sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Férias


Vou de férias para o campo. Deixo-vos durante 15 dias com o “Milho ao Sol" do eterno Malhoa, um pintor que sabia retratar a luz intensa de Portugal.

Abraços
LuísY

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Painéis de Azulejos no Vimieiro

Nunca nos deixa de surpreender a versatilidade de soluções decorativas que o azulejo permitiu ao longo dos tempos no nosso País, nem a criatividade dos mestres que os colocavam nas paredes. Na igreja matriz do Vimieiro, uma terra alentejana entre Arraiolos e Estremoz, encontrei na fachada da Igreja matriz esta disposição original de azulejos em forma de cruz.


Normalmente estes azulejos seiscentistas de padronagem dita de “maçaroca são colocados em forma de painel, como podemos ver neste exemplar da Santa Casa da Misericórdia de Santarém (Imagem superior), mas aqui, no Vimieiro, algum iluminado, talvez o padre ou o mestre-de-obras, teve a ideia de optar por uma disposição em forma de cruz, provavelmente para aproveitar algumas sobras, que não chegavam para uma composição clássica e o resultado é bonito e surpreendente.


Umas ruelas mais abaixo, na mesma vila do Vimieiro, encontrei um painel de alminhas do purgatório do século XVIII, composto por quatro azulejos. É menos ingénuo que aquele outro apresentado no meu post de 16 de Julho de 2010 e que estava numa casa de Óbidos. O desenho é mais elaborado, repare-se por exemplo nas sombras dos braços que dão a ideia de volume. Mas, quer um painel quer outro encarnam bem toda a graça da azulejaria portuguesa do século XVIII.

Ver mais alminhas em http://velhariasdoluis.blogspot.com/2010/10/painel-quinhentista-de-azulejos-e.html

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cães e gatos em Arraiolos


Embora eu seja um homem com mãe e pai transmontanos e sinta sempre uma nostalgia daqueles horizontes montanhosos, tenho que reconhecer que é no Alentejo e nos Açores que o património arquitectónico tradicional está mais bem conservado. Não só as cidades mantêm os centros históricos cuidados, como também as próprias aldeias preservam melhor o casario antigo. As pessoas parecem estar mais atentas em conservar pequenos pormenores das casas, que emprestam uma graça especial à arquitectura.

Andei pelo Alentejo há cerca de 15 dias e descobri dois pormenores encantadores, que resolvi partilhar com os seguidores deste blog, bem como os outros, que me lêem, mas não tem pachorra para comentar.

Numa ruela antiga do centro de Arraiolos, encontrei esta porta com um puxador muito curioso, em forma de um bicho, talvez um cão ou um gato. Normalmente, os cães estão mais associados à função de guarda das casas e é natural que seja esse o bicho aqui representado.

No entanto há sempre quem prefira os gatos aos cães e há gente excêntrica, que gosta de emprestar um toque pessoal a tudo aquilo que está sua volta e poderá ter escolhido um felino para batente da porta.

Pessoalmente também escolheria um gato, mas independentemente do que for, a maçaneta é realmente muito bonita.
Ao lado de Arraiolos, numa aldeiazinha simpática reparei noutro pormenor curioso. No alto de uma chaminé estavam dois cães de barro a guardar uma casa. Nunca tinha visto uma coisa assim, mas tem muita graça.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Fonte em alabastro com pássaros proveniente do solar de Outeiro Seco

Há bem pouco tempo, o meu pai dividiu entre os irmãos algumas coisas, que ainda restavam quer do Solar de Outeiro Seco, quer da casa da minha avô paterna em Chaves. Fiquei com este centro de mesa em alabastro, decorado com folhas de parra e pássaros e que em miúdo sempre me fascinou, quando visitava o solar. Esse fascínio não tinha a ver com razões artísticas, mas simplesmente porque eu queria era mexer e brincar com os passarinhos daquela fonte. Há uns tempos, tinha voltado a pensar nessa fonte, quando a redescobri num filme, que o meu pai fez do interior do Solar de Outeiro Seco, em meados dos 60, quando este ainda estava mobilado. Curiosamente, nesse filme a fonte encontrava-se cima duma mesa bufete, que me pertence actualmente.
Talvez porque estou com um gosto cada vez mais barroco, ou porque desejava devolver ao meu bufete o centro de mesa que o acompanhou durante décadas, ou pura simplesmente porque desejava finalmente poder tocar e acariciar nos passarinhos sem ninguém a repreender-me, escolhi-a e trouxe-a para a minha casa.

Pu-la debaixo do duche, lavei-a com uma esponjinha e detergente, colei as peças que faltavam aos passarinhos e encaixei-os nos respectivos pratos. Limpa, a peça apareceu magnífica, com aquele brilho translúcido tão típico do alabastro.

No entanto fiquei muito triste porque faltavam duas aves. Como sabia que o meu pai, tinha tirado as pombas de alabastro do armazém, guardando-as num armário na sua casa, telefonei-lhe para verificar se não teriam lá ficado duas delas esquecidas. Como o meu pai me deu uma resposta negativa, preparava-me para voltar para o armazém e revirar os caixotes de papeis velhos, cadeiras partidas, esquentadores descaroçados e brinquedos antigos, até encontrar os preciosos passarinhos, quando resolvi consultar o inventário feito pela minha avô dos bens do Solar de Outeiro Seco.

