Hoje apresento dois pratos ratinhos, com muitas semelhanças entre si. De tal forma me parecem familiares que decidi junta-los neste post, apesar do primeiro me pertencer e o segundo ser do meu amigo Manel.
Apresentam os dois uma simplicidade que me encanta. Tem aquela beleza dos desenhos das crianças, das pinturas populares e das obras arrojadas de alguns pintores modernistas do início do século XX.
Segundo a classificação proposta por Ivete Ferreira na obra Cerâmica na colecção da fundação Manuel Cargaleiro. - Castelo Branco: Câmara Municipal, 2012, estes dois pratos fazem parte do grupo das flores, isto é, são peças em que a flor tem um lugar de destaque na decoração da peça, de tal maneira que invade muitas vezes a orla dos pratos, como se o seu crescimento fosse incontrolável.
No prato do Manel há uma particularidade muito curiosa, a planta parece nascer de um prado e floresce na parte superior do prato numa explosão de cor.
Talvez na decoração destes pratos com cerca de 100 anos encontremos uma alegria de vida, que hoje nos parece faltar a todos.
Caro Luis
ResponderEliminarEncontrar alegria é uma virtude nos tempos que correm.....e é uma arte encontrá-la nas cores de um prato "Ratinho"...Li muito sobre este tipo de pratos do "ratinho" e neles encontro o povo e sempre o povo....o povo que come em volta do prato e o que tem para comer...e que não tem para comer..
A 1ª vez que vi um prato deste género....não era um prato do povo, mas sim um prato das galinhas.....era o prato do galinheiro da casa onde nasci....cresci a ver o prato sujeito a tanto festim galináceo....um dia entrei no galinheiro e perante aves alvoroçadas e um galo que me bicou nas costas, consegui salvar o ratinho e hoje guardo-o como ligação distante a uma infância feliz..
Um abraço
Vitor Pires
Cada um dos pratos é de uma beleza que não deve deixar os amantes desta louça indiferentes, no entanto ambos me parecem muito diferentes.
ResponderEliminarO primeiro com uma linha fluída, orgânica, o segundo com formas parecendo acusar influências mais cubistas e geometrizadas.
O primeiro parece feito de folhas de palma, mas como são tão coloridas, mais se aproximam das penas dos pavões, o que o torna muito apelativo.
O segundo apresenta o pormenor da linha quebrada que me parece uma alusão à superfície da terra, dividindo a planta em raiz, caule e flor.
É inimaginável a diversidade das formas criativas saídas de um largo conjunto de artistas da cerâmica ratinha, que, sem qualquer fundamento cientifico, me parece ser constituída sobretudo por mulheres, pois a linha que percorre a superfície desta loiça tem caraterísticas que, intuitivamente, me parecem femininas.
Manel
Cara Vítor
ResponderEliminarÉ muito curioso, pois outro seguidor deste blog já aqui escreveu que muitos destes ratinhos ainda estarão a servir de comedouro para as galinhas por esse País fora. São finas essas galinhas...
Julgo que os Ratinhos representam um ponto alto da arte popular portuguesa e depois é todo o significado de uma vivência popular que transportam com eles que os torna também tão fascinantes.
Um abraço
Manel
ResponderEliminarNão sei qual a opinião da Ivette, que é a especialista, mas já li que a faiança lisboeta dso início do XVII era sobretudo pintada por mulheres, bem como a porcelana da China. Talvez estes ratinhos também fossem executados em oficinas, em que toda a família trabalhava, o pai seria o mestre, os filhos homens seriam operários ou aprendizes e elas, as mulheres, as filhas e as avós fossem talvez as pintoras. Mas, as mulheres tem sempre um papel silencioso. São sempre o lado mais desconhecido da história.
Gostei da tua análise feita a partir da geometria. Eu seria incapaz de a fazer. Só ali vejo as flores a explodirem em cores pelo prato todo. Mas o que escreveste faz sentido. O segundo prato é de facto mais cubista.
Abraço
EliminarFaço a estas belíssimas análises só me resta dizer que vou olhar para os meus com outros olhos !Bem Hajam por isso .
