segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Uma fantástica terrina Miragaia


Nos mercados de velharias, Miragaia é sinónimo de faiança azul e branca portuguesa antiga. Nas feiras de velharias, no olx, e até em alguns blogs, Miragaia é um prato azul e branco, gatado e com muitos sinais de uso. Se nele estiver representado um casario então é Miragaia sem sombra de dúvidas. Por vezes até nos tentam vender pratinhos toscos de Alcobaça e Coimbra, coisas nitidamente do início do século XX, como Miragaia, quando aquela fábrica terminou a sua laboração em 1850.

Então como como poderemos saber se o que nos estão a tentar vender é Miragaia ou não? Pergunta o paciente leitor deste blog. Consultando a bibliografia especializada, sobretudo o catálogo, Fábrica de Louça de Miragaia. - Porto : Museu Nacional de Soares dos Reis, 2008, que é uma bíblia para este assunto, visitando museus com boas colecções de faiança daquela fábrica do Porto, como por exemplo o Museu Nacional de Arte Antiga ou Museu Nacional de Soares dos Reis e sobretudo através das marcas, que identificam inequivocamente uma peça como sendo de Miragaia, já que houve outras fábricas do Norte, que copiaram algumas decorações daquela Casa.



Talvez porque nos tentem vender tanta loiça pseudo-miragaia, que quando vemos uma peça autêntica desta marca, ficamos muito entusiasmados. Foi o que me aconteceu quando um seguidor deste blog, Tiago Araújo, me enviou por e-mail imagens de uma terrina sua, marcada Miragaia e absolutamente fabulosa.
A marca corresponde ao segundo período de laboração da Fábrica de Miragaia, 1822-1850

A marca corresponde ao segundo período de laboração da Fábrica, 1822-1850, e apresenta a célebre decoração País. No passado, País era sinónimo de paisagem e portanto este motivo ficou conhecido por esse termo. Como já escrevi em posts anteriores, a série País foi inspirada num padrão denominado View in Fort Madura da fábrica inglesa Herculaneum. Por sua vez esta fábrica tinha usado como fonte de inspiração as estampas do pintor paisagista inglês, Thomas Daniell, (1749-1840) publicadas entre 1795-1808, num álbum em 6 volumes, intitulado Oriental Scenery.

A série País foi inspirada num padrão denominado View in Fort Madura da fábrica inglesa Herculaneum, como se pode ver nesta fotografia.
Porém, esta terrina tem algumas particularidades, que a tornam um pouco diferentes das outras. Normalmente nos pratos, travessas e terrinas que conheço, há apenas a representação do pavilhão ou templete de inspiração indiana. Nesta terrina do Tiago Araújo, além do templete há uma ponte e um segundo edifício. Só tinha visto esta variante nos vasos ou urnas de jardim, que o catálogo Fábrica de Louça de Miragaia. - Porto : Museu Nacional de Soares dos Reis, 2008 reproduz na página 230.


Mas talvez o mais invulgar desta peça, é o formato, que nunca tinha visto nas produções de Miragaia. É uma daquelas coisas onde pressentimos de imediato a influência da ourivesaria, nomeadamente das terrinas em prata, muito embora essa inspiração seja certamente indirecta. O mais certo é que quem concebeu o molde copiou uma terrina inglesa de faiança, que por sua vez se inspirou numa terrina em prata.

Formatos mais usuais de terrina Miragaia do segundo período de laboração da fábrica, 1822-1850. Fotos http://www.matrizpix.dgpc.pt
Esta terrina é uma peça muito boa, que o Tiago Araújo quis partilhar com a comunidade de amantes de faiança portuguesa, que consulta regularmente este blog.
É uma daquelas peças onde pressentimos de imediato a influência da ourivesaria,


terça-feira, 17 de dezembro de 2019

A Anunciação: o arcanjo Gabriel ou votos de boas festas

Ave gratia plena
Os leitores mais assíduos deste blog já sabem que não sou muito dado a efemérides, comemorações e festas religiosas. Recordo-me de imediato de todas as redacções, que era obrigado a fazer na escola primária ou até mesmo no liceu, sobre o Natal, a Páscoa ou a Primavera. Sempre funcionei melhor com temas livres.

Contudo como não há regra sem excepção, este ano resolvi celebrar a época natalícia e desejar as boas festas aos pacientes leitores deste blog com uma estampa francesa dos finais do século XVII, representado o Arcanjo Gabriel, no momento em que anuncia a Maria, que será a mãe de Deus.

A estampa está assinada. Terá sido executada a partir de uma pintura de Charles Le Brun, gravada por Gilbert Filloeul e impressa em Paris por Jean Mariette no ano de 1695.
 
A legenda da estampa: Carol Le Brun pinx; a Paris chez. J. Mariette, grave para G. Filloeul,  1695 
Charles Le Brun (1619–1690) foi o principal pintor francês do Rei Luís XIV e notabilizou-se pelas suas pinturas para o Castelo de Versalhes, bem como na execução de cartões para tapeçarias.

