quinta-feira, 14 de março de 2013

Terrina de faiança Sarreguemines


Esta terrina com uma decoração de inspiração japonesa pertence ao meu amigo Manel e saiu da maior e mais importante fábrica de faiança francesa do século XIX, Sarreguemines.
A marca de Sarreguemines. As iniciais U & G querem dizer Utzschneider & Geiger

Esta casa foi fundada em 1790 por um tal senhor Nicolas-Henri Jacob, na rica Alsácia-Lorena, na povoação de Sarreguemines, bem junto à fronteira alemã. Manteve um caracter artesanal até ao ano de 1800, data em que um jovem bávaro, Paul Utzschneider tomou conta da fábrica e resolveu aplicar ali todos os conhecimentos, que tinha adquirido em Inglaterra, nas fábricas de cerâmica daquele País, que naquele tempo estavam a inundar os mercados com os seus produtos baratos e de boa qualidade. Sarreguemines cresceu de vento em popa, sobretudo depois de Napoleão Bonaparte lhe ter feito importantes encomendas.  
 
 
Em 1836, Utzschneider confia a direcção da manufactura ao seu genro Alexandre de Geiger, que transformou a fábrica na mais importante produtora de faiança de França, capaz de competir com a louça inglesa, no mercado francês e fazer-lhe até alguma concorrência a nível internacional. Ao longo do Século XIX, Sarreguemines tornou-se principal fábrica de faiança de França produzindo loiça utilitária, decorativa, chaminés e fogões de faiança e azulejos. Por exemplo, os célebres azulejos do metro de Paris são Sarreguemines.

Sarreguemines atravessou também períodos complicados da história francesa. Depois do conflito franco franco-prussiano de 1870, a Alsácia Lorena foi anexada à Alemanha e a fábrica ficou do lado alemão. Os patrões franceses fizeram então duas novas fábricas na França, em Digoin e em Vitry-le-François, mas continuaram a produzir na casa mãe, agora na Alemanha. Saguerrimes regressou à soberania da França em 1918, mas em 1940, os alemães voltam a ocupar a Lorena e a a gestão da fábrica é confiada à firma germânica Villeroy et Boch, até 1945, ano da libertação. Sarreguemines continuou a sua existência pelo século XX fora e terminou os seus dias no ano de 2007.
O Japonismo começou a tornar-se uma moda em França, desde os finais da década de 1860
A julgar pela marca, a terrina do Manel terá sido fabricada cerca de 1890. Pertence ao serviço Yeddo, que é uma representação fantasista da arte japonesa. O Japonismo começou a tornar-se uma moda em França, desde os finais da década de 1860, quando os pintores impressionistas usaram as estampas japonesas como fonte de inspiração. As exposições universais de Paris de 1878, 1889 e 1900 divulgaram junto do grande público a arte do Japão. Por exemplo, a actriz japonesa Madame Sadayakko, que actuou na exposição universal de Paris em 1900 impressionou tanto os franceses, que os grandes armazéns passaram a contar nos seus catálogos com versões ocidentais de kimonos para vender às elegantes parisienses.
Madame Sadayakko
Portanto neste final do século XIX, quando esta terrina foi fabricada, a pintura, o desenho, a cerâmica e até à moda usavam o Japão como umas das fontes de inspiração para as suas criações.
 
 

11 comentários:

  1. Só a decoração remete para as influências orientais desta peça, pois a forma poderia ser de qualquer terrina inglesa e denotando influências da civilização clássica, como etruscas ou greco-romanas (as influências de Pompeia e Herculaneum ainda estão muito vivas).
    É a simbiose de várias culturas, como era hábito neste século XIX eivado de uma infinidade de "ismos".
    Quanto à Madame Sadayakko, a sua história é perfeitamente irresistível e brilhante, e existe à venda nos escaparates.
    Teria sido ainda mais exótica, esta terrina, se por acaso tivesse uma forma de pagode, por exemplo, apesar de perceber que seria muito pouco prática em termos formais.
    As tuas fotografias também são irresístiveis, não só os cambiantes de cores e a harmonia de formas, como o facto de teres envolvido tudo numa obscuridade fascinante e misteriosa, como era hábito nas naturezas-mortas dos Países Baixos ou espanholas (não é por acaso que os Países Baixos estiveram sob a alçada de Espanha durantes tantos séculos); estás um fotógrafo de mão cheia
    Manel

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  2. Manel

    Ando de facto a descobrir o claro escuro na fotografia, aquilo que na pintura descobriram há mais de 400 anos. Em termos práticos fotografo a peça iluminada pela luz de uma janela com um fundo escuro ao fundo. A tua casa do Alentejo proporciona-se bem a estas fotografias. Na minha casa de Lisboa tenho sempre demasiada luz, mas ando à procura de um sítio onde consiga este efeito.

    Apesar da decoração japonisante, a forma deste terrina tem uma certa elegância francesa, ao gosto dos estilos Império e Restauração que encontramos na porcelana de Paris.

