Desde há muito anos que sou um comprador compulsivo de estampas. E esta que apresento hoje, é daquelas que comprei já há mais de vinte anos, mas que só há pouco consegui descobrir alguma coisa sobre a sua história.
Representa uma senhora, tendo aos seus pés um cofre cheio de moedas e ao fundo um prédio em chamas. A senhora segura um escudo com uma legenda, onde se lê Companhia de Lisboa. Pareceu-me desde logo óbvio, que esta dama em trajes greco-romanos era uma alegoria aos seguros e que a estampa terá sido recortada de alguma apólice, de um folheto anunciando uma companhia de seguros ou de um outro qualquer documento relativo à actividade seguradora.
Representa uma senhora, tendo aos seus pés um cofre cheio de moedas e ao fundo um prédio em chamas. A senhora segura um escudo com uma legenda, onde se lê Companhia de Lisboa. Pareceu-me desde logo óbvio, que esta dama em trajes greco-romanos era uma alegoria aos seguros e que a estampa terá sido recortada de alguma apólice, de um folheto anunciando uma companhia de seguros ou de um outro qualquer documento relativo à actividade seguradora.
A estampa é de pequenas dimensões |
Quanto à data, pelo estilo da grinalda que enfeita o topo da estampa e pelas fatiotas da Senhora, pareceu-me tudo muito ao gosto neoclássico das primeiras décadas do Século XIX. Lá atrás, a casa em chamas, é um típico prédio pombalino, daqueles da Baixa, que ainda estavam a ser construídos no início do século XIX, pois como toda a gente sabe, a reconstrução pombalina, prolongou-se muito além do consulado do Marquês de Pombal.
Mas, na altura, fiquei-me por aqui, entretanto divorciei-me, mudei de casa, pendurei a estampa na casa de banho, a tapar um ponto de electricidade e nunca mais pensei muito nela, até há uns dias, quando me passou pela mão o livro A companhia de Seguros Fidelidade no seu primeiro centenário: 1835-1935. – Lisboa: Fidelidade, 1935. Como deverão calcular, não é suposto, nós, os bibliotecários lermos todos os livros que catalogamos. Mas pelo menos temos que os abrir, ler na diagonal o prefácio, os sumários, os índices e folheá-los, para identificar os assuntos que tratam. Assim, perfeitamente ao acaso, na página onde abri o livro descobri uma estampa com evidentes semelhanças com a minha, também de uma Companhia Lisboa. Embora o mundo das seguradoras não seja propriamente uma área que me a apaixone, fiquei de atenas no ar e desatei a ler as primeiras páginas da obra.
Mas, na altura, fiquei-me por aqui, entretanto divorciei-me, mudei de casa, pendurei a estampa na casa de banho, a tapar um ponto de electricidade e nunca mais pensei muito nela, até há uns dias, quando me passou pela mão o livro A companhia de Seguros Fidelidade no seu primeiro centenário: 1835-1935. – Lisboa: Fidelidade, 1935. Como deverão calcular, não é suposto, nós, os bibliotecários lermos todos os livros que catalogamos. Mas pelo menos temos que os abrir, ler na diagonal o prefácio, os sumários, os índices e folheá-los, para identificar os assuntos que tratam. Assim, perfeitamente ao acaso, na página onde abri o livro descobri uma estampa com evidentes semelhanças com a minha, também de uma Companhia Lisboa. Embora o mundo das seguradoras não seja propriamente uma área que me a apaixone, fiquei de atenas no ar e desatei a ler as primeiras páginas da obra.
Estampa reproduzida na obra A companhia de Seguros Fidelidade no seu primeiro centenário: 1835-1935. – Lisboa: Fidelidade, 1935 |
Segundo esta obra, a primeira notícia da fundação de uma companhia de seguros é do ano de 1792. Nos anos sequentes vão aparecendo mais companhias, como por exemplo a Bonança, em 1808, que até há bem pouco tempo existia e depois de 1822, em data incerta a Lisboa ou Lisia, que subsistia, em 1835, no momento da Fundação da Fidelidade.
Mais tarde, por indicação do meu amigo de Outeiro Seco, o Humberto, descobri no site http://historiadoseguro.com a data exacta da Fundação da Companhia Lisboa, que foi no ano de 1819.