Jean Mariette (1660-1742) pertencia a uma famosa dinastia de impressores e gravadores e imprimiu ou gravou cerca de 900 obras, executadas a partir das obras dos mais famosos pintores da sua época, tais como Nicolas Poussin, Domenico Zampieri, Charles Le Brun, Michel Corneille the Younger, Louis Chéron, Antoine Dieu, Guido Reni, A. Caracci, Sébastien Bourdon, Giovanni Contarini, e Van Dyck.

Gilbert Filloeul (1661-1714) foi um gravador francês, figura um pouco mais obscura, que Charles Le Brun ou Jean Mariette e segundo o Inventaire du fonds français, graveurs du XVIIe siècle de Roger-Armand Weigert, usava muitas vezes as gravuras de mestres mais famosos para produzir as suas estampas. Notabilizou-se mais pela divulgação das obras dos grandes gravadores e impressores do que propriamente pelas suas qualidades artísticas.

Tendo chegado a este ponto da identificação da estampa, achei que já tinha o trabalho quase feito e que só me faltava identificar a partir de que pintura de Charles le Brun esta gravura foi executada.

Fui procurar nos manuais e percebi logo que a coisa não era assim tão simples. Na obra de Henry Jouin Charles le Brun et les arts sous Louis XIV.Paris : Imprimerie Nationale, 1889 descobri que esta gravura teve por base uma encomenda recebida por Charles Le Brun, uma pintura da Anunciação, para a Igreja dos Petits Péres de Nazareth e que nunca chegou a entregar. As gravuras inspiradas neste trabalho dividiram a obra em duas partes, uma para o Arcanjo Gabriel, outra para a Virgem. Portanto, algures por esse mundo fora existe outra estampa, que faz “pendant”, com esta estampa do meu amigo Manel.
 
O desenho da Biblioteca Nacional de França que poderá ter inspirado a gravura de Gilbert Filloeul

No entanto, terão existido ensaios ou esboços dessa pintura da anunciação, que deram origem às gravuras. Jennifer Montagu, no artigo The Unknown Charles Le Brun: Some Newly Attributed Drawings (*1), descobriu um desenho na Biblioteca Nacional de França, atribuído aquele pintor francês e que relacionou com as gravuras existentes. Segundo essa especialista este desenho seria um dos esboços para essa Anunciação da Igreja dos Petits Péres de Nazareth. Jennifer Montagu refere ainda uma estampa, que entretanto se perdeu e que seria uma versão mais original do projecto de Le Brun e publica duas gravuras, mais antigas do que aquela que apresento hoje, feitas por Gilles Rousselet, baseadas também nessa composição, mas que igualmente a dividem em duas partes.
 
Estampas de Gilles Rousselet inspiradas na obra projectada para a Igreja dos Petits Péres de Nazareth
 
Na internet, encontrei mais uma referência a esta anunciação de Charles Le Brun, na obra Dessins français du XVIIe siècle: Inventaire de la collection de la Réserve/.Por Damien Chantrenne‎, Pascale Cugy, Maxime Préaud , em que os autores reproduzem o desenho da Biblioteca Nacional de França e ainda a gravura que se julgava perdida. Os autores são de opinião, que o desenho apresenta uma execução um pouco seca, que poderá explicar-se pelo facto de o desenho ter sido concebido já com o objectivo de ser traduzido em gravura, mas também os leva a interrogarem-se se a obra é realmente de Charles Le Brun.
 
Estampa da Biblioteca Nacional de França e que será aquela que reproduz melhor a composição de Carles Le Brun
Enfim, como acontece muitas vezes em história, não é possível fazer conclusões definitivas sobre a obra de Le Brun, que inspirou esta gravura do Arcanjo Gabriel. No entanto, é uma estampa de qualidade muito superior às gravuras de Rousselet e o ramo de Açucenas, que o Arcanjo segura na mão, dá-lhe um encanto muito especial, muito adequado para oferecer aos meus leitores este Natal.
 
As açucenas
(*1), Master drawings, vol.1, nº 2 (1963), p.40-47

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Os irmãos Sampaio Mariz e as suas relações com o Padre Liberal Sampaio e Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão

Maria Cândida de Sampaio Mariz. Photographie française Celestin Benard, Porto
Continuo nos meus trabalhos de identificação do álbum de fotografias carte-de-visite, formado pelo meu trisavô, o padre José Rodrigues Liberal Sampaio, durante o último quartel do século XIX.  Este álbum fotográfico é uma fonte importante para a história da família Montalvão, mas também para a história de uma comunidade, já que dele consta toda uma galeria de retratos de senhoras e senhores, que viveram no Concelho de Chaves ou noutras localidades do distrito de Vila Real, mais ou menos entre 1870-1900 e que faziam parte das relações sociais e de amizade do Padre Liberal Sampaio ou da família Montalvão.
 
