Já há muito tempo que ando para escrever um post sobre esta terrina ou melhor sopeira, que o meu amigo Manel comprou já há alguns anos, pois nunca consegui descobrir nada de muito definitivo acerca dela. Mas é tão encantadora, que ainda assim resolvi apresenta-la na mesma e passar a escrito aqui no blog umas quantas impressões pessoais.
É uma faiança algo rude, com um certo ar ingénuo e as peças com essas características parecem-nos sempre mais antigas do que aquilo que realmente são. O Manel e eu chegámos a pensar, que fosse até do século XVIII mas na verdade esta terrina aproximar-se das faianças produzidas em Alcobaça por José dos Reis (1875-1900) e Manuel Ferreira da Bernarda Júnior (1900 e 1930 ). O esponjado usado para definir o chão, o casario e a forma de tratar as árvores é muito semelhante aos desta fábricas.
Peças de José dos Reis e Manuel Ferreira da Bernarda: a continuidade. Foto retirada de Cem anos de louça Alcobaça / Jorge Pereira Sampaio e Luís Peres Pereira. [S. l.]: J.P.S. Sampaio, 2008 |
Com efeito, a 10 de Julho de 2014 apresentei aqui no blog uma bacia, que atribuí a Alcobaça, que não anda muito longe desta sopeira.
Mas há também que considerar a hipótese que esta terrina possa ser um fabrico coimbrão. António Pacheco reproduziu na sua obra Louça tradicional de Coimbra: 1869-1965. Coimbra: DGPC, 2015 uma terrina da Fábrica Alfredo Pessoa e Filho, firma activa em Coimbra entre entre os últimos anos 15 anos do séc. XIX e a primeira década do século XX, com o mesmo ar de família da peça do meu amigo Manel.
Terrina da Fábrica Alfredo Pessoa e Filho. foto retirada de Louça tradicional de Coimbra: 1869-1965 / António Pacheco. – Coimbra: Direção-Geral do Património Cultural, 2015 |
Contudo, ao contrario das peças que vi atribuídas a José dos Reis (1875-1900) a Manuel Ferreira da Bernarda Júnior (1900 e 1930 ) ou o que conheço de Coimbra, em que o casario é representado como se fossem aqueles desenhos, que qualquer criança faz na escola, na terrina do Manel, o artista que a pintou conseguiu dar uma certa ideia de perspetiva. É como se fossemos caminhando por uma floresta e no meio do arvoredo, adivinhássemos um casario lá ao fundo. Talvez seja esta qualidade que diferencia um pouco esta sopeira de outras peças de Alcobaça e Coimbra, em que o casario é sempre representado de forma quase infantil.
Em suma, esta sopeira será uma produção de Coimbra ou Alcobaça, talvez do final do século XIX, mas não estou seguro. Posso apenas afirmar, que quem a pintou tinha sem dúvida talento e com uma grande economia de meios, conseguiu dar a ideia de perspetiva.
Alguma bibliografia:
Louça tradicional de Coimbra: 1869-1965 / António Pacheco. – Coimbra: Direção-Geral do Património Cultural, 2015
Cem anos de louça Alcobaça / Jorge Pereira Sampaio e Luís Peres Pereira. [S. l.]: J.P.S. Sampaio, 2008.