschneider & Geiger |
Esta casa foi fundada em 1790 por um tal senhor Nicolas-Henri Jacob, na rica Alsácia-Lorena, na povoação de Sarreguemines, bem junto à fronteira alemã. Manteve um caracter artesanal até ao ano de 1800, data em que um jovem bávaro, Paul Utzschneider tomou conta da fábrica e resolveu aplicar ali todos os conhecimentos, que tinha adquirido em Inglaterra, nas fábricas de cerâmica daquele País, que naquele tempo estavam a inundar os mercados com os seus produtos baratos e de boa qualidade. Sarreguemines cresceu de vento em popa, sobretudo depois de Napoleão Bonaparte lhe ter feito importantes encomendas.
Em 1836, Utzschneider confia a direcção da manufactura ao seu genro Alexandre de Geiger, que transformou a fábrica na mais importante produtora de faiança de França, capaz de competir com a louça inglesa, no mercado francês e fazer-lhe até alguma concorrência a nível internacional. Ao longo do Século XIX, Sarreguemines tornou-se principal fábrica de faiança de França produzindo loiça utilitária, decorativa, chaminés e fogões de faiança e azulejos. Por exemplo, os célebres azulejos do metro de Paris são Sarreguemines.
Sarreguemines atravessou também períodos complicados da história francesa. Depois do conflito franco franco-prussiano de 1870, a Alsácia Lorena foi anexada à Alemanha e a fábrica ficou do lado alemão. Os patrões franceses fizeram então duas novas fábricas na França, em Digoin e em Vitry-le-François, mas continuaram a produzir na casa mãe, agora na Alemanha. Saguerrimes regressou à soberania da França em 1918, mas em 1940, os alemães voltam a ocupar a Lorena e a a gestão da fábrica é confiada à firma germânica Villeroy et Boch, até 1945, ano da libertação. Sarreguemines continuou a sua existência pelo século XX fora e terminou os seus dias no ano de 2007.
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O Japonismo começou a tornar-se uma moda em França, desde os finais da década de 1860 |
A julgar pela marca, a terrina do Manel terá sido fabricada cerca de 1890. Pertence ao serviço Yeddo, que é uma representação fantasista da arte japonesa. O Japonismo começou a tornar-se uma moda em França, desde os finais da década de 1860, quando os pintores impressionistas usaram as estampas japonesas como fonte de inspiração. As exposições universais de Paris de 1878, 1889 e 1900 divulgaram junto do grande público a arte do Japão. Por exemplo, a actriz japonesa Madame Sadayakko, que actuou na exposição universal de Paris em 1900 impressionou tanto os franceses, que os grandes armazéns passaram a contar nos seus catálogos com versões ocidentais de kimonos para vender às elegantes parisienses.
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Madame Sadayakko |
Portanto neste final do século XIX, quando esta terrina foi fabricada, a pintura, o desenho, a cerâmica e até à moda usavam o Japão como umas das fontes de inspiração para as suas criações.