Luiz António de Sampaio Mariz. Fotografia de Narciso Alves Correia, Vila Real
Desta galeria fotográfica constam três personagens, cujos nomes estão identificados com a letra miudinha do meu trisavô e que obviamente pertenciam à mesma família. O primeiro é o retrato de uma Senhora, Maria Cândida de Sampaio Mariz, acompanhada de duas meninas, provavelmente as filhas, o segundo e o terceiro são dois distintos cavalheiros, fisicamente parecidos, Frederico Augusto de Sampaio Mariz, Luiz António de Sampaio Mariz.
Frederico Augusto de Sampaio Mariz. Fotografia de Narciso Alves Correia, Vila Real
Calculei de imediato que o Frederico Augusto e o Luiz fossem irmãos, mas não tinha provas nenhumas disso. Quanto à Maria Cândida tanto poderia ser a mulher de um deles, como irmã ou uma prima muito próxima. Através de meia dúzia de pesquisas na net percebi que os Sampaio Mariz eram os morgados de Água Revés, uma localidade no actual Concelho de Valpaços, mas no site geneall.com só encontrei referências a Frederico Augusto de Sampaio Mariz e seus descendentes. Muni-me então de paciência e resolvi tirar o assunto a limpo, esquadrinhando os livros de registo de baptismo da paróquia de Águas Revéz entre 1840-1855, anos em que eu calculava, que tivesse nascido esta gente, já que as fotografias presumivelmente foram tiradas entre 1870/80. Mas, desgraçadamente, os livros de baptismo dessa época terão apanhado humidade, o bolor corroeu-lhes os cantos e apresentam-se truncados, de modo que, ao fim de uma ou duas horas, agastado, desisti dessa pesquisa.
 
O assento de nascimento da Sra. D. Maria Cândida do livro de baptismo da paróquia de Água Revez, Arquivo Distrital de Vila Real
Ao mesmo tempo, que desenvolvia estas pequenas investigações, coloquei no forúm do site geneall, no tópico famílias transmontanas, um post comunicando, que possuía fotografias da família e que estava disposto a enviar cópias digitais aos descendentes, em troca de informações sobre as personagens retratadas. O post foi ficando esquecido meses e meses e mais meses, até que um trineto de um destes personagens me respondeu, e amavelmente enviou-me informações detalhadas sobre os três retratados.
 
O solar dos Sampaio Mariz em Águas Revez, Valpaços, Distrito de Vila Real. 13 de Junho de 1912. Cortesia de Maria Gabriela Mariz Navarro de Castro

A Maria Cândida, o Frederico e o Luiz António eram irmãos, filhos de Frederico de Sampaio Mariz Sarmento e Castro e D. Maria Madalena de Gouveia Morais Sarmento e a família residiu em Água Revés, Vilas Boas e no Amedo. Portanto, os filhos foram baptizados em paróquias diferentes e por essa razão eu não consegui reconstituir esta família através dos registos de Águas Revez. As casas onde residiram estas famílias ainda estão em pé. O solar de Água Revés foi restaurado, o do Amedo, no concelho de Carrazeda de Ansiães, embora esteja ainda em fase de recuperação, conserva toda a sua dignidade de velha casa familiar.
A casa dos Sampaio Mariz, no Amedo, Carrazeda de Ansiães, Distrito de Bragança. Fotografia de http://amedo-pt.blogspot.com/2019/06/casas-transmontanas-dos-ansiaes-de-mariz.html

A Sra. D. Maria Cândida nasceu em Maio de 1843 na paróquia de Água Revez e casou com 20 anos, a 9 de Setembro de 1863, em Marzagão, com João António da Veiga Mariz e Castro, seu primo, dali natural. Sobre as duas meninas nada se sabe.
 
Maria Cândida de Sampaio Mariz. Photographie française Celestin Benard, Porto

Conforme se pode ver no verso, o retrato desta senhora e crianças foi feito na Photographie française Celestin Benard, no Porto, que tinha o seu estúdio no 247, na Rua de Santa Catarina no Porto. Este dado permite datar de algum modo a fotografia. Será posterior a 1872, pois nesse ano o Celestin Benard mudou o seu estúdio do nº do 128 para o nº 247, e anterior a 1890, data em que este fotógrafo terá cessado sua a actividade. Nesta imagem a Sra. D. Cândida parece ter no máximo uns trinta e poucos anos, portanto se nasceu em 1843, o mais natural é que a fotografia tenha sido tirada à volta dos anos de 1872-1875 (*1).
Verso da fotografia de Maria Cândida de Sampaio Mariz. Photographie française Celestin Benard, Porto, Rua de Santa Catarina, 247
Nesta sessão fotográfica longamente encenada, como todas as fotografias o eram na época, a Sra. D. Maria Cândida está sentada, a cabeça coberta por um véu e segura um livrinho na mão, como se tivesse acabado de sair de uma cerimónia religiosa, dir-se-ia quase, que estava de luto, mas eu não conheço suficientemente bem os códigos de vestuário da época, para afirmar tal coisa. Talvez o livro fosse um simples álbum fotográfico vendido pelo estúdio, mas a ideia seria que representasse um missal, mostrando a todos, que recebessem esta fotografia, que a Sra. D. Cândida era um mulher devota, mas também suficientemente instruída para assegurar uma boa educação aos seus filhos.

