Se houver algum habitante de Soure que souber mais esta igrejinha, agradeço informações
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Capelinha perto de Soure
Se houver algum habitante de Soure que souber mais esta igrejinha, agradeço informações
Prato de faiança da fábrica Massarelos: algumas explicações sobre as iniciais C&W
Não é muito antigo. A marca, segundo o Dicionário de marcas de faiança/ Filomena Simas, Sónia Isidro. – Lisboa: Estar Editora, 1996, denota que terá sido produzido entre 1912/1920.
Confesso que esta marca me intrigou um pouco, pois entre o medalhão coroado aparecem as iniciais C e W. No início, pensei tratar-se das iniciais do artista checo Wenceslau Cifka (1811 - -1884), que chegou a Portugal por ocasião do casamento de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha com a Rainha D. Maria II, como uma espécie de conselheiro de arte. Cifka colaborou com as fábricas de faiança Constância e de Sacavém e pensei por momentos que também tivesse realizado desenhos para Massarelos. Mas, resolvi ir outra vez à estante buscar o Itinerário da Faiança do Porto e Gaia. – Lisboa;: IPM, 2001, uma pequena bíblia para a louça nortenha e descobri que a partir de 1912 a Fábrica de Massarelos passou para as mãos de sócios ingleses - Archibald Jamel Wal e mulher e Charles F. Chambers e seu filho – que formaram a firma Chambers & Wall. Em suma C & W são as iniciais de Chambers & Wall
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Chávena com flores de meados do século XIX da Vista Alegre(?)
A Chávena não está marcada, pois muitas vezes nos serviços de chá ou café só punham os carimbos da Fábrica nalgumas peças, por exemplo no bule ou na Cafeteira. Contudo, o formato e a decoração parecem-me muito característicos da Vista Alegre, do chamado terceiro período, entre 1853 e 1869, em que o francês Gustave Fortier impôs um estilo muito francês, próximo de Sêvres.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
D. Luís António de Sousa Botelho Mourão e a capitania de S. Paulo no Brasil
Luís António de Sousa Botelho Mourão (1722 —1798) pertencia à melhor nobreza portuguesa, foi o quarto morgado de Mateus e o responsável por terminar o edifício mais emblemático de toda arquitectura solarenga portuguesa, o célebre palácio de Mateus.
Em 1765 foi enviado pelo Marquês de Pombal para o Brasil para reorganizar a Capitania de S. Paulo onde desenvolveu um trabalho absolutamente notável. Durante seus dez anos de governo (1765-1775), consolidou a autonomia da Capitania e fundou pelo menos vinte cidades, além de ajudar a estabelecer os limites geográficos das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que mais tarde, em linhas gerais, resultaram nos limites dos actuais estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
D. Luís António de Sousa Botelho Mourão regressou a Portugal em 1775 e voltou aos seus domínios de Mateus, perto de Vila Real, que ao que parece, foram esplendidamente administrados na sua ausência pela sua mulher, Leonor Ana Luísa José de Portugal (1722-1806).
Retrato de Luís António de Sousa Botelho Mourão, Col. da Casa de Mateus
O D. Luís António foi um dos muitos homens brilhantes com que o Marquês de Pombal se rodeou durante o seu consulado e julgo que este frontispício deveria ser a primeira página de um relatório de prestígio, enviado do Brasil para o marquês ou para o próprio rei, D. José I e destinado a impressionar.
No entanto apesar desta carreira brilhante, o meu homónimo Luís António teve um fim muito triste, pois foi envenenado pela sua filha bastarda D. Teresa de Jesus Maciel, que foi protagonista de intrigas e roubos, conforme li na página da Casa de Mateus
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Ay Marieke Marieke je t'aimais tant
O meu pai contava muitas vezes o gosto que a senhora tinha por máquinas e maquinetas novas de cozinha, que comprava no melhor estabelecimento comercial de Chaves, os Mochos.
Já muito mais tarde, quando o meu pai se reformou e se começou a dedicar ao passado familiar, descobriu com horror, que nem sabia o nome próprio da tia que fazia a sua sobremesa preferida. Com a sua paciência toda, pôs-se em marcha, pesquisou, perguntou e leu e aos poucos a história da Tia Marica foi reaparecendo e ganhando vida.
A minha irmã herdou um rolo revestido a veludo vermelho muito bonito, que servia para a minha bisavô Aninhas transportar as pautas de música.