Ab.
Face a estas brilhantes análises , só me resta dizer :
ResponderEliminarBEM HAJAM por elas
De certeza que vou olhar os meus com outros olhos
Ab.
Olá,Luis
ResponderEliminarLindos estes ratinhos
Já tenho imensos pratos antigos ,mas...nenhum ratinho
Tenho sim uma saladeira ,a que chamam esponjado ou coisa parecida
Curiosamente servia de prato de baixo de um vaso de flores
Na casa da avó de uma amiga minha da Serra da Estrela
Senhora com 97 anos e a saladeira foi de sua mãe
Portanto bem velhinha ,a saladeira
Um beijinho para o Luis e para o Manel
Luís, é sempre um encanto vir aqui encontrar mais dois belos ratinhos, muito bem apresentados e comentados!
ResponderEliminarÉ curioso verificar como os olhares dos outros sobre as coisas despertam o nosso olhar para pormenores até aí não apreendidos. Na flor do prato do Manel, a raiz é bem perceptível, mas eu agora também a descubro em outras decorações com flor central. Na verdade também no prato do Luís, num prato meu e noutros que revisitei no catálogo da coleção Caegaleiro, da Ivete Ferreira, há um filamento na parte inferior – muitas vezes abaixo de uma zona bolbosa onde vejo representado o bolbo de muitas espécies florais- que também deve pretender ser uma raiz. E isto fez-me lembrar desenhos infantis de árvores e flores em que a raiz, embora não visível também é desenhada... mais uma prova da ingenuidade e simplicidade das mãos que faziam estes desenhos.
Não haja dúvida que os ratinhos vão-nos sempre surpreendendo e proporcionando novas descobertas... pelo menos aos nossos olhos...
Beijos e tenham um bom fim de semana
Cara Idanhense
ResponderEliminarJá sei que a Quina aparece sempre quando há Ratinhos no menu.
Estamos sempre a descobrir coisas novas nesta loiça fascinante.
Abraços
Maria Andrade
ResponderEliminarMuito bem observado!
Embora tenha sempre achado estes duas peças da mesma família, nunca tinha reparado que a flor do meu prato também poderia representar uma raiz, mais exactamente um bolbo ou um bolbilho, com uma pequena radícula no fundo.
Realmente estes ratinhos são sempre surpreendentes.
Bjos e bom fim de semana
Cara Grace
ResponderEliminarÉ sempre muito simpática. Os esponjados são muito bonitos.
Um dia vai ver que consegue encontrar um ratinho.
Bjos
Caro LuisY
ResponderEliminaré sempre um prazer ver as peças que escolhem e
ler sobre elas. Acompanhar o seu blog me traz muita alegria.
Sobre a alegria e a tristeza, vi uma frase vulgar,
mas que tem lá alguma implicação filosófica:
"enquanto uns choram, outros vendem lenços".
Abraço, Luciana
Brasil
Olá Luís
ResponderEliminarPerfeitas, na sua simplicidade, as peças que apresenta.A flor, como determinante ornamental, permite estabelecer uma categoria autónoma na gramática decorativa desta faiança.
A sua peça é bem exemplificativa da influência oriental e, como diria Joaquim de Vasconcelos é "a unica faiança nacional que representa (...) a influencia do estylo árabe".Mostra, com exuberância, a pluma de pavão que, com os seus filamentos,enquadra a flor esponjada,espraiando-se pelo covo e aba.
Cumprimentos
if
Cara Luciana
ResponderEliminarObrigado. Talvez a tristeza dos portugueses de hoje esteja a dar dinheiro a quem venda lenços.
Em todo o caso estes Ratinhos iluminam-nos a vida com a sua beleza, ainda que momentaneamente.
Bjos
Cara If
ResponderEliminarMuito sábias as palavras de Joaquim Vasconcelos. Esta ligação dos Ratinhos à herança islâmica fascina-me, sobretudo quando não há nenhuma prova, mas é ao mesmo tempo tão evidente.
Um abraço