Este jarro do século XIX da Vista Alegre é uma daquelas peças com uma simplicidade decorativa muito bem conseguida.
Não consegui apurar muito sobre esta peça. Está marcada com o VA azul e embora tenha sempre alguma dificuldade em entender-me com as marcas da fábrica de Ílhavo, julgo que se deve tratar da marca 20, correspondente ao período entre 1870-1880. Aliás encontrei no Avaluart um bule com uma decoração semelhante, datado desta época e o Flávio Teixeira, também já mostrou no seu blogue algumas peças deste serviço, igualmente fabricadas entre 1870-1880.
Bule 1870-1880. Foto avaluart.com |
É uma peça muito pesada, espessa, o que aliás é uma característica deste serviço, pois há uns tempos encontrei na Feira de velharias de Estremoz três travessas com esta decoração e o peso era igualmente impressionante. Foram peças concebidas para resistirem aos maus tratos das criadas desastradas ou de velhas damas com tremeliques nas mãos.
Este formato de jarro foi também muito usado pela Vista Alegre e encontrei vários da mesma época e de períodos posteriores, mas com decorações diferentes.
Contudo, mais do que as formas, o que é especial neste jarro é a decoração, com as folhas a sépia, alguns dourados e uma borboleta no centro, pormenor que nos prende de imediato a atenção.
Encontro na simplicidade desta decoração alguma influência da arte japonesa. Aliás, segundo a obra, Le XIXe siècle français / dir. Stéphane Faniel. - Paris : Librairie Hachette, 1957, da colecção da revista Connaissance des arts, por volta de 1870-80, em alguns meios industrias cerâmicos franceses houve uma reacção contra uma certa rotina que se te instalado no fabrico de serviços de mesas, que repetiam invariavelmente os motivos estilo império ou o género de Sêvres. Algumas fábricas de porcelana, como a Haviland de Limoges empenharam-se então na renovação das decorações e foi a arte japonesa, que pela sobriedade e estilização dos seus temas que mais atraiu o seu interesse. O desenho tornou-se então fino, ligeiro, usando uma paleta de cinzentos, beijes e outras nuances pálidas.
Decoração de Félix Bracquemond Haviland, Limoges 1876 |
Desta produção inspirada no Japão destacou-se o nome do do artista Félix Bracquemond.
Não sei se esta minha interpretação estará correcta, mas já tinha pressentido um certo gosto pela simplicidade da arte japonesa na Vista Alegre, numa ou noutra peça desta casa, conforme mostrei em 30 de Setembro de 2010 e a fábrica de Ílhavo estava atenta às modas das produções francesas, aliás muitas das peças das Vista Alegre mais antigas confundem-se com a última fase da chamada porcelana de Paris.
Em todo o caso, tendo este jarro ou não bebido alguma inspiração na arte japonesa, julgo que não ficará mal terminar este post com Un bel di vedremo" da ópera Madame Butterfly, composta Puccini e interpretada por Kiri te Kanawa.