domingo, 2 de fevereiro de 2014

Um folião de calça listrada que saiu por aí: Faiança Ratinha

Neste período em que o Governo lança as garras de fora e se lança sobre a classe média, baixando salários, reformas, retirando direitos e sabemos lá que mais vão inventar, nada como voltar à alegria das cores dos Ratinhos e mostrar a nova aquisição do meu amigo Manel, um prato com um musico folião, tocando viola, rodeado por uma grinalda florida.

Como muito bem explica a Ivete Ferreira no catálogo Cerâmica na colecção da Fundação Manuel Cargaleiro. - Castelo Branco, Câmara Municipal, 2012, relativamente a gramática decorativa, os ratinhos dividem-se nas seguintes categorias: pré-ratinhos, decoração irradiante, figuração humana, flores, vegetação exuberante, covo despojado, decoração fraccionada, figuração zoomórfica e arquitectura.

Este exemplar do Manel pertence ao grupo da figuração humana e são dos mais difíceis de achar no mercado das velharias, ao contrário dos grupos das flores ou decoração exuberante, que ainda se vão encontrando aqui e acolá. Neste grupo da figuração humana, os ceramistas da região de Coimbra, de onde é originária esta faiança, deram grande ênfase aos músicos, que aparecem representados, tocando viola, guitarra, violoncelo, harpas, castanholas, clarinete, gaita-de-foles e por aí fora. 

No referido catálogo, Cerâmica na colecção da Fundação Manuel Cargaleiro, aparece reproduzido na página 54 um prato, com muitas semelhanças a este e que foi datado pela autora do texto como sendo do último quartel do século XIX.
Prato da Fundação Manuel Cargaleiro

Tentei averiguar que espécie de viola toca este folião do prato do Manel. Certamente será um dos oito tipos de violas portuguesas, mas eu sou tão ignorante em termos musicais, que não me atrevo a dar qualquer espécie de palpites sobre qual desses tipos estará representado neste prato.


Toque uma viola toeira, típica da região da Beira Litoral ou uma viola beiroa, parece-me certo que o músico deste prato do Manel, que vestiu a sua calça listrada, prepara-se para uma grande folia, um pouco à maneira daquela célebre música de Assis Valente, popularizada por Carmen Miranda e Maria Berthânia e aqui numa versão deliciosa de Carla Adduci:

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele tomou parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega
leão

Tirou seu anel de doutor pra não dar o que falar
Saiu dizendo eu quero mama,
Mamãe eu quero mama, mamãe eu quero mamar
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega
leão

Levou meu saco de água quente pra fazer chupeta
Tirou minha cortina de veludo pra fazer uma saia
Abriu meu guarda-roupa e arrancou minha combinação
E até do cabo de vassoura ele fez um estandarte
Para o seu cordão

Agora que a batucada já vai começando
Não quero e não consigo meu querido debochar de mim
Porque se ele pega as minhas coisas vai dar o que falar
Se fantasia de Antonieta e vai dançar no Bola Preta
Até o sol raiar



Mais sobre este prato

11 comentários:

  1. Quando há um tempo visitei o site das coleções de cerâmica nacional do Museu de Viana do Castelo, fiquei de olho esbugalhado quando lá vi aparecer um espécime desta loiça ratinha catalogado como originário da "Fábrica do Ratinho".
    http://cm-viana-castelo.pt/pt/mad-colecoes

    Estranha forma de catalogar, mas pensei que, à semelhança, os particulares também não fazem melhor!
    Num blog que vi há uns tempos, ("Trapos, Cacos e Velharias" ou algo assim parecido), o seu dono catalogava uma peça de Vieux Paris, como sendo esta proveniência uma fábrica que, e passo a transcrever « Em 1770 por volta desta data a [???] Vieux Paris ocupou parte das instalações da antiga Sevres (1754) nos arredores de Paris.»!!!! Não fez as coisas por menos! Aliás, todo o texto é um conjunto de ideias e conhecimentos errados e deturpados!
    O célebre nome de proveniência de uma porcelana originária de uma região, feita por muitos fabricantes ao longo de dois séculos, ficou indelevelmente ligada à ignorância de uma pessoa que não quis ou não soube pesquisar! E este erro é grave, pois está on line e pode facilmente enganar outros incautos e menos avisados.
    A ignorância corre mundo nas mãos desta gente!
    Como é possível que gente no século XXI, com toda a informação debaixo dos dedos dum teclado cometa dislates desta magnitude???? Só por ignorância, preguiça na pesquisa e falta de vontade em aprender!

