Foto de Maria do Carmo Labreuil |
O Manuel comprou já há cerca de uns dois anos, uma belíssima terrina, muito possivelmente fabricada em Paris, nas primeiras décadas do Século XIX. É uma peça da chamada porcelana de Paris, ou Vieux Paris.
O chamado Vieux Paris não é nenhuma fábrica de porcelana, como a Vista Alegre ou Sêvres. Designa a produção de porcelana feita na capital francesa entre o último quartel do Século XVIII e a primeira metade do século XIX.
Segundo Régine de Plinval de Guillebon, autora da obra Porcelaine de Paris, 1770-1850. Friburg: Office du Livre, 1972 a definição de Porcelana de Paris no século XVIII é simples. Porcelana de pasta dura fabricada e decorada em manufacturas sediadas em Paris.
A porcelana de Paris inspira-se nas formas da arte grega, romana e etrusca. Foto Manel |
Esta definição torna-se mais complexa no século XIX. Porcelana de pasta dura, em geral decorada em Paris, nem sempre fabricada nesta cidade, mas proveniente de manufacturas com morada oficial em Paris, ou de armazéns de revenda situados em Paris.
Quero isto dizer, que no início do Século XIX, altura em que esta terrina terá presumivelmente executada, existiam na capital francesa quer manufacturas de Porcelana que fabricavam e executam loiça, quer oficinas que compravam porcelana branca e depois a decoravam, quer armazéns que encomendavam a fábricas situadas fora de Paris, peças por encomenda ao gosto do cliente.
O gosto pelas decorações a ouro em fundo branco é típico da Porcelana de Paris. Terrina à venda no antiquário francês http://www.proantic.com |
Talvez por haver tantos agentes envolvidos na fabricação, decoração e encomenda uma boa parte da Porcelana de Paris, não está marcada, o que pode gerar sempre algumas confusões de atribuições, pois os seus modelos foram copiados por toda a Europa, de Lisboa a St. Petersburgo. A nossa Vista Alegre, seguiu muito de perto as produções de Paris e por vezes é quase impossível distinguir uma ou outra. Por outro lado, muito embora houvesse legislação no sentido de os mestres marcarem as suas peças, muitos destes decoradores ou fabricantes tentariam fazer passar as suas peças por Porcelana de Sêvres, o paradigma do luxo francês e claro e não punham marca nenhuma.
Outro pormenor da terrina do Manel: o gosto neoclássico. Foto Manel. |
E no entanto há algumas características da porcelana dita de Paris, nestes primeiros vinte ou vinte e cinco anos do século XIX, que a permitem identificar como por exemplo um gosto muito pronunciado pela decoração a ouro sobre o branco, sendo que este último se apresenta num tom leitoso. A decoração inspira-se nos tecidos e as formas na antiguidade clássica, como é o caso desta terrina.
Encontrei aliás no referido livro de Régine de Plinval de Guillebon uma placa de padrões, do célebre mestre de porcelana Nast, onde podemos ver padrões muito idênticos aos da terrina do Manel e que são típicos da porcelana Vieux Paris.
Por último, talvez seja interessante situar esta terrina do Manuel, muito neoclássica, no gosto geral da época em que foi produzida, dominado pelo estilo Império (1803-1821), fortemente inspirado em Roma e na Grécia antiga, bem como na arte etrusca e do Egipto.
Para que as pessoas, tenham uma ideia mais precisa, reproduzo aqui o interior de um quarto estilo império, do Museu das Artes Decorativas em Paris, onde se pode ver precisamente uma peça de porcelana da chamada cidade luz.
Quarto estilo Império. Musée des Arts Decoratifs. Paris. Ao centro vemos um jarro e lavatório em Porcelana de Paris |