Segundo a lenda familiar, que o meu pai conta, a Marica ter-se-á apaixonado por um rapaz pobre, o que enfim, estragava completamente os planos da família. O moço terá então partido para a África, onde depois de muita labuta, juntou um bom pé de meia e voltou a Chaves para pedir a mão da sua apaixonada. Pediu para ser recebido pelos pais da jovem, confessou os seus sentimentos arrebatados e pediu-lhes a mão da filha. A Marica foi então chamada à presença dos pais e provavelmente temerosa de futuros castigos, respondeu ao pai:
- Deve haver alguma confusão, pois não conheço este senhor de lado nenhum.
Perante a resposta da sua amada, cuja imagem tinha servido para suportar o exílio em terras angolanas, o jovem retorquiu
- Pois se a Senhora diz que não me conhece, eu também não a conheço. Confesso que me enganei.
Com o coração destroçado, o rapazito abandonou Chaves, partiu novamente para África e quando voltou era o célebre dignitário da Igreja, Monsenhor Alves da Cunha. A pobre tia Marica ficou para tia, assistindo ao casamento da irmã, a minha bisavó, que essa sim, satisfez os planos dos pais e fez um belo casamento com um fidalgo, proprietário de muitas terras, o meu bisavô, José Maria Ferreira Montalvão
Depois de algumas pesquisas na Internet sobre o Monsenhor Alves da Cunha, percebi que foi um homem que deixou imensas lendas por todos os sítios onde passava. Ainda hoje, em Luanda, volvidos 63 anos da sua morte e depois de os portugueses terem abandonado à cidade, continuam a correr entre a população histórias mais menos fantásticas acerca dele. Talvez esta lenda da paixão pela Marica seja mais um testemunho, que ficou da vida de um homem excepcional.
O Monsenhor Manuel Alves da Cunha nasceu em Chaves a 8 de Junho de 1872 e era seis anos mais velho que a Marica. Sabemos que fez o Bacharelato em Teologia na Universidade de Coimbra em 1894 e presumivelmente a paixão pela Marica terá decorrido antes da sua ida para a Universidade, por volta de 1890 ou 1891. Não há qualquer referência a jornadas para o Ultramar nesse período, o que me leva a supor que a viagem a África para ganhar fortuna é apenas uma lenda, e que, na realidade o que fez foi deslocar-se até Coimbra, para conseguir um diploma. Em 1897, com 25 anos regressou a Chaves ainda como leigo para desempenhar as funções de professor primário e deve ter sido por volta desses anos, agora já com uma posição social mais aceitável, que se dirigiu a casa dos pais da Tia Marica a pedir-lhe a mão.
Então, talvez em consequência do desgosto amoroso provocado pela falta de coragem da pobre Marica, o Monsenhor Alves da Cunha ordena-se sacerdote em 22-9-1900 e em 1901 parte para Angola onde fará carreira até ao final da sua vida, em 1947. Em Luanda desenvolveu uma actividade notável não só na diocese, mas sobretudo como vereador municipal. Foi responsável pela construção do matadouro da cidade, criou estruturas para a municipalização das águas, fossas cépticas, equilibrou as finanças e criou códigos, regulamentos, posturas e emolumentos. Intelectualmente foi também um homem prolixo. Escreveu muito nos jornais e publicou ensaios sobre história de Angola.
A sua obra mais relevante talvez tenha sido na educação, com a criação do Liceu Salvador Correia de Luanda em 1919, do qual foi seu primeiro reitor.
Lutou também contra a escravatura encapotada, que ainda existia em Angola nesse tempo e talvez tenha sido o somatório de todas essas boas acções que fez com estátua dele em Luanda, tenha sido dos poucas construídas durante o domínio português, que não foram apeadas em 1975. Mais, os Angolanos até mantiveram uma rua com o seu nome.
Durante este período, a tia Marica também não esteve parada. Fundou e dirigiu o patronato de S. José em Vilar de Nantes, que acolhia raparigas pobres, instituição que ainda hoje existe e cujo funcionamento é assegurado pelas Servas Franciscanas Reparadoras
O Monsenhor Alves da Cunha voltou a metrópole duas vezes, em 1926 para colaborar no estatuto missionário, e em 1941 quando é posto na “prateleira” por um período de 2 anos. É provável que num desses período se tenha deslocado a sua terra natal, Chaves, e proferido uma missa com os seus trajes eclesiásticos de Monsenhor, à qual assistiu a Marica, agora uma Senhora madura e devota, e talvez durante a comunhão ele se tenha sentido angustiado por ser tão velho e por a ver tão acabada e tenha experimentado um sentimento, algo semelhante ao que Jacques Brel demonstrava quanto cantava "Ay Marieke Marieke je t'aimais tant"
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Mais uma imitação da série "País" de Miragaia
O meu amigo Manel, que é também membro honorário deste Clube dos amantes da faiança, que se tem vindo a desenvolver informalmente neste blog, enviou-me um e-mail com algumas fotografias das peças dele, e entre as quais estava este prato magnífico, que é uma também uma recriação da série País, que a fábrica Miragaia celebrizou entre 1822 e 1850. Lá encontramos o casario com um edifício de cúpula no centro, envolto em arvoredo e a aba com bordadura de flores.