    Todo este "arrozado" por ter verificado que a catalogação nos museus segue vias tortuosas! Como há de, a dos particulares, ser melhor?

    Fez-me lembrar a conversa que tive há uns tempos com o dono de uma casa de velharias, que faria um bom par com o dono do blog mencionado antes, e que tinha colocado à venda um exemplar desta louça ratinha e que me explicava a origem daquela prato: "Sabe o que é este prato?"
    Claro que lhe disse que já tinha visto deste tipo de loiça por aí (por vezes é bom não alardear o que se sabe, por várias razões).
    E vai daí a pessoa em questão começou a explicar-me: "É um prato feito na Fábrica Real do Ratinho, que estava ali ao pé do Largo do Rato". Fiquei a olhar para a pessoa, a pensar que estaria a brincar comigo.
    De tal forma fiquei convencido que achei que deveria entrar na brincadeira também:
    "Sim, sim, lembro-me perfeitamente dessa fábrica, eu ainda estive lá a trabalhar".
    O dono da casa olhou para mim de lado ... "Ai esteve? Mas olhe que não é possível, pois ela já fechou por volta da Segunda Guerra Mundial (ou teria sido a Primeira Guerra Mundial?), porque já não tinham material para poderem continuar com a produção."!!!!!!!! nem mais nem menos!
    Fiquei sem pinga de sangue! Afinal a pessoa acreditava piamente naquilo que me estava a comunicar.
    Com quantas pessoas fala aquele dono da casa de velharias e propaga estas ideias?
    Não admira que tão pouco se saiba sobre estes assuntos, e o que se sabe é muitas vezes deturpado ou mesmo errado, estando nas mãos de gente convencida que o conhecimento chegou e parou neles, e, como tal, tratam de o propagar quer por via oral quer pela virtual!
    Ainda tentei timidamente deixar alguns dados sobre esta loiça, mas a pessoa em causa olhou para mim, como se de ignorante se tratasse, e que, consequentemente, deveria ser ignorado ...
    Por curiosidade, devo acrescentar que consegui adquirir o tal "Produto da Fábrica Real do Ratinho" por um preço relativamente bom.

    Enfim! Ainda bem que vai havendo o teu blog, ou o da Maria Andrade, que nos servem de guias para estas explorações dentro do mundo da cerâmica.
    Este prato já o adquiri há quase um ano, e como está exposto no meio de muitos outros, numa semi obscuridade, passa um pouco despercebido, mas a sua beleza aumenta quando aqui isolado, num contexto de boa iluminação e com um texto condizente.
    Manel

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    1. Caro Manel,
      Muitos parabéns pelo belíssimo prato! Fiquei verdadeiramente encantado!
      A ignorância e informações absurdas e erradas na boca de antiquaristas e vendedores de usados é uma praga que também assola por aqui. Sinceramente eu acho que nestes casos, como gosto de dizer, "a ignorância é a mãe dos bons negócios", ou seja, ser ou fazer-se de ignorante é uma forma de inventar histórias que favoreçam as peças à venda, no intúito de arrancar mais tostões dos compradores desinformados.
      Aqui é bastante comum encontramos jogos de jantar da Cerâmica Matarazzo, uma fábrica de louça de pó de padre, com as marcas fantasia “Mod Cambridge” e “Mod Oxford” sendo vendidos como "porcelana inglesa". Eu conto uma história bizarra de um caso destes na postagem abaixo:
      http://porcelanabrasil.blogspot.com.br/2007/12/ignorncia-me-dos-bons-negcios.html
      que teve um desdobramento ainda mais bizarro tempos depois!
      http://porcelanabrasil.blogspot.com.br/2008/04/ignorncia-me-dos-bons-negcios-parte-2.html
      Mas uma pessoa PUBLICAR os absurdos que você contou, ou é vontade de ser motivo de chacota dos outros, ou é uma arrogância tão grande, que torna esta pessoa cega para o mundo à sua volta, pois apenas ela sabe a verdade das coisas, ou esta pessoa se acha a melhor entre todas, e tão genial que qualquer besteira que ela pense ou acredite, é certamente correto, e merecedor de publicação e aplausos.
      Abraços
      Fábio

