Quando visito museus arqueológicos, uma das colecções que me encanta sempre são os vidros romanos. Aqueles pequenos objectos, muitas vezes já fracturados e restaurados encantam-me pela sua delicadeza, mas também pelo que representam, a sofisticação da vida material das cidades do Império Romano, estivessem elas na Lusitânia, no Egipto, na Gália ou na Síria. Não que os romanos tivessem inventado o vidro, cujo fabrico já era conhecido na Grécia e na Fenícia, mas aperfeiçoaram a técnica de sopro e a partir do século I depois de Cristo, conseguiram produzir vidros à escala industrial em diversos pontos do Império e os vidros, de produto de luxo tornaram-se objectos ao alcance de uma bolsa média.
Lacrimatórios do Museu de Mérida. Foto de http://www.nationalgeographic.com.es |
Os vidros romanos, que mais me encantam são os mais pequenos, que serviam para conter unguentos, óleos ou perfumes, conhecidos no meio coleccionista por lacrimatórios, pois normalmente aparecem nas sepulturas, testemunhando uma crença numa vida além-túmulo.
Claro, os meus frasquinhos de vidro, são meras réplicas de vidros romanos, pois os verdadeiros não aparecem nos mercados de velharias e as peças autênticas custam fortunas nas grandes casas leiloeiras. O pequeno jarro com uma asinha foi comprado em Barcelona e o outro com um gargalo muito estreito e alto na Feira de velharias de Estremoz. São peças feitas actualmente, destinadas aos amantes dos vidros romanos e que tentam reproduzir as tonalidades, que um processo químico de degradação próprio daquele material conferiu ao longo de 18 séculos aos vidros, que hoje admiramos nos museus.
A inesquecível Siân Phillips, no papel de Lívia na série da BBC "Eu, Claudius" |
Ainda que meras réplicas, estes recipientes de vidro dispostos num canto qualquer das nossas casas despertam a nossa imaginação para outros tempos, e parece que conseguimos por momentos visualizar uma jovem escrava a verter um óleo aromático nas mãos da sua “domina” ou a temível mulher do Imperador Augusto, Lívia Drusilla, guardando um poderoso veneno no frasquinho de gargalo alto, enquanto maquinava o assassinato ou exílio de um dos familiares do marido, tudo para colocar o seu filho Tibério no primeiro lugar da lista dos sucessores de César.