No entanto, em todos as obras, que o Manel consultou nunca encontrou estas três letras associadas a Miragaia. E acrescente-se que o catálogo Fábrica de Louça de Miragaia. Lisboa: IMC, 2008 tem um levantamento muito completo de marcas.
De facto o estilo é diferente das peças série País com marcas reconhecidas de Miragaia, conforme se pode ver na imagem de baixo..
Enfim, mais uma identificação por resolver
Travessa da série País de Miragaia do Museu Nacional de Soares dos Reis, inv 103 Cer
O cantão popular
Os pintores que fizeram estas azeitoneiras não viram peças originais do padrão do salgueiro e muito menos conheciam a história nele contada. Copiaram outras cópias do do Willow Pattern, mas à sua maneira e fizeram uma cara, em que a casa do mandarim é o nariz e a água e as nuvens são os olhos. À volta, traçaram um rendilhado que sugere um cestinho de verga.
Estes imaginativos ceramistas queriam proporcionar aos seus fregueses a sugestão, que depois de comer as azeitonas do cestinho, encontrariam uma cara a espreita-los.
Claro, as peças não estão marcadas e é quase impossível saber quem as produziu.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
Faiança: as imitações de Miragaia
A travessinha é uma imitação ingénua da célebre decoração designada por tipo “País”, fabricada por Miragaia entre 1822 e 1850 (ver foto em baixo). Esta decoração representa uma paisagem com edifícios sendo o central coberto por uma cúpula. O conjunto está envolto em arvoredo. Os pratos e travessas têm sempre uma aba preenchida por uma cercadura de flores. A maioria desta loiça é azul e esta cor tornou-se de tal maneira sinónima da produção de Miragaia, que lhe são atribuídas todas as peças com outro tipo de paisagens estampilhadas a azul. No excelente catálogo a “Fábrica de Louça de Miragaia. – Lisboa: IMC, 2008”, Margarida Rebelo Correia caracteriza e explica muito bem esta decoração, bem como a sua origem.
Prato Miragaia, decoração País do Museu Nacional de Soares dos Reis, inv. 1118 Cer
Prato da Herculaneum Pottery, motivo View in fort Madura, ca 1815
As três fotografias destas peças de faiança recordam-me a alegoria da caverna de Platão. Temos o arquétipo, que é o prato inglês, depois uma sombra desse arquétipo, o prato de Miragaia e finalmente uma sombra da sombra, a minha pobre travessinha. Na alegoria de Platão, as sombras são qualquer coisa que perdeu a qualidade do original. Na faiança, temos antes recriações. As cópias reinventam o motivo e transformam-no em qualquer coisa de novo.
Pormenor de terrina da Herculaneum Pottery, que pertence ao meu amigo Manel (Grrr!! que inveja!!!)
Aspecto geral da terrina da Herculaneum Pottery, do meu amigo Manel
Ver mais sobre imitações de Miragaia
A google books disponibiliza parte dum catálogo sobre a fábrica The Herculaneum pottery: Liverpool's forgotten glory/Por Peter Hyland. – Liverpoop University Press, 2005, http://books.google.pt/books?id=LUqlbFnUaeYC&printsec=frontcover#v=onepage&q=&f=false
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Solar dos Montalvões em Outeiro Seco: a higiene
Encontrei num livrinho, que comprei em Paris, Reconnaître les meubles de style / P. M. Favelac. – Paris. Ch Massin, s. d., il. 189, um móvel muito semelhante a este e cuja imagem reproduzo. Claro, a minha mesa é uma reprodução portuguesa dos móveis franceses que eram o supra sumo do bom gosto na Europa de então.
Actualmente, esta mesinha serve para colocar a televisão, o leitor de DVD, livros e ainda fotografias de família, enfim, uma tralha sem fim, que nem permite sequer que se admire a mesa ou os azulejos que estão por detrás. Contudo, a sua função original não era essa. Na realidade, ela foi uma mesa de toillete, onde se colocava uma bacia com um jarro e uma saboneteira, normalmente em esmalte ou faiança. O exemplar francês apresenta uns toalheiros. Na minha mesa, não sei onde colocariam a toalha.