Quanto aos senhores, Frederico Augusto de Sampaio Mariz e Castro, nasceu na freguesia de Vilas Boas, concelho de Vila Flor, a 22 de Fevereiro de 1851. Casou na freguesia de Amedo, do concelho de Carrazeda de Ansiães, 1880, com sua prima sua, D. Carlota de Jesus de Sampaio Mariz. Foi o 9º morgado de Água Revés e do Amedo. Fez uma carreira importante no município de Carrazeda de Ansiães. Foi vice-presidente da Câmara no ano de 1881, 1882, 1884 e em 1918 e também vereador em 1886, 1890, 1899 e em 1923. Faleceu em 1932.

Luís António de Sampaio Mariz e Castro nasceu e foi baptizado em Água Revés. Com 21 anos, em 1874, casou com D. Carolina Amália Morais Pinto de Magalhães. Terá morrido em 1930 ou 1931, pois o Arquivo Distrital de Vila Real conserva um processo de inventário obrigatório dos seus bens datado de 1931 (PT/ADVRL/JUD/TJCCHV/C-C/082/947)
 
Verso das fotografias Luiz António e de Frederico Augusto de Sampaio Mariz. Fotografia de Narciso Alves Correia, Vila Real, Rua Direita, nº36-40
 
Os dois retratos destes senhores foram feitos por Narciso Alves Correia, que abriu na década de 70 do século XIX o primeiro estúdio fotográfico em Vila Real. Este senhor era um homem multifacetado, que se dedicou à tipografia, à relojoaria, à metrologia, à fotografia e ainda tinha um estabelecimento onde vendia desde lunetas a flores artificiais. O Museu do Som e da imagem conserva na sua colecção uns quantos retratos carte-de-visite, em tudo semelhantes aos de Luís António e de Frederico Augusto e datados dos primeiros anos da década de 1870 do século XIX, portanto é possível estas duas fotografias sejam também desse período(*2).
 
Embora tenha conseguido identificar estas três personagens, não consegui reconstituir as relações, que estabeleceram com os meus antepassados. Nestes meados dos anos 70 do século XIX certamente que eram boas, de outra forma estes retratos não constariam do velho álbum de família. A fotografia ainda era demasiado cara nesta época para se desperdiçar com amizades de ocasião. Talvez os irmãos Sampaio Mariz fossem das relações da minha trisavó, a Maria do Espírito Ferreira Montalvão. Os Montalvões e os Sampaio Mariz eram gente do mesmo meio social, fidalguia rural, quem sabe se vagamente aparentados, e era natural, que se conhecessem e visitassem. Outra hipótese é que estes irmãos teriam conhecido o meu trisavô, o padre José Rodrigues Liberal Sampaio por ocasião de uma das suas pregações. Este meu antepassado era um pregador muito apreciado no seu tempo, chamado para todas as terras do  País e poderia ter conhecido estes irmãos por ocasião de umas dessas prédicas e ter ganho a sua estima.
 
Contudo, o mais curioso disto tudo, é que houve outro irmão destes Sampaio Mariz, João Evangelista, que residiu em Chaves e foi vereador da câmara daquela cidade em 1885, 1886, administrador do Concelho em 1887 e entre 1897 e 1898 responsável pela polícia de Chaves (*3) e que seguramente privou com o meu trisavô, Liberal Sampaio, também envolvido na política local, por esses anos, e muito provavelmente conheceu também Maria do Espírito Santo Ferreira Montalvão. No entanto, desse irmão não consta nenhuma fotografia do velho álbum familiar.
Maria Cândida de Sampaio Mariz. Photographie française Celestin Benard, Porto
 
Em suma, apesar de ter conseguido saber quem realmente foram estes irmãos Sampaio Mariz, a natureza das relações que mantiveram com a minha família, continuam uma incógnita. Parece que estas velhas fotografias teimam sempre em manter alguns dos seus segredos e com isso o fascínio, que exercem sobre nós.
 