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  2. Luís,
    No Museu Machado de Castro existem vários ratinhos com mulheres a tocar, aparecem também foliões. Já viu a colecção do museu?
    Este folião é muito bonito. Tenho pena de não ter um prato destes. Havia em casa da minha avó mas não fiquei com nenhum.
    Levou-me a apreciar estas peças. Normalmente o meu gosto ia para bules e chávenas por gostar do ritual do chá. Com estes cortes que aqui bem foca, o coleccionismo fica para trás. Compro ainda compulsivamente livros, terei que ser mais criteriosa.
    Como ultrapassar estes cortes? Só alimentando o espírito.
    Um abraço.

    Ao Manuel,
    Fiquei curiosa quanto às aulas que lecciona. Tenho pena que não tenha um blogue com um mail.
    Quanto à história de pessoas que dão más informações, julgo que temos o dever de as informar para não passarem conhecimentos incorrectos. Não acha?
    Cerâmica não é o meu forte, gosto sempre de aprender e o blogue do Luís é um verdadeiro local de ensinamento para mim.
    Um abraço.

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  3. Parabéns ao Manel pela bela aquisição que fez.Este ratinho é magnífico com o seu folião de ar janota e primorosamente vestido.Repare-se como as cores estão cuidadosamente combinadas!.Todo o prato é encantador e deverá sair da semi obscuridade :) Sei que o Manel, o encaixará com elegância naquele espacinho xis que ele tem sempre o condão de descobrir.
    Abraço aos dois e bom fim de semana

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  4. Caro Luís,

    Como de costume, as peças que o seu amigo Manel adquire são sempre um espanto. Quem me dera que esse ratinho tivesse aparecido aqui pelas minhas bandas...
    Embora me recorde de que em casa das minhas avós existiram esse tipo de pratos, infelizmente não ficou nenhum para contar a história. E é engraçado que, de quando em vez, aparecem no quintal de ambas as casas, caquinhos dos ditos. Antigamente as pessoas tinham por hábito "aventar" (assim dizia a minha bisavó) para o fundo das tapadas e quintais as loiças que se partiam.
    Voltando ao prato do Manel; desconhecia esse tipo de decoração, que se me afigura muito mais garrida e elaborada que o estilo habitual. Talvez por essa razão fossem também mais caros, daí as donas de casa de então comprarem em maior quantidade os outros, e os mais elaborados não terem chegado em tão grande quantidade aos nossos dias.
    Gostaria ainda de deixar aqui um breve reparo, relativo à história que o Manel leu escrita num outro blogue. Pois bem, se não estou em erro, esse blogue é de um moço muito jovem, o qual emigrou há bem pouco tempo para o Brasil. Algumas vezes lá entrei, e deparei-me com lindas peças da VA,que constituem o seu principal interesse.
    É óbvio que, e até onde os meus conhecimentos chegam, a informação veiculada está errada , no entanto, e tendo em atenção que se trata de um muito jovem coleccionador, interessado no que é belo, talvez não fosse de descartar a hipótese de o Manel lhe escrever um email, ou um comentário, fornecendo-lhe os dados que de todo lhe escaparam , ou foram fornecidos de forma errónea. Assim, ele teria oportunidade de aprender, e de fazer a respectiva correcção!