Mesinhas como esta faziam parte da decoração dos quartos do Solar de Outeiro Seco e serviam para as pessoas fazerem a sua higiene diária. Aqui lavariam a cara, as mãos e eventualmente os sovacos. O banho não fazia parte dos hábitos dos transmontanos do século XIX, época em que este móvel foi realizado, até porque o Inverno nesta província é muito rigoroso e segundo o meu pai conta, durante noite, a água que se encontrava nas bacias chegava a gelar. Talvez no Verão tomassem um ou outro banho numa tina com água aquecida, mas isso seria um acontecimento excepcional. Enfim, não existia água canalizada. A Casa disponha de 2 pequenas bicas, uma no pátio interior, outra no jardinzinho e eram as pobres criadas que tinham que transportar água todos os dias para o interior.
Outra peça de mobília existente nos quartos relacionada com a higiene era a mesinha de cabeceira, cuja principal função era esconder o penico. Aliás no Solar de Outeiro Seco também não existiam propriamente casas de banho como as entendemos hoje. A casa tinha apenas dois cubículos, onde existiam uns caixotes de madeira, com um buraco, com uma tampa amovível e era aí que as pessoas defecavam (ver planta, 20 e 21). Os dejectos caiam numa das lojas existentes no andar térreo e eram provavelmente aproveitados para estrumar terras. Ainda me lembro com horror desses cubículos, mas para o século XIX nem seria muito mau. Recordo-me que há uns tempos li, que o nosso Rei D. Pedro V morreu de tifo por causa das deficientes condições de higiene do Palácio das Necessidades.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Pátio do Solar dos Montalvões de Outeiro Seco
Em idade madura, já com a casa em ruínas, entrei várias vezes no meio das ruínas em que se tornou o Solar, na esperança de voltar vislumbrar o pátio interior, de que tinha gostado tanto em miúdo. Mas, aquele espaço tornou-se um matagal denso, pejado de traves velhas caídas e silvedos e nunca consegui ver ali resquícios daquela beleza severa, que eu tinha ainda presente na memória.
Há cerca de umas semanas, passando no computador o DVD com os dois filmes do Solar dos Montalvões, feitos pelo meu pai na década de 60, consegui capturar uma série de fotografias do pátio e reapareceram as imagens da minha infância, sem nitidez é certo, mas com suficientemente clareza para me emocionarem. O filme é demasiado rápido para apreciarmos pormenores
Nestas imagens é bem visível a escadaria em granito decorada com as volutas barrocas tão típicas dos solares portugueses e o patamar final, onde se vê o local onde partiria uma segunda escadaria, que esteve projectada para dar serventia ao andar nobre do Solar. É também possível ver a porta emoldurada com um belo trabalho barroco de cantaria, onde essas escadas desembocariam. Na planta da casa assinalei a tracejado esta escada projectada.
Do lado oposto, a esta escadaria existia uma varanda em madeira, típica de todas as casas transmontanas, fossem elas pobres os ricas.
Consegui também extrair uma fotografia do passadiço pela qual se acedia ao pátio de honra da casa, quando se chegava pela entrada principal da casa. Na porta que dava para a rua, esteve em tempos colocada uma aldraba, que dava direito de asilo, a quem se agarrasse a ela. As pessoas mais velhas que o meu pai e a minha avó conheceram ainda se recordavam de ouvir falar de um senhor idoso, que vivia na casa e que na sua juventude se tinha se tinha acolhido no solar, refugiado da justiça.
O Solar e a propriedade constituiriam provavelmente aquilo que se designava no Antigo regime por Honra, isto é, um domínio em que as funções administrativas, judiciais e financeiras estavam nas mãos de um Senhor. Nas honras, os funcionários régios não podiam penetrar e o Senhor podia administrar a justiça, com excepção das penas capitais.
Esses direitos feudais, que no século XVIII já estavam quase em extinção, terminaram definitivamente em 1834, com a legislação de Mouzinho da Silveira e este Senhor, que referimos há pouco, terá chegado ao Solar pouco antes dessa data e terá aí vivido durante o século XIX, talvez até 1860 ou 1870, numa época em que a situação dele já era anormal. Assim o creio, porque se a existência dum foragido à justiça correspondesse a prática corriqueira, ninguém teria guardado memória dessa ocorrência
O meu pai lembra-se bem dessa aldraba, que seria uma peça bonita, com a forma de um leão (talvez um mascarão) e no tempo do dele, já estaria colocada no "museu", que existia na casa.