Datada certamente do século XVIII, esta estampa é um dos muitos cristos que espreitam das paredes da minha casa e é talvez um dos meus preferidos. Representa, uma das estações do Calvário, o quarto passo, em que Jesus encontra a sua mãe, aqui representada como a Nossa Senhora das Dores, com uma espada trespassando o seu Coração.
Para os mais novos ou aqueles que não tiveram uma educação católica, as estações do calvário representam os vários momentos da paixão de Cristo, desde a sua condenação passando pela morte, até à deposição no túmulo. O caminho da cruz é uma cerimónia religiosa, que ocorre na Páscoa, que comporta muitas vezes uma procissão, intercalada por prédicas e meditações, diante de 14 quadros ou estampas, crucifixos ou capelas dispostas dentro ou fora da igreja, que representam a subida ao monte Calvário onde Cristo foi morto. Como em cada um desses momentos, se pára ou melhor se estaciona, cada um dos passos é conhecido pelo termo estação.
Esta cerimónia da reconstituição do Calvário foi trazida da Terra Santa pelos franciscanos, que a introduziram na Europa e foi tendo várias variantes, já que assenta mais na tradição do que foi a vida de Cristo e menos nos Evangelhos. Para os menos familiarizados com estas coisas da Igreja, para além das quatro versões oficiais de Lucas, Marcos, João e Mateus há mais relatos da vida de Cristo, a chamada literatura apócrifa e muitas vezes são esses textos que mais influenciram a arte e as tradições populares, como por exemplo, todos os episódios mais pitorescos da fuga para o Egipto, com nossa senhora, o Menino Jesus, S. José e o burrinho.
Mas em todo o caso, no Século XVI, a Igreja Católica definiu as Estações do Calvário em XIV, que passo discriminar de em seguida, pois dão muito jeito para se perceber o que se vê no interior das igrejas e ao longo das aldeias e vilas portuguesas:
1 - Jesus é condenado à morte
2 - Jesus carrega a Cruz
3 - Jesus cai pela primeira vez
4- Jesus encontra a sua mãe
5- Simão de Cirene ajuda Cristo a carregar a sua cruz.
o 5º passo, segundo uma obra da época |
6 -Santa Verónica limpa o rosto de Jesus
7 - Jesus cai pela segunda vez
8 - Jesus encontra as mulheres de Jerusalém que choram
9- Jesus cai pela terceira vez
10- Jesus é despojado de suas vestes
12- Jesus morre na cruz
13- Jesus morto nos braços de sua Mãe
14 - Jesus é sepultado
Esta minha estampa, em que o tema da paixão que é pela sua natureza muito cruel foi tratado com uma certa suavidade muito característica da arte portuguesa. A estampa, não está assinada, mas o nome é indicado o nome do vendedor, Francisco Luís Pinheiro, que tinha uma loja em frente aos Mártires, no nºo 27, segundo os Subsídios para a história da gravura, de Luís Chaves.
Meditações sobre a Paixão de Cristo. Uma obra do séc. XVIII. |
A estampa terá sido destacada de um livro de meditações sobre a vida de Cristo ou talvez fizesse parte de um conjunto de folhas soltas, destinadas a adornar as paredes de uma igreja.