    Um beijinho aos dois


    Alexandra Roldão

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  5. Olá querido Luís!
    Saudades de encontrá-lo em Lisboa! Os momentos que já pude passar consigo são sempre de boas conversas animadas, muito aprendizado (para mim), as horas correm infelizmente rápidas demais, e é uma pena que estes encontros não possam ser mais frequentes, pois há um oceano enorme entre nós.
    Gostei imensamente do prato, que mesmo sozinho, apenas a foto dele parada na página, já seria digna de "oohs" e "aaaahs". Mas acompanhado das informações de qualidade e referenciadas pela bibliografia que você agregou, e a criatividade de associá-lo a esta marchinha de carnaval, torna o prato e a postagem merecedoras dos meus “parabéns!”, seguidos de aplausos.
    abraços!
    Fábio

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  6. Caros Fábio, Ana, Maria Paula e Alexandra

    Uma colecionadora de Coimbra, que é uma seguidora habitual deste blog, chamou-me a atenção para o facto de que este prato poderá não ser um original. Tratar-se-á de uma réplica, uma cópia e posto à venda como um ratinho autêntico.

    Como esta Senhora é uma colecionadora experiente, que já lhe passou muita coisa pela mão, tenho sérias razões para tomar em conta a sua opinião.

    Esta semana, o Manel e eu vamos mostrar o prato a outra colecionadora aqui de Lisboa, mas é muito provável, que este bonito prato afinal não passe de uma boa cópia.

    Em todo o caso, não deixarei de os informar a todos do resultado final, até para ficarmos alertas e não sermos enganados. já que neste círculo de blogues somos todos mais ou menos fanáticos por ratinhos.

    Um abraço e obrigado pelos vossos simpáticos comentários

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  7. Boa noite ,Luis
    Como sempre uma linda peça
    Falsa? Não desanimem...
    Afinal,mesmo que seja um prato falso,não deixa de ser uma bela peça
    E o nosso amigo Manel,de certeza que o vai expor com muito carinho na sua belíssíma casa
    Mesmo não sendo um prato original,concerteza que vai brilhar com outras belas porcelanas antigas
    E faço minhas as palavras da Ana,pena o Manel não
    nos dar o seu mail. Acho que teria imensas pessoas contentes a escrever-lhe
    Peço desculpa ao Manel,se me intrometo na sua privacidade
    Ele tem o direito de divulgar ou não o seu Mail.
    EU ficaria contente e tenho a certeza que muitos outros seguidores deste blog adorariam
    Mas mesmo aqui no blog do Luis,falamos com o Manel
    Tanto o Manel como o Luis são duas belíssimas pessoas e dois bons amigos
    Um beijinho a ambos

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    1. Cara Grace

      Com efeito, o Manel faz parte deste blog, enriquecendo-o com os seus comentários, ou deixando-me mostrar peças da sua colecção.

      Agradeço muito as suas palavras sempre tão simpáticas.

      Bjos

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    2. Muito obrigado pelas suas palavras Grace.
      São sempre de um carinho muito especial, algo que é sempre bom sentir, pois todos temos os nossos altos e baixos.
      Não tenho qualquer problema em deixar aqui o meu email, pois as comunicações de amigos são sempre bem vindas:
      manel.s.cardoso@gamil.com
      Não irei levar este prato para o Alentejo, pois ainda não sei muito bem o que lhe fazer, mas talvez o conserve em Lisboa, pois até gosto dele, mas o original é muito, mas mesmo muito, mais bonito.
      Mais uma vez lhe agradeço muito a sua amizade e desejo-lhe um ótimo final de semana
      Manel

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  8. Olá,Manel
    Muito obrigado pelas suas palavras
    Não sendo muito de andar pela Net,gosto imenso de dar uma vista de olhos de quando em vez
    O meu trabalho não me permite vir cá muitas vezes,nem sou de muitas palavras...
    Mas uma pessoa ganha amizade ,mesmo sendo virtual,com o Manel e o Luis...
    E a parte melhor do meu dia é quando venho ao blog do Luis e comento os seus posts
    Muito obrigado pelas suas palavras e seu...mail
    Concerteza vamos conversar mais vezes
    A minha amizade,essa terá sempre ,e espero sempre contar com a sua e as suas palavras carinhosas
    como o Manel disse,temos altos e baixos na vida
    E fico feliz quando o Manel me responde
    Um beijinho

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