Na página referente à Sala de visitas lá encontrei a referência à mesa de Pau Preto, nome que no Norte dão ao Pau Santo e ao centro de mesa em alabastro e para meu grande alívio, descobri que nos anos 60 já só tinha sete pombas. Portanto, há muitos, mas muitos anos, uma criada abrutalhada ou um menino travesso tinham derrubado o centro de mesa e partido duas das aves.
Relativamente à forma como esta peça entrou na família não tenho qualquer informação. Talvez tenha sido uma prenda valiosa de casamento, comprada no Porto ou em Lisboa ou talvez alguém da família tenha feito o chamado grand tour e tenha trazido esta peça vistosa do estrangeiro. Na verdade, estes ornamentos em alabastro foram executados em Itália entre 1860 e 1910, na província da Toscânia, nas cidades de Castellina, Pisa, Florença e Livorno. Esculpidas à mão, estas peças foram criadas e produzidas por artificies italianos e destinavam-se sobretudo aos turistas, que as compravam como souvenirs típicos da Toscânia e levavam-nas para as suas casas em Londres, Paris ou Nova Iorque, onde eram colocadas em cima das chaminés, mesas de sala de jantar e gabinetes de curiosidades (1). Correspondiam ao gosto muito típico da segunda metade do século XIX, princípios do século XX, em que se queriam interiores opulentos e super ornamentados à moda de um estilo, que em Inglaterra se designou por Victoriano e em França por Napoleão III ou Segundo Império.

A decoração das parras e pombas é inspirada nos sarcofágos dos primeiros tempos do Cristianismo. As pombas, bicando os cachos de uvas, simbolisam os fieis alimentando-se do vinho eucarístico. Os vestigíos arqueológicos abundavam em Itália e certamente serviram de inspiração aos artistas toscanos para a decoração destas peças.

Ainda hoje na região de Pisa, em Volterra, continua-se a explorar minas de Alabastro e Florença permanece o principal centro de comercialização de produtos artísticos feitos neste material.
Encontrei peças muito semelhantes a estas em sites de antiguidades americanos (os melhores do mundo, pois aquela gente coloca tudo on line), os chamados bird baths, bem como no blog duma senhora americana, Delores Arabian, que fez reportagem fotográfica duma feira de antiguidades no Texas e num dos stands fotografou uma mesa cheia de alabastros, saídos certamente da mesma oficina que o meu centro de mesa

(1) Alyce Hand Benham em http://www.pressofatlanticcity.com/life/article_fbc843c6-8106-50f7-bcca-9866a9d445ad.html

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Azulejos da Lusitânia no Largo da Anunciada


Em Lisboa, não é preciso andar muito, investigar em arquivos ou frequentar bibliotecas eruditas, para encontrar azulejaria de todos os períodos e géneros. Os azulejos espreitam em todas as esquinas. Já há uns tempos, reparei num painel de azulejos num cafezinho no Largo da Anunciada, ali quase em frente ao elevador do Lavra, que está assinado por um tal senhor A. Costa, da Fábrica da Lusitânia.

Segundo informação do site do Museu Nacional do Azulejo, http://mnazulejo.imc-ip.pt/ , este A. Costa, deverá ser certamente o António Costa, que é juntamente com Jorge Colaço e Gabriel Constante, um dos artistas residentes da Fábrica de Cerâmica Lusitânia. Segundo a página do mesmo Museu, nesta fábrica foram produzidos grandes conjuntos monumentais em azulejo, tais como os revestimentos exteriores das Igrejas dos Congregados e de Santo Ildefonso, no Porto, e das estações da CP de Vila Franca de Xira, Évora, S Bento no Porto e Beja, da autoria de Jorge Colaço, que aí trabalhou após ter abandonado a Fábrica de Sacavém.

O pintor António Costa terá introduzido a técnica da tubagem nos azulejos relevados de influência Arte Nova.

Este painel ao gosto naturalista e bucólico, com o camponês e as suas vaquinhas, faz parte de um novo género que invadiu as ruas Lisboetas e portuguesas nos finais do século XIX, princípios do século XX, o azulejo publicitário. Em vez de colocarem grandes cartazes como hoje em dia, as fábricas, leitarias, farmácias, garagens e padarias encomendavam bonitos painéis de azulejos para as fachadas dos seus estabelecimentos, de forma a divulgarem a sua existência

Azulejos: continua a arqueologia dos contentores das obras

Os contentores das obras da velha Baixa Pombalina continuam uma fonte inesgotável de surpresas para os amantes da azulejaria, que não tem vergonha de esgravatar no lixo Na passada semana apanhei este azulejo muito simples, decorado apenas com uma flor, mas cheio de encanto. Confesso que nunca tinha visto este motivo em azulejos, apenas na loiça de faiança.

Nos finais do século XVIII e princípios do Século XIX, quase todas as fábricas portuguesas produziram louça num motivo chamado flor do morangueiro, inspirado na faiança francesa de Rouen. Encontrei na pág. 37 do catálogo da exposição Fábrica de louça de Miragaia. – Lisboa: IMC, 2009 um prato de influência de Ruão, do primeiro período de laboração (1775-1822), com uma florzinha semelhante à do meu azulejo. É pouco provável que este azulejo seja Miragaia, embora essa fábrica do Porto tenha também produzido azulejaria. O mais certo é tratar-se de uma peça do Rato ou de outra qualquer manufactura Lisboeta, pois os motivos à moda de Rouen eram usados por todos os fabricantes da época.

Agora terei que decidir em que parede irei encastoar esta encantadora florzinha Ruanesca