(*1) Dados recolhidos em A Casa BIEL e as suas edições fotográficas no Portugal de Oitocentos/ Paulo Artur Ribeiro Baptista. Lisboa: Edições Colibri; Universidade Nova de Lisboa, 2010
 
(*2) Dados recolhidos em Narciso Alves Correia: a fotografia em Vila Real na década de 1870 / Elísio Amaral Neves. Vila Real: Museu do Som e da Imagem, 2011. – (Cadernos do som e da imagem; 8)
 
(*3) História moderna e contemporânea da Vila de Chaves através das actas e jornais da época / Júlio Montalvão Machado. – Chaves: Grupo Cultural Aquae Flaviae, 2012
 
Um especial agradecimento ao trineto de um destes irmãos Sampaio Mariz, que amavelmente me cedeu os dados biográficos dos seus antepassados.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Um relógio Waterbury


O meu amigo Manel tem a mania dos relógios antigos. Nas duas casas dele, há relógios de todos os tipos e feitios e por toda a parte, nas salas, nos quartos, nos corredores e sei lá onde mais. Quando tocam, há uma verdadeira sinfonia de badalos, uns que parecem sinos de igreja, e outros com toques subtis, próprios de casas de gente educada e discreta. Talvez esta mania dos relógios se explique por um certo gosto pela rotina, que marca a personalidade do Manel. Com efeito, estes instrumentos definem metodicamente um quotidiano, que se repete dia após dia e cujos passos decorrem às mesmas horas. Porém, desconfio que a verdadeira paixão dele pelos relógios tem a ver com os mecanismos e os segredos das engrenagens que os fazem funcionar. Com efeito, mal compra um destes objectos, o Manel, desmonta-os integralmente, repara o mecanismo, compra as peças em falta nas feiras de velharias ou nos poucos relojoeiros, que restam ainda na cidade, restaura a caixa de madeira e tudo aquilo lhe dá uma enorme satisfação.

Um dos relógios, que mais acho graça da colecção do Manel é um Waterbury, do tipo relógio de capela, aquilo que os americanos designam por Sharp Gothic. Tem ainda a etiqueta original do fabricante, colada por dentro da caixa, o que nos permite datar o relógio aí por volta da década de 70 do século XIX.
 
A etiqueta original permite datar o relógio por volta por volta da década de 70 do século XIX.
Há um site só dedicado à Waterbury, onde se ensina a datar os relógios pela etiqueta original de fabrico, cujo endereço disponibilizo http://www.antiquewaterburyclocks.com/Waterbury-Clock-Labels.php, pensando ser útil às pessoas, que lá em casa tem relógios desta marca, tão populares nas Américas e na Europa no último quartel do século XIX, já que nesse período, os fabricantes americanos invadiram o mercado dos relógios de parede ou de mesa, com os seus produtos baratos, produzidos industrialmente.
 
 
Mas o mais encantador deste relógio é que tem uma espécie de decalcomania, colada por dentro no vidro, com uma representação de uns meninos jogando à cabra-cega. Os petizes estão vestidos à maneira do século XVIII e recordam algumas das gravuras que Bartolozzi executou a partir dos desenhos de William Hamilton (1751–1801).
 
Blind man's Bluff de William Hamilton (1751–1801). British Museum
Contudo, o mais provável é que a fonte de inspiração seja a cabra-cega, um cartão que Francisco Goya executou em 1789 para uma tapeçaria. Os meninos descrevem uma roda à volta da menina vendada, numa composição muito semelhante à La gallina Ciega de Goya.
 
.A cabra-cega de Goya. Museu do Prado. Foto wikipedia

Creio que na casa ou nas casas por onde este relógio andou, terá feito  as delícias de gerações de crianças. Talvez imaginassem, que abrindo a porta de acesso ao mecanismo, houvesse lá dentro um mundo em miniatura, onde viveriam os meninos que jogavam à cabra-cega.
 
 
 

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Por isso eu sou vingativa

Salomé com a cabeça de S. João Baptista, de Lucas Cranach, inv. 738 Pint http://www.museudearteantiga.pt/
Perguntarem-me qual é a minha obra preferida do Museu Nacional de Arte Antiga é uma questão tão sem sentido, como me pedirem para escolher o livro ou o filme da minha vida. Já li tantos livros ou vi tantos filmes que marcaram profundamente a minha forma de estar ou pensar. O mesmo se passa com as peças da colecção do Museu Nacional de Arte Antiga. Cada vez que passeio por aquelas salas descubro um bule de porcelana chinesa maravilhoso, que nunca tinha reparado ou uma laca oriental, que apetece colar o nariz à vitrina, até a deixar embaciada ou ainda mais uma pintura extraordinária.

Porém, há umas das pinturas do Museu Nacional de Arte Antiga, que me fascina sempre, a Salomé com a cabeça de S. João Baptista, de Lucas Cranach. É um tema religioso, do Novo Testamento, em que Herodias, pede à sua filha, Salomé, para usar de toda sua beleza e sedução de forma convencer a Heródes, tetrarca da Galileia, a decapitar S. João Baptista. Portanto, à partida, o quadro podia ser uma coisa chatinha, um assunto beato, capaz de aborrecer as novas gerações, para quais o catolicismo não lhes diz rigorosamente nada.