    Um abraço

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  3. Olá Luís,
    Isto sim é mais uma vez uma pesquisa bem feita e bem transmitida... acompanhada de fotografias de mestre!
    A terrina do Manel é linda, a forma muito elegante e com pormenores requintados, e eu tê-la-ia tomado certamente por peça inglesa antes de ver a marca.
    Com a minha fixação ao longo dos anos na cerâmica inglesa, nunca me interessei muito pela marca Sarreguemines, embora tenha duas ou três peças, mas vejo agora que tem uma longa e interessante história. Acho que até já vi peças marcadas U&G sem as relacionar com Sarreguemines.
    A referência ao japonismo a partir do nome do padrão, Yeddo, veio enriquecer muito o post e fechá-lo com chave de ouro.
    Agora fiquei com vontade de também experimentar essa técnica do claro escuro que já consegui uma vez ou outra, mas sem querer! :)
    Obrigada pela partilha.
    Abraços

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  4. Maria Andradse

    Muito obrigado.

    De pequenas dimensões, esta terrina ganhou muito com as fotografias, que realçaram alguns pormenores muito elegantes, como as asas ou a pega da tampa. Eu próprio só reparei neles depois de os fotografar.

    Também descobri esta técnica do claro escuro por mero acaso e agora ando encantado e já tenho mais umas quantas fotografias preparadas.

    Através destas velharias, que vamos catando aqui e acolá, vamos surpreendendo pormenores da história da faiança e porcelana europeias.

    Quando fiz esta pesquisa lembrei-me de si, pois encontrei imagens de muitos fogões de faiança fabricados por Sarreguemines. Os franceses designam-nos por pôeles e alguns deles são um encanto. Ainda pensei colocar aqui a fotografia de um deles, mas cortava o tom de japonismo de todas as imagens.

    Bjos e o resto de um bom fim-de-semana

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    1. A terrina é linda e agora que sei que é de pequenas dimensões calculo que mais encantadora deva ser.Parabéns ao Manel.Gosto do seu formato e da discrição da sua única cor.Realmente, este núcleo de amantes das porcelanas e faianças anda muito virado para a produções inglesa e nacional esquecendo ou relegando para segundo plano, outros grande centros produtores de cerâmica, algumas vezes até, com uma história algo semelhante à das nossas fábricas, com falências,mudanças de proprietários etc...Quanto a mim, só descobri a cerâmica de Sarreguemines porque há algum tempo comprei uma pequena chávena decorada com pequenos motivos chineses.A partir daí fiz alguma pesquisa, mas muito básica, não ficando de forma alguma com a noção de todo o historial da cerâmica desta região, por isso, muito obrigada por esta divulgação da sua pesquisa.
      E já vai longa a resposta :)
      Beijos

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  5. Maria Paula

    Obrigado pelo seu comentário tão afável.

    Sarreguemines tem algumas semelhanças com a história de Sacavém. São fábricas modernas, feitas para competir com a produção industrial do Reino Unido, que no século XIX conquistava e invadia todos os mercados.

    Sarreguemines teve sucesso comercial e a prova disso está em que actualmente encontramos em Portugal muitas faianças antigas dessa marca, as quais ninguém parece ligar muito. E no entanto a história desta fábrica situada numa das regiões mais industriais de França, vizinha do Rhur alemão é riquíssima em peripécias históricas e a sua produção apesar de ser uma coisa corrente, não lhe falta alguma elegância, como se vê nesta terrina.

    Beijos

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    1. Possuo muitas mais peças de Sarreguemines, algumas bastante mais antigas que esta terrina, e em todas elas se nota um cuidado na decoração e na forma. Ou então sou eu que já vou filtrando as minhas aquisições.
      Algumas tentam mesmo competir com outras grandes marcas, tal a qualidade que atingem.
      Para competir com Inglaterra teria de ter elevados padrões de qualidade, doutra forma estaria destinada ao fracasso logo à partida.
      Manel

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  6. Manel

    Andei a ver com cuidado as tuas outras peças Sarreguemines e de facto há sempre muito cuidado com pormenores, como as pegas ou as asas, que são normalmente muito elegantes.

    um abraço

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  7. Alguém tem em casa jarro para vinho de sarreguemines?

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  8. Tenho em casa uma chávena e pires de serramines Dijon. Tem um nr. manuscrito.... O meu pai dizia a gozar que tinha pertencido ao serviço de Napoleão... Agora lendo algumas coisas... Será.. ainda por cima é vermelha com rebordo dourado.. ainda tenho uma relíquia em casa e não sei ?

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    1. Caro(a) Anónimo(a)

      Se pesquisar na internet vai que que encontra as listas de marcas usadas por Sarreguemines e conseguir datar a sua chávena com precisão. Há também muitos sites de venda on-line com peças daquela fábrica de faiança, que teve uma produção gigantesca em França.

      Um abraço

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