sexta-feira, 29 de março de 2013

Uma janela rocaille com varal da roupa em Alter do Chão


Fotografei esta janela em Alter do Chão, que está decorada uma decoração rocaille, muito elegante, pintada em ocre, uma cor muito comum nas casas antigas do distrito de Portalegre. Quem a mandou construir era certamente gente de posses, um fidalgo de província, um grande proprietário ou um comerciante abastado. Mas, hoje ostenta um varal improvisado para secar roupa e alguém fechou a janela à pressa, deixando descuidadamente as cortinas de fora. Quem vive ali já não viverá com o desafogo de outrora. As pessoas ricas ou mesmo que já não o sejam, mas mantenham o gosto e educação não improvisam estendais onde cabem três ou quatro peúgas e um pano da loiça. Parece mais o hábito de uma velhinha ou de um velhinho sem grandes posses, a quem já lhe custa descer as escadas para estender a roupa no pátio.
Pormenor de outra janela na mesma casa
Talvez este contraste entre a elegância do passado e uma certa mediocridade e pobreza do presente seja o que me atrai na fotografia desta janela. Parece sintetizar a própria história de Alter do Chão e de tantas outras terras do Alentejo central, muito ricas no passado, pejadas de solares, igrejas e conventos ricos e hoje com um ar negligenciado e habitadas por velhos.

12 comentários:

  1. Bem bonita essa janela... o varal é que não combina. Mas surpreende. :)

    ResponderEliminar
  2. Cara Luisa

    Sabe que só dei conta do varal, quando cheguei a casa e abri as fotografias no PC?

    Fiquei um bocadinho chocado a pensar "pronto, uma boa foto que ficou estragada com o fio eléctrico e o varal da roupa!" Mas, depois achei que este varal e a cortina deixada descuidadamenjte fora da janela davam a dimensão humana ao pormenor de uma casa que é património cultural, ainda que não classificado. Estes detalhes permitem imaginar uma história, dão um passado e um presente à casa.

    Um abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Boa noite! Penso ter reconhecido esta janela de Alter do Chão...È ao lado da Igreja de Nosso Senhor Jesus do Outeiro não é? tenho uma idêntica, mas agora não a encontro no meu arquivo. Vim aqui porque procurava coisas sobre o lagarto da Penha de França...Hoje andei lá na Heliodoro Salgado mas por acaso não reparei na porta com a serpente...
      Cumprimentos!

      Lurdes

      Eliminar
  3. Esta janela é muito interessante pela história que permite recriar.
    Este tipo de trabalho passou de moda e não conheço onde o façam, mas as que sobraram são um deslumbre para o olhar.
    Manel

    ResponderEliminar
  4. Caro Luis

    De facto o mundo começa em Portugal e nunca mais acaba..dentro de Portugal...uma janela e ocre tinta na moldura. Os olhos da casa e o olhar de quem lá mora ou morou. Uma janela de lavrado dourado, a ostentação ingénua e popular..Do outro lado da janela da roupa recolhida, existem almas, talvez solidão, talvez soalho corrido vazio de movimentos...Caminhar numa rua e abraçar com os olhos uma janela é a resposta do apelo que a janela faz a quem passa..feliz é quem se enamora por uma janela de formosa moldura....
    um abraço
    Vitor Pires

    ResponderEliminar
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  6. Bem lindas estas janelas, Luís!
    Surpreende como estes desenhos algo elaborados terão saído das mãos simples de trabalhadores locais, usando materiais pobres – massa de gesso pintada a ocre (?)
    A verdade é que o efeito é lindo e até o pormenor do estendal não está nada a destoar!
    E a cortina branca (só podia ser branca!!!)que imaginamos a esvoaçar do lado de fora da janela é mais um pormenor feliz!
    Sem dúvida que é preciso um olhar sensível para detetar e captar a beleza que se esconde em muitas coisas aparentemente banais...
    Beijos

    ResponderEliminar
  7. Manel

    Também não percebo a técnica da feitura destes relevos. Seriam feitos com argamassa e depois caiados por cima?

    Não me parece que haja pedra por detrás destes trabalhos. Em todo o caso são muito comuns pelo Alentejo fora.

    À falta de bibliografia teremos que reparar nas casas em ruínas para perceber que técnica está por detrás destes bonitos lavrados rocaille.

    Abraços

    Em to

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este tipo de trabalho, segundo me recordo de algumas técnicas de acabamentos que li em tempos, parece-me ser feito a partir de molduragem independente, feita em estuque e posteriormente aplicada ao acabamento da parede, centrando-a relativamente ao vão da janela.
      Esta molduragem é posteriormente realçada com cor, como é este o caso, doutra forma pouco se notaria, pois o relevo não é muito alto.
      O mesmo método seria utilizado igualmente na aplicação de estuques nos tetos, por exemplo.
      Claro que para casas mais opulentas, este tipo de trabalho seria feito em materiais mais nobres, como seria o caso da pedra.
      Também sei que se fez em madeira, aplicada posteriormente à janela e devidamente pintada, quanto mais não fosse para a sua proteção dos elementos.
      Manel

      Eliminar
  8. Caro Vítor

    Obrigado pelo seu poético comentário.

    Janelas, portas e varandas são sempre um assunto fascinante para os olhos atentos. Não é por nada, que este tema foi um dos maiores sucessos da pintora Maluda. Uma janela ou uma porta despertam írresistivelmente em nós um sentimento de voyeurismo, que a boa educação nos impede de explorar.

    Por outro lado, o tema é muito literário. Um livro é uma janela sobre a qual espreitamos a vida de outros, imaginada por romancistas, que por sua vez, talvez tenham baseado as suas obras no que viram debruçados numa janela indiscreta.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  9. Maria Andrade

    Apesar dos atropelos ao património, as terras portuguesas ainda tem muito que ver se abrirmos os olhos. A Maria Andrade há pouco tempo fez-nos descobrir os telhões e eu apercebi-me da existência das urnas e dos vasos de faiança na platibanda das velhas casas. Depois há a azulejaria, esse universo sem fim, o ferro forjado das varandas e ainda este trabalhos de estuque junto às cantarias. São tudo pormenores que nos chamam a atenção.

    Por outro lado, talvez a valorização que fazemos aqui nestes blogs destes detalhes arquitectónicos antigos, mostre aos proprietários destas casas, que os devem conservar e sentir-se orugulhoses deles. Mas, não tenho a certeza.

    Bjos

    ResponderEliminar
  10. Manel

    O teu comentário sobre a técnica da molduragem foi muito oportuno e útil para este post. Assim toda a gente ficou a perceber como é feito este trabalho de decoração das fachadas tão típico do Sul.

    Abraços

    ResponderEliminar