Salomé com a cabeça de S. João Baptista, de Lucas Cranach, inv. 738 Pint. http://www.museudearteantiga.pt/
Mas neste quadro do Lucas do Cranach, a Salomé apresenta um ar perverso, de quem não está nem um bocadinho arrependida do mal que fez e que nos espanta e surpreende, pois inconscientemente,  em virtude da nossa educação católica, da catequese e das aulas de moral e religião no liceu, povoada de imagens adocicadas de Cristos loiros e olhos azuis, anjos da guarda com caracóis dourados e Nossas Senhoras com mantos azul-bebé, acharíamos que a Salomé deveria ter um ar de rapariga estouvada e caprichosa, mas que, no seu olhar, houvesse arrependimento ou mesmo um sinal, pequeno que fosse, de um qualquer sentimento de culpa. Mas não, aqui a Salomé é uma ressabiada, com a mesma expressão de uma mulher, que foi trocada pelo marido por uma rapariga mais jovem, ou pior do que isso, por um homem e está disposta ir a tribunal, despojar o marido da custódia dos filhos e de todos os bens do casal.

Confesso que sempre revejo esta obra-prima da Colecção do Museu Nacional de Arte, dou comigo a trautear aquele velho êxito das Frenéticas, Vingativa, de que a Rita Lee fez uma versão divertidíssima, cujo vídeo reproduzo aqui, para encerrar este post sobre uma malvada

Por isso eu sou vingativa, vingativa, vingativa
Por isso eu sou vingativa, tenho até asco de você
Você fez de mim uma hipócrita
Você fez de mim uma cínica
Você fez de mim uma mulher sem lar, uma malvada!


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Santa Catarina de Alexandria: pintura em cobre do século XVII

 
Sempre simpatizei com a figura de Santa Catarina de Alexandria, essa mártir do século III, tão sábia e culta, que um certo romancista, Jean Marcel, na sua obra Hypatie ou la fin des dieux, colocou a hipótese de que a lenda, que envolve a vida desta santa seria um eco da existência da célebre filósofa, astrónoma e matemática, Hipácia de Alexandria, que foi massacrada no século V pelos cristãos, já que as suas convicções científicas punham em causa os dogmas do cristianismo.

Mas talvez a minha simpatia por esta santa remonte a uma das minhas primeiras recordações de infância, teria eu talvez uns quatro ou cinco anos e na Casa de São Vicente, onde a minha mãe era educadora, assisti a uma espécie de auto, que era uma encenação daquela música popular “A santa Catarina, prelim perlim pépé, Era filha do rei, Seu pai era pagão, prelim perlim pépé, Mas a sua mãe não. Na época fiquei muito impressionado com a cena em que a pobre Catarina é morta pelo pai e creio que ainda hoje, sempre que vejo um quadro ou uma escultura representando Santa Catarina, quase inconscientemente trauteio aquela lengalenga.

Todas estas considerações servem para justificar, a razão porque comprei mais uma representação de Santa Catarina, desta vez uma pintura em cobre, que suspeitei de imediato, tratar-se de obra do século XVII. A iconografia da Santa está aqui reduzida aos seus elementos essenciais, a espada, pela qual foi degolada, a palma, que significa o martírio e um traje luxuoso de princesa ou rainha. Falta aqui a roda pela qual foi martirizada, mas a pintura está um bocadinho suja e eventualmente poderá estar escondida pelo verdete no canto inferior esquerdo.
 
 
Mostrei esta pintura aos meus amigos o Joaquim Caetano, a Maria João Vilhena e o Anísio Franco, que foram de opinião, que esta pinturinha teria sido executada no século XVII, provavelmente em Espanha, por um pintor indeterminado da escola de Sevilha e que representará efectivamente Catarina de Alexandria.
 
 
 
Chamaram-me também a atenção para o entrelaçado de pérolas que adorna o cabelo da Santa, que é muito semelhante aos que foram usados por Josefa de Óbidos, na gravura datada de 1646, representando Santa Catarina, bem como no casamento místico de Santa Catarina, da colecção do Museu Nacional de Arte Antiga, inv. 197.
 
O casamento místico de Santa Catarina da col. do MNAA. Repare-se que o entrelaçado de pérolas no cabelo da santa é semelhante ao da minha pintura 
 
No verso deste cobre há uma legenda manuscrita, que eu ainda tive esperança que fosse o nome do pintor. Enfim, seria muito mais interessante se a minha Santa Catarina tivesse um autor. Contudo, a Maria João Vilhena, que é uma paleógrafa desenvolta, leu imediatamente a dita anotação e o que está lá escrito é o seguinte último figurado. Portanto, a legenda manuscrita não se reporta a um autor, mas provavelmente a uma etapa da criação artística. Talvez este pequeno cobre fosse um estudo, para uma composição maior, enfim, só Deus sabe.
Último figurado
Em todo o caso esta Catarina de Alexandria, fica muito bem nas paredes da minha casa, recordando-me sempre aquela cantinela, que ouvi pela primeira vez por volta de 1968, A santa Catarina, prelim perlim pépé, Era filha do rei…
 
 
Alguma bibliografia e links consultados:
 
Josefa de Óbidos e a invenção do barroco português / coord. científica Anísio Franco, António Filipe Pimentel, Joaquim Oliveira Caetano e José Alberto Seabra de Carvalho. - Lisboa : Museu Nacional de Arte Antiga : INCM, 2015.
 