A Companhia Lisboa ou Lisia não durou muito mais tempo e foi em 1839, absorvida pela Fidelidade, que eliminou assim uma concorrente do mercado. A Lisboa parece que estava mais especializada na cobertura de sinistros causados pelos fogos, daí o incêndio representado na estampa, ao contrário da Fidelidade que começou a sua actividade com os seguros marítimos.
A Companhia Lisboa dedicava-se à cobertura dos estragos causados por incêndios |
Finalmente, graças também ao meu amigo Humberto, que descobriria o tumulo de Alexandre Magno, se lho pedissem, confirmei a minha impressão inicial, de que esta estampa fez parte de um documento oficial. Com efeito, foi muito provavelmente recortada de um certificado de seguro, conforme se pode ver num documento datado de 1828, passado em nome de duas senhoras, a D. Maria Madalena de Lima e D. Francisca Gutier, que cobria o risco de incêndio de uma casa na Rua Filipe de Nery, n.ºs 21 a 23.
Quanto à Lísia, que no início, pensei tratar-se do nome do impressor da estampa, afinal foi um dos nomes da companhia de Seguro.
Mais, Lísia é efectivamente o nome da Senhora, que segura o escudo. Lísia é um termo hoje caído em desuso, mas usado pelos poetas dos finais do XVIII ou inícios do XIX, como Bocage ou a Marquesa da Alorna, como sinónimo de Portugal. Bocage escreveu em 1792, um poema, Liberdade, onde estás? Quem te demora?, onde emprega precisamente a palavra Lísia, como sinónimo de Portugal, segundo li em http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/bocage.pdf.
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia
porque (triste de mim!), porque não raia
já na esfera de Lísia a tua aurora?
Mas Lísia, não era só um termo literário. Era também representada na pintura, no desenho e na gravura, como uma mulher, uma alegoria, representando Portugal, conforme se pode ver numa estampa da Biblioteca Nacional, de 1838, intitulada Lysia apresenta às quatro partes do Mundo o retrato do grande Marquez de Pombal
Em suma, esta Dama que figura na minha estampa, será afinal, Lísia, uma alegoria a Portugal.
Não encontrei muito mais informações sobre esta antiga seguradora, mas consegui datar a minha estampa com alguma segurança, entre 1819 e 1839, perceber que foi muito provavelmente recortada de um certificado de seguro, descobrir graças aos meus amigos Maria e Andrade e Humberto quem foi esta Lísia e trazer à luz do dia esta Companhia de Lisboa ou Lísia, que produziu esta gravura com tema tão curioso.
Imagem retirada de http://www.forum-numismatica. |
Quanto à Lísia, que no início, pensei tratar-se do nome do impressor da estampa, afinal foi um dos nomes da companhia de Seguro.
Durante muito tempo, pensei que "Lisia" fosse a assinatura do impressor ou gravador. Afinal era um dos nomes da Companhia de Lisboa |
Mais, Lísia é efectivamente o nome da Senhora, que segura o escudo. Lísia é um termo hoje caído em desuso, mas usado pelos poetas dos finais do XVIII ou inícios do XIX, como Bocage ou a Marquesa da Alorna, como sinónimo de Portugal. Bocage escreveu em 1792, um poema, Liberdade, onde estás? Quem te demora?, onde emprega precisamente a palavra Lísia, como sinónimo de Portugal, segundo li em http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/bocage.pdf.
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia
porque (triste de mim!), porque não raia
já na esfera de Lísia a tua aurora?
Mas Lísia, não era só um termo literário. Era também representada na pintura, no desenho e na gravura, como uma mulher, uma alegoria, representando Portugal, conforme se pode ver numa estampa da Biblioteca Nacional, de 1838, intitulada Lysia apresenta às quatro partes do Mundo o retrato do grande Marquez de Pombal
http://purl.pt/6781 |
Não encontrei muito mais informações sobre esta antiga seguradora, mas consegui datar a minha estampa com alguma segurança, entre 1819 e 1839, perceber que foi muito provavelmente recortada de um certificado de seguro, descobrir graças aos meus amigos Maria e Andrade e Humberto quem foi esta Lísia e trazer à luz do dia esta Companhia de Lisboa ou Lísia, que produziu esta gravura com tema tão curioso.