 

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Dez anos de velharias do luís



No dia 30 de Setembro de 2009 iniciei este blog, com um post apresentado uma bonita terrina de faiança do Norte, de que hoje, passados 10 anos, ainda não sei quem é o fabricante. Aliás, comecei o blog na esperança de encontrar alguém do outro lado do monitor, que me ajudasse a esclarecer as minhas dúvidas sobre a faiança portuguesa, que na altura já coleccionava. Na verdade, aconteceu precisamente o contrário e o blog foi uma espécie de motor de arranque para começar a ler sobre faiança e porcelana e a visitar museus com colecções de cerâmica e aprender sobre o assunto por mim próprio. Mas como sou um homem com interesses muito diversificados, rapidamente comecei a escrever sobre história da família, gravura, fotografia, mobiliário, caixas de jóias, embalagens, esculturas, ferragachos, espelhos, azulejos, árvores centenárias e sei lá que mais.



Embora por vezes experimente uma certa dificuldade em arranjar assuntos novos, não há dúvida que esta obrigação de escrever regularmente um blog, exercita a minha criatividade e lá vou tirando da manga mais um tema para um post ou então volto atrás e escrevo sobre a peças que já mostrei e sobre as quais descobri elementos novos. Enfim, acabo por me divertir muito com tudo isto e acrescentar a minha cultura.

Bem sei que os blogs passaram de moda e hoje todos estão no facebook, no Twitter, no Tumblr e sabe Deus aonde mais, mas este formato do blog serve muito bem o meus intuitos, que é a produção de pequenos textos fáceis de ler no momento de pausa do emprego ou ao final do dia, quando já não há paciência para ler grandes testamentos e intercalados. São também textos intercalados com imagens agradáveis de objectos antigos, que pretendem distrair o leitor de um quotidiano agressivo e cinzento.

As lágrimas de uma Santa de Roca
Correndo o risco de parecer uma Miss Universo a discursar no momento da sua eleição, naquele momento em que chora e sorri ao mesmo, acenado ao público, queria agradecer a atenção dispensada a todos os que me seguem, aqui ou no facebook, aos que comentam ou ainda aqueles, que aqui vem parar aos trambolhões, empurrados por uma pesquisa no Google. Sinto um grande empatia por vós pois partilhamos os mesmos interesses e na medida dos meus conhecimentos da minha escassa arte fotográfica, procurarei sempre escrever textos com alguma qualidade e utilidade, ilustrados por boas imagens.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Tinteiro em porcelana francesa

 
Como a minha casa está cada vez mais cheia de velharias, resolvi apostar numa nova política de aquisições. Compro pouco, mas quando o faço procuro adquirir peças de melhor qualidade e também um pouco mais caras.
O tinteiro e o areeiro
 
 
O orifício para arrumar a pluma ou pena com que se escrevia
Apaixonei-me por este tinteiro em porcelana, que representa um pastor galante e a sua ovelha, modelados com grande perfeição. Claro, nenhum pastor apascenta as suas ovelhas de meias brancas, mas isso que importa, é uma cena muito ao gosto da segunda metade do século XVIII, no tempo em que a rainha Maria Antonieta e o seu círculo íntimo fingiam que eram camponeses e pastores numa aldeia de opereta, construída nos jardins de Versalhes, o Hameau de la Reine
O galante pastor ostenta uma meia branca
Naturalmente, que calculei logo que este tinteiro não fosse uma peça autêntica do século XVIII, mas antes o produto de um desses revivalismos do século XIX, quando os artistas copiavam e adaptavam todos os estilos dos séculos anteriores e proliferam nas artes decorativas o neogótico, o neoegípicio, o neo Luís XVI ou ainda o neorrenascença.
O verso do tinteiro. Há qualquer coisa no topo que não consigo perceber se será o resto de uma etiqueta autocolante ou uma verdadeira marca
 
Como tinteiro não está marcado pensei no início que fosse alemão, pois ao longo do século XIX os alemães mantiveram a tradição das figuras de Meissen e fabricaram milhares de pastoras galantes, damas de corte ou simples bonequinhos em biscuit. Contudo, os dourados na base pareceram-me mais ao gosto da porcelana francesa e há também uma certa sobriedade na composição. Fiz umas quantas pesquisas na net nesse sentido e encontrei alguns tinteiros com figurinhas de porcelana, também ao gosto do século XVIII e atribuídos a fábricas de porcelana francesa da cidade de Paris, na segunda metade do século XVIII.
Tinteiro Porcelana de Paris. À venda em https://www.onlineantiques.net/listing/690940100/beautiful-rare-late-18thearly-19th
Fui mais longe na minha pesquisa e consultei duas obras de Régine de Plinval de Guillebon, L'exotisme de Jacob Petit - Paris : Art de France, 1963. Separata de "Art de France", No. 3, 1963 e Porcelaine de Paris: 1770-1850 . - Paris : Vilo ; Fribourg : Office du Livre, [cop. 1972], que me ajudaram a esclarecer este assunto. Esta especialista de porcelana de Paris, explica que a partir dos anos 30 do século XIX, houve uma tendência entre os fabricantes desta cidade, iniciada por Jacob Petit, de copiar as pequenas estatuetas de Meissen, produzidas no século anterior, que eram puramente decorativas e transforma-las em objectos mais utilitários, como caixas de tabaco, fosforeiras, frascos ou tinteiros. Segundo as palavras desta autora os tinteiros misturavam elementos de biscuit e porcelana pintada de dourado.

Enfim, parece-me que este tinteiro será uma produção de um qualquer mestre de porcelana da cidade de Paris, do segundo quartel do século XIX, mas naturalmente não tenho a certeza. Em todo o caso, é uma peça com uma manufactura requintada.
 
 
 
Bibliografia e links consultados:
 
Plinval de Guillebon, Régine de
 
L'exotisme de Jacob Petit - Paris : Art de France, 1963. Separata de "Art de France", No. 3, 1963 e
 
Porcelaine de Paris: 1770-1850 . - Paris : Vilo ; Fribourg : Office du Livre, [cop. 1972],
 

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Por Bragança: as margens do Rio Fervença


Bragança é uma cidade pela qual tenho uma ligação forte. O meu pai passou lá a sua adolescência e desde pequeno ouvi da sua boca histórias e descrições daquela terra, que talvez seja a mais periférica e longínqua das cidades portuguesas do continente. Igualmente, quando estava de férias em Vinhais, todos os anos havia um passeio até Bragança normalmente conduzido pelo meu tio Chico, que agarrava em nós, a miudagem toda e metia-nos no Saab até aquela cidade e visitávamos a “domus municipalis”, o castelo e ainda o Museu Abade de Baçal.

Nos últimos quarenta anos, a cidade cresceu muito. Foram rasgadas novas avenidas e construídos muitos prédios e vivendas, mas tudo aquilo é feio e tem um certo ar de subúrbio mal arranjado. O centro histórico foi ficando esquecido e talvez por essa razão conservou-se razoavelmente, pois em nome do progresso, ninguém se lembrou de lá construir prédios com 10 andares, nem agências bancárias de arquitectura espalhafatosa. Hoje, que já há uma maior consciência do valor do património, a Câmara Municipal de Bragança tem vindo a promover a reabilitação do Centro histórico, que são basicamente duas ruas paralelas, correndo da praça da Sé até ao Castelo.
 

Logo abaixo da praça principal de Bragança, existe um jardim público, daqueles bonitos, com um coreto e canteiros desenhados à régua e esquadro, que confina com o rio Fervença, que não há muito tempo era um caneiro imundo, onde esgotos da cidade desaguavam. Para minha surpresa, o rio foi inteiramente despoluído e à sua volta criaram-se passeios pedestres, com bancos de jardim, aproveitando o arvoredo já existente. O resultado é muito agradável, pois ao longo de uma extensão muito grande, julgo que mais de um quilómetro ou mais, pode-se passear ou andar de bicicleta junto às margens do Fervença, que é agora um rio lindo, que corre cheio força, com cascatas naturais e ladeados de moinhos, que fizeram o meu encanto. Um deles foi recuperado, o outro ainda está ainda em muito mau estado, mas espero que quando o restaurarem, não o arranjem demais e deixem-no com um certo ar de ruína romântica.
 
 

Mas esse passeio ao longo das margens do rio Fervença também é bonito pelas vistas que podemos desfrutar do velho burgo brigantino. Seriam até vistas de postal ilustrado, se uma casa medonha dos anos 70/80 não estivesse cravada na encosta do lado direito do Castelo. Depois das férias, quando cheguei a casa e abri as fotografias no meu computador, apeteceu-me ser um ditador feroz e mandar implodir aquela casa ou pelos menos saber o suficiente de edição de imagens para apagar aquela casa da fotografia.
 
A casa estraga o aquilo que seria um belo postal ilustrado, onde além do castelo e do casario antigo de Bragança não falta sequer o típico pombal do Nordeste transmontano
 
Ao olhar para esta fotografia não consigo deixar de ser moralista e pensar que por todo o País autoriza-se a demolição de casas antigas, mas que raramente se manda destruir aberrações arquitectónicas, como esta casa nova, que estraga irremediavelmente uma paisagem histórica. Bem entendido, imagino que quem mandou erguer esta casa, fê-lo com o dinheiro de uma vida de trabalho em França, mas quem autorizou a sua construção. cometeu um acto criminoso.
 
Apetece-me ser um ditador feroz e mandar implodir a casa assinalada na seta ou pelos menos saber o suficiente de edição de imagens para apagar aquela